terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ECOMILITANTE 1975

1-12- diário75-2-ie>
domingo, 5 de Janeiro de 2003-scan

O ECOMILITANTE NA DESCOLONIZAÇÃO CULTURAL [Col. "Manual do Ecomilitante" Nº. 7
Escrito por Afonso Cautela em 1975-76]

Sumário:

I -"A terminologia trai a ideologia: alguns problemas
II - Um prático de todas as práticas para a autosuficiência
III - Movimento Ecológico na Revolução Cultural: 8 temas para um ecomilitante
V - Quando os partidos deixarem que este País funcione...
V - A função crítica do ecomilitante: lembrando a noção de crítico abjeccionista
VI – Militantes precisam-se para um Programa Ecológico de Esquerda

I - "A TERMINOLOGIA TRAI A IDEOLOGIA"

Se Biologista é o praticante da Biologia, naturista um adepto do naturismo, Sociólogo um técnico da Sociologia, deduz-se que o praticante, o adepto e o técnico da Ecologia deveria ser qualquer coisa como um Ecologista ou Ecólogo...

É evidente, porém, que ao amador e animador da acção ecológica, como arma política e de intervenção cívica, a Ecologia interessa apenas como ciência subsidiária (confirmativa dos seus postulados políticos), interessa como dimensão filosófica, como ética, como eixo de valores que inspira actividades, disciplinas, princípios, práticas e acções.

Daí que, nos vários textos emanados do Movimento Ecológico Mundial, se prefira quase sempre adjectivar a palavra e divulgá-la adstrita a realidades substantivas, quase nunca isolada, ela, como substantivo.

A Ecologia Animal, por exemplo, é de há muito um capítulo estudado em escolas e universidades, com seus compêndios e divulgadores próprios; será, nessa acepção, mais uma ciência, classificada no quadro geral dos conhecimentos científicos.

Esse conceito estático e um tanto académico, porém, diremos mesmo imobilista, embora seja muito repousante para os que exclusivamente o adoptam (não implica qualquer opção ou conversão de carácter político, ético, estratégico) não é o que ao Movimento Ecológico mais interessa. Serve de apoio às teses e aos postulados políticos do Movimento, mas em muitos campos o Movimento excede-o.

Posta esta dificuldade prévia, pergunta-se: como designar então o adepto, o entusiasta, o animador, o amigo da acção ecológica, ou da acção política na linha ecológica?

Cremos que esta dificuldade não foi até agora superada em nenhum País e, como achega à solução do problema entre nós, sugerimos uma terminologia aproximada que eventualmente poderá vir a tornar-se corrente:

Eco-prático
Ambientalista
Eco-táctico
Naturista...
Eco-político
Eco-maníaco...


E evidente que nenhuma destas palavras se apresenta suficientemente agradável ao ouvido para se tornar corrente e prática, de uso normal.

Fazendo juz ao título desta colecção sugerem-se mais alguns sinónimos:

Militante Cívico
Militante Ecológico
Militante do poder/cultura popular
Animador sócio-cultural

Entretanto e como nova achega, podemos enunciar aqueles conceitos que, fundamentais, são os que mais vezes ocorrem ligados à palavra ecológico.

Repare-se, pois, que a palavra ecologia na categoria de adjectivo adquire uma maleabilidade e uma universalidade que parece tema fundamental de reflexão para todos os eco-maníacos:

Agitação ecológica
Acção ecológica
Actuação ecológica
Alarme ecológico
Apocalipse ecológico
Crítica ecológica
Combate ecológico
Contra-ofensiva ecológica
Crime ecológico
Campanha ecológica
Calamidade ecológica
Catástrofe ecológica
Contestação ecológica
Desastre ecológico
Dialéctica ecológica
Dogma ecológico
Demanda ecológica
Dimensão ecológica
Denúncia ecológica
Démarche ecológica
Desafio ecológico
Ética ecológica
Estratégia ecológica
Fé ecológica
Frente ecológica
Guerrilha ecológica
Intervenção ecológica
Investigação ecológica
Luta ecológica
Lei ecológica
Moral ecológica
Movimento ecológico
Novidade ecológica
Opção ecológica
Prognósticos ecológicos
Prospectiva ecológica
Previsão ecológica
Planificação ecológica
Percepção ecológica
Participação ecológica
Perspectiva ecológica
Pratica ecológica Política ecológica
Sensibilidade ecológica
Resistência ecológica
Ruína ecológica
Resposta ecológica
Tribunal ecológico
Unidade ecológica

Ao falar de contra-ofensiva ecológica, subentende-se uma realidade inelutável e uma constante - o Biocídio - que se pode apresentar sob diversíssimos sinónimos por ordem alfabética):

ofensiva atómica
" biocrática
" biocida
“ burocrática
" capitalista-imperialista
" cirúrgica
" ecocida
" eléctrica-electrónica
" etnocida
" genocida
" industriocrática
" mecânica
" publicitária
" química
" tecnológica
" burocrática
" tóxica

Esta sugestão do Grupo Coordenador é para circulação interna do Movimento e contém apenas hipóteses de trabalho que a tornam semi-confidencial.

ECOMILITANTE: UM PRÁTICO DE TODAS AS PRÁTICAS PARA A AUTO-SUFICIÊNCIA

O que verdadeiramente deveria competir a toda a educação - pré-escolar, escolar e pós-escolar - é transmitir técnicas de auto-suficiência, prática de autogestão.

"Como se desenvencilhar das dificuldades" (problemas) é todo o programa de uma educação problemática como a preconizava António Sérgio, é todo o programa pedagógico da Revolução.

Alguns críticos do sistema escolar vigente - que é o inverso do que devia ser, que é educativo por excelência - falaram algumas vezes na necessidade de "tornar a Escola mais prática.".

Será efectiva e realmente uma necessidade, em escola tão escolástica e teórica, verbalista, historicista, etc

A palavra "prática", no entanto, é ainda insuficiente para expressar toda a extensão das mudanças que uma revolução pedagógica, ecopedagógica envolve. Práticas, sim, mas práticas de auto-suficiência, e só essas.

O MOVIMENTO ECOLÓGICO NA REVOLUÇÃO EDUCATIVA E CULTURAL: 8 TEMAS PARA UM ECOMILITANTE

I - QUALIDADE DE VIDA

Conceito burguês ou reformista e conceito revolucionário;

II - REVOLUÇÃO CULTURAL

Exemplos históricos, França (Maio de 1968) e China Popular.

Duas maneiras de entender a "revolução cultural" conforme o contexto político onde se insere: democracia burguesa ou democracia popular.

III - DESCOLONIZAÇÃO CULTURAL

De que maneira se podem integrar, numa frente ampla, diversas estratégias de descolonização cultural:

- Descolonizar a Natureza (frente ecológica);
- Descolonizar Minorias Étnicas (ex.: o cigano);
- Descolonizar a Criança;
- Descolonizar a Mulher (frentes feministas de caracter inequivocamente progressista);
- Descolonizar o Doente (frente das Medicinas paralelas);
- Descolonizar o Consumidor (política autogestionária e cooperativista do consumidor);
- Descolonizar o Peão (Clube do Peão contra o Automóvel);
- Descolonizar o Artista em geral e o Escritor em especial (A Poesia deve ser feita por todos);
- Descolonizar as minorias sexuais (frente da revolução existencial).

IV - QUALIDADE DE VIDA, REVOLUÇÃO CULTURAL E POLÍTICA DE SAÚDE

Considerando o Movimento Ecológico especializado em "qualidade", propõe-se o estudo sistemático dos "aspectos qualitativos da Revolução" e de que maneira esses aspectos podem servir de motor à Revolução económica, política e social.

Accções exemplares na Revolução do 25 de Abril que assinalam a preocupação de não descurar os aspectos qualitativos da Revolução;

- Ocupações de iniciativa popular;
- Incentivo à auto-construção e às cooperativas de habitação económica;
- Campanhas de dinamização cultural;
- A hipótese dos táxis colectivos;
- Renovação da cidade: algumas medidas de salubridade urbana;
- Transformação de eléctricos em salas de aula e em espaços de utilidade públicas;
- Fomento da bicicleta desmotorizada no transporte individual e fomento compensatório dos transportes colectivos.

V - MOVIMENTO ECOLÓGICO E OS QUE COM ELE PODEM CONFUNDIR-SE

(Análise crítica)

- Campistas;
- Política oficial do Ambiente;
- Escutistas;
- Política do Consumidor;
- Campanhas de regresso à Natureza;
- Geografia Humana;
- Política das reservas e parques Naturais;
- Sociologia da Vida Quotidiana;
- Protecção do Ambiente Físico e das Espécies;
- Ecologia Animal e Vegetal.
- Proteccionismo e conservacionismo.

VI - O MOVIMENTO ECOLÓGICO E A LUTA ANTIPOLUIÇÃO

Inoperância da luta antipoluição;
tácticas de pressão levadas a cabo pelo Movimento Ecológico, no sentido de forçar os departamentos responsáveis a pôr em prática as tácticas reformistas de política do Ambiente que por definição lhes cabem;

Incentivar campanhas:

- Para transportes públicas que dispensem drasticamente a lata automóvel e descongestionem os espaços humanos desse cancro imparável;
- Contra os ruídos de escapes e cães domésticos;
- Para reciclagem de papel e outros materiais usados;
- Contra o arboricídio e a favor de zonas verdes.
- Contra a publicidade e os desperdícios
- Para recolha seleccionada de lixos;

Contra-ofensiva implacável ao pesadelo e terror das cidades;
Contra-ofensiva ao lixo, ao automóvel individual, ao congestionamento, aos transportes desumanos, à arquitectura aberrante, etc

VII

Contributo crítico que os grupos de trabalho e animação poderão dar aos planos de política económica e social, nos sectores mais directamente relacionados com a "qualidade de vida" e a manutenção dos recursos vivos:

- Política de Emprego;
- Política Florestal;
- Política de Saúde;
- Política do Ambiente
- Política dos Tempos Livres;
- Política Energética;
- Política Agrícola;
- Política de Educação
- Política de Reciclagem;
- Política de Dinamização Cultural;
- Política de Recursos.

VIII - MOVIMENTO ECOLÓGICO E POLÍTICAS DO AMBIENTE DEFINIDAS PELOS PARTIDOS POLÍTICOS

Total ausência de um programa ecológico definido pelos partidos políticos.

ESPERANDO O DEGELO

Quando os partidos deixarem que este País funcione...

A dada altura de um seu editorial, assinado pelo director, o semanário "Linhas de Elvas" preconizava em relação aos jornalistas o que parece ser um "degredo purificador", mas que se afigura uma medida bastante acertada e com a qual há que estar cem por cento de acordo.

"Os tais jornalistas (...), esses poderiam ser integrados em brigadas de auxílio aos trabalhadores rurais." - diz o referido editorial, acrescentando:

-"Lado a lado com eles, operários, recebendo os míseros 130$00 por dia, dobrando a mola, segundo um dito popular, pegando na enxada e no tractor, davam, assim, um contributo válido e precioso para a revolução socialista."

Ora aí está uma sugestão inteligente e que, estou certo, não só agradaria a muitos honestos militantes ecológicas, como seria para eles uma benção.

Só é pena que tal sugestão - como os factos têm demonstrado - seja tão pouco da simpatia de Serviços e Organismos que, mais ou menos afectos à Reforma ou Reestruturação Agrária, se choram e lamentam, por um lado, de não ter mão-de-obra rural para todos os trabalhos necessários e, por outro lado, se vão carpindo de ter mão-de-obra a mais...

O próprio Serviço Cívico, abominado por uns, defendido por outros, tem sido acusado por alguns progressistas de ir tirar o pão da boca de muitos trabalhadores rurais.

Parece mas é que temos de saber, uma vez por todas, e através de uma planificação nacional do trabalho e do emprego - onde está esse Serviço Nacional de Emprego, que nunca mais ninguém o vê? - de um inventário das carências (a um lado) e de um inventário dos excedentes (a outro).

Com democracias pluralistas é que esta merda nunca mais avança nem funciona.

A FUNÇÃO CRÍTICA DO ECOMILITANTE

[Escrito em 9.4.70 e já reproduzido em outro scan]

Na tentativa de tudo compreender e sem tomar posição definitiva, o crítico abjeccionista. procura esboçar algumas formas assumidas pela Abjecção e as formas de Resistência que se lhe opõem: a resistência crítica, a resistência das culturas não ocidentais, a resistência do homem isolado ou franco-atirador, a resistência anarquista, a resistência surrealista dadaísta, a resistência das minorias étnicas ou patológicas (o negro, o diminuído mental e físico), a resistência de grupos juvenis (provos, hippies, a resistência dos escritores-corpo ou escritores anta-literários Caryl Chessman, Jean Genet, Violette Leduc, Panait Istrati, Máximo Gorki, Franz Kafka, Antonin Artaud), a resistência da poesia polémica, etc

OS-LIMITES-DA-ABJECÇÃO

Para o crítica que a si mesmo se considera e intitula de abjeccionista, todas as formas de revolta e denúncia padecem de um defeito comum: não apontam a totalidade do que ele, crítico, designará de Abjecção.

No seu entender, se a Revolução só é quando é total (ou então não é) a crítica à Abjecção não pode omitir nenhum átomo dela, sob qualquer pretexto ou alibi, incl_u sivé e da especialização técnica e profissional (alibi muito usado pelos críticos de artes e letras em exercício).

Urge - diz ele - delimitar a campo da Abjecção e, se for necessário, ir até onde os outros não vão; não recuará mesmo perante a incurabilidade da espécie humana, se tiver de reconhecer que a origem dos males radica no homem enquanto espécie e não em formas da sua arrumação social.

Os que se apresentam como descontentes são, muitas vezes, apenas inconformados com um estado de coisas bastante local.

O observador abjeccionista caracteriza-se pela extensão do seu inconformismo: para já, ele encontra-se irreconciliado não só com com o capitalismo e o neo-capítalismo, não só com a civilização industrial-urbana, mas também maneira de Beckett, detractor último da condição humana, como Desmond Morris e Arthur Koestler) com o homem na sua fase actual de macaco nu.
O crítico abjeccionista diz: a crítica marxista critica a sociedade capitalista. Sim, muito bem, e depois? O resto da Abjecção que ultrapassa esse âmbito? Porque se poupa? Porque não se prossegue a crítica iniciada ao capitalismo e às suas formas de opressão, repressão, violência, exploração e crime, com a crítica às outras formas de opressão, às outras contradições e alienações, aos outros crimes?

Porque não se há-de ir mesmo à crítica do inevitável? Porque não criticar, por exemplo, um sismo e a sua acção criminosa? Porque não levar a revolta até à revolta contra o Homem-macaco-nu e e Natureza-cega-puta-madrasta?

A ARTE COMO COMBATE

Exactamente porque tem da crítica esta concepção "ambiciosa", o abjeccionista considera a sua acção, enquanto escreve, não uma renda frívola, não uma variante extra-profissional de ocupar o tempo e de se fazer notado, não uma ocupação mais ou menos, mas como uma acção, tensão ou luta ou resistência onde se empenha todo (e a isso chama "engagement”) de alcance eminentemente político, sempre.

Porque tem da literatura e da arte uma tão ambiciosa concepção é que pode reclamar, para a literatura e para a arte, não funções decorativas mas a capital função da Crítica, da Denúncia, da Revolta e, depois, da Prospectiva ou Revolução.

Sabe ele que a Revolução não se faz com filmes ou livros, mas desde o surrealismo que todos deviam saber e não esquecer que um filme e um livro não só podem ser como têm de ser uma arma.. E como tal os entende sempre o crítico que de abjeccionista se classifica.

MILITANTES PRECISAM-SE PARA UM PROGRAMA ECOLÓGICO DE ESQUERDA

Se (para uma análise ecológica da realidade) a poluição, a degradação do ambiente e o esgotamento dos recursos físicos e biofísicos são apenas consequência de causas estruturais, é evidente que a política preconizada por um militante da Ecologia Política não pode ser de remendo e remedeio, de ataque ao sintoma, de combate às consequências, mas de radical erradicação das causas.

A estratégia ecológica, portanto, ao contrário do reformismo ambientalista e da demagogia antipoluição, da poética protecção à Natureza dos parques e reservas, é uma política realista, radical e revolucionária.

A estratégia ecológica não preconiza o combate ao sintoma, mas preconiza a mudança estrutural do sistema.

E se as causas do crime, da doença ou do escândalo ambiental são várias, é a essas que se dirige a vanguarda ecológica. A política preconizada por uma análise ou contestação ecológica visa portanto as causas da degradação ambiental que são:

- o capitalismo e a exploração do homem pelo homem, com o imperialismo como sua expressão na ordem externa;

- o lucro e a maximização dos lucros, tudo sacrificando - saúde, segurança, silêncio das populações - a esse objectivo;

- o sistema de consumos que não recicla nem recupera e gasta indefinida, exponencial, logaritmicamente, matérias-primas não recuperáveis e bens vitais básicos;

- o sistema urbano concentracionário, que despovoando os campos e abrindo caminho à agricultura química do biocídio, vai por outro lado fazer das cidades verdadeiras jaulas, verdadeiras cloacas, verdadeiros hospitais;

- A economia do mercado que, através de concentrações monopolistas, tende à constituição de unidades industriais hiperpoluentes, ao gigantismo dos grandes complexos e à hiperpoluição dos cursos de água, do ar e dos solos, em uma determinada região, que sofrendo toda a destruição e todo o prejuízo dessa "concentração de indústrias" nunca poderá ter vantagens que suficientemente a compensem;

a ideologia sintomatológica que multiplica e complica os sintomas, as consequências, os efeitos, na medida em que abafa e oculta as causas em vez de as combater;

a mitologia positivista do cálculo, do número, da estatística, da ciência exacta e experimental, que se opõe à dialéctica, que se opõe à qualidade e ao salto qualitativo, que se opõe, enfim, à Revolução;

o desprezo pelo biológico, típico de um sistema virado para as proezas mecânicas, para o motor, para a tecnologia ruidosa e espectacular, exerce uma constante minimização dos aspectos qualitativos da saúde, da segurança, do afecto e da existência individual;

o ciclo vicioso da publicidade que, lavando o cérebro de grandes massas e levando às massas as ideologias agonizantes, biocidas, suicidas e anti-ecológicas, acaba por convencer as massas de que são necessidades todos os consumos impostos pelo sistema, inclusive o consumo que se destina a tratar-lhe da saúde, a dar-lhe prazer, a preparar-lhe as férias, etc..

DEFINIÇÃO DO MILITANTE

O militante rejeita slogans, ideias feitas, mitos e palavras de ordem esquemáticas.

O militante ecológico estuda os problemas humanos nas suas nuances necessariamente qualitativas, nas suas subtilezas, nos seus imponderáveis e nos seus ritmos próprios, rejeitando a grosseria dos cálculos meramente aritméticos e que pretendem reduzir os fenómenos biológicos a termos numéricos e a equações algébricas.

O militante ecológico rejeita a quantificação do humano, por ser medida anti-ecológica flagrante.

O militante ecológico especializa-se em técnicas de auto-suficiência e de autoemancipação, auto-educa-se, aprende: como se acondicionam lixeiras;
como se abre um caminho;
como se abrem fossas cépticas;
como se faz um furo artesiano;
como se constroi um campo de jogos;
como se canaliza água; como se repara uma torneira;
como se repara um esquentador;
como se cola ou faz uma cadeira; como se coloca uma fechadura;
como se improvisa uma aparelhagem sonora;
como reciclar materiais;
como fazer "spot-lights" com faróis de automóveis e praticáveis com pneus;
como se defender em caso de ataque ( artes marciais);
como se alimentar no máximo com o mínimo de comida (e dinheiro) (artes alimentares);
como poupar energia e bioenergia vital (acupunctura, ioga, zen);
como praticar inventário e inquérito aos recursos vivos e naturais locais;
como fazer marionetes;
como construir um palco;
como organizar um jornal de parede;
como tecer um tapete;
como abrir um poço;
como vedar uma canalização;
como construir um pontão;
como construir um moinho de água (ou reconvertê-lo);
como rodar um filme em superoito;
como organizar uma cooperativa.;
como orientar um debate;
como desenhar máscaras;
como improvisar instrumentos musicais;
como desaterrar um terreno;
como construir um telheiro para paragens;
como limpar as paredes sujas de slogans partidários...;
como varrer lixos públicos e condicioná-los de modo higiénico;
como pôr um penso, acorrer a uma ferida;
como animar um asfixiado ou afogado;
como varejar azeitona;
e como se curar sem medicamentos

QUAL A FILOSOFIA POLÍTICA DO ECOMILITANTE?

a) A análise política contida no projecto de Manifesto(1), parte, explícita ou implicitamente, de pressupostos marxistas e embora se desenvolva segundo uma linha de coerência interna que não se identifica com a de nenhum partido existente, não ilude nenhuma das contradições fundamentais que agitam a sociedade capitalista:

A luta de classes; a lei da mais valia; a exploração do homem pelo homem; o trabalho profissional alienado; etc são pressupostos que se pretende nunca iludir ao longo desse relatório.


b) o autor desse relatório, seguro de que se propõe claramente o conhecimento crítico da realidade social, geográfica, económica portuguesa - no presente e no futuro - sabe que está enfrentando um terreno virgem em Portugal - o da investigação ecológica – e um dos mais esquecidos em todo o Mundo: a Ecologia Humana;
razão essa mais do que suficiente, no entanto para o estimular neste trabalho pioneiro e para ele reivindicar, com suficiente conhecimento de causa, todo o apoio de entidades particulares do fomento cultural, interessadas em que a ciência ecológica avance no campo das ciências sociais e humanas.

c) Neste primeiro relatório sobre a situação Ecológica em Portugal - análise crítica, hipótese de trabalho, soluções alternativas - não estão ainda contemplados nem podiam estar, pontos e regiões que se consideram decisivos na panorâmica portuguesa do problema ecológico; é, no entanto, para se permitir uma base de apoio e disponibilidades financeiras indispensáveis que se apresenta esse esboço, sinal do que já se fez mas, principalmente, prova demonstrativa do que querem e do que poderão vir a fazer na mesma linha e dentro dos mesmos propósitos.
----
(1) Já publicados os 3 primeiros volumes, na Col. "Manifesto Ecológico", edição «Frente Ecológica».■

Sem comentários: