quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

CRISE 1981

1-3 - energia-2-ie-ds> ideia ecológica do afonso - os dossiês do silêncio
Domingo, 20 de Julho de 2003

ONDE ESTÁ A CRISE?(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 28/2/2981

28/2/1981 - À medida que o preço do petróleo mergulha o mundo industrial na mais longa e sombria crise da sua curta e sombria história, o tema dos desperdícios entra na moda. Não hesitamos em classificar aqui de histórico este acontecimento, esta súbita atenção ao aproveitamento dos desperdícios. Com efeito, no aproveitamento integral do que se deita fora, numa sociedade que já foi chamada sociedade do lixo, está ou pode vir a estar a outra face da tão falada crise da energia e do ambiente.
Na estratégia sistemática de reciclagem e reaproveitamento está, de facto, o ponto de viragem da actual estrutura económica e social e até do actual sistema ideológico que desgoverna o mundo e ameaça destruir o planeta Terra.
A energia gasta sob a forma de poluição, lixo, desperdício, restos, é superior à energia útil consumida no mundo industrial. E a degradação do ambiente não tem outra causa senão esse mesmo desperdício. Quer dizer: nem a poluição é um mal, visto que é uma fonte de energia; nem a protecção do ambiente custa tão cara como dizem, porque basta, reciclando, não o estragar; nem a crise de energia é crise, pois só no que se deita fora chegava para alimentar duas humanidades iguais a esta. Quanto mais às fontes infinitas que esperam aproveitamento.
Como se vê, se crise existe, é só de má vontade em utilizar, aproveitar, explorar ou reciclar toda essa energia disponível.
Crise, se existe, é só de Inteligência e cabeça dos que se puseram em responsáveis pelo destino dos povos.
Não há falta de energia. Nem a poluição é um mal, antes pelo contrário, é outra fonte de energia; nem a protecção do ambiente custa milhões, como vieram dizer-nos, como se falassem a cafres, os consultores da C. E. E. no colóquio da F. I. L. 80.
Crise, se existe, é só a que se mantém e fabrica artificialmente para manter dominados, explorados e alienados os homens e cidadãos deste planeta.
A palavra de guerra, portanto, não é crise mas reciclagem, toda uma estratégia global de convívio entre o homem e os ecossistemas.
Reciclagem é o conceito mágico que transforma a penúria em abundância, a crise em paraíso perpétuo.
A tão falada crise, afinal, não passa de boato. A demonstrá-lo, alguns exemplos, apenas, aos quais o leitor poderá acrescentar outros do seu conhecimento quotidiano. Se já tinha desconfiado que a tal crise energética é puro «bluff», acertou.

LEI PROÍBE GÁS METANO

Com o biogás ou gás metano, obtido através de excrementos - o chamado ouro castanho -, havia até agora uma única experiência em Portugal, em Vila Nova da Cerveira. Bem mantida em segredo, que é para evitar o contágio.
Pergunta o cidadão português farto de propaganda mentirosa: quem se preocupou em multiplicar por mil ou 10 mil essa experiência de eficácia suficientemente demonstrada?
A exploração do biogás é barata, realizável já, não põe problemas tecnológicos, é o melhor e mais barato combustível para os meios rurais. E ainda por cima, além de gás para todos os usos domésticos, fornece um fertilizante de alta qualidade para a agricultura. No fundo, talvez seja esta razão suprema pela qual o biogás é mantido no mais feroz segredo. Poderá, inclusive, aplicar-se ao automóvel. E daí que o segredo seja ainda mais apertado para que ninguém saiba.
A Universidade de Évora estuda o caso. E não sabemos muito bem o que é que há para estudar. O que há é a fazer, depressa e muito. No campo da realização, a maior firma portuguesa de indústria suína vai instalar duas centrais de biogás, no Montijo e em Leiria, facto revolucionário de que a imprensa deu as vinte linhas do habitual. Como se sabe, há sempre assuntos mais prioritários neste País, para ocupar tempo e espaço dos «mass media». Ah, se o leitor soubesse... Como nota grotesca do que não sabe e os responsáveis se esforçam em lhe esconder, aqui lhe contamos esta anedota: há uma lei proibindo que se fabrique gás metano a partir de petróleo. Resta saber se a lei também vai proibir que se fabrique gás metano a partir dos porcos, vacas e até das pessoas que abundantemente produzem também a respectiva matéria-prima...
Há várias formas, inclusive desportivas, de distrair as massas dos seus problemas.
Enquanto se distrai a gente com uma enorme central solar que os alemães vão montar no Alentejo, sabe-se lá quando, omite-se a possibilidade de, mediante um sistema de crédito bonificado, facilitar às pessoas, na sua generalidade, a possibilidade de investirem em pequenos equipamentos de captação solar para fins de aquecimento doméstico e climatização das habitações, no caso de nova construção.
Esta possibilidade multiplicaria até ao infinito a poupança de energia eléctrica da rede e poderá contribuir para aliviar os encargos que essa rede diz ter. Resta saber se estes grandes sistemas - para lá de lavarem o cérebro à gente com alarmes apocalípticos sobre o preço e a nossa dependência do petróleo, para lá de nos gritarem crise de meia em meia hora, - estão dispostos a deixar que se faça a disseminação de pequenas unidades geradoras. Até agora e pelo comportamento de uma sociedade que se diz de energia solar, tudo indica que também por aí o povo português vai ser endrominado e bem, dando-lhe mais uma campanha de mentira e falsidades a troco de uma central solar no Alentejo. E pronto, com isso se nos quer calar a boca.

A. ANEDOTA DO PETRÓLEO

O mesmo tipo de situação se vive para os moinhos aeromotrizes. O que impede a sua proliferação? Em vez de fazer a apologia do crime nuclear, porque não dizem estes engenheiros, para o cidadão saber, toda a verdade sobre a montagem de aerogeradores? Depois, eles falam de crise e que vamos ficar estrangulados quando o estreito de Ormuz estreitar de vez e não deitar mais pinga de petróleo.
Vivemos não há dúvida um tempo de chantagem moral. De crise de consciência e mentalidade. Essa, sim, é que está em crise e profunda.
Moem-nos a paciência com as explorações «on-shore» e «off-shore» à procura de petróleo nas entranhas da plataforma continental portuguesa.
Estão os portugueses a pagar milhões por essas explorações, quando há muito se provou já que não existe petróleo que valha a pena nas nossas costas. A grotesca anedota é tudo o que tem jorrado do solo português.
Com esses milhões gastos em perfurações que já previamente se sabem inúteis, quantos aerogeradores, quantos fornos solares, quantas cubas de biogás podiam ser instaladas?
Decididamente, a crise energética é um conto de fadas. É artificialmente fabricada, empolada e mantida. Que mais não seja, para justificar a inflação e outras coisas que sob a desculpa da inflação nos vão tiranizando o nosso dia-a-dia de cidadãos indefesos, mas principalmente de cidadãos ignorantes da pura e simples verdade dos factos.




JOGADA DE ANTECIPAÇÃO

Vivemos, não há dúvida, um tempo e mundo de chantagem moral. Não há crise nenhuma de energia. Interessa sim, a algumas forças, aproveitar os justíssimos aumentos do petróleo por parte dos árabes para convencer o povo português de que existe efectivamente uma crise. Porque só com crise é que eles ganham...
O actual plano de electrificação rural da EDP é uma jogada de antecipação. Antes que se pudesse traçar um plano energético nacional à luz das novas realidades económicas e das novas energias, entretanto fugidas ao regime de censura e segredo que as ocultava do público, a EDP cozinha um programa totalmente apoiado na electricidade de origem térmica, sabendo, melhor do que ninguém, como essa electricidade que queima fuel, levará cabelo, pele e osso ao consumidor português, à medida que o fuel aumentar de preço com os aumentos do petróleo importado.
Com um programa de electrificação rural, transportando a corrente a enormes distâncias, não só se reforça o sistema centralizador e concentracionário de fornecimento energético, não só se onera com o transporte a longas distâncias o preço da energia no consumidor, já onerado pelos aumentos do petróleo e consequente inflação, como se impede, com um mecanismo tampão, de que entretanto seja concretizado um verdadeiro Plano Energético Nacional, descentralizado, diversificado, à base de pequenas unidades geradoras locais, conforme os dados mais recentes, mais modernos e mais progressistas da política energética hoje adoptada naqueles países que se pretende imitar.
São apenas alguns exemplos da escuridão em que se mergulha o cidadão português, quando se lhe fala de electricidade.
Como se pode verificar, o problema não é de crise energética. É de mentira sobre disponibilidades, recursos, fontes de energia que estão perfeitamente à disposição dos portugueses, embora não sejam do agrado e do interesse dos estrangeiros que nos (des)conhecem, mas que mandam sucessivas cortinas de fumo, propaganda e intoxicação maciça para nos impedir do ver claro. De fazer verdadeira luz neste problema da energia.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 28/2/2981