POLUIDOR -PAGADOR:ALIADO DA CONCENTRAÇÃO CAPITALISTA
Que a luta anti-poluição passa pelo centro da «luta de classes», era a tese de um livro publicado por Afonso Cautela em 1976 com reportagens sobre ambiente em Portugal, perguntando alguns onde estava a «luta» , visto não se ver greves nem outras manifestações de rua por causa da poluição.
Quando, no rio Alviela , após uma luta popular persistente de mais de 20 anos, o governo decidiu, em 1980, avançar com um projecto despoluidor (três estações de pré-tratamento, uma de tratamento biológico e a maior rede de drenagem de águas residuais do país) quando, depois de uma longa espera , se chegou ao momento da verdade, a velha tese (implícita) do já referido livro de 1976, voltou à actualidade.
Chama-se poluidor-pagador o princípio que tem inspirado as políticas europeias (OCDE e CEE) de combate à poluição e defesa do meio ambiente.
Ora como referiu explicitamente o Secretário de Estado do Ambiente, as pequenas unidades industriais poluidoras não têm condições absolutamente nenhumas de instalar «mecanismos de pré-tratamento de efluentes».
Resultado à vista, embora não explicitado por ninguém: instalado um sistema de anti-poluição, os mais poderosos vão instalar a parte que lhes compete mas os mais pequenos não podem, sendo eliminados na concorrência.
Médios e pequenos tendem a desaparecer , para ficar apenas os grandes.
É isto que algumas vozes isoladas têm vindo a dizer e a escrever há uns bons 15 anos.
É isto que tem posto nos antípodas ecologia política ou ecologismo crítico e anti-poluição ou ambientocracia, como estratégias de sinal contrário.
Situação que muitos ainda não querem compreender, mesmo quando ficarem pelo caminho os pequenos industriais de curtumes, devido à luta antipoluição em que todos parecem estar de acordo.
Anti-poluição desta é, como se vê, o contrário de ecologia e de luta ecologista como alguns poucos têm tentado dizer .
A FORMAÇÃO DE QUADROS: UMA TESE FRACASSADA
A «preparação de quadros» foi reconhecida, em muitas reuniões de ecologistas , onde se analisavam as dificuldades colocadas ao movimento e seu desenvolvimento, como a questão da qual dependiam , no momento, todas as outras.
No encontro de Guimarães da IV Coordenadora (data?), por exemplo, o arquitecto A. Jacinto Rodrigues bateu-se por essa formação de quadros, à qual se opunha uma agitada maioria dos jovens presentes, na proa de uma atitude libertária e anarco-libertária sem o sentido realista da prática e da realidade.
Nesse encontro de Guimarães, não só a proposta para a «formação de quadros ecologistas» foi derrotada , como se registou nela a liquidação da própria Coordenadora, que José Carlos Marques lançara nas Caldas da Rainha e a que dera muito do seu esforço e da sua energia durante largos e dedicados meses de actividade.
+
1-1-hfe-2- história da frente ecológica - FE 1984
Um espaço semanal, criado em 15 de Março de 1984, e consagrado à informação do consumidor, acabou por ficar abandonado de articulistas, especialistas, militantes da causa do consumidor.
O Gabinete de Defesa do Consumidor - dizia a sua directora, Drª Maria Irene Veloso - sentia-se mais vocacionado para convidar estrangeiros da CEE para vir a Portugal do que apoiar uma página de jornal.
O Instituto apoiou mas estabeleceu as suas próprias regras. Qualquer artigo que viesse por outro lado não tinha remuneração.
Uma página do consumidor não se faz para criticar os medicamentos mas para passar o tempo.
RUDOLFO IRIARTE
O vespertino «A Capital» foi, sem dúvida, o jornal que, pela mão de Rudolfo Iriarte, mais cedo se abriu, sem reticências nem preconceitos, aos temas ainda impopulares, da ecologia, saúde pública, defesa do cidadão e do consumidor.
Nesse espírito, foi possível manter:
Desde 17 de Junho de 1976, a crónica semanal do planeta terra.
Desde 15 de Março de 1984 e semanalmente o Guia do Consumidor.
E, desde 14 de Março de 1985, a secção noticiosa semanal Grupos em Movimento.
Isto que parece pouco é, nas áreas mais sensíveis da chamada qualidade de vida, um verdadeiro milagre de persistência.
MARIA LUCINDA TAVARES DA SILVA
A revista «Saúde Actual», pela mão de Maria Lucinda Tavares da Silva, confiou ao jornalista Afonso Cautela, em Março de 1985, a tarefa de defender a imagem da Naturoterapia.
+
1-2-hfe-3- Memórias da Frente
Revisão: quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009
1981-1983:VÁRIAS VICISSITUDES, UM OBJECTIVO - INFORMAR
Vicissitudes várias fizeram passar a «Frente Ecológica» por diversas fases e crises.
Tendo começado por ser título de um jornal (14 números publicados) passou a servir de sigla para algumas edições artesanais (stenciladas) e foi ainda título de uma série especial destinada a publicar textos que se consideravam impublicáveis.
«Frente Ecológica» também foi, por força das circunstâncias, mini-livraria ou centro documental ao dispor de estudantes e professores. Muitas listas de livros e mini-bibliografias foram enviadas aos que solicitavam pistas para os seus trabalhos escolares.
Algumas vezes, para equilibrar uma contabilidade permanentemente deficitária, a «FE» promoveu saldos de livros correntes a preços de ocasião ou de livros raros a preços convidativos. E assim se foi dispersando a biblioteca que deveria manter-se unida e coesa...
Mas a Biblioteca dos Tempos Difíceis (assim baptizada) não morreu, apesar de tantas sangrias. Continuou a existir e a resistir, embora tendo às vezes que hibernar. Milhares de livros ficaram armazenados, deteriorando-se e aguardando as condições materiais mínimas (estantes, sala, ficheiros) para funcionar ao serviço do público.
Mas quem necessitará de se informar sobre o mundo que já bate violentamente à nossa porta?
Especializada em temas de ecologia prática, movimento ecológico, tecnologias apropriadas, qualidade de vida, protecção da natureza, etc., a quem poderá servir e quando, a Biblioteca dos Tempos Difíceis?
Terá que esperar por tempos ainda mais difíceis, para que uma entidade a apoie e ponha ao serviço público?
Pacientemente feita e refeita e desfeita ao longo de 15 anos, a Biblioteca dos Tempos Difíceis esperou por D. Sebastião na figura de um ministro da cultura sensível à ecologia e que não tivesse medo da palavra. Tal como D. Sebastião, esse ministro nunca chegou.
«FE» NA RÁDIO
Centenas de ouvintes se dirigiram, por carta ou postal, ao apontamento radiofónico «Ecologia em Diálogo» , enquanto ele foi transmitido pela RDP-Antena 1, através do «Ponto de Encontro». Surgiria depois um pequeno jornal, em metade de A/4, com o mesmo título, mas só saíram dois números. A Direcção Geral da Informação, por despacho de Manuel Figueira, negou porte pago ao jornal «Ecologia em Diálogo».
Entretanto e na rádio, durante ano e meio, os dez minutos semanais permitiriam um diálogo com milhares de ouvintes sobre problemas de ecologia. E isso só foi possível por especial empenho e boa vontade de quem convidou a «FE» a realizar o programa. Costa Martins, produtor do «Ponto de Encontro», foi o homem que acreditou e apostou nessa iniciativa, nessa voz da ecologia na Rádio.
A correspondência recebida nesse apontamento radiofónico provou que a ecologia não era um assunto de elites e interessava milhares de portugueses.
O jornal «Ecologia em Diálogo», lançado em Junho de 1981 na sequência do apontamento radiofónico do mesmo nome que Costa Martins aceitou, durante meses, no seu «Ponto de Encontro» da Antena 1, foi mal recebido na Direcção Geral da Informação, que lhe negou o «porte pago».
Sem escoamento pelo correio e sem distribuição para livrarias, é evidente que «Ecologia em Diálogo» foi asfixiado.
Ajudar a definir realismo ecológico face às ideologias do mundo contemporâneo, foi esse, em síntese, o contributo das edições «Frente Ecológica», em quase dez anos de actividade (1974-1984) e duas dezenas de títulos publicados.
Os equívocos provocados nestes dez anos pela palavra ecologia e a rigorosa definição do que, face aos eco-equívocos, se deverá afinal entender por ecologismo, resistência ecológica, movimento ecologista, ecopolítica, ecodireitos humanos e ecodesenvolvimento, foi afinal a tónica dos textos aparecidos nas edições «Frente Ecológica» ou nas centenas de outros que, no mesmo espírito, ficaram espalhados por vários jornais e publicações.
Admite-se que não fosse necessário tanto tempo, artigo, papel e palavras gastos para distinguir, afinal, o óbvio, o ecologismo de todas as suas numerosas contrafacções.
Mas, útil ou inútil, necessário ou desnecessário, foi essa a tarefa que em dez anos se impôs na «Frente Ecológica», como contributo à revolução cultural, expressão esta que, nos textos e nomenclatura, aparece como «descolonização cultural».
EDIÇÕES «FE» INDIGNAS DE FIGURAR EM LIVRARIAS
A certa altura da sua atribulada actividade, «Frente Ecológica» concluiu que as edições artesanais, além de não agradarem nem a gregos nem a troianos, nem à esquerda nem à direita, não tinham também e por isso lugar em livrarias .
Tendo perdido em 1976 a Livraria Peninsular, na Rua da Boa Vista, 87, em Lisboa, onde o pó, o caruncho e as velharias constituíam o cenário adequado ideal, «Frente Ecológica» sentiu que de ora avante ficaria deslocada em qualquer outro ambiente. E passou a editar para meter na gaveta. Desmoralizou, claro e entretanto.
Os grupos que solicitavam edições para bancas e outras festas alusivas, nem contas prestavam. Parecia tornar-se uma espécie de obrigação que a «FE» pagasse estes luxos divulgativos, levasse as edições, custeasse portes e transportes e...pronto, a partir daí nunca mais soubesse se vendeu muito, pouco ou nada, se havia ou não havia devoluções.
+
1-4 - 83-04-01-ie- ideia ecológica - hfe-4
terça-feira, 15 de Abril de 2003
FE 1/Abril/1983
AS NOMENCLATURAS E OS DOSSIÊS
Uma sociedade digna e honrada sabe desembaraçar-se a tempo dos elementos perturbadores : e a «Frente Ecológica» foi devidamente neutralizada , até à total paralisia e asfixia.
A explicação é clara: os temas a que a «F.E.» se consagrou com mais atenção e assiduidade, podemos verificar agora, 10 anos depois, que confluem, apesar da sua heterogeneidade, num alvo: organizar a resistência ao sistema tecnocrático.
A procura de um diagnóstico correcto da crise, a profundidade e radicalização da crítica, ser ou não ser independente de partidos e de confissões religiosas, lutar pelo direito à formação auto-didáctica, enfim, pensar a oposição possível e a resistência necessária é o resumo da «Frente Ecológica».
OPOSIÇÃO RADICAL REFORMISTA
A glosar para o projecto oposição, os temas da «Frente Ecológica» mais salientes são:
Inimigo principal
Diagnóstico da situação ambiental, doença ou crise
Esquerda e direita: um debate ultrapassado
Apelo às fontes primordiais de informação
Técnicas de subversão reformista não-violenta
Técnicas de resistência passiva
Dez anos separam dois textos de Herbert Marcuse
Os Grupos de Pressão, de Jean Meynaud (PEAZ, 1966)
Oposição política mas não oposição partidária
Técnicas para a sociedade paralela (ex. comunidades semi-autosuficientes)
Cuidado com as utopias
Utopia e realismo
O DIÁLOGO DA DIVERSIDADE
Ao opinar sobre a variedade morfológica do ecologismo - «nebulosa» lhe chamaram e também «constelação» - é claro que o fazemos com a óptica da investigação realizada na oficina da «Frente Ecológica».
É um testemunho e uma posição, claramente assumida, frontalmente proposta ao debate. Oxalá das outras correntes e tendências se verifique outro tanto.
A proposta de um forum democrático de ecologistas, o próprio projecto de um jornal ao serviço desse diálogo (que chegou a haver com o título «Ecologia em Diálogo») , o respeito mútuo das diferenças, o grande Encontro Nacional de Ecologistas sem Partido, que chegou a estar previsto para 1984, enfim, o embrião de uma «assembleia da república ecológica», não tão utópica como isso, apontam, não para uma uniformidade de grupos, não para uma monocromia ideológica, não para uma voz única mas exactamente para a demarcação das diferenças, base de toda a verdadeira solidariedade e do possível diálogo.
Todos os movimentos sociais e cívicos têm em comum essa característica - são de cidadãos para cidadãos - o que leva a inocentes ou abusivas identificações.
Respeitar-se-ão melhor uns aos outros, quanto melhor definirem a sua própria identidade, o espaço que cada qual ocupa e o que tem de específico para oferecer à comunidade.
Os movimentos cívicos e alternativos atingem, aliás, uma excepcional variedade. O que o ecologismo pode ter de peculiar relativamente aos outros movimentos sociais de alternativa é a sua globalidade e abrangência.
Para distinguir o ecologismo das duas dezenas de movimentos afins, a nossa proposta, a partir da «Frente Ecológica», tem sido e continua a ser, uma especificação : realismo ecológico.
Teimaremos nela, até que nos proponham outra melhor.
A NOÇÃO DE BIOCÍDIO
A noção de biocídio como centro nevrálgico do realismo ecológico assinala-se desde os primeiros textos e edições da «Frente ecológica», que desde logo verifica nao ter sentido o dualismo clássico de esquerda/direita.
Sustentar esta tese - intuição fundamental do realismo ecológico - e apesar da sua óbvia evidência, foi condenar a «Frente Ecológica» ao isolamento e ao silenciamento.
Dois textos servem de referência: um deles publicado no número 9 do jornal «Frente Ecológica » ( Julho de 1976), intitulado «Carta à Esquerda Portuguesa» e o opúsculo «Carta à Geração do Apocalipse».
Mas outros artigos tentaram romper a tácita rede de censura que necessariamente haveria de tecer-se à volta desta mais do que polémica posição.
No fundo, toda a colecção «Mini-Ecologia» martela essa tecla.
+
1-1-hfe-5- fe 1983
CORRENTES HETERODOXAS:AFLUENTES DO REALISMO ECOLÓGICO
As correntes heterodoxas na história política contemporânea deveriam ter constituído matéria de estudo numa escola livre de realismo ecológico - preparar ecologistas para uma oposição radical consequente - tanto mais quanto essa resistência ocorre quase sempre numa zona de penumbra que os historiadores, por isso mesmo, tendem a esquecer...
Quem se lembra, por exemplo, que as comunidades (laicas e religiosas) do Novo Mundo foram historiadas por Liselotte e O.M. Ungers, num livro tão interessante e didáctico como é aquele que escreveram com o título «Comunas no Novo Mundo»?
Em certa altura dos acontecimentos e quando a esperança nas tecnologias alternativas ainda não era utopia, o centro de documentação da «Frente Ecológica» acolheu a edição espanhola desse livro, lançada por Gustavo Gili de Barcelona : «Comunas en el Nuevo Mundo: 1740-1471», do original de língua alemã «Kommunen in der Neuen Welt».
A «revolução cultural chinesa», por outro lado, que motivou livros de escritores célebres como Alberto Moravia, acabou por ser matéria omissa, embora muito falada no auge do fenómeno.
Também a «new left» norte-americana ou o Maio 1968 em França, motivo de extensa bibliografia, foram ficando num limbo de silêncio que de ano para ano se tem acentuado.
DESPISTAGEM BIBLIOGRÁFICA
Na «Frente Ecológica» chegou a realizar-se uma despistagem bibliográfica de correntes, afluentes, fontes e precursores do realismo ecológico, num total de (até Dezembro de 1983) cerca de 70 títulos que abrangem uma grande variedade ideológica: direitos do homem, não violência activa e resistência passiva (Lanza del Vasto, Gandhi, Luther King), cooperativismo (Sérgio), anarquismo clássico, surrealismo (Artaud, Bréton), movimento operário e sindical, «hippies» e «yippies», movimento estudantil, etc.
O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA: 25O LIVROS POR ORDEM CRONOLÓGICA
Para que não acusassem a «FE» de derrotismo e pessimismo, para lá de tantas outras acusações de que foi alvo, há com certeza também coisas positivas para apresentar no balanço dos dez anos (1974-1984).
Por ordem cronológica, organizou-se uma lista dos livros existentes na «biblioteca dos tempos difíceis» - livros que se poderiam considerar fontes interessantes da intuição ecológica, os despertadores da consciência ecológica no último século.
Há, nessa lista, livros e autores desde 1859 (A Origem das Espécies) até 1982 (Ecologia para Principiantes).
Já metidos na ordem (cronológica) ficaram, em Dezembro de 1983, cerca de 250 volumes, pistas bibliográficas que servem de fundo informativo e filosófico a uma oposição radical dos ecologistas, expressão que dominava nesses anos a «Frente Ecológica».
+
1-3-hfe-6- notícias da frente - fe 1984
PRODUZIR IDEIAS:UMA INDÚSTRIA ARTEANAL
A produção de ideias, durante estes dez anos (1974-1984) , na oficina artesanal da «Frente Ecológica», foi um comprovado fracasso como actividade económica lucrativa.
A produção artesanal de ideias, romântica aspiração de Antero e Sérgio, advogados da inteligência criadora no nosso país, não era à partida, portanto, rentável. Mas se da maioria não se esperava eco, das elites ditas responsáveis também não houve resposta.
Nesse sentido, de facto, a «Frente Ecológica» foi apenas uma fantasmagoria, um sonho e em alguns aspectos um pesadelo dentro de outro pesadelo: o país e mundo em que vivemos.
OS LABORATÓRIOS EXPERIMENTAIS DE ECOLOGIA HUMANA
Foi um bocado sina do signo Aquário que a «Frente Ecológica» se adiantasse demasiado no tempo quanto à proclamação de teses que só anos ou décadas depois deixariam (deixarão?) de ser heresia.
Teses largamente defendidas pela «Frente Ecológica» e por uma minoria de outsiders, profetas e visionários, têm, em comum, serem teses impopulares e difíceis, que ninguém quer e que ninguém ouve, têm em comum implicarem linhas de investigação pessoal e própria, inédita, como «terreno virgem» que são.
Ecologia Humana é ainda uma ciência virtual, uma ciência (do) por-vir:
1º - porque os laboratórios experimentais de ecologia humana são, pela primeira vez na história, os laboratórios da própria história, os acontecimentos, as catástrofes ( especialmente as catástrofes) , desde Hiroxima a Chernobyl,
2º- porque as teses da contra-ciência, as questões virgens da ecologia humana, sendo intuições sem antecedentes reconhecidos, são apenas hipóteses de investigação
Como poderia a ciência institucionalizada consagrar ou admitir o que a subverte?
A DEMAGOGIA DAS DOSES MÍNIMAS E A QUALIDADE BIOLÓGICA
Um parâmetro igualmente incómodo para o sistema estabelecido, conduziu a «Frente Ecológica» a um novo impasse. Ou dizia a verdade ou desistia de existir.
A ecologia humana, de facto, introduz na política do consumidor, um parâmetro altamente subversivo e de alta incomodidade, que é o conceito-chave de qualidade biológica.
A química reina omnipotente e a solução mais interessante em defesa do consumidor que as legislações e normas da CEE, da OMS, da FAO, da Direcção Geral da Qualidade do Ambiente, do Instituto da Qualidade Alimentar, da Direcção Geral de Saúde, encontraram para amenizar as doses mínimas admissíveis.
Admissíveis por quê e por quem?
A demagogia das doses mínimas é, no entanto, um tema que os próprios ambientalistas, conservacionistas, pietistas do ambiente , amigos da natureza, etc não costuma incluir nos seus autocolantes.
Razão mais do que suficiente para ser um tema prioritário do realismo ecológico, na «Frente Ecológica».
PRODUTOS DUVIDOSOS: DAVID CONTRA GOLIAS
Se a situação de franco-atirador é, como se compreende, virtualmente suicida - exposto que fica à voracidade das multinacionais quem se dispuser a enfrentá-las - não se julgue que o poder que detém os poderes seja mais intrépido e corajoso em defender a verdade e o consumidor .
Ficou célebre o caso da maré negra causada, nas costas da Bretanha francesa, pelo petroleiro Amoco-Cadiz. Como a revista «Mil Consumidores» propusesse o boicote à empresa responsável pelos prejuízos causados sobre a população, a empresa respondeu à revista francesa contra-atacando e processando-a.
QUOTIDIANO DO ESCAPE
Entender o «ruído como uma doença política» foi um dos contributos inéditos que a «Frente Ecológica» deu ao estudo de um fenómeno que pouco tinha até então preocupado os ecologistas portugueses, além de não preocupar nada as autoridades encarregadas de vigiar a qualidade de vida dos cidadãos.
Até certo ponto era encarado como natural que o escape roto se deixasse proliferar, atendendo às múltiplas doenças do foro psiquiátrico e nervoso que ele pode veicular ou agravar.
Na «Frente Ecológica» manteve-se uma certa campanha verbal (artigos que foram sendo publicados) contra o escape roto mas tudo caiu na indiferença oficial.
Um caso quotidiano como o do ruído é, assim, tão significativo pelo barulho que faz e pelas agressões que provoca como pelo silêncio que à sua volta se vai institucionalizando, quer por parte de governos e políticos, quer por parte dos ecologistas.
+
1-1-hfe-7-hfe 1976
Para manter o mínimo de coesão de um movimento ecológico cada vez mais disperso e enfraquecido, manteve a «FE», na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o aluguer de uma sala que servisse de ponto de união e reunião.
Pagou, por essa sala, durante mais de 16 meses, a importância mensal de três mil escudos.
Cada vez mais agravada a situação de défice, atingiu a absoluta insolvência em fins de 1976, pelo que se viu obrigado a saldar a biblioteca de ecologia, vendendo ao desbarato o que pôde. Aliás, tinham falhado todas as tentativas de conseguir apoio oficial do Ministério da Educação para que essa biblioteca funcionasse como serviço público.
O proveito resultante da venda dos livros permitiu que se mantivesse o aluguer da sala até Agosto de 1977, data em que se resolveu abandoná-la.
+
1-3-
PORTAS PARA O MUNDO ECOLÓGICO
Com o título «Portas para o Mundo ecológico», publicava a «Frente Ecológica», em 1975, em tiragem de poucos exemplares, um documento sobre os vários caminhos que poderiam conduzir ao despertar, nas pessoas, a «consciência ecológica».
Dizia esse texto da «Frente Ecológica» em 1975:
A noção da urgência ecológica pode começar a vibrar nas consciências, pelos mais diversos pretextos e através de diferentes motivações, científicas e teosóficas, místicas e tecnológicas, quotidianas e filosóficas.
Importante é que se reconheçam idênticos os que entram no mundo ecológico por portas diferentes: pelo naturismo, pela tecnologia alternativa, porque se sentem defraudados como consumidores (ou simplesmente envenenados...), ou porque os assusta efectivamente probabilidade cada vez mais próxima e em alguns casos iminente de ver esgotados os recursos essenciais em água, ar, silêncio, segurança, solos, alimentos, matérias-primas, energia, etc.
O CONGESTIONAMENTO
Em vários e múltiplos campos o congestionamento pode levar à saída ecológica, à revolta ecológica, pelas situações intoleráveis de asfixia e becos sem saída que ocasiona; se, na cidade, o congestionamento urbano é o dia a dia de processo triturador, é a cloaca-tipo, é prisão por excelência e o puro concentracionário; se no campo dos estímulos e dados sensoriais, os mass media e os ruídos desenvolvem um bombardeamento quotidiano ininterrupto sobre os sentidos e as meninges do cidadão; o congestionamento torna-se um factor igualmente paroxístico, se virmos o que sucede em acumulação de conhecimentos, relatórios, bibliografias, etc. no campo da proliferação dita científica, verbal, dos ramos particulares do dito conhecimento.
Ainda que não se referissem outros campos do conhecimento científico onde o congestionamento é cifrável em milhões de arquivos microfotografados simbolicamente situados nos centros culturais e bibliotecas «mais importantes do mundo», bastava citar o que, num breve sector, o de ciências humanas, se tem feito para afogar em papel , nem sempre devidamente higiénico, a realidade humana, assim submersa, asfixiada sob uma avalanche de especializações e de especialistas que a tornam caricatural, o grotesco esqueleto dessa mesma realidade.
Uma ponte para a opção ecológica é assim a da profunda decepção sentida por alguns especialistas revoltados com o alibi do especialismo e com toda a desumanização que a industriocracia e a biocracia instauraram na praxis humana.
Face ao congestionamento de dados e de estímulos, face à inflação de bens de consumo e de objectos e utensílios, face à necessidade de selectivar cada vez mais e de separar o supérfluo do fundamental, o critério ecológico entra como um selectivador por excelência.
Repondo tudo em causa, tornando caducas as ciências particulares, ideologias e políticas sectoriais, propondo que toda a acção parta de zero, a lógica ecológica é a única metodologia, a única epistemologia, é a única que não é ilógica.
A INFLAÇÃO
A escassez agravada de recursos, ao estender-se ao Terceiro Mundo (onde foi crónica por culpa e força da opressão colonialista secular) ao mundo dito da abundância, através da forma civilizada de Fome chamada Inflação (para não se lhe chamar exploração do homem pelo homem) - torna sensível a finitude irremediável da Terra e dos seus recursos, dos seus bens fundamentais, dos quais depende a sobrevivência humana.
É natural que esta porta do subdesenvolvimento do desenvolvimento leve muita gente e nem só o engenheiro agrónomo René Dumont a interessar-se a fundo pela eventualidade de um partido ecológico candidato a eleições na França.
DESCOLONIZAR A NATUREZA
«BÁRBARO É O QUE CRÊ NO PROGRESSO» (LEVY-STRAUSS)
O contacto, livresco ou não, com culturas e civilizações durante séculos colonizadas pela raça branca, torna evidente a supremacia moral de muitas dessas culturas, nega a civilização ocidental como superior às restantes (apenas porque as dominou pela força e pela tortura) e abre uma visão multicultural mas também contra-cultural, que é, ao fim e ao cabo, uma visão ecológica em que todos os povos do mundo são superiormente formados mas que depois esquecem e alienam à medida dos contactos com o que a «civilização» branca e europeia os vai corrompendo.
Sem falar já dos povos que, no centro da Austrália ou nos aforas do Amazonas foram encontrados em estado paradisíaco, vivendo na chamada era neolítica, muitos outros povos africanos, asiáticos e sul-americanos (com os índios da América do Norte e do México na frente) encontram-se hoje na vanguarda da moral ecológica, por as suas culturas serem humanas, harmónicas e exemplares, sendo com eles que os grupos e movimentos contra-culturais têm estado a aprender, depois de terem desaprendido o que as universidades da ciência sem sabedoria lhes tinham transmitido.
Muitos entram no paraíso ecológico, depois de verificarem que o inferno somos nós, os civilizados.
A SINTOMATOLOGIA E A CAUSALIDADE ECOLÓGICA
Ao contrapor a sintomatologia reformista a uma causalidade ambiental, uma nova visão do problema saúde/doença conduz infalivelmente a uma concepção ecológica não só da medicina terapêutica (que deixará de ser sintomatológica para ser radical averiguação das causas ambientais) mas de todas as práticas sociais e ciências humanas.
Lembra-se aqui o que já foi dito sobre a descoberta feita pela sociologia de fenómenos até então considerados morais, como o crime, o suicídio, a neurose, a agressividade, etc. Há também os da tese biológica e que explicam tudo isso pelos «maus instintos».
Da perspectiva ecológica, esses fenómenos deixam de ser pecado para serem efeitos, produtos muito claros de causas muito evidentes.
A POLUIÇÃO É APENAS UM FACTOR
A poluição, especialmente nos seus focos espectaculares e directamente traumatizantes do consumidor ou do transeunte ou do caçador , pode ser outro factor que conduz a vítima a um engagement ecológico, embora - sublinhe-se - a demagogia da antipoluição que lhe está inerente seja um dos equívocos que melhor podem afastar as vítimas de uma autêntica consciência ecológica; há casos mesmo em que a táctica antipoluição é o maior impedimento à tomada de consciência de uma estratégia ecológica global.
Deve notar-se, porém, que muitos são ainda hoje os que confundem poluição com ecologia e que da ecologia só conhecem o que os demagogos da anti-poluição lhes contaram...
DESCONFIANÇA DO MODELO DE CRESCIMENTO ATÉ AGORA SEGUIDO (VELHO PARADIGMA)
O capitalismo em geral, a sociedade do desperdício em particular, a ideologia do consumismo inerente à industrialização maciça e indiscriminada, as energias hiperpoluentes para satisfazer toda essa apoplética actividade de febril manipulação do homem pelo homem, tudo isso tem sensibilizado alguns consumidores (enquanto tal e a tal categoria reduzida a sua condição humana...) para os vícios de um sistema económico - de um modelo de crescimento exponencialista que cada vez menos serve o homem e cada vez mais degrada, desgasta, depreda o meio ambiente - natural ou habitat .
A reacção contra a exploração de recursos e suas sequelas pode ser também um dos caminhos mais frequentes que levam à adopção de uma via ecológica e sua verdade. E nem é preciso chegar a extremos de contestação, basta que se fique por uma certa crítica liberal do sistema, tipo Ralph Nader, tipo Sicco Mansholt, tipo Galbraith.
+
1-2-hfe-9-notícias da frente
UTOPIA OU MORTE
1982(?) - Entre as companhias indesejáveis que foi costume arranjar aos ecologistas, conta-se a dos utopistas. Uma revista houve, mesmo, inspirada nas ideias do Maio 1968, que se intitula «Raiz & Utopia».
Assimilar o ecologismo a um idealismo ou neo-romantismo é, mesmo entre os que se reclamam das suas teses, uma das formas mais expeditas de o atirar pela borda fora da História.
Acontece, porém, que o ecologismo está hoje no centro da História, considerando que este centro se deslocou da luta de classes para a luta de gerações. E considerando que a contradição principal deixou de ser patrão-operário para ser imperialismo-humanidade.
Nomes de grande prestígio cultural ou religioso - mas de pouco significado político - aparecem, por outro lado, intencionalmente associados à ideia de utopia na arte, na literatura e na filosofia.
Pretende-se, assim, através da utopia, colocar os ecologistas sob o mesmo denominador comum daquelas outras actividades platónicas: estar-lhe-ia também destinado o papel de sonhar, inventar ou imaginar para o futuro, um mundo (e um tempo) diferente daquele que os homens vivem no presente.
No presente estariam os realistas, os tecnocratas e os tecnofuturologistas.
Nadando no futuro das ideias e dos ideais, os ecologistas de braço dado com literatos , sonhadores, boémios , românticos, poetas, líricos.
A primeira acusação que um ecologista pode fazer às pretensas eco-utopias é que elas servem , tanto como as tecno-utopias, de ópio para adormecer a consciência do pesadelo contemporâneo .
Sonhar um futuro ideal - como fazem afinal os utopistas de ambos os lados - serviria de manobra táctica para obrigar os homens a suportar , com menos queixas e revoltas, a exploração, a alienação e a manipulação do presente.
Contra o movimento subversivo de Maio de 1968, por exemplo, eis os partidos políticos em fúria: falam então, de esquerdismo, anarquismo irresponsável, romantismo político.
De facto, e apesar de todos os mitos que lançou no mercado, o «movimento de opinião» Maio 68 significou uma reviravolta, um salto qualitativo na forma de entender a história e de a compreender na sua mais profunda e intrincada dialéctica. Não se pode menosprezar a importância dessa data que não proclamou nenhuma utopia antes se insurgiu contra todas as ficções.
«Sejamos realistas, exijamos o impossível.»
A UTOPIA DE RECUSAR TODAS AS UTOPIAS
A utopia serve ainda para alimentar outras confusões : as alternativas e o não alinhamento com as grandes potências bélicas, seriam então ...utopia. Seria, portanto, impossível fugir ao círculo de ferro da dicotomia ou bipolarização que hoje abafa o Mundo e promete fundi-lo no holocausto nuclear.
Pensadores como Herbert Marcuse - paradoxalmente identificados com o pensamento utópico - concorreriam para reforçar o equívoco, já que também proclamaram , com a tese do homem unidimensional, a impossibilidade de escapar às malhas de ferro dos impérios ou grande blocos de potências nucleares.
«Temos de contar com as nossas próprias forças».
Samir Amin, economista de renome mundial, estaria apenas a proclamar uma utopia quando, dá esse conselho a países como Portugal, rendido aos poderes do Mercado Comum.
Eis, pois, no esforçado dizer dos realistas, um mar de utopias que nos levarão ao abismo.
Única saída : preferir a utopia de recusar todas essas utopias.
Hippies e cabeludos são outra imagem com que normalmente se tenta comprometer o ecologismo.
Fugindo ao sistema, tal como aqueles, o ecologista acabaria por regressar, conciliado com o sistema, o emprego e o papá. E, em vez de flores, usará gravata. Possivelmente, até ficará à secretária de uma empresa multinacional, tornando inviável qualquer mundo de amanhã.
Esta imagem - tentando mostrar que ninguém escapa à engrenagem e que o establishment volta a recolher os seus contestatários - serve bem para mostrar aos trabalhadores (conformados, resignados, não revoltados) como são eles, afinal, quem está certo e tem uma visão realista da sociedade.
ALGUNS CRISTÃOS, ALIADOS TÁCTICOS
Lê-se num autor católico: «A História da Igreja e do cristianismo está semeada de utopias.»
Se é assim, eis exactamente uma das razões porque o ecologismo se demarca do cristianismo, embora Cristo e principalmente São Francisco de Assis, enquanto poetas-profetas, sejam sempre figuras inspiradoras de qualquer homem que não abdique de valores morais e não se renda ao maquiavelismo.Eventualmente, alguns cristãos podem ser aliados tácticos do ecologista. Mas com estratégias bastante diferenciadas, evidentemente.
+
1-2-hfe-10- Notícias da frente
Revisão:quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009
DA RESISTÊNCIA À DESISTÊNCIA: O SISTEMA VENCE SEMPRE
21/Setembro/1987 - Na lógica (cronológica) da sequência histórica, às agressões da l sociedade industrial seguir-se-iam , como resposta, os movimentos sociais de contestação, protesto e resistência. Foi, assim, aparentemente, com alguns dos mais promissores desses movimentos, desde os hippies ao Maio 68.
Pacifistas, não-violentos, místicos, neo-místicos, esotéricos, amigos da Natureza, tiveram assim, como única razão de existência, face ao execrável mundo industrial, manter a chama do inconformismo e da liberdade.
Curiosa e estranhamente, o discurso de todos estes movimentos , mais para o yoga ou mais para os terapeutas, ou mais para os esotéricos, ou mais para os nutricionistas, ou mais para os eco-alternativos, revela-se hoje, quase sem excepções, um modelo de conformismo e de passividade.
E em nome, a maior parte das vezes, da tolerância dialéctica!
A perversidade inata do mundo contemporâneo mais uma vez vingou. Hoje ( e daí a perversão) o conformismo tomou de assalto as fortalezas do inconformismo.
Quem pôs os grupos de resistência e contestação a rezar a mesma ladaínha do sistema?
Quem construiu a palavra «iuppies» sobre a palavra «hippies»?
A capacidade de recuperação do sistema consegue , de facto, virar o bico ao prego a tudo o que em princípio lhe oferece resistência. Mais tarde ou mais cedo, o sistema tem artes de transformar a resistência em desistência.
Tudo serve para convidar o adepto à submissão dos absurdos políticos, sociais, económicos:
serve o yoga
serve a lei do karma
serve a macrodimensão do tempo eterno que retira significado aos eventos efémeros
serve o relativismo de tudo
serve a dialéctica taoísta que põe em evidência os dois lados da realidade (tudo é bom e mau ao mesmo tempo)
21/Setembro/1987 - Dois continentes que se chocam não seria a imagem ainda suficientemente enfática para servir de metáfora à guerra mais violenta do nosso tempo mas que, no entanto, é aquela de que temos menos consciência.
Talvez a violência latente lhe venha, em grande parte, do seu carácter «secreto» . Essa guerra move interesses tanto mais poderosos quanto mais escapa à percepção da maioria ou mesmo de uma minoria privilegiada.
A oposição e a irredutibilidade dos dois «continentes» que se chocam (verdadeira guerra de mundos ideológicos que se chocam) torna actual um sistema filosófico aparentemente ultrapassado: o maniqueísmo, com efeito, volta novamente a estar no comando do processo histórico, pondo a dialéctica, humilhada, a um canto.
E mesmo os que, durante tantos anos, se esforçaram por esconjurar os demónios do maniqueísmo, dizendo preferir a dialéctica, acabam submetidos à potente realidade dos factos, estruturalmente maniqueísta.
Daí a guerra santa que, sob disfarces mais ou menos grotescos, se trava neste tempo a nível planetário: curiosamente é o próprio Planeta que está no centro das hostilidades, planeta que assiste, impotente, não só à crueldade dos seus exterminadores profissionais e confessos mas a uma nova vaga que, dizendo defendê-lo, arquitectaram as mais aperfeiçoadas teorias justificativas do extermínio.
+
1-2-hfe-11- notícias da frente
O MOVIMENTO ECOLOGISTA
O imanentismo ateísta das correntes anárquicas - «Ni Dieu, ni Maitre» - leva consigo a autodestruição e a morte na alma.
Sem referência, por um lado, além do imanente, os militantes têm a tendência a «levar-nos muito a sério» e de ter a sua própria pessoa em grande conta (Nem Deus, nem patrão).
É o espectáculo a que se assiste , hoje, entre adeptos do ecologismo vindos de áreas ditas libertárias.
No caso do Partido Ecologista, eles pensam e repensam o convite de adesão que lhes é feito, não tanto em termos do que podem ou não podem , em união connosco, dar à causa da liberdade e contra o Inimigo Comum - a tecnoburocracia . mas em termos do que os outros (a galeria) podem dizer do seu engagement ou da sua (deles) fidelidade a uma ideologia pré-fixada ou pré-estabelecida.
A maior parte dos «não» que o Partido Ecologista (em projecto) recebeu de ecologistas derivam dessa alta autoconsideração em que os ego-individualistas se têm.
Outra é a atitude dos que não fazem dos desideratos egoístas a última meta, desde que sirva o que mais importa - a zona de sagrado que a vida tem e que se pode identificar com a liberdade - outros há que tomam o ecologismo como um meio ou instrumento (que é) decidem fechar os olhos e mergulham na luta , Mas para isso é preciso uma certa ideia de transcendente e de um «para lá» destas misérias. O puritanismo de pseudo-místicos, libertários, pacifistas, não-violentos , etc - completamente fora da realidade - eis este nosso tempo e mundo, de que o movimento ecologistas tem sido uma das principais vítimas.
A ocupação do espaço ecologista por e toda a espécie de ecoequívoco, foi facilitada, em boa parte, pela indefinição em que o realismo ecológico se manteve - e mantém - permitindo assim toda a espécie de instrumentalização e confusionismo .
+
1-4- hfe-12- notícias da frente
Revisão:quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009
A «FE» EM 1983
Também a «Frente Ecológica », pequeno grupo de edições , fez o diagnóstico da crise que a todos nos aflige.
Mas a conclusão a que chegou sobre as causas da crise difere das conclusões encontradas por outras correntes de opinião e formações políticas.
No entender da «Frente Ecológica» e do realismo ecológico que nela temos defendido, a crise é de ideias.
Ora, sendo exactamente essa a indústria - produção de ideias e de informação - em que a «Frente Ecológica» investiu desde os já recuados anos de 1974, duas coisas podemos hoje concluir, em Maio de 1983 :
- A «Frente Ecológica» iria viver inevitavelmente em falência crónica
Curiosamente e por coincidência, o movimento ecologista mundial, tal como também desde a primeira hora o perspectivámos na «Frente Ecológica», é fundamental e simultâneamente um grande movimento de ideias, um grande movimento sócio-pedagógico, um grande movimento cultural.
Há quem coloque, bem o sabemos, a génese da ecologia em outras fontes.
Por exemplo: ecologia seria (apenas) e dos investigadores no laboratório ou no nicho ecológico das espécies, debruçando-se sobre o comportamento dos mosquitos ou das libélulas.
Ecologia seria, para outros, a dos naturalistas como Darwin ou Ernesto Haeckel, a dos laboratórios, herbários e taxonomias.
Ecologia seria ainda a dos biólogos como o ornitologista Max Nicholson ou a dos conservacionistas como Jean Dorst ou a dos «fluxos energéticos» estudados por Odum e John Phillipson.
Etc.,
Admitimos que todo este rol de autores tem um lugar no movimento ecologista e que todos estes autores devem ser estudados pela novas gerações no campo estritamente sectorial e especializado em que se colocam.
Mas na «Frente Ecológica» desejamos continuar a pôr a tónica nas ideias. E por isso dizemos que para o ecologismo concorreram fundamentalmente filósofos - ou talvez mais correctamente contra-filósofos -, pensadores, poetas e profetas do que propriamente cientistas.
Diria mesmo que o ecologismo é um movimento neo-profético, que alguns confundem com Utopia. Mas um realismo também. Uma realismo realista, se me é permitida a propositada redundância.
E é como oficina de ideias que temos anunciado o nosso trabalho na «Frente Ecológica».
Movimento de ideias, é necessário referenciar o ecologismo a poetas e profetas que anteviram as dominantes da época actual.
Urbanistas e arquitectos como Lewis Mumford, Biomédicos como René Dubos, filósofos como Roger Garaudy, Henri Lefebvre ou Edgar Morin, activistas políticos como Cohn Bendit, Castoriadis , Rudi Dutschke (já falecido) , Rudolfo Baro, pacifistas como Gandhi ou Lanza del vasto, escritores como Simone Weil do «L'Enracinement», professores como Ivan Illich, jornalistas como Michel Bosquet e muitos, muitos outros homens de ideias, eis onde a «Frente Ecológica» procurou as fontes do seu realismo ecológico, os fundamentos para a criação de uma oficina de ideias e de informação. Talvez pareça herético reafirmar com António Sérgio que a crise é de ideias, quando os problemas candentes são materiais e económicos, quando há gente sem pão, sem casa, sem emprego.
Mas mesmo assim arrisco, escudado no autor dos «Ensaios» e em todos os que como ele foram acusados de idealistas ou elitistas que nós, como país, temos falta e fome de ideias. E que é por uma pedagogia criadora de ideias que tudo tem que ser recriado.
Por mais que os afoguem com as prioridades materiais da economia, da tecnologia, das finanças, da energia - é na educação, é na cultura, é nas ideias como imperativo categórico , é na ecologia, enfim, que continuamos a acreditar como motor do mundo, alfa e ómega de tudo.
É claro que a própria escola pode ter uma atitude mais ou menos conformista relativamente ao ambiente.
E ninguém nega o papel fundamental que o professor desempenha em relação a programas porventura insignificantes ou sectários. Os programas não são tudo mas condicionam bastante. E ao condicionar muitos dos livros de texto elaborados para vários anos de escolaridade, é diverso o espírito que anima cada um deles.
Temos analisado alguns com atenção e o pior vício parece-nos ser a sectorização de matérias uma área que é fundamentalmente inter-disciplinar, como se costuma dizer.
O desafio da problemática ecológica lembra uma outra face na história do ensino , em que a necessidade da filosofia se fez sentir face à divisão de matérias e ciências. Também a disciplina de moral veio um pouco para colmatar o cientifismo positivista, a atomização do humano na escola de inspiração maçónica.
Ora é nesse cientifismo, anacrónico e ultrapassado que por estranho que pareça nos encontramos de novo com as ciências do ambiente e mesmo com a disciplina de ecologia.
A disciplina de estudos sociais acentua o trabalho de síntese mas ciências da natureza - ambas no ciclo preparatório - continua a sublinhar, como há 30 ou sessenta anos, a análise no sentido inverso da síntese macroscópica.
Como se sabe , «O Macroscópio» é o significativo título da obra em que Joel de Rosnay defende a macrovisão do mundo e da vida, uma visão sistémica dizem outros.
No fundo, não é por disciplinas sobrepostas - num ecletismo pouco educativo - que o milagre de uma consciência ecológica pode mais facilmente nascer e o seu despertar se dará. Verdadeiro estado de graça, essa consciência pode mais facilmente nascer de uma vivência quotidiana intensa, de um acidente ou de um traumatismo moral ou físico na vida do estudante.
Não julgo, pois, que um certo naturalismo escutista nas chamadas ciências da natureza ou mesmo a ciência biológica sejam os caminhos disciplinares mais directos para uma concepção moral da natureza.
Numa lista de livros que foi elaborada na «Frente Ecológica» intitulada «O despertar da Consciência Ecológica», propositadamente incluímos obras e autores que pouco ou nada têm a ver com ecologia dita científica (ecologia do nicho como alguns lhe chamam) e ciências do ambiente.
Também aí, insistimos em ver o ecologismo como fenómeno cultural, corrente filosófica, movimento de ideias, contra-ideologia, enfim, uma filosofia das filosofias, uma propedêutica fundamental.
Romper com o ciclo vicioso da ideologia dominante - tarefa fundamental de uma pedagogia ecológica - apresenta-se assim como uma das primeiras prioridades de acção.
Não se trata de romper com o sistema instalado, démarche utópica como o filósofo Herbert Marcuse largamente provou, mas de encontrar saídas comunitárias e autogestionárias - conviviais - para o sistema de medo, mentira e morte.
Romper com o «ciclo vicioso» da ideologia dominante não significa necessariamente acção violenta, radical ou revolucionária, mas uma demopedia paciente como disse António Sérgio. Há reformas possíveis por etapas e estratégias de mudança. Educação é a revolução não violenta e profunda .
Projectos de acção educativa, de acordo com as prioridades (dos) ecologistas, têm sido em várias ocasiões propostos. Mas eles enfrentam um obstáculo inerente à sua própria démarche. Querendo romper o peso da ideologia dominante, não encontram eco. É como se alguém falasse no deserto ou a surdos. As pessoas em geral não são receptivas a mensagens transmitidas em comprimento de onda que pretende exactamente romper com a toada dominante.
Há que apelar para elites minimamente despertas . Mas elites, a havê-las, só alguns raros que se encontram dispersos, incomunicáveis, ocupados também com o peso e o pesadelo da vida quotidiana.
É de notar, porém, alguns desses projectos que nos parecem tentativas inéditas para o nosso meio - o que explica, como se disse, as tiragens astronómicas de 100 exemplares das edições «Frente Ecológica» e o vazio onde caíram.
Com o projecto de aldeia comunitária «Terra do Sol» apresentava-se uma proposta na linha de uma pedagogia de ruptura quase total com o sistema tentacular.
É evidente que a estratégia de auto-suficiência se realiza melhor na tentativa de cortar o cordão umbilical com o sistema estabelecido.
Escolas-piloto de tecnologias alternativas e tradicionais, seriam, dentro do sistema, um projecto viável, pois não implica qualquer corte radical de princípio e antes se integra no establishment.
Aprender agricultura biológica, yoga, auto-organização, prática cooperativista , técnicas democráticas, são actividades evidentemente incómodas para o sistema mas que se podem programar ao abrigo do próprio sistema escolar que existe e do pressuposto que vivemos em democracia parlamentar europeia. Pode-se avançar numa pedagogia aplicada das tecnologias alternativas sem demolir o sistema mas abrindo-o às saídas.
Como a informação alternativa se liga profundamente à «revolução educativa e cultural», muitos foram os projectos alternativos de informação propostos pela «Frente Ecológica» , a um dos quais se chamou Oficina de Ideias e Informação Ecológica. 20 anos depois esse e outros projectos não perderam a actualidade: antes pelo contrário, continuam infelizmente (como projectos) mais actuais do que nunca...
Entre os projectos lançados nessa linha de produção de ideias, refira-se o regulamento do prémio Resistência Ecológica. Parece sintomática a nula receptividade que esse prémio Resistência encontrou nos diversos lugares onde foi apresentada a proposta. É que se tratava (e ainda trata...) de uma aposta no aproveitamento e fomento de valores - as pessoas que pensam a ecologia .
Admitamos que seja uma démarche utópica. Diz-se que a televisão incentiva a leitura. É mentira. A televisão não só diminui a capacidade de inteligência crítica - valor pedagógico fundamental - fomentando o slogan, a cassete, a ideia feita, como diminui o tónus da vontade, provocando entre as novas gerações multidões de seres apáticos e passivos.Quando os estudantes de Maio 68 defendiam a «imaginação ao poder» apontavam a prioridade dos tempos que estão chegando.
Chegou a considerar-se génio um cientista chamado Marshall Mac Luhan que fez da alienação televisiva uma teoria alegadamente educativa da metamorfose planetária. Queria ele convencer-nos de que uma nova humanidade, metade gente metade electrónica, estaria nascendo dos audio-visuais. E fico bem consciente da heresia que estou afirmando, num tempo em que os audio-visuais nos invadem como exércitos de ocupação da alma colectiva. E ainda não tinha chegado, nesses anos tranquilos, a eurovisão por satélite. E muito menos tinha chegado a Internet.
Um outro projecto pedagógico apresentado pela «Frente Ecológica» foi uma alternativa à macrocefalia informativa que bloqueia, em Portugal, a iniciativa e a voz dos cidadãos concretos. É outra heresia, esta, . Corrente que só alicia, evidentemente, uma elite de pessoas com sensibilidade suficiente para isso. Ecologismo é uma questão artística, estética e ética, muito mais do que uma questão científica ou tecnológica.
Mas a crise ecológica é também a crise de recursos vivos do Planeta Terra, recursos minerais e materiais é certo mas também e fundamentalmente recursos humanos.
Ora essa crise é necessariamente distorcida na sua realidade mais autêntica pela ideologia dominante que, ao serviço da economia de Exploração, só pode subsistir à custa da referida delapidação de recursos e consequente agravamento da crise (mais um ciclo vicioso do sistema).
À luz da moral energética ou da Economia de reciclagem - de que é modelo físico o ecossistema - a crise ecológica e portanto a crise de recursos (ou económica) não tem solução sem uma revolução cultural que altere radicalmente a imoralidade ou deseconomia vigente.
A Leste e a Oeste, a economia de exploração faz razias e vive em crise crónica. E nenhuma das medidas preconizadas, quer pelas potências capitalistas quer pelas potências socialistas, pode resolver a crise na medida em que, por definição, a agravam.
Daí que logicamente se imponha a pergunta : a avaliar pelo que se desperdiça, haverá crise de energia, crise alimentar, crise de água, crise de recursos, crise económica, crise de emprego, enfim, crise? Não estará a crise afinal na cabeça daqueles que a provocam?
«Frente Ecológica» insistiu em fabricar ideias como o melhor contributo para a saída da crise, nomeadamente a crise energética. à luz do realismo ecológico, uma prioridade se impunha e continua a impor: inventário dos desperdícios e desaproveitamentos em todos os campos da actividade portuguesa mas fundamentalmente o desaproveitamento dos recursos humanos.
Feito este inventário do que se desperdiça, ficará claro que a grande solução contra a crise é tomar medidas para evitar o desperdício, os projectos de acção que ficaram perdidos nas gavetas, as boas vontades desprezadas, inventores sem incentivo, cientistas prospectivos sem laboratório, estudantes sem escola, escritores sem editor, vocações abandonadas, ideias perdidas...
Em Vila Viçosa, o Centro Cultural Bento de Jesus Caraça publicou, na altura, um jornal com um título lindo: «Há tanta ideia perdida..». E há.
+
1-5 - 98-05-25-ie-ideia ecológica - terça-feira, 15 de Abril de 2003-novo word - hfe-13>
25-10-98-«FE» JULHO 1983
No âmbito de reuniões efectuadas em Lisboa, na sede da Base FUT - Frente Unitária dos Trabalhadores - e com vista à criação de um órgão ecologista designado «Ecologia em Diálogo» (que herdasse a dinâmica do apontamento radiofónico na Antena 1 com o mesmo título), foi elaborado um documento, entre outros, sobre a conjuntura ecologista nesse momento.
Divulga-se agora para ilustrar um pouco do que então, o ano de 1983, se passava quanto à independência do ecologismo e algumas cobiças que já se desenhavam com o desejo expresso de o controlar (ou controleirar, como então se dizia).
«A questão que se coloca aos ecologistas portugueses na presente conjuntura - Julho de 1983 - é a de mostrar ao poder que têm direito a ser ouvidos como sector representativo da vida e da opinião pública.
A verdade, porém, é que os ecologistas não têm neste momento meios objectivos de mostrar que possuem essa representatividade, enleados num ciclo vicioso que decorre do próprio sistema jurídico legal que regula e regulamenta a representação democrática de indivíduos e grupos.
Somos minoria numérica exactamente porque nos faltam meios de acesso aos órgãos de comunicação social que permitam amplificar a nossa voz e fazê-la chegar a uma potencial base de apoio . O direito de acesso a esses órgãos por seu turno, tem-nos sido vedado porque não somos nem um partido, nem uma classe profissional, nem um grupo de pressão suficientemente organizado e agressivo para impor ao poder esse acesso e esse direito .
A questão é que ter a razão e a verdade não dá automaticamente direito a difundir essa verdade pelos órgãos de comunicação social que a façam chegar a quantos nela estão potencialmente interessados.
No que respeita ao ponto mais sensível da luta dos ecologistas - a energia electro-nuclear - é muito possível que o IX Governo vá cumprir o que prometeu no seu programa apresentado à Assembleia da República e que proceda a um debate público sobre a chamada «opção nuclear».
Mas além desse debate estar há muito anunciado e em curso, não sabendo os ecologistas que novidades lhe poderá imprimir o novo governo, não temos ilusões quanto ao perigo que oferecem estes métodos aparentemente democráticos de impor ao país a energia mais antidemocrática do mundo que é o nuclear.
Fala-se em debate no discurso oficial e é possível que se proceda a um seu simulacro mas apenas para que a decisão - certamente já tomada - tenha a cobertura «moral» de uma consulta popular.
Tão pouco temos dúvidas quanto às fraudes que tal debate pode permitir. E tão pouco ignoramos a desigualdade de forças em presença. Com os meios de comunicação social a que o poder tem acesso de um lado e do outro os ecologistas sem um única publicação em que possam defender os seus pontos de vista, é evidente que não pode haver debate nem diálogo mas apenas monólogo . E enquanto esta relação de forças não for alterada - dando aos ecologistas meios de difusão pública que não têm - melhor será ao poder, por uma questão de primária deontologia, nem sequer falar em debate.
Se esta relação de forças quanto ao acesso da comunicação social se mantiver, o chamado esclarecimento da opinião pública para que decida sobre o nuclear será apenas mais uma ficção para acrescentar às restantes.
+
1/Abril/1983 - Pertence à história do movimento ecológico em Portugal , certamente, o célebre almoço que Mário Soares ofereceu , em 1 de Abril de 1983, a três dezenas de ecologistas e no qual, entre outras medidas, o Partido Socialista prometia abrir os grandes meios da comunicação social à voz e à razão dos ecologistas.
O Partido Socialista ganhou as eleições, foi poder (Governo) e nunca abriu os órgãos de comunicação social aos ecologistas.
Entre os convidados presentes na reunião de 1 de Abril, citam-se:
Carlos Almaça, da Faculdade de Ciências de Lisboa
Alberto Vila Nova, Arquitecto do Serviço de Estudos do Ambiente
Afonso Cautela, do grupo «Frente Ecológica»
Fernando Dacosta, do semanário «O Jornal»
José Manuel Vasconcelos, arquitecto do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico
Fernando Pessoa, arquitecto paisagista, da Secretaria de Estado do Ambiente e da Universidade de Évora
Francisco Abreu, da Reserva Natural da Serra da Arrábida
Viriato Marques, do jornal «Setúbal Verde»
Rui Freire Andrade, presidente da Liga para a Protecção da Natureza
Rui Cunha, das associações de estudantes e movimentos juvenis
António Balau, da página «Ecologia» da «Gazeta da Nazaré»
Carlos Robalo, do grupo «Eco-lógico» de Torres Vedras
João Evangelista, da Comissão Nacional do Ambiente
António Eloy, da Associação Portuguesa de Ecologistas «Amigos da Terra»
Tavarela Veloso, presidente da Associação dos Amigos do Parque Peneda Gerês ( Braga)
Nuno Oliveira, do Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem (Porto)
Cruz Júnior, almirante, da Direcção Geral da Protecção Marítima
Álvaro Penedos, da Faculdade de Letras do Porto
Nuno Lecocq, arquitecto, do Parque Natural da Ria de Aveiro
António Fonseca, do Comité Anti-Nuclear de Lisboa
Ribeiro Ferreira, Jornalista de «O Tempo»
João Luís Oliveira e Costa
Jorge Leandro, da Associação Livre de Objectores de Consciência
José Luís de Almeida e Silva, do semanário «Gazeta das Caldas»
João Santos Pereira, do Departamento de Silvicultura do Instituto Superior de Agronomia
José Almeida Fernandes, do Serviço Nacional de Parques e Reservas
Mendes Vítor, do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica
+
«ECOLOGIA EM MOVIMENTO»:PROJECTO CÍVICO DE INTERVENÇÃO POLÍTICA
Ecologistas hoje somos alguns. Amanhã - e se queremos que haja amanhã- teremos que ser todos.
16-19/Abril/1983 - «Pôr em marcha um projecto cívico de reflexão e intervenção sobre os graves problemas do Ambiente que afectam a população portuguesa» era o objectivo do grupo que, em 1983, lançou, sob a designação de «ecologia em Movimento» , uma série de iniciativas, entre as quais se destaca um ciclo de filmes e colóquios na Fundação Calouste Gulbenkian, entre 16 e 19 de Abril daquele ano.
Dizia o seu manifesto de apresentação :
«Ecologia em Movimento» agrupa pessoas que decidiram conjugar esforços para pôr em marcha um projecto cívico de reflexão e intervenção sobre os graves problemas de ambiente que afectam a população portuguesa:
Esta oficina de ideias, informação e prática tem como objectivo reunir pessoas interessadas em:
- diagnosticar a crise ecológica nas suas raízes e causas mais profundas
- propor soluções radicais ou medidas de reforma para resolver alguns desses problemas a curto e médio prazo
- propor alternativas aos sistemas e modelos de desenvolvimento macroeconómico que agravam a crise dizendo que a resolvem
- organizar dossiês informativos sobre os casos mais candentes da realidade ecológica portuguesa, para que os especialistas explorem com dados técnicos esses dossiês
- debater com o governo central e as autarquias as premissas ecológicas fundamentais das várias políticas sectoriais
- constituir-se como interlocutor , moral e tecnicamente válido, do poder central e do poder local no âmbito dos problemas do ambiente
- fazer circular a informação fundamental junto da opinião pública, com iniciativas de animação cultural-
- obter, coligir e sintetizar os dados científicos mais actuais sobre as grandes áreas da economia (energia, indústria, planeamento, regionalização)
- contribuir para uma leitura ecológica dos problemas quotidianos sofridos pelas populações e que afectam negativamente a sua qualidade de vida
- provar, através do estudo metódico e sistemático, que toda a acção política precisa de ser iluminada pelas ideias e pela actualização constante dos dados mais recentes e rigorosos fornecidos pelas ciências humanas e do ambiente
- através de seminários e reuniões de trabalho, preparar activistas e animadores de cultura ecológica, para que possam intervir, conscientemente e armados de argumentos seguros, em defesa dos princípios de ecologia humana e sua aplicação prática na vida quotidiana dos cidadãos
- através de correspondência, boletins internos e outros meios de intercâmbio informativo, manter a ligação constante com professores, alunos e grupos locais interessados em prosseguir um trabalho análogo de qualidade
- Organizar um fundo documental, com recurso a filmes, diaporamas, livros, publicações, fotocópias, exposições itinerantes, etc. e que possam auxiliar o trabalho de animação desses grupos.
Se te interessar este trabalho de pensamento, cultura, informação e animação ecologista, vem estudar connosco os dossiês mais urgentes.
Há trabalho para todos.
Queremos ser, como colectivo, uma voz independente e fazer das ideias uma arma, em defesa da vida e da natureza.
Sem desprezar a acção (imediata, não violenta) postulamos, na luta ideológica, a inteligibilidade crítica como o campo privilegiado do nosso trabalho.
Pensar a realidade e os problemas humanos dos nossos compatriotas é a nossa maneira cívica de fazer política.
«Ecologia em Movimento» não quer ser apenas um repetidor mecânico de slogans, cassetes, ideias feitas, frases ocas.
A imaginação também é para nós uma ferramenta de trabalho. Ultrapassar o bloqueio das dicotomias viciosas geradas nas ideologias de superestrutura que dominam o sistema, é a nossa meta e o nosso método.
Errando se caminha, por isso se caminha pondo à prova , na experiência, postulados geradores de acção.
Somos um desafio às instituições anquilosadas do poder, aos aparelhos e mecanismos corporativos.
Hipótese e experimentação - convém lembrá-lo - são duas operações do método científico. Ciência para nós é assim um esforço dialéctico de compreender a realidade em movimento para em movimento a transformar.
Entre a poesia e o rigor, o sonho e os factos, a utopia e o realismo, a estética e a política, «Ecologia em Movimento» será a dialéctica criadora, o desenvolvimento e o progresso que propomos.
Vem trabalhar connosco neste projecto de aventura e esperança.
Ecologistas hoje somos alguns. Amanhã - e se queremos que haja amanhã- teremos que ser todos.
16/Maio/1983
+
Integravam o grupo de lançamento de «Ecologia em Movimento», os seguintes nomes:
António Duarte
Afonso Cautela
António Eloy
António Fonseca
António Franco
Artur Tomé
Fernando Pessoa
Franklin Silva
Gertrudes Silva
João Reis Gomes
Joffre Justino
Jorge Leandro Rosa
Jorge Murteira
José Afonso Faria
José Manuel Lopes
Júlio Valente
Mário Cruz
Rocha Barbosa
Ecologia, na perspectiva da «Frente Ecológica», foi sempre a economia de todas essas ideias perdidas. E a grande crise foi, é e continua a ser o desperdício de valores, de energias humanas.
+
1-2-hfe75
NO AUGE DO GONÇALVISMO
23/Julho/1975 - Texto significativo do ambiente que se vivia em 1975 é a proposta apresentada por «trabalhadores da cultura» ao encontro de 23 de Julho de 1975, realizado na Associação Portuguesa de Escritores.
Muito ao estilo da época , a «moção apresentada pela «Frente Ecológica» ao referido encontro na Associação Portuguesa de Escritores, propunha-se tomar algumas decisões com base em alguns considerandos.
Descontando o anacronismo do estilo, bastante datado, extrai-se deste documento uma ideia de «frente comum de todos os movimentos sociais», ideia que ainda não deixou de ser actual, antes pelo contrário, torna-se mais actual à medida que os totalitarismos de todos os matizes se enfurecem e endurecem na insana luta contra o povo deste país.
Eis o texto, discutido e já não se sabe se aprovado, na referida reunião de «trabalhadores da cultura», em 23 de Julho de 1975:
« Trabalhadores da cultura, reunidos na Associação Portuguesa de Escritores, em 23 de Julho de 1975, verificam com a maior apreensão que:
- O desemprego tende a agravar-se, tanto nos sectores intelectuais como nos sectores de trabalho manual;
- Criadas, com a libertação do 25 de Abril, as condições objectivas para a Revolução Cultural, condições que mais se alargaram e consolidaram após o 28 de Setembro e após o 11 de Março, o subaproveitamento do trabalho em geral e do trabalho criador em particular, continua;
+
1-1-hfe - 83
O PRÉMIO «RESISTÊNCIA ECOLÓGICA»
O prémio «Resistência Ecológica» lançado pela «Frente Ecológica» em 21 de Março de 1983 e graciosamente anunciado em alguns órgãos de informação, foi um dos fracassos mais retumbantes deste ano pré-comemorativo dos 10 anos de democracia .
Os 100 volumes que faziam parte do prémio (apenas de 20 mil escudos em dinheiro) puderam depois ser vendidos através do serviço de tele-livraria que a «FE» se propunha activar, em mais uma tentativa de sair da crónica crise financeira.
A venda de livros usados foi, no decorrer destes dez anos de resistência ecológica na «Frente», uma das actividades a que se recorreu para sobreviver.
Tentou-se um serviço de livraria à distância com um projectado «clube do alfarrábio útil».
As listas de livros úteis disponíveis a preços de ocasião seriam enviadas a quem se inscrevesse nesse «clube». sendo a inscrição gratuita, nem mesmo assim o projecto foi um sucesso. Poucos ou nenhuns se mostraram interessados em livros usados, ainda que interessantes.
+
1-2-hfe-84- memórias da frente - 1984
DEZ ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL: BREVE BALANÇO DE UMA DÉCADA ECOLOGISTA
Não podendo festejar com bandas e bandeiras os 10 anos do movimento ecologista em Portugal, que se aproximavam com o 25 de Abril de 1984, impunha-se, no entanto, um balanço retrospectivo do que foi feito.
Dez anos depois do 25 de Abril, em 1984, a efeméride foi aproveitada pela «Frente Ecológica» para tomar algumas iniciativas com as quais pudesse fazer face à crise económica permanente em que (sobre)vivia.
Dizia a folha informativa então policopiada:
25/Abril/1984 - «É com um rosário de fracassos e falências que nos propomos, na «Frente Ecológica», festejar este ano de 1984, data festiva nos anais do movimento ecologista em Portugal, já que foi, a 15 de Maio de 1974, que se realizou em Lisboa, na Cooperativa Unimave, Rua da Boavista, a primeira reunião de uma série que levaria à aprovação de um manifesto e à constituição, no 10º cartório notarial de Lisboa, do Movimento Ecológico Português, em Fevereiro de 1975.»
E a referida folha informativa acrescentava:
« Com um panorama de falhanços passados, presentes e futuros, cremos estar, aqui na «Frente Ecológica», à altura do País que temos.
« Não poderemos festejar com bandas e bandeiras os 10 anos do movimento ecologista em Portugal, que se aproximam com o 25 de Abril de 1984, mas talvez se impusesse um balanço retrospectivo do que foi feito.
Dizem-nos alguns amigos que é urgente uma panorâmica dos factos - dada a especulação, por vezes bastante gratuita e outras vezes bastante sectária, que ecologistas de aviário e última hora têm desenvolvido para que, falseando a história, possam no presente podre falsear o futuro.
«Entre os amigos que mais interesse têm mostrado por uma retrospectiva dos acontecimentos, é justo citar o José Carlos Marques, animador do «Renascimento Rural», o António Fonseca, do C.A.L. (Comité Anti-Nuclear de Lisboa), o António Franco dos «Amigos da Terra» e Fernando Pessoa da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas.
Ao António Fonseca se deve mesmo a salvaguarda de alguns documentos fundamentais para a história do movimento ecologista em Portugal, que teriam ido parar ao caixote do lixo num momento de desespero, daqueles em que nada já parece valer a pena, inclusive guardar papéis.
Nem que fosse para corresponder à solicitude destes amigos do movimento ecologista talvez valesse a pena, já agora, um esforço suplementar para salvar das cinzas (alguns) factos, nomes, datas e pontos de referência.
Acontece não só com as pessoas mas com os povos e os movimentos: uma perspectiva histórica de fontes, antecedentes e afluentes é indispensável à identidade de todo o ser (vivo) inteligente. Constata-se, afinal, que a memória faz falta à gente e para mais alguma coisa serve.
A disposição, aqui na «Frente ecológica» é, pois, de balanço. Dez anos é um número redondo e faz jeito para arrumar a casa e quem sabe se algumas contas.
Se escolhemos a última década é não só porque ela coincide com uma etapa histórica vivida em Portugal mas porque também o movimento ecologista internacional assumiu nesses dez anos contornos definidos e sui generis, na sequência do chamado primeiro choque petrolífero.
No limiar de 1984, é mesmo a hora do balanço,sem falar do romance profético de George Orwell(1903-1950) que escolheu a data para título. »
Uma retrospectiva de factos, nomes e datas sobre as acções ecologistas e para-ecologistas em Portugal foi produzida, nos últimos meses, na oficina e entrou pressurosa no gavetão negro dos inéditos.
Restam só alguns acabamentos, para o que nos tem faltado vontade : afinal, para quê fazer seja o que for neste país e mundo? O motivo principal desse balanço vem de um facto verificado frequentemente nos últimos tempos. Inexactidões e principalmente lacunas de referências pretensamente históricas que têm aparecido sobre o movimento ecologista em Portugal, nomeadamente duas: «O Que é a Ecologia», de Dominique Simonnet, numa estranha tradução/adaptação lançada por Editorial Notícias e a obra enciclopédica «Este Planeta em que Vivemos», de Jean-Jacques Barloy, numa tradução-adaptação de Maria Filomena Boavida, dos editores «Amigos do Livro».
Uma coisa que fique clara: qualquer pretensa retrospectiva do ecologismo português que esqueça o nome e a presença de José Carlos Marques, releva da pura ignorância .
Verdade que também ele, José Carlos Marques, durante muitos anos teimou em se encobrir atrás de um pseudónimo, num quase anonimato . Verdade que nada fez para esclarecer quem era o A. Faia que organizava tantas edições lançadas no mercado. Verdade que a discrição e a modéstia são apenas duas virtudes das muitas que compõem a personalidade de José Carlos Marques. Mesmo assim, quem se propõe historiar deve saber onde estão os protagonistas da história, por mais que eles se tenham voluntariamente apagado ou remetido à discreta ocultação característica das grandes almas.
Sem comentários:
Enviar um comentário