terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

HÁ JÁ 30 ANOS

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domingo, 24 de Novembro de 2002

MEDITERRÂNEO 79: ESTADO DE SÍTIO

[7-2-1979, IN «a Capital», Crónica do Planeta Terra] - O Mediterrâneo agoniza. Três milhões de quilómetros quadrados «afogados» de poluição térmica e radioactiva, química e bacteriológica, eutrofização e míngua de oxigénio, petroleiros em movimento e plataformas submarinas de «off-shore». Esgotos urbanos e fabris de 18 países fazem dele cloaca comum. Dezoito países distintos e um só verdadeiro: a Multinacional da Poluição.
Desde 1975, sucedem-se as conferências internacionais para debater problemas e diagnosticar doenças deste ecossistema em crise, em ruptura, em estado de sítio. Depois das duas reuniões de Barcelona (1975 e 1976), posteriormente ratificadas em Mónaco, acaba de realizar-se mais uma, em Genebra, também a nível intergovernamental e sob os auspícios das Nações Unidas (P. N. U. M. A.), organismo este que já contribuiu com 329 milhares de contos para a despoluição.
Esta afectuosa atenção das Nações Unidas por tão pequeno mar - ou tão grande lago - tem uma razão: verdadeira zona crítica do globo - tal como e Amazónia, a Antárctida e a Sibéria - o que aconteceu e acontece no Mediterrâneo afecta-nos a todos, servirá de exemplo e espelho onde o mundo se pode mirar (ante)vendo, como numa bola de cristal, o seu lindo, brilhante e poluído futuro.
Lição e aviso, não é por uma simples operação aritmética que se avaliará, por exemplo e no entanto, o futuro de uma área 35 vezes maior como é a do Atlântico. A escalada da destruição - tal como a do crescimento económico que a provoca - não é, como se sabe, aritmética mas logarítmica.
É uma oportunidade de relembrar aos portugueses alguns números desta salada química, desta saudade e desta mágoa, desta agonia e desta «bomba e retardador» chamada Mediterrâneo.
Se não o utilizamos directamente como caixote do lixo, tínhamos, ao menos, o privilégio secular de lhe gozar a lenda, os ares, o clima: éramos um País mediterrânico, como nos disse em tão belos livros o prof. Orlando Ribeiro, nosso primeiro ecólogo mais conhecido como geógrafo.
E não foi, afinal, o herói mediterrânico por antonomásia - Ulisses - que deu nome a Lisboa?

LIXEIRA DE 18 PAÍSES

Os nomes de dois homens acodem imediatamente a primeiro plano quando se fala do Mediterrâneo moribundo: Cousteau e Bombard foram, de facto, os que mais cedo e mais vezes advertiram a opinião pública mundial do que estava a suceder nos fundos marinhos.
Pelo valioso contributo que tem dado ao conhecimento ao mar Mediterrâneo, como director do Museu Oceanográfico do Mónaco, o comandante Jacques-Yves Cousteau recebeu o prémio Pahlavi no segundo ano (1977) em que este foi atribuído.
Mas para os que não acreditam nos sucessivos e solenes avisos de Cousteau e Bombard, um facto indiscutível deve ser relembrado; desde 1965 que a quantidade de pesca extraída vem decrescendo com regularidade.
Por outro lado, muitos peixes começam a desaparecer, ou porque têm cada vez maior dificuldade em se reproduzir ou porque, perseguidos pela poluição e pela falta de oxigénio, procuram o Atlântico.
Embora as consequências na fauna marinha sejam mais do que óbvias à vista desarmada, convém evocar as estatísticas para os que teimam em afirmar que a poluição química, bactereológica e petrolífera não afecta a vida dos peixes.
A verdade é triste e é esta: fábricas e petroleiros, cidades e turistas farão em breve a ruína dos pescadores do Mediterrâneo.
Entretanto, as Nações Unidas teimam em fazer sentar à mesa das negociações os ministros plenipotenciários dos 18 países: Espanha, França, Itália, Mónaco, Malta, Jugoslávia, Albânia, Grécia, Turquia, Chipre, Síria, Líbano, Israel, Egipto, Líbia, Tunes, Argélia e Marrocos.
Pôr de acordo tantos, tão diversos e tão contraditórios interesses é de facto uma babélica proeza digna de Hércules que transformou este lago num mar aberto ... com 860 quilómetros na sua maior largura e 140 na menor.
Pequenas distâncias que fazem do Mediterrâneo um «lago doméstico» mas que se tornam astronómicas sempre que se pensa passar à despoluicão, sempre que se tenta das conversações e acordos passar à sua estrita aplicação prática.

MINAMATA «À RETARDADOR»

Os grandes desastres, tipo acidente, como o de Minamata, têm a grande vantagem de dar nas vistas e metendo o delinquente em tribunal, tornar-se mundialmente conhecidos.
Mas têm, em contrapartida, o grande inconveniente de fazer esquecer a minimizar os que, lenta e insidiosamente, se vão chocando, ao longo dos anos e das gerações, até eclodir em situações da carácter cataclísmico irreversível.
Nestes desastres «a retardador» o efeito fica a tal distância da causa, que esta se poderá escamotear com muito mais facilidade. E não haverá, como em Minamata, réu em tribunal, fábrica processada, indemnizações às vitimas.
Por paradoxal que pareça, o mercúrio, no Mediterrâneo, pode estar desde já a constituir uma ameaça maior e mais grave do que na baía de Minamata, quando o desastre ali ocorrido,
entre 1963 e 1973 (desde as primeiras suspeitas até à condenação da Chisso Corporation, o processo arrastou-se por 10 longos anos ), tornou conhecida em todo o mundo a doença do
mercúrio.
A doença de Minamata pode estar a ser engendrada, em proporções ainda mais vastas e graves, em muitas áreas do Mediterrâneo: o carácter explosivo e agudo do caso ocorrido no Japão permitiu que se tornasse sensível, e mesmo espectacular, um fenómeno que, através de minidoses somadas, cumulativamente, só poderá vir a eclodir no Mediterrâneo, com carácter epidémico, dentro de alguns anos.
Comparado ao do Atlântico, o atum do Mediterrâneo já leva três vezes mais mercúrio.
Análises não só do atum mas do peixe-lixa, salmonete, safio e pescadinha de rabo na boca, realizadas nas costas de Itália, Grécia, Espanha e França, mostram concentrações de mercúrio duas a cinco vezes superiores às doses admitidas pela O. M. S.
Em artigo d' A Capital (21-Outubro-1978) demos notícia detalhada do inquérito sobre a mercúrio revelado pela revista dos consumidores franceses «Que Choisir?»
Ainda que as doses desse metal, a cada instante, não sejam letais para o organismo que as absorve, elas vão somando-se até ao dia em que atingem esse limite.
No Mediterrâneo, as quantidades acumuladas em seres vivos começam a ser conhecidas: 2 quilos de peixe por semana supõem, na maioria dos casos, a absorção de 2 miligramas de mercúrio. Com as doses médias actualmente reconhecidas, a doença pode eclodir passados 7 anos. Não quer dizer que em determinadas zonas e momentos - tal como aconteceu em Minamata - as doses não ultrapassem essa média. Em qualquer caso, os resultados estarão sempre da acordo com as causas que os provocam.
Em princípios de 1978 foram encontrados 6 cachalotes mortos: os biólogos chegaram a detectar 600 miligramas de mercúrio por quilo em alguns músculos e camadas de gordura.
O mercúrio, integrado no organismo no terminal do cadeia alimentar que vai do plâncton ao homem, transforma-se em metilmercúrio que se fixa no sistema nervoso. Não há maneira de eliminar este produto do corpo humano. Ele fixa-se, acumula-se, soma-se. Até eclodir a doença.
Sem falar dos compostos organomercuriais que as fábricas de celulose (pasta de papel), por exemplo, utilizam para «combater» a putrefacção microbiana, sem falar dos resíduos da agro-química, são as indústrias farmacêuticas e de cloro, as fábricas de pintura e as centrais de energia eléctrica, algumas das unidades que podem produzir mercúrio que, por acção das bactérias marinhas, se transforma em metilmercúrio, muito mais tóxico.

O CLUBE (MEDITERRÂNICO) DOS COLIBACILOS

O maior empório europeu de férias e tempos livres chama-se Clube Mediterranée. Acusam-no de ter capitais suspeitos, mas a verdade é que tal negócio prospera e beneficia da áurea que em torno deste mar se foi tecendo desde as lendas homéricas: Ulisses, magia, flores, crepúsculos azul-doirados fazem, afinal, o nome, o amor e a morte deste mítico ecossistema.
Por ironia do destino, é a doce mitologia criada em torno do Maditerrâneo, os bilhetes-postais em que se transformaram muitos pontos da sua costa, os slogans e cartazes que animam a sua propaganda, é afinal a beleza, o charme, o encanto e a imagem de marca que, em boa parte, têm vindo a matar este helénico e edénico lago de ninfas, sereias e tritões.
O mediterrâneo é vítima da sua beleza, do seu clima temperado, do seu turismo.
Ao lado do mercúrio e seus afeitos a retardador, a poluição bacteriológica tem um carácter mais benigno: pelo menos, ataca directa a francamente, dá nas vistas e tem sido motivo de escândalo diversas vezes.
Hepatites virais, colibaciloses diversas, cólera, tifo, gastroenterites são incluídas, pelos médicos da estação balnear, nas zonas turísticas da Costa Azul e Costa Brava, sob a designação vaga e geral de «desarranjos intestinais».
No entanto, em Dezembro de 1975, o comandante Cousteau declarava nas Nações Unidas: «Se a tendência actual segue em aumento, só poderão sobreviver no Mediterrâneo as bactérias portadoras de enfermidades. A dimensão do desastre que nos ameaça daqui a uns decénios é difícil de imaginar.»
Em 1973, Nápoles foi muito falada nos jornais: epidemia de cólera provocada pela ingestão de mariscos apanhados na vasa dos esgotos urbanos. Facto que, aliás, é rotina por quase toda a costa.
Os sete países mais frequentados por veraneantes comunicaram à O. M. S. estatísticas que permitem avaliar em mais de 300 mil o número de desarranjos intestinais reconhecidos no decorrer de um ano nas regiões turísticas. A O. M. S. afirma:
«Não é exagerado dizer que o Mediterrâneo, mar praticamente fechado, dá lugar a condições óptimas e máximas de contacto entre os homens e os agentes patogénicos responsáveis das enfermidades epidémicas e contagiosas
Sempre que a revista «Que Choisir?» tem revelado a situação colibacilar das praias francesas, chovem os desmentidos por parte das praias afectadas e respectivos autarcas locais. Em Maio/Junho de 1974, assistimos a um fenómeno idêntico nas praias da linha do Estoril: até médicos se deixaram fotografar, no banho, para provar que não havia colibacilo. Nesse Verão o turismo ainda foi sensivelmente perturbado, mas tudo voltou à normalidade nos seguintes: Quer dizer: os colibacilos deixaram de ser perigosos. Puseram-se em fuga...

DAS «LAMAS VERMELHAS» AOS SUBMARINOS ATÓMICOS

Verdadeira caixa de Pandora do ano 2000, o fenómeno é ainda mal conhecido dos químicos, embora continue a ser muito estudado...
À falta de melhor, chamaram-lhe sinergia.. Dessa infernal alquimia que pode multiplicar até ao infinito o mundo das reacções em contacto com a água salgada, pouco mais se sabe do que isto: os poluentes lançados no Mediterrâneo podem intensificar mutuamente os seus efeitos, verificando-se as reacções, no entanto, de modo totalmente imprevisível e incontrolável...
Imitando Sócrates, bem podem os químicos de hoje dizer de sinergia: Só sabemos que nada sabemos ....
A baía de Anges - que deu o título a um célebre filme com Jeanne Moreau - encontra-se entre as zonas afectadas por esse enigmático fenómeno. Razões e venenos não lhe faltam. De Niza a Antibes é um verdadeiro cocktail de metais pesados e menos pesados: cobre, cádmio, cianeto, chumbo, alumínio, manganésio.
Na já citada Conferência de Plenipotenciários dos Estados ribeirinhos, realizada em Barcelona (Fevereiro de 1976), França a Itália deram show: mutuamente se recriminavam de ser cada qual a mais culpada das famigeradas «lamas vermelhas», mistura indescritível de ácido sulfúrico, sulfatos ferrosos, titânio, magnésio, cobre, indícios de flúor...
A Casa Montedison, especialista nestas «lamas vermelhas» e como tal processada por pescadores a ecologistas, conseguiu prorrogar as penas a que foi condenada, obtendo da lei italiana autorização para continuar poluindo de vermelho até 1981! Depois se verá. Moratória atrás de moratória, enchem eles o papo.
Ainda no domínio (pantanoso) dos «lodos vermelhos» a fábrica de alumínio de Pechiney dá por parte da França um bom contributo à inquinação do Mare Nostrum: a empresa resolveu inteligentemente o problema assegurando que os óxidos de alumínio, ferro, sódio e silício eram despejados a 300 metros de profundidade.
Feitas as contas, só a Pechiney já depositou no fundo 14 milhões de toneladas de «lodos vermelhos». Que, evidentemente, não são inertes e, atendendo ao fenómeno da sinergia, têm na meio ambiente efeitos imprevisíveis, incontroláveis.
A propósito de fundos muito fundos: nem a fossa mais profunda do Mediterrâneo se livrou. Se é duvidoso que a poluição química tenha lá chegado, outra pior lhe estava reservada pelas parcas do nuclear. Pela sua profundidade abissal – 5.000 metros - a chamada fossa grega foi desde logo cobiçada pelos governos francês e alemão que fizeram dela o melhor caixote para os resíduos radioactivos das suas (deles) centrais nucleares. As do interior do País e, por maioria de razão, as que se dispõem - contas negras de um rosário do Diabo...- ao longo do litoral: além da França, têm centrais instaladas na costa Itália, Espanha, Grécia e Turquia.
Só um caso a lembrar os efeitos da poluição térmica: em 11 de Junho de 1974, o diário «La Vanguardia Española» publicou uma fotografia efectuada pelo satélite norte-americano ERTS, na qual podia ver-se uma mancha escura no mar, frente à central nuclear de Vandellós (Catalunha). Os hidrobiólogos consideraram-na ilustrativa de uma zona pobre em plâncton por causa da poluição térmica.
Uma semana depois, uma delegação de pescadores franceses apresentava um relatório da visita realizada ao local:
«A central nuclear absorve 30 metros cúbicos de água por segundo. A água entra a 22 graus e sai a uma temperatura superior aos 32, com adição de cobre, zinco e, sobretudo, cloro (42 toneladas durante o primeiro semestre de 1974), destinadas a evitar a obstrução das tubagens dos sistemas de refrigeração causada pela proliferação de algas e moluscos.»
Em Julho do mesmo ano, a delegação francesa verificou a realidade das observações reveladas pelos pescadores de Cambrils e Ametlla de Mar, portos situados a 18 quilómetros da central: o mar tinha-se tornado estéril num raio de 8 quilómetros.
Em Janeiro de 1975, os efeitos da poluição térmica já se estendiam a um raio de 20 quilómetros. Com a destruição do plâncton pelo calor dos circuitos de refrigeração e pelos produtos químicos, a fauna marinha tinha desaparecido.
Posteriormente calculou-se que, com 3 gramas de plâncton por metro cúbico de água do mar, os efeitos de 30 metros cúbicos de água sobreaquecida em 10 graus destruiria 2,84 toneladas de plâncton por ano.
Além da fossa grega, suspeita-se que outra - a leste de Barcelona e a norte-nordeste de Minorca - já tenha nos seus 3.000 metros de profundidade vários caixões de betão com elementos radioactivos.
Suspeita-se, porque o «top secret» é a marca do negócio radioactivo. Ultra-secreto é tudo o que respeita, por exemplo, aos submarinos atómicos que por este mar se passeiam «em defesa do mundo ocidental». (sic).
Para animar o indescritível quadro deste complexo ecossistema, só faltava o sistema «de defesa». Dos submarinos atómicos de VI Frota Americana, apenas se sabe que deixam resíduos de cobalto 60 e manganésio, o mesmo devendo suceder aos do Pacto de Varsóvia. Na grande pátria da radioactividade, não há diferenças nem fronteiras.

DEPOIS DA SINERGIA A D. B. O.!

A partir de 1972, surge uma nova sigla meio-misteriosa: a D.B.O..
A Comissão Internacional para a Exploração Científica do Mediterrâneo começou a falar da Demanda Biológica do Oxigénio (a tal D.B.O.), que o mesmo é dizer, a quantidade de oxigénio que se necessita para que os microrganismos que há no meio degradem os poluentes.
Os cientistas daquela comissão falam de 70 mil toneladas por ano da D.B.O..
Quem poderá avaliar, em toneladas, tamanha quantidade de oxigénio? Só os peixes, em fuga desordenada, pelo estreito de Gibraltar, a caminho do oceano Atlântico ...
O curioso nesta fita de mistério, «suspense» e antecipação cientifica é que os estudos acumulam-se ao mesmo ritmo dos poluentes...
O número de enfermidades potenciais do Mediterrâneo supera, praticamente, a capacidade de estudá-las.
Lá está a sinergia que, associada ao fenómeno da acumulação e da eutrofização, e da D.B.O., tornam o perfil patológico deste ecossistema todos os dias diferente. Cada vez mais desconhecido e enigmático.
Pesticidas, fósforos libertados por detergentes duvidosamente biodegradáveis, sulfatos de ferro que consomem o oxigénio da água, fungicidas, herbicidas que prosseguem a sua acção no fundo do mar, ácidos tartáricos, lodos vermelhos e amarelos, cloro, ácido sulfúrico dissolvido, adubos que provocam nas baías fenómenos eutróficos e respectiva asfixia de todas as formas de vida, derivados do etileno, cimentos, resíduos de pasta de papel, dejectos radioactivos, polímeros sintéticos e outros resíduos plásticos, vanádio, manganésio, níquel, flúor... quem pode dizer hoje que conhece o Mediterrâneo?
O próprio P.N.U.M.A. (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) limita-se a fazer inventários de poluentes, o que já não é pouco.
Segundo recentes estimativas deste organismo, o Mediterrâneo recebe, por ano e em média, de meio milhão a um milhão de toneladas de petróleo; 358.000 toneladas de fósforo; 59 mil toneladas de detergentes; 72 mil toneladas de fenóis; 715 mil toneladas de óleos minerais lançados pelas refinarias; 130 toneladas de mercúrio; 4.820 toneladas de chumbo; 2.760 toneladas de crómio e 24. 700 toneladas de zinco.

Os pesticidas contribuem com 90 toneladas de organoclorados. Devido a fugas radioactivas, o Mediterrâneo recebe cerca de 2.480 curies por ano de trílio e outros radionucleidos, cabendo 85 % dessa radioactividade aos reactores instalados na costa.

A ESCALADA DO PETRÓLEO

A diminuição das chuvas verificada, há anos, nas costas de Espanha, Jugoslávia e Itália é atribuída à camada de petróleo que cobre as águas numa extensão de milhares de quilómetros quadrados.
Essa camada impede a extracção, por parte dos ventos marinhos, das partículas minerais microscópicas essenciais para a «sementeira» de nuvens e provocadoras da chuva quando alcançam certo grau de concentração e condensação.
Os ventos marinhos, carregados dos elementos mais leves e voláteis dos hidrocarbonetos, extraídos da superfície poluída ou dos nevoeiros, tornam-se, então, para árvores e culturas agrícolas, quando chegam à terra, em sopros envenenados.
Sabe-se, ainda, que a película de petróleo sobre as águas impede as trocas entre ar e água, do que resulta uma fraca oxigenação do mar, já tão carecido dela por todas as razões, incluindo a D.B.O.!
Como se ainda fosse pouco, o petróleo desenvolve uma actividade dissolvente sobre pesticidas e outros produtos nocivos, o que acelera a assimilação destes por parte dos organismos marinhos e, portanto, do homem que os come. Para lá do poluente directo, o petróleo facilita a entrada de muitos venenos na cadeia alimentar.
Mas não é tudo, ainda! Os efeitos da tal fina camada, fazem sentir-se a outro nível: impedindo a passagem da luz, necessária ao fitoplâncton, este morre e a oxigenação não se faz. Num mar já sem oxigénio, até onde poderá ir a escalada multiplicadora de todos estes efeitos interinfluentes?

DATAS, NÚMEROS, FACTOS

No campo da poluição «itinerante» - petroleiros, cargueiros, etc - lembra-se um acidente que pode constituir uma boa lição para as gerações presentes e futuras.
Em 13 de Julho de 1974, naufragou perto do Otranto (Itália) um barco jugoslavo. Os 900 barris com derivados de chumbo (quem poderá saber se é chumbo ou pior do que isso?...) ainda lá estão e estarão. Até que os barris rebentem e a catástrofe venha (se vier) noticiada, em três linhas, nos jornais.
Anos e anos, governo italiano e jugoslavo discutiram em que águas territoriais estava o barco.
Só em Abril de 1977 se começaram a retirar, lentamente, alguns barris ...
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Só para a costa espanhola, eis alguns números sobre densidade fabril: em 1973, encontravam-se instaladas 14.000 fábricas, das quais 31% eram de produtos químicos, 29 % têxteis e curtumes, 17% madeiras e papel, 1% de indústrias mineiras.
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Para lá das fábricas que despejam directamente nas margens, há a considerar os rios que desaguam neste mar dos mares (Adriático, Jónico, Tirreno) e que servem de «colectores» a milharas de fábricas ao longo dos seus percursos: Ródano, Pó, Arno, Tibre, Ebro, Nilo vão-se aguentando como podem nos seus vastos caudais.
Numerosos rios mais pequenos, porém, têm vindo a sucumbir e muitos já foram varridos do mapa. São, apenas, fétidos canos de esgoto.
O Llobregat, na Catalunha, e o Huveane, na França, são hoje, apenas cloacas.
O processo é simples: polui-se até fartar, depois declara-se que o curso de água está demasiado poluído para ser recuperável e, depois, dá-se autorização oficial para empregá-lo como esgoto.

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