sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

ECO-IDEIAS 1970

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29-4-2000

A CHAMADA «LUTA BIOLÓGICA»:MAIS UM EQUÍVOCO?

Palavras-chave para pesquisa na Internet:
adubos
agricultura biológica
agricultura química
aves
Bayer
biocidas
biocídio
Comissão Internacional de Luta Biológica (1956)
DDT
desequilíbrios biológicos
ecologia dos solos
F.A.O.
fitopatologia
fungos
insectos
luta biológica
mamíferos
parasitas
pesticidas
poluição química dos solos
produtos de síntese
pulverizações
Rodolia Cardinalis (Joaninha)
saúde pública
tratamentos fitosanitários

A fitopatologia que se ensina nas escolas superiores é mais semelhante a uma indústria de guerra do que a uma arte de paz.
Os técnicos agrários, não contentes em ter transformado a agricultura numa tecnologia mecânica, fizeram dela, de há um século para cá, uma indústria de guerra perpétua.
A corrida para a destruição em que adubos e pesticidas meteram a agricultura parece não ter saída nem alternativa dentro do sistema cultural vigente. Dentro das vigentes ideologias do desenvolvimento e do crescimento económico indefinido. Os técnicos agrários da ideologia F.A.O. só vislumbram a guerra cada vez mais encarniçada, só a destruição cada vez mais raivosa, só a violência cada vez mais in extremis.
Mas como a destruição engendra destruição e a violência engendra violência, eis que o beco sem saída da agricultura transformada em «indústria pesada» se oferece aos olhos esbugalhados de agrários e técnicos como o panorama do fim do mundo, do fim da Terra.
Em desespero de causa, vem o técnico mais ardiloso e descobre, no laboratório, aquilo que se quer dar como alternativa para os pesticidas e a luta química em geral : vem o técnico e descobre a «luta biológica». Reconhecendo que a guerra química está perdida, reconhecendo que não é possível continuar queimando as terras e, ao mesmo tempo, exigindo delas alimento (absurdo que só os autênticos paranóicos continuam defendendo), vem um fitopatologista mais esperto e «descobre» a «luta biológica». Não desiste da palavra «luta» mas agrada-lhe a palavra biológica», já hoje mágica, à medida que a escalada biocida prossegue.
Mas a chamada «luta biológica» (alternativa reformista dentro do sistema e não uma alternativa revolucionária para fora do sistema ecocida), temos de novo a asneira tecnocrática em campo, a desmedida megalomania do biotécnico supondo que pode pôr e dispor da Natureza a seu belo prazer, que pode pôr ordem nas coisas naturais, que pode sobrepor-se à ordem do Universo, dominar, esmagar, tripudiar, etc., como sempre tem vindo a fazer, com grande orgulho...científico dos ideólogos vendidos.
É bom que o militante ecológico medite no discurso que alguns tecnofascistas da «luta biológica» lhe impingem, em desespero de causa, vendo perdida a guerra que a hecatombe química trava nos solos mas não querendo desistir da sua supremacia e domínio sobre a Natureza.
Os textos são colhidos ao acaso das leituras e constituem apenas um primeiro apoio ao estudioso das alternativas ecológicas para a agricultura. É bom que se analise e discuta a ideologia que preside à destruição ecológica dos solos.
Talvez assim, conhecendo o discurso e a ideologia, o discurso da ideologia, se possa reconstruir a ideologia criadora e revolucionária da Idade Solar que, entre partos e prantos, se aproxima para a próxima e venturosa geração que terá a felicidade de a viver.
Comecemos com um texto lido há anos num jornal de Moçambique - Notícias da Beira - e que, no seu anonimato, dá a nota do que pode ser um discurso oficial da FAO sobre o assunto, nomeadamente para consumo no Terceiro Mundo.
Transcrevemos:
«A luta biológica consiste em destruir os seres nocivos, utilizando, para isso, os seus inimigos naturais.
«O agricultor, na luta contra os inimigos das culturas, dispõe de numerosos auxiliares - insectos, aves, mamíferos, etc. - e para evitar a sua desaparição é preciso: protegê-los e facilitar a sua reprodução.
«A partir de 1945, ano em que os novos produtos de síntese fizeram a sua aparição, o emprego maciço e inconsiderado destes foi, em muitos casos, responsável por desequilíbrios biológicos ; assim, admite-se que o uso generalizado de especialidades comercias à base de DDT em pomares de macieira, tenha favorecido a multiplicação do aranhiço vermelho.
«Os agricultores, devido à virulência, quase espontânea, de parasitas que antigamente não exigiam tratamentos particulares, encontram-se agora perante o problema, frequente, de necessitarem de efectuar novas e dispendiosas pulverizações ou polvilhações; deve-se procurar empregar, para evitar estes inconvenientes, produtos específicos capazes de destruir o parasitas, respeitando o equilíbrio biológico .
«No caso contrário, no entanto, poderá dar-se a ruptura desse equilíbrio, facilitando a população de novos parasitas e tornando necessário aumentar o número de tratamentos ; cai-se, assim, num círculo vicioso e, para o evitar, recomenda-se:
alternar os produtos activos
evitar as misturas complexas e de acção duvidosa
e evitar os tratamentos excessivamente intensos e pouco intervalados .
«O interesse da luta biológica chamou desde há muito a atenção dos serviços de investigação agronómica .
Em 1956 foi criada uma Comissão Internacional de Luta Biológica para permitir aos investigadores confrontar pontos de vista e coordenar a orientação dos trabalhos.
É frequente que a introdução acidental num país de um parasita originário do estrangeiro se faça com virulência muito inferior à observada no país de origem; houve, portanto, ruptura do equilíbrio biológico.
«Os investigadores, neste caso, procuram:
descobrir o insecto entomógrafo capaz de destruir o parasita no país de origem
introduzi-lo
e permitir a sua alimentação e estimular a sua dispersão.
«Um dos exemplos mais conhecidos é o da cochonilha australiana, cujo inimigo mais activo na Austrália é uma joaninha, a Rodolia Cardinalis; a disseminação e dispersão deste insecto na região mediterrânica é perfeita.
«Um himenóptero, o Alphelinus mali, foi importado da América do Norte com resultados satisfatórios no combate ao pulgão lanígero.
«O emprego dos meios naturais pode, em suma, resumir-se da seguinte forma:
utilização máxima dos entomófagos no seu habitat original e introdução e aclimatação, seguida de dispersão, de depredadores de origem estrangeira.
«Pode afirmar-se, em conclusão, que a luta biológica apresenta um interesse primordial, pois permite efectuar economicamente a protecção das plantas cultivadas, limitando, em certa medida, a aplicação de tratamentos dispendiosos.»

Por seu turno, o boletim da Bayer, perguntava um dia se a luta biológica apresentará perigos para a saúde pública. O empório químico parece recear efectivamente a concorrência e que a luta biológica mata mais e melhor do que a química, como comprova o texto que a seguir se transcreve :

«Pode recorrer-se à «luta biológica» sem se pensar nos perigos daí decorrentes para o homem e animais de sangue quente? - pergunta, inquieta a Bayer, que acrescenta: « A pergunta tem a sua razão de ser, mesmo para este processo em que não entra um grama de qualquer produto químico, mas em que se lançam insectos contra insectos, fungos contra insectos, bactérias contra insectos, etc.
«O fungo Entomophthora coronata, aplicado na Califórnia contra um piolho da luzerna, mostra-se tão perigoso contra estes insectos como, provavelmente, como origem de infecções, contra o homem.
«De facto, os animais de um laboratório experimental em que se aplicou este fungo, mostraram uma série de sintomas graves.
«Também o fungo Beauveria bassiana, uma espécie muito usada em luta biológica,originou agora, nos próprios seres humanos, dores de cabeça, fadiga, febre, dores nas articulações, etc.
«Em ensaios toxicológicos conduzidos com ratos de laboratório, a junção de doses altas dos esporos do fungo à ração, durante alguma semanas, originou diarreias, perda de peso a até casos mortais.
Um caso extremo de «acção secundária deste fungo , dar-se-ia quando, ao lidar com ele, ocorresse uma «explosão» do pó de esporos.»
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