segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

RECICLAGEM 1979

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[9-12-1991]

A QUESTÃO DA RECICLAGEM

A questão da reciclagem pode ser encarada sob dois aspectos principais: como filosofia política da economia (como princípio de toda a economia ecológica) e como solução de expediente para fazer face à acumulação insuportável de detritos, que já fazem montanha à porta das fabricas e das cidades.
Não é este último o caso de Cabo Verde - a reciclagem como solução de emergência - mas poderá ser o primeiro: um princípio fundamental da política democrática e popular, onde os números se subordinem ao bem estar das pessoas.
Como tal, é o Biogás - citado em outro lugar deste relatório -- o exemplo mais frisante de Reciclagem em meio rural. Mas o modelo fica: tudo é reciclável e, onde quer que haja um surto de poluição (orgânica ou química), é urgente pensar na sus recuperação e na sua restituição aos ciclos naturais.
Dos lixos podem ser obtidos fertilizantes.
Das resíduos pecuários, biogás.
Dos vidros velhos, vidro novo.
Dos papéis, novamente papel.
Quando se pensar em unidades industriais de produção, é prioritário pensar em fábricas que reciclem.
Conforme se explica em artigo de «A Capital» (26/2/1983), em Portugal é o Matadouro de Beja (capital do Baixo Alentejo) que dá o modelo no tratamento e aproveitamento dos despojos animais, principalmente com o objectivo de obter farinhas para rações, seguindo-se-lhe, com o mesmo objectivo, os matadouros do Porto, Aveiro e Lisboa.
Entre as explorações avícolas com sistemas próprios de recuperação em Portugal, os Serviços Médico-Veterinários da Junta Nacional de Produtos Pecuários dão conta das seguintes: a Vougal e Vouga (Oliveira de Frades), a Persuínos (Lorinhã), a Pal (Faro) e a Solaves (Sinta).
Um problema que não se coloca a Cabo Verde e em que este País tem vantagens, é o da produção animal em série, os aviários e pocilgas de bateria, que tão graves problemas , quer ao Consumidor, quer de Saúde Pública e ambiente, colocam em Portugal. ■
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- notícias do futuro-
- os dossiês do silêncio

EUROPA DESCOBRE ECONOMIA DA RECICLAGEM(**)

26/5/1979 - O desperdício já é rentável. E os obstáculos que hoje se põem à reciclagem sistemática de materiais e resíduos, já não são de ordem económica e muito menos tecnológica. É, pelo menos, o que se conclui de um estudo que a Comissão Europeia acaba de publicar com o título " A Economia da Reciclagem"(*) verdadeira reviravolta nos conceitos até agora consagrados nesta matéria. Conceitos que se verifica serem pré-conceitos e, na sua maioria, lugares-comuns sem conteúdo real...
De repente, a Comunidade Europeia pulveriza uma série de ideias feitas com que se tinha , até agora, tentado impedir uma verdadeira indústria de reaproveitamento e tentado justificar uma Economia absurdamente baseada no desperdício.
O relatório acumula dezenas de argumentos que contrariam tudo quanto até agora era clássico invocar contra o reaproveitamento de materiais, lixos, restos.
E a pergunta impõe-se: é possível reutilizar uma parte, ao menos, dos resíduos?
Ou - como até agora se dizia - a reciclagem implica "custos proibitivos" (sic)?
Para os países da Comunidade Europeia impõe-se dar uma resposta clara, já que a montanha do que se deita fora aumenta de dia para dia e coloca a Europa, neste momento, entre os campeões mundiais do Desperdício.
Eis alguns números apontados no relatório: 49 a 66 milhões de toneladas de escórias e refugos industriais; 40 a 60 milhões de lixos de origem alimentar provenientes quer de cozinhas domésticas quer da indústria alimentar e da agricultura; 160 milhões de restos de hulhas e carvões; 30 a 35 milhões de resíduos minerais; 5 a 10 milhões de escórias metalúrgicas e 10 milhões de toneladas de cinzas siderúrgicas: eis o que, cada ano, a Comunidade Europeia rejeita, joga fora, destroi, abandona, põe de parte, inutiliza, deita no ambiente, polui. Conforme muito bem definiu Mustafa Tolba, presidente do PNUMA (Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente) a Poluição, neste contexto, é apenas um recurso mal colocado e não reaproveitado.
Face à perspectiva - algo assustadora - de que certas matérias-primas estão em vias de se esgotar e face ao que custa cada vez mais consegui-las, compreende-se que a Comunidade Europeia tenha de enveredar pela via do bom senso e que tente responder de, maneira afirmativa, à pergunta:
- Será possível reutilizar ao menos uma parte dos resíduos?
A resposta dada pelo relatório é clara e de bom senso: é desejável e rentável lançar uma política de recuperação cada vez que o valor potencial do material reciclado promete ultrapassar o custo da reciclagem.
Os resíduos "produzidos" pela Comunidade Europeia atingem um valor potencial de 43 milhões de FF (295 milhões de FB). A sua recuperação permitiria economizar entre 20 e 30 milhões de FF (entre 137 e 305 milhões de FB) sobre a factura total da importação da Comunidade que sobe a 860 milhões de FF.
Logo - assegura o relatório - uma economia bastante apreciável.
Não é esta, no entanto, a única vantagem que se poderá tirar de uma tal política.
Há ainda a considerar economias notáveis de energia e uma redução dos prejuízos causados ao ambiente pela extracção de matérias-primas e a destruição ou o armazenamento dos resíduos.
Para atender estes objectivos conviria - segundo o relatório - tomar medidas fiscais ou reguladoras susceptíveis de tornar mais lucrativa a indústria da reciclagem. Sem esse incentivo dado aos industriais, o desperdício continuará.
No actual estado de coisas, os obstáculos que se opõem à realização de uma tal política de reaproveitamento são apenas conjunturais. Não há mais razões de fundo que injustifiquem a reciclagem.
De uma maneira geral, a indústria europeia não se encontra equipada para a utilização de materiais recuperados.
Por outro lado, as considerações técnicas militavam até agora contra uma tal utilização, impedindo uma eficaz recuperação de materiais. É preciso contar igualmente com problemas de organização e educação pública: como conseguir, por exemplo, que as donas de casa façam a necessária triagem entre materiais recuperáveis e irrecuperáveis, evitando que vá tudo para o mesmo balde do lixo?
As autoridades locais, por hábito e por seu turno, bem como os empresários e adjudicatários, pensam em termos de "destruição" e não de "recuperação": È ainda uma questão de mentalidade, de costumes e hábitos.
Apesar de reconhecer todas estas contrariedades, o relatório faz um certo número de recomendações com vista a estimular as actividades de reciclagem:

-Instaurar uma verdadeira política de aprovisionamentos com vista a aumentar a parte dos materiais recuperados na fabricação de produtos industriais;
-Fazer apelo à cooperação dos meios industriais para que seja fixada a especificação dos materiais recuperados e os diversos usos aos quais eles podem servir e, ao mesmo tempo, lançar campanhas de informação;
-Acordar vantagens financeiras para encorajar o prosseguimento das actividades de reciclagem. Se for necessário, convirá encarar a possibilidade de vantagens fiscais;
-Reunir e difundir todas as informações sobre a incidência do problema dos desperdícios e sobre os métodos de recuperação; sobre este assunto, o relatório sugere que a Comissão Europeia abra centros de informação especialmente destinados aos produtores e colectores de escórias e refugos, aos empresários de tratamento de desperdícios e aos utilizadores. Estes centros teriam por função fazer conhecer cada vez melhor as possibilidades de colecta, os métodos de recuperação e a existência de restos susceptíveis de ser recuperados;
-Promover investigações sobre os materiais de recuperação, nomeadamente no que respeita às técnicas de triagem e de melhoramento desses materiais assim como os sete diferentes usos.

Enfim, o relatório conclui que o problema da recuperação e reciclagem é bastante importante para cada um dos Estados-membros da Comunidade e para a própria Comunidade, para justificar a criação de um Comité que teria por missão pôr em actividade um programa ad hoc.
Efectivamente a Comunidade Europeia criou já um Comité de Gestão dos desperdícios, encarregado de favorecer as "trocas de resíduos" entre vendedores e compradores através das fronteiras dos países e aconselhar os industriais em matéria de evacuação de desperdícios.
Por outro lado, a Comunidade financia investigações no domínio da reciclagem do papel, assim como no sector da embalagem: utilização de materiais mais facilmente recicláveis, pôr em uso novos materiais de embalagem, reciclagem e reutilização de contentores, etc,
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(*) “ The Economics of Recycling Environmental Resources Ltd'', Ed. Graham &. Trotmas Ltd for The Commission of the EC.
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(**) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 26/5/1979
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 os dossiês do silêncio

ADIAR A DEMOCRACIA

[8/2/1991] - Levar às últimas consequências uma política de reciclagem sistemática e de reaproveitamento dos desperdícios e detritos, fazendo com todos os materiais do lixo e da poluição o que em Portugal apenas foi feito, de forma unilateral e demagógica, com vidros e vidrões, é não só a pedra angular de uma política ecológica mas também, e consequentemente, a demonstração de uma vontade política para democratizar a democracia.
Uma política de reciclagem, com efeito, ao inverter, fundamentalmente, os pressupostos de desperdício em que assenta a estranha economia que temos, tenderá, a médio e longo prazo, a inverter (a subverter) os fundamentos em que assenta essa economia. Por isso se lhe chamou a «revolução pacífica».
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Na reciclagem assenta qualquer política de diversificação energética, antes mesmo de estar em vigor uma estratégia que fomente e desenvolva todas as formas renováveis de energia e de tecnologias leves. Na perspectiva do realismo ecológico, o «lixo» é a primeira e grande fonte energética de um país. No caso particular do «lixo orgânico», a produção de biogás a partir de excrementos animais assume a dimensão de um símbolo e de um ex-libris para qualquer política verdadeiramente ecológica, e portanto democrática, que nada tem a ver com a demagogia reformista da antipoluição.
Sinais de que a democracia portuguesa não avançou na sua democratização, são os vários projectos de energias limpas e tecnologias leves que foram silenciados, abandonados, caídos no esquecimento, por vezes cínico, dos serviços. Em vez de uma política de fomento das alternativas ecológicas, assistiu-se a uma estratégia do embuste, metendo na gaveta os poucos projectos de investigação e desenvolvimento de energias renováveis, que primeiro estiveram em «stand by» na Direcção Geral de Energia e depois no LNETI, onde se afundaram de vez. Projectos-piloto abandonados, sob as alegações mais ridículas, foram as unidades de biogás instaladas no Instituto Superior de Agronomia e no Jardim Zoológico de Lisboa.
Quando a EDP diz que vai «descentralizar» a produção energética, porque electrifica «remotas aldeias do nosso país», é pura demagogia, porque nunca foi descentralizar e muito menos diversificar o alargamento de um «centralismo energético», por mais ramificações e tentáculos que tenha. Descentralizar e diversificar é outra coisa: dar autonomia e autosuficiência de produção energética a indivíduos, comunidades e países através das tecnologias apropriadas que o ecologismo defende. O resto é demagogia e bastante feia, diga-se de passagem.
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[Cooperativismo e moral energética] Por estranho que pareça, em 18 anos de democracia não foi ainda criada uma cadeira de «cooperativismo» nas escolas de qualquer grau de ensino. E se essa omissão se verificou com uma das «tecnologias apropriadas» que, apesar de tudo, teve um clima de maior aceitação do que qualquer outra, é de concluir a pouca ou nenhuma atenção que foi dada às tecnologias apropriadas menos conhecidas e com menos tradições e experiência no terreno.
O cooperativismo, enquanto técnica de «self government» como António Sérgio preconizava e pela qual tanto batalhou, conflui, sem dúvida, no grande rio das preocupações ecológicas e, portanto, na construção de uma sociedade mais livre e democrática. Com todos os riscos e erros de um movimento que o Poder raramente tolera ou ajuda, é isso que torna o cooperativismo um irmão privilegiado da convivialidade ecologista, uma nova prática para educandos e educadores: dir-se-á que pode haver cooperativas fazendo agricultura química, assim como há cooperativas fazendo agricultura biológica, e que a ecologia não é condição sine qua non do cooperativismo.
Mas o cooperativismo é, pelo menos, condição facilitante de práticas agrícolas (mais) ecológicas, menos inviáveis ou mesmo impensáveis no seio de uma agricultura estruturada no sector capitalista, privado ou do Estado. Como todas as práticas de self-government democrático, o cooperativismo não obriga mas facilita e estimula as práticas coerentes de autosuficiência que são as práticas ecológicas. A estrutura associativa do tipo cooperativo encaminhará, a médio e longo prazo, para soluções ecológicas a lógica das explorações, se nelas se mantiver a escala humana. Todas as realizações de dimensão humana como o cooperativismo, conduzem tarde ou cedo a soluções ecológicas, ou de racionalização energética global, e foi principalmente esta dimensão humanista, esta função educativa o que atraiu António Sérgio para o movimento.
Ao cooperativismo agrícola, nomeadamente, abre-se um campo infinito de potencialidades, por enquanto ignoradas, quanto ao reaproveitamento metódico dos desperdícios e detritos orgânicos. A produção de biogás por excrementos de pocilgas e vacarias é um exemplo que se deverá divulgar até ao infinito. Mas dezenas de outros reaproveitamentos apontam para uma economia energética de escala humana. A reciclagem de materiais e desperdícios é a economia energética por excelência, a definição de actividade ecológica. Quando se procura o máximo de benefício no mínimo de desperdício, quando não se transforma o lucro (e portanto o desperdício, e portanto a poluição) em motor da economia, a reciclagem resulta uma técnica ou solução ecológica. Uma tecnologia apropriada por excelência.
Entre os silêncios e silenciamentos que, em 18 anos, mais contribuíram para atrasar a democracia económica e a democracia real no nosso país, deverá citar-se o que foi exercido sobre o biogás em particular e sobre todas as acções de reciclagem em geral. Ora desenvolver as tecnologias apropriadas é desenvolver a democracia e por isso a essas tecnologias se chamou também «tecnologias democráticas».
Os poucos sinais que apareceram no sentido de dar força e vigência às tecnologias democráticas, apagaram-se e nunca mais ninguém ouviu falar deles. O projecto para uma unidade de biogás, anunciado em 1978, no Montijo, principal centro de abate de suínos do País, com toneladas de matéria-prima - que de outra forma, sob a forma de poluição, transforma este concelho no mais poluído do país, é exemplo do muito que podia e devia ser feito para a democratização real e profunda do regime, mas que a rotina do deixa andar e dos interesses criados logo jogou no caixote do esquecimento e das coisas eternamente adiadas.
Mas adiar as tecnologias ecológicas, democráticas e apropriadas é adiar a democracia.■
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+ 4 NOTÍCIAS DA RECICLAGEM

[14-2-1991]

Embora a maior parte das acções que tentaram popularizar a reciclagem de materiais, tenham caído no esquecimento - intencionalmente silenciadas porque assim convinha ao sistema do Desperdício - , nunca é demais lembrar algumas delas, que podem a todo o momento ser retomadas e multiplicadas.

[Note-se que as acções de autosuficiência e as tecnologias apropriadas valem por si mesmas mas aumentam proporcional e obviamente a sua força política em função da quantidade:]

16/5/1979, «A Capital» - Como se anunciava em Maio de 1979, uma importante companhia química dinamarquesa, Superfos, assinou um contrato de dez anos para fornecimento de «desperdícios térmicos», equivalentes a trinta mil toneladas de petróleo, à cidade de Fredericia, na costa oriental da Dinamarca, onde oitenta e oito por cento dos seus quarenta mil habitantes passaram a ter as casas aquecidas por resíduos energéticos das fábricas químicas locais.
Quando o contrato terminasse, em 1982, previa-se então que ele teria poupado a Fredericia doze mil toneladas de petróleo por ano, afirmando os especialistas que os milhões de toneladas de água quente até então despejados no mar poderiam ser reciclados de forma semelhante. Para além de fornecer aquecimento a preço módico a centenas de milhar de pessoas, o sistema também reduziria a poluição do Báltico.

26/5/1979, «A Capital» - Em Maio de 1979. a URSS anunciava que tinha descoberto um meio barato e engenhoso de construir estradas na neve. Tratava-se de aquecer um troço de estrada. espalhar a serradura que é produzida (e desperdiçada) pelas fábricas de madeira vizinhas e comprimirem-na à medida que a neve endurece de novo. O resultado é uma estrada suficientemente sólida para aguentar o peso de camiões, e que chega a durar um ano.
Em 1979, uma fundição de Waterburry conseguiu recuperar cobre puro dos desperdícios industriais que costumava lançar no rio Naugatuk. Dado o preço a que fica o cobre extraído dos desperdícios. ele contribui para reduzir ao mínimo o custo da reciclagem dos desperdícios industriais. Entretanto, a Anaconda anunciou que retira todos os dias cerca de meio quilo de cobre do fundo de um dos afluentes do Naugatuck.
Ainda em 1979, soube-se que a primeira fábrica de tratamento de resíduos industriais que se montou em Espanha, começou a funcionar na localidade biscainha de Amerobieta, evitando que os resíduos venenosos das empresas siderúrgicas de transformação continuassem a ir parar aos rios.

17/1/1980 - Conforme os jornais anunciavam em Janeiro de 1980 [17/1/1980, «A Capital»], vários fabricantes de cimento do Japão estavam a utilizar pneus usados como combustível nos seus fornos, afirmando que isto ajudará a reduzir o custo de combustível. Em alguns lugares, pneus velhos estavam a ser usados como combustível para aquecer água em banhos públicos, estufas de jardins e a água na cultura de peixes.
A Nippon Cement foi a primeira fábrica a queimar pneus usados como combustível, tendo começado a usá-los na fábrica de Nishimita, a oste de Tóquio. Usando cerca de 300 toneladas de pneus usados por mês, reduzirá o seu consumo de combustível em cerca de três por cento.
Um centro de preparação de peixe em Shizuoka mudou um queimador de combustíveis regular para um queimador de pneus na sua fábrica de produção de alimentos para animais.
Uma «quinta» de peixes em Oita, a sul do Japão, passou a queimar pneus velhos para aquecer água para as enguias e alguns plantadores de melões mudaram os queimadores a fim de aquecer as estufas no Inverno.
Os pneus usados, segundo foi então divulgado, têm um valor de 8000 quilocalorias/kg mais baixo do que as 13000 a 14000 quilocalorias do combustível regular, mas ainda mais alto do que as 6000 ou 7000 quilocalorias do carvão. Mas produzem grandes quantidades de anidrido sulfuroso, quando são queimados fóra de queimadores especiais. Devido ao alto conteúdo de carvão preto, os pneus de borracha produzem, quando queimados, um pesado fumo negro. Este problema pode ser resolvido com o advento de queimadores com depuradores especiais.

Março/1989, «Scala» - Cientistas alemães anunciaram, em 1989, ter conseguido transformar o fosfato que vem nas águas dos esgotos e contamina os lençóis de água subterrâneos, em fosfato de cálcio seco, depois utilizado como adubo. A água dos esgotos passa por dois filtros de argila granulada, na qual se deposita o fosfato, sendo dessa forma retirada da água. Com este método é possível retirar o fosfato de 600 metros cúbicos de água por dia. ■
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 os dossiês do silêncio
 ideias ecológicas para o ecodesenvolvimento autosustentado e democrático de cabo verde

1991: + NOTÍCIAS DA RECICLAGEM

[25/7/1992] - O ano 2000 será marcado pelo signo da reciclagem, a avaliar pelo desenvolvimento do sindroma da recuperação. Nada se perde: não se desperdiça, transforma-se e reutiliza-se para economizar as matérias primas puras e a energia.
Em 1990, a indústria de reciclagem representou 30 biliões de dólares em negócios a nível mundial e criou um milhão de empregos directos permanentes.
Em França, por exemplo, 15 milhões de toneladas de produtos recuperados foram transformados em matérias primas secundárias. A Europa produz por ano um volume de 2,2 biliões de toneladas de lixos. Entre este amontoado de matérias, um bilião de toneladas provém da agricultura e 160 milhões dós resíduos industriais reciclados em matérias primas secundárias.
Os despejos transformaram-se em verdadeiras minas de ouro e os seus recuperadores em homens de negócios internacionais que ganham quotidianamente milhões de dólares. «Mas por uma boa causa!», garantem eles.
«É a tomada de consciência dos problemas colocados pela gestão dos dejectos por parte dos poderes públicos e do grande público em geral, que os leva a interessarem-se pela indústria de reciclagem», declarou à AFP Jean-Pierre Lehoux, presidente do Gabinete Internacional de Recuperação, sublinhando a correlação entre protecção do ambiente e a gestão dos dejectos.
Esta indústria conheceu um desenvolvimento acelerado com a revolução industrial. Falava-se então de pequenas empresas de ferro velho ou pequenos recuperadores e são elas que estão na origem das grandes empresas mundiais actualmente existentes. «A recuperação e a reciclagem que eram então actividades autónomas transformaram-se nas malhas de uma cadeia de gestão dos desperdícios. Hoje são reconhecidas como uma das soluções para os problemas do ambiente. A nossa actividade (...) é um ponto de cruzamento entre a ecologia e a economia», sublinha Jean-Pierre Lehoux.

RECUPERAÇÃO SELECTIVA

A recuperação é ecológica e economicamente viável se for feita por profissionais, segundo defendem os especialistas. Com efeito, 45 por cento do aço produzido no mundo é fabricado a partir de metais recuperados. Assim sucede também com 50 por cento do chumbo, 35 por cento do cobre, 30 por cento do zinco e 25 por cento do alumínio. A reutilização de metais velhos permite economizar 60 por cento de energia.
O sindroma dos dejectos, que há muito tempo ganhou a opinião pública, ataca hoje os legisladores, os poderes públicos e certos produtores de bens de consumo. Por todo o lado, a recolha organiza-se mas muitas vezes em prejuízo do bom senso. Grenoble, por exemplo, onde se organizou recentemente um colecta de pilhas de mercúrio usadas, encontra-se hoje com um stock excessivo de mercúrio sem que saibam que destino dar-lhe.
Da mesma forma, a recolha de papéis velhos e cartões não seleccionados vai engrossar o volume de produtos de má qualidade, provocando uma quebra acentuada de preços e o abandono da reciclagem dos velhos papéis.
«Só se deve reciclar o que pode ser recuperado», disse Jean Pierre Lehoux. Neste sentido, «assinámos, há quatro anos, com os responsáveis municipais de França, um protocolo de acordo para pôr em prática uma estratégia de recolha selectiva que só agora começa a dar os seus frutos».
O BIR, criado em 1948 por industriais franceses, holandeses e belgas conta actualmente com 50 países membros e representa 7 mil sociedades de forma indirecta, através das Federações nacionais de membros.

UMA LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL MAIS PRECISA

Desde a sua criação, os responsáveis do BIR reúnem-se duas vezes por ano para analisar os eventuais problemas da profissão, aproveitando também para tratar dos seus avultados negócios.
Cerca de 850 representantes de empresas participaram no último congresso, organizado em Mónaco, em Maio último.
Pela primeira vez desde a fundação do BIR, um industrial francês foi eleito presidente por quatro anos. Jean-Pierre Lehoux, licenciado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, sucedeu ao americano Jake Farber, director comercial da sociedade Soulier, uma das mais importantes empresas francesas de recuperação de papéis.
As legislações que estão na forja e que ameaçam a indústria de reciclagem estiveram no centro dos debates no Mónaco.■
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[reescrito - teclado - em 20/12/1991]

IDEIAS ECOLÓGICAS PARA O ECODESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E DEMOCRÁTICO DE CABO VERDE

21/12/1982

 DESPERDÍCIOS E RECICLAGEM
 A DESCULPA DA LEGISLAÇÃO
 DIRECTIVA DA CEE NO ÂMBITO DO «POLUIDOR-PAGADOR»

O estabelecimento de uma taxa obrigatória específica, com a qual se visa reunir os meios financeiros indispensáveis para o funcionamento operacional do sector dos resíduos urbanos, é admitido explicitamente, pela primeira vez, num relatório publicado em Dezembro de 1982 e que a Direcção Geral do Saneamento Básico elaborou no âmbito de um grupo de trabalho sobre Desperdícios.
Tal política -- refere o relatório consultado pel «A Capital» -- estaria dentro do princípio do «poluidor-pagador» expresso na directiva 75/442/CEE de 15 de Julho de 1975, do Conselho das Comunidades. Ainda no espírito da melhor tecnocracia, sublinha-se que o aumento de lixo produzido «per capita» se considera um sinal de desenvolvimento dos países... Daí que o relatório não desdenhe prever o nosso desenvolvimento até 1990 nesse campo europeu do lixo. Do actual milhão e 900 mil toneladas de lixos urbanos sólidos, o País passaria, no final da década de 80 para dois milhões e 750 mil toneladas, assinalando assim um notável progresso.
A Direcção Geral do Saneamento Básico preconiza assim uma urgente política de reciclagem de lixos sólidos, para -- diz - «melhorar a qualidade de vida das populações e, ao mesmo tempo, transformar os resíduos em bens económicos» conforme afirma o relatório.
Se os municípios decidirem avançar com mais esta alcavala para o eleitor, terão que apresentar contrapartidas e tomar medidas de vanguarda no campo da reciclagem, como aliás já é corrente em localidades de vários países europeus, nomeadamente a RFA que caminha na frente da reciclagem. Impõe-se, por isso, legislação que -- diz-se -- «defina as responsabilidades recíprocas do Governo e das autarquias face à problemática dos resíduos urbanos».
A Direcção Geral do Saneamento Básico preconiza «desde já» a acção -- como afirma -- «de unidades-piloto que permitam obter fundamentadas conclusões de carácter técnico, sanitário e económico sobre toda a problemática dos resíduos sólidos.»
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Este texto foi publicado in «A Capital», seguido de um outro, em 21/12/1982, sobre a produção de resíduos sólidos no Continente■