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1-2 - Fe-1-ac-ie-ideia ecológica do afonso
Quinta-feira, 17 de Julho de 2003
NOTÍCIAS DA «FRENTE ECOLÓGICA»: SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ECOLÓGICO EM PORTUGAL/«FRENTE ECOLÓGICA» 1976: UM ANO CRUCIAL DO MOVIMENTO ECOLÓGICO
[01-03-1975] Com noticiário do movimento ecológico em Portugal e o anúncio do I Congresso, a realizar em Lisboa, no mês de Setembro, apareceu em Março de 1975, o primeiro número do jornal «Frente Ecológica», que se subintitulava "boletim mensal do Movimento Ecológico Português".
Tendo na capa uma alusão fotográfica ao ano 2000 dos Tecnocratas, inclui artigos sobre «Alternativas ecológicas», «As Políticas do Ambiente e o M.E.P», «Uma harmonia dialéctica com o Universo" (artigo assinado por Michio Kushi, o maior mestre vivo da Macrobiótica Zen), «Indústrias contra Qualidade de Vida», etc.
Insere também este primeiro número de "Frente Ecológica", informações sobre actividades do Movimento e o regulamento e temas do próximo Congresso, a realizar em Lisboa em 26, 27 e 28 de Setembro e subordinado ao tema geral «A Função do Movimento Ecológico na Revolução Cultural Portuguesa.»
Dedicado à investigação dialéctica fundamental -- as relações entre Homem e Natureza .-- à denúncia crítica e radical das agressões e crimes cometidos sobre a Natureza por uma sociedade (capitalista) assente no lucro e na exploração do homem pelo homem, «Frente Ecológica» pretende ser o órgão de todos os movimentos que tenham por objectivo prioritário a Revolução Cultural e as alternativas ecológicas para todos os sistemas antihumanos, empórios e monopólios, quer no campo da medicina, quer no dos regimes alimentares, quer no das energias, quer no da agricultura e das tecnologias.
Além deste seu órgão de imprensa, o movimento ecológico em Portugal anuncia ainda intervenções radiofónicas semanais através de vários emissores: Emissora Nacional (20 minutos às quartas--feiras), Rádio Clube Português (10 minutos às quintas-feiras, com repetição em FM e emissores do Porto), Rádio Renascença (dois períodos semanais de 10 minutos cada um) e Rádio Peninsular (5 minutos às quartas-feiras).
Em 1976 assinalam-se algumas iniciativas que traduziam a resistência de grupos e mesmo das populações à campanha maciça de intoxicação que a EDP estava a desencadear para impor o electro-nuclear em Portugal.
Citam-se, nesse ano, a Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear (CALCAN), criada em Maio desse ano, o festival pela Vida contra o Nuclear (Ferrel, 15 de Março de 1976) e sessões de convívio com a população de Ferrel, efectuadas pelo Grupo Coordenador do Movimento Ecológico, em 27 e 28 de Março, tendo como técnico convidado o Prof. Delgado Domingos, do Instituto Superior Técnico.
É ainda desse ano um "abaixo-assinado nacional para uma Moratória Nuclear", iniciativa do jornal "Frente Ecológica", que escrevia, sob o título "Campanha Intox Pró-Nuclear ou Quando o Pepino deve ser torcido", o seguinte:
«Os negociadores de centrais nucleares contavam até agora com a completa passividade das massas em assuntos ecológicos e a intoxicação prévia a longo prazo, através de agências internacionais e noticiários regulares, evitava o trabalho e a despesa da intoxicação planeada.
O 15 de Março de 1976 veio provar de que, em Portugal, as massas não estavam ainda totalmente intoxicadas de propaganda pró-nuclear e de que a Companhia Portuguesa de Electricidade teria, portanto, de promover uma campanha suplementar, um esforço extra de domesticação colectiva através de uma re-intoxicação para tapar a brecha verificada.
+fe-3– notícias da frente – definir ecorealismo – balanço pessoal de afonso cautela – ideias para a nova idade de ouro
CARTA À JUVENTUDE:SEIS VELAS DE ANIVERSÁRIO (*)
23/6/1984 - Seis anos a defender a causa do planeta Terra para as gerações que hão-de vir, podia ser o resumo desta crónica que «A Capital» tem publicado desde 17 de Junho de 1978, data em que, ainda com o título «O Mundo da Ecologia», se iniciou aqui um contacto regular com os leitores.
Seis anos a propor teses incómodas, a levantar questões polémicas ou impopulares, a defender princípios fundamentais para lá das quesílias conjunturais, a formular os problemas difíceis da qualidade face à brutal ditadura da quantidade, enfim, seis anos a falar, com antecedência, dos problemas que irão esmagar amanhã a geração que vai hoje nos vinte anos, eis o que não justifica com certeza nem balanço nem contas, mas obriga talvez a um exame de consciência. ainda que rápido.
POR EXEMPLO
O tema do «lumpen-proletariado» , levantado em semana anterior nesta crónica, a propósito de um Colóquio promovido em Lisboa pela Caritas sobre «Crise Económica e Pobreza», ilustra o que se pretendo dizer, ao falar de teses incómodas, inéditas ou impopulares.
Logo depois do 25 de Abril se verificou que falar desse lumpen-protetariado não interessava as forças partidárias e grupos de pressão em presença, ou às instituições vindas do regime antecedente como o Estado, o Exército, a Igreja, a Escola, a Universidade.
Não é por acaso que Ivan Illich , o clérigo expulso da Igreja, o pensador que levou mais longe - até às raízes - a desmontagem do sistema, começou exactamente a sua obra de subversão ecologista e de propostas eco-alternativas, desinstitucionalizando a escola, desmedicalizando a medicina, desobreirizando o trabalho, etc. .
Repetir «slogans» e cassetes, agitar bandeiras e emblemas, os próprios mentores das respectivas ideologias se encarregariam de o fazer até à exaustão. Compreende-se que o realismo ecologista se reservasse função mais modesta e específica, pensando e criando em vez de repetir, até porque na variedade e na diversidade, inclusive de ideias, reside um dos seus princípios fundamentais.
Num país onde, depois de António Sérgio, parece ninguém mais haver que julgue sua obrigação patriótica pensar e produzir ideias, eis que o realismo ecológico, ao propor teses e hipóteses de trabalho, se colocava numa zona de risco e de silêncio mais ou menos constrangido.
GERAÇÃO DO APOCALIPSE
Se um dia a ciência provar que as ideias provocam anemias graves, esta faina sergiana de produzir ideias terá sido, com efeito, um erro condenável que a realidade se encarregará de enterrar definitivamente. Se os tribunais não estivessem tão pletóricos de justiça, eu preconizaria mesmo que se enviasse para lá todo e qualquer cidadão que produzisse mais de três ideias por dia
Se, no entanto, as experiências em curso com ratos de laboratório não conseguirem provar o malefício das ideias e vier a verificar-se, como diz o Antonio Gedeão, que «o sonho comanda a vida», então este trabalho de intuir princípios, propor ou imaginar hipóteses, experimentar ou ensaiar teses e concluir ou induzir leis, talvez não seja apenas lixo biodegradável.
Ao propor teses inéditas e desconhecidas, não se tratava de «empolgar o público», como queria aquele «leitor assíduo» que um dia nos criticou, mas de humilde e persistentemente ir dando a notícia, ir ordenando, inventariando, alfabetizando (pondo por ordem alfabética...), hipóteses de trabalho que formam hoje, em todo o mundo, a «nebulosa ecologista», a que outros, mais bondosos, gostam de chamar «galáxia».
Tratava-se apenas de inventariar, pela primeira vez em Portugal e em função da realidade portuguesa, aqueles temas que, a pouco e pouco, entrariam, apesar de radicais, no limiar da opinião pública e no subconsciente colectivo. Daqui resulta não só o pioneirismo desta tarefa mas o seu estigma de antecipação.
Com a faina sergiana de produzir ideias, radicalizar questões, ensaiar hipóteses e propor acções alternativas para sair do beco, não se pretendia, evidentemente, nem a popularidade, nem a atenção fácil, nem o aplauso, nem o sucesso, nem sequer o eco e a correspondência daqueles para quem se andou expressa e explicitamente a trabalhar: os jovens, a vaga que designei nestas crónicas por «geração do apocalipse».
Se é triste ver que a juventude não entendeu que se tratou sempre e só dela todos estes anos de batalha numa «ideia fixa», custa um bocado a indiferença, a desatenção, a hostilidade.
Mas sem armar muito ao «herói» - papel que igualmente sempre declinámos -, é caso para dizer, uma vez mais, que cada um só tem a desempenhar, no palco do destino, o papel - dramático, trágico, cómico ou burlesco... - que lhe cabe. Ou a lei kármica não fosse como é uma da leis fundamentais da ecologia.
CATASTROFISMOS
A predominância criticista e negativa destas crónicas seria o seu autor o primeiro a lamentá-lo, sabendo que a análise e o diagnóstico, em Ecologia, devem ser apenas a necessária preparação para as propostas terapêuticas de alternativa
Mas os factos esmagam quem tem, por oficio, seguir (noticiar) acontecimentos. O negativo, o catastrófico, o apocalíptico dominam o trabalho do jornalista e não poucas vezes o bloqueiam. O que se lamenta mas não pode evitar-se. Aí, a crónica limita-se a espelhar uma realidade quase fatal e uma onda que nos é imposta a todos. Há pouco tempo disponível para propor a esperança, quando nos afogam (quiçá violentamente) com o desespero, tantas vezes pré-fabricado como táctica de instabilização colectiva.
A conjuntura político-partidária portuguesa pretende exactamente instalar, por razões estratégicas, esse negativismo e torná-lo crónico.
O negativismo, o derrotismo, o «quanto pior melhor» instalou-se nos hábitos e na estratégia de grupos activistas, pelo que só o espantoso ânimo deste povo, sempre em pé, como o boneco teimoso, lhe tem permitido criar uma carapaça de indiferença ao catastrofismo teleguiado e constantemente telepromovido e telefomentado.
Não deixa por isso de ser estranha a acusação de catastrofismo que esses mentores e mestres da catástrofe prefabricada fazem ao autordo realismo ecológico.
CONTRA O SECTARISMO
Quando, em 17 de Maio de 1974, se convocou na Rua da Boa Vista, 57, em Lisboa, uma reunião de várias correntes não violentas, estavam os organizadores bem longe de perceber a utopia que isso representava.
E os sucessivos fracassos da dita "corrente de correntes" não violentas (que outra coisa não era do que o movimento ecologista) provou bem essa utopia, no sentido mais pejorativo do termo "utopia".
É claro que não se esperaria uma formação enciclopédica, por parte de quantos labutam por estas áreas afins.
Mas uma abertura de espírito, uma intuição simpática para os irmãos da mesma causa, até a própria entidade soberana que lhes é comum a todos - a Natureza - poderia e deveria servir de ponto de referência indiscutível e inamovível.
Mais: o Inimigo comum , o tecnocrata, o imperialismo industrial, o químico-tecnicismo, etc. poderia naturalmente estabelecer a unidade na área que naturalmente e por definição se lhes opõe.
É difícil perceber como é que um adepto da agricultura biológica, continua relutante em aceitar a Macrobiótica, a Acupunctura, as terapêuticas naturais.
É difícil de entender como é que um não violento que pratica a objecção de consciência, continua enredado em princípios de alimentação racional, que são ainda um resquício da ciência violenta de um sistema violento, ao qual se opôs Gandhi, o mais conhecido objector de consciência.
A coerência não é uma aquisição gratuita, custa algum esforço.
Mas dez anos de civilização europeia não chegaram, em Portugal, para perspectivar uma plataforma de entendimento entre as várias correntes, escolas, tendências, modalidades, alternativas, terapêuticas, tecnologias.
Será tão difícil de perceber que as tecnologias doces tanto são os colectores solares como o yoga, o biogás como a Acupunctura, a Bicicleta como as compostagens biodinâmicas?
Será assim tão difícil mergulhar no espírito comum em que afinal navegam todos os marinheiros do futuro, da Idade Mundialista e Planetária, da Era da Unidade?
Será também impossível perceber de que maneira essa corrente dita planetarista tem que ver com as mais recentes convergências de um "Mundo à Nossa Escolha"?
A unidade essencial que preside a todas estas manifestações não é apenas uma exigência metodológica, é a condição sine qua non e a prova irrefutável de que a Revolução (Cultural) tem que passar por aí.
Foi por sectarismo, por sectarização, por especialização e super-especializacão, por cantonamento na parte esquecendo o Todo, que esta "civilização" se auto-condenou, desintegrando-se.
Foi a perda da consciência de Unidade - que existia, por exemplo, na civilização chinesa - , que nos ia condenando às cavernas de um provável holocausto nuclear.
A condição sine que non de ser antí-nuclearista, biodinâmico, macrobiótico, vegetariano, escutista, cooperativista, anti-tabagista, solarista, mundialista, orientalista, consumerista, etc. , é compreender que tudo isto deriva e caminha para a unidade essencial.
Este o relâmpago de Damasco que urge brilhar nas almas ecologistas.
Basta de donos exclusivos da Macrobiótica, da Iridiologia, do Yoga, da Antroposofia. O estranho espectáculo de meia dúzia monopolizando todo o oxigénio disponível, tem de findar.
Não se exige uma grande cultura enciclopédica nem que se perceba de tudo. Urgente, sim, é que a nossa compreensão se treine e exercite o suficiente para diminuir o nosso sectarismo, o nosso egoísmo, o nosso corporativismo, o nosso umbilicalismo.
BALANÇO NEGATIVO
Em contacto com as várias manifestações alternativas que convergem na nebulosa ecologista, a divisão que reina entre gente que deveria unir-se nos mesmos objectivos - face ao mesmo inimigo comum - foi com certeza a experiência mais dolorosa vivida na "Frente Eco1ógica".
Por força das circunstâncias , tivemos que fazer, muitas vezes, figura de "tolerantes" e "pluralistas", num reino onde de facto cada um se julga o umbigo do Mundo.
Se se fala com um obcecado do anti-nuclear, é fatal que ele considera a Macrobiótica uma mera ruminação platónica de arroz e vegetais.
Se se ouve um adepto do lacto-ovo-vegetarianismo, lá vem a cassete contra o "orientalismo" e misticismo de correntes como a Macrobiótica que nada têm a ver - diz-se - com os ocidentais.
Se se ouve um adepto do guru X, aqui d'El Rey que o Guru Y é enviado da C .I . A. e perigoso espião.
Outro está virado para a paisagem, para o ordenamento do território, para a regionalização, esgotando o ecologismo no apelo às autarquias para fazer saneamento básico e plantar zonas verdes: pouco lhe importa o holocausto nuclear, as chuvas ácidas, a destruição da Amazónia, a invasão mercenária da Antártida, a destruição da alta camada de ozono. E vice-versa: os mundialistas andam de costas viradas para os regionalistas e paisagistas.
De costas viradas andam também as várias correntes da Naturopatia entre si: no II Congresso Ibérico de Medicinas Paralelas, nem um só representante do movimento macrobiótico se fez representar.
Há 5 revistas que trabalham para o mesmo - descolonizar o doente e fazer a conservação e defesa da saúde por meios naturais - mas que permanecem orgulhosamente sós a barafustar cada uma no seu buraco.
A MINHA RESPOSTA A PERGUNTAS QUE NUNCA ME FIZERAM
- Há dez anos que se encontra ligado ao movimento ecológico em Portugal quer fazer um breve balanço?
- Comparando o que se faz hoje, em 1984, com o que se fazia nos anos de 1974, 75 e mesmo 76 , o movimento ecologista encontra-se moribundo entre nós.
Não só a actividade decaiu praticamente para zero, como se sente uma generalizada desmoralização nas "fileiras", cujas causas aliás são relativamente bem conhecidas.
Penso que esse sentimento geral de decepção acompanha a grande desilusão pela Esquerda que temos e que conduziu uma estratégia suicida dos valores que diz defender .
Situados em maioria numa área anarco-libertária, os ecologistas não só sofreram por tabela o refluxo geral da Esquerda como somaram alguns defeitos próprios.
Os partidos, pelo menos, sabem organizar-se, o que os ecologistas sempre desprezaram, em nome não sei de que mítica liberdade e pureza.
O facto de os grupos se auto-liquidarem por gosto e vício, não impede que o movimento não tenha potencialidades. A corrente ecologista é irreversível e, mais cedo ou mais tarde, vitoriosa, em toda a parte, salvo se antes as potências atómicas declararem uma hecatombe nuclear.
- Acredita nessa hecatombe?
- Por erro no computador de alarme das superpotências, sim. Que os gerontes que governam o Mundo accionem deliberadamente os mecanismos do holocausto nuclear, não creio. Jamais o farão, pois sabem que também não escapariam. Preferem guerras de desgaste, os genocídios parciais, a guerra climática, a guerra «sísmico-nuclear» (por rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares), a guerra química de medicamentos, pesticidas, adubos, poluições, etc.
Os engenheiros do Ambiente têm possibilidade de alterar a posição do eixo da Terra e provocar um novo dilúvio.
Acredito mais nessa hipótese do que numa troca de mísseis. O armamento nuclear serve para reciclar as toneladas de plutónio que os reactores vão sub-produzindo, serve para ameaçar a humanidade e para manter, permanente, um constante "estado de sítio", uma guerra de nervos. Gastando em armamento o que podia matar a fome a milhões de pessoas, a hipótese de guerra serve também para manter os povos na miséria e na submissão.
- Não há então saídas?
- A saída ou solução tem um nome breve: T.A., Tecnologias Apropriadas, que aumentam a liberdade e autonomia de povos e pessoas relativamente ao sistema .
A única solução é re-dimensionar a vida à escala humana e conseguir que as pessoas se batam pelos valores mais simples mas que são os mais preciosos.
Esta é que é a grande dificuldade.
Enquanto se considerar o Trabalho mais importante do que a Saúde, o Dinheiro mais importante que a Liberdade, o Conforto mais importante que a Vida, o Rock mais importante que a Música, o Medicamento mais importante que o Alimento, a Competição mais importante que a Solidariedade, etc. não há hipótese de mudar nada nem de evitar o abismo atómico.
Ou pela não violência como método fazemos stop à violência do sistema, ou nos fazemos profissionais da consciência, da verdade e da vida, ou ficaremos de facto feitos em torresmos.
Os defensores da energia nuclear pacífica estão evidentemente a preparar o holocausto das bombas. Qualquer especialista que, em nome do progresso, do lucro, da indústria, do luxo, do consumo, da economia, dos interesses nacionais ou de qualquer outro mito, é cúmplice da escalada nuclear, já está a pisar o vermelho.
Mas essa gerontocracia só conseguirá mergulhar-nos na destruição planetária se lhes dermos guita e acabarmos rendidos ao seu despotismo, vendendo a alma às aliciantes do consumo que eles sabem pôr no mercado.
Não se trata de purismos. Trata-se de encontrar um estatuto de simplicidade e aprender a dar valor às energias subtis e sublimes que movem montanhas e fazem girar o mundo.
Yoga e filosofia yin-yang são a ciência e a técnica dessas energias subtis.
Creio que tudo reside aqui: ou nos religamos às grandes forças cósmicas e à Ordem do Universo, ultrapassando a própria dialéctica ecologista - ela própria limitada nesse contexto - , ou as forças negativas da tecnocracia, do imperialismo industrial, das ideologias totalitárias, do consumismo , da alienação pavloviana, das macrocefalias , levarão o Mundo à completa desintegração, nuclear ou outra qualquer.
APROFUNDAR A DEMOCRACIA
Aprofundar a democracia é democratizar as tecnologias libertadoras ou tecnologias apropriadas que desalienam a pessoa humana das engrenagens institucionais e a reapossam das energias que lhe cabem por direito fundamental.
Bastava que o movimento ecológico desenvolvesse até às últimas consequências esta premissa - democratizar as TA's - para que se tornasse na formação política mais revolucionária da sociedade. .
Revolucionária, no sentido pacífico, não-violento, radical-reformista e reformador. Revolucionário, no sentido cultural.
O movimento ecologista não pode jogar nos terrenos já minados e ocupados: deve colocar-se no terreno próprio e que permanece virgem, porque não houve até agora gente, nas suas fileiras, com qualidade e timbre para o ocupar.
Nem que tenha de correr o risco de lhe chamarem um clube de intelectuais, uma elite de técnicos ... Em Portugal, vive-se muito de rótulos e há quem tenha muito medo dos rótulos que os outros lhe põem.
Mas é que se trata mesmo de formar uma elite, sem a qual não há revolução. Com as personalidades que já tem no seu âmbito, o movimento ecologista deve aspirar a ser uma elite no sentido mais democrático e menos aristocrático desta palavra: uma vanguarda ao serviço do povo ...
Resistir à vaga de nomenclatura estereotipada, às cassetes, às discussões aberrantes, às polémicas que as máquinas entre si decidem alimentar para sustento das cúpulas e miséria das bases, será outra grande premissa da acção ecologista, que a sua vanguarda de pensamento poderia ocupar.
Essa vanguarda deveria começar por autocrítica à sua própria linguagem, ainda próxima de estereotipos que fazem da informação propaganda, da educação manipulação de almas, das ideias ideologia, da inteligência a informática.
Democratizar as T A.’S. eis um programa para muitos anos: dentro ou fora da escola, é das T.A. s que se trata.
Mas uma rápida vista de olhos sobre as questões que agitam o chamado meio escolar, desde o Ministério da Educação aos sindicatos que com ele alimentam um taco-a-taco que oblitera totalmente o essencial e o substitui pelo acessório das reivindicações arruaceiras, diz-nos dos anos-luz que há ainda a percorrer para lá chegar.
Polémicas domésticas e comadres zangadas é, por enquanto, a educação que temos.
O essencial do sistema escolar vigente é que ele fabrica homens alienados ao sistema. O sistema reproduz e multiplica exactamente o que lhe convém. Se se trata de aprofundar a democracia, trata-se então de generalizar e democratizar as tecnologias democráticas e democratizadas – nem La Palice diria de outra maneira.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 23/6/1984
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fe-4- inédito 5 estrelas de 1982 – os dossiês do silêncio
O REALISMO ECOLÓGICO EM 1982: UMA POLÍTICA DOS ECOSSISTEMAS CONTRA O SISTEMA QUE (N)OS DESTRÓI
O dossiê do "realismo ecologista" continua em aberto, pelo que não será ocioso divulgar documentos que, ainda inéditos, tentaram, nos últimos dez anos, definir o movimento, face a outros semelhantes ou apenas equívocos bem (mal) intencionados.
É o caso do manifesto em dez pontos que hoje publicamos , apresentado em Évora, em 1982, pela "Frente Ecológica”' e até hoje inédito.
Falada em nós", como proclamação de grupo que é, esta análise radical do "sistema que vive de ir matando os ecossistemas" permanece infelizmente actual.
Pode ser que sirva de ponto de referência, no meio do caos em que se transformou o discurso e a ideologia ecologista em Portugal.
1 - Relativamente a outras correntes similares do ecologismo, afirmamos o propósito de discutir e pôr em questão não só a poluição e o meio ambiente em sentido estrito, sectorial ou tecnocrático, mas as estruturas tecnológicas da sociedade industrial, o modelo de crescimento económico exponencial ou logarítmico adoptado a Leste e a Oeste e o tipo de civilização que tem dominado, explorado e em grande parte destruído todas as outras civilizações da Terra.
Em nome da Ecologia, da Poesia, da Estética, da Moral, do simples Bom Senso, ou da mera Inteligência e de um mínimo de Lucidez, não são os equívocos criados em torno do ecologismo por eco-reformistas e eco-protecionistas que poderão impedir o ecologista de ser literalmente contra tudo o que, venha de onde vier, assassine a vida, a pureza, o espírito, a beleza, a delicadeza, a qualidade, a inocência, os ritmos e ciclos naturais, a paz e a ordem cósmica, enfim, tudo o que signifique uma intromissão violenta e pesada de consequências na trama indissociável de todos os seres que uns aos outros se sustentam na eterna e infinita cadeia cósmica.
2-Relativamente aos sistemas de economia estabelecidos, apontamos a sua irracionalidade apoiada numa insensata pilhagem dos recursos naturais, e propomos alternativas ecológicas autogestionárias que respeitem e levem fundamentalmente em conta os ecossistemas dos quais depende toda a economia, a subsistência alimentar da humanidade e a própria sobrevivência do Planeta Terra.
3-Relativamente ao sistema informativo que domina a opinião pública mundial, mantemos uma posição sistematicamente crítica, denunciando não só a alienação publicitária, não só a propaganda, mas toda a manipulação do homem pelo homem feita através do discurso veiculado pelos "mass media" e que é determinante, em última instância, da dominação mais ou menos expressa, mais ou menos velada, que as várias estruturas económico-financeiras praticam sobre o consumidor, o eleitor, o munícipe, o leitor e o cidadão.
O ecologista denuncia a máquina de mistificar os homens que são hoje os meios de comunicação social, sem coragem de furar o ciclo vicioso da mentira e da auto-mistificação, numa cadeia de cumplicidades que é o Ecologista o único a quebrar; o ecologista denuncia uma sociedade que, explora não só a vida e a alma das pessoas para aumentar os lucros, como para manter em marcha os mitos do progresso, da técnica, da ciência, etc, que a auto-reproduzem até ao infinito.
4 - Relativamente ao sistema agrícola que tende para a super-mecanização e para a intensificação química, apontamos a sua irracionalidade e a ruína que representa, a médio e longo prazo, para a produção agrícola mundial. Como alternativa urgente preconizamos os métodos ecológicos de uso e produção da terra, os únicos a garantir, no médio e longo prazo, o potencial produtivo dos solos; negamos, portanto, os argumentos que pretendem justificar e prorrogar a escalada dos métodos químicos com adubos e pesticidas, por mais que, no imediato e no curto prazo, esses argumentos possam parecer ter algum senso, face à escalada das pragas e à necessidade de as combater com processos cada vez mais violentos; admitimos que será difícil quebrar esta escalada e este ciclo vicioso, este absurdo criado pelo próprio sistema, mas seja qual for a dificuldade de o ultrapassar e superar por métodos ecológicos, não será por isso que vamos admitir como lógico o que é absurdo e como viável o que já deu provas e mostras de absoluta inviabilidade.
5 - Relativamente ao sistema médico, recusamos tomar qualquer posição na falsa antinomia (que para nós é pura manobra de distracção) entre medicina livre e medicina socializada. Afirmamos que a verdadeira e profunda dicotomia é outra e denunciamos, em consequência, a ciência dos laboratórios , a sintomatologia sobreposta à causalidade nos métodos terapêuticos (o que desencadeia a "lógica" de produzir quanto mais doentes melhor), a campanha de silenciamento e repressão sobre as alternativas terapêuticas que pretendem descolonizar o doente face à dependência médica e dotá-lo de auto-suficiência no conhecimento do corpo e na defesa da saúde.
6 - Relativamente a um europocentrismo que vigora desde a época áurea da colonização portuguesa até às mais recentes formas de neo-colonialismo e racismo, denunciamos os crimes de genocídio e etnocídio praticados sobre grupos étnicos e culturais, sobre povos e minorias, e proclamamos o direito à diferença que deve preponderar, considerando que as tiranias e ditaduras são engendradas por uma noção monolítica e monopolística de progresso.
Quando não foi em nome da cruz e da lei de Cristo, foi em nome do Progresso e da "religião do progresso" que se praticaram e continuam praticando a destruição de culturas e civilizações ancestrais.
Sob o estandarte do progresso, na forma de barragem, central nuclear, celulose, refinaria, petroquímica, siderurgia, fibra têxtil, as populações "beneficiadas" apenas têm conhecido e continuam a conhecer prejuízo, sofrimento, incómodo, enquanto lhes delapidam a água que bebem, a terra que pisam, a casa onde moram, os caminhos que trilham.
7-Relativamente ao sistema energético, reconhecemos a importância do "apport" tecnológico dado por determinados especialistas em energias alternativas para a construção de uma sociedade habitável mas criticamos todos aqueles que, dizendo-se técnicos dessas novas energias, mais não pretendem do que pô-las ao serviço do sistema tal como ele globalmente existe neste momento, e mais não pretendem, portanto, do que prolongar a precária vida do sistema que se aguentou até hoje apoiado em energias hiperpoluentes de origem fóssil (carvão e petróleo) ou nuclear, energias que hoje mesmo ameaçam estrangulá-lo.
8 - Relativamente à noção de progresso histórico mantida primeiro pelas ideologias inerentes ao capitalismo e ao liberalismo industrial e depois também pelas ideologias que se dizem combater esse capitalismo, contrapomos uma noção de progresso que ultrapasse dialeticamente estas duas e que leve em conta os valores que ambas têm desprezado: sabedoria popular, tradição oral e escrita dos povos, produtos da indústria artesanal, arte, literatura, arquitectura tradicional, etc
9 - Relativamente ao sistema de civilização, sustentamos que o estado histórico presente não é de civilização mas de barbárie, não é de progresso mas de retrocesso, não é ascensional mas de decadência e que a construção de uma civilização é não só um desejo nosso, um ideal, uma questão de dignidade humana face a este tempo e mundo, mas uma necessidade de estrita e biológica sobrevivência. Ecologia ou Morte.
O "Progresso" arvorado em ideologia das sociedades industriais, é hoje o ponto de manobra sobre o qual se monta uma poderosa máquina de manipular homens, de os alienar .
Se tiver que haver Progresso e alguma sociedade onde a palavra se aplique com alguma justiça, bem como as palavras "cultura, "civilização", "evolução", etc, de certeza que não é a Sociedade do Plutónio, da Talidomida, de Seveso, do Skylab, dos submarinos atómicos que explodem no oceano, dos camiões de propileno que transformam em torresmos um parque de campismo, das refinarias e siderurgias, de Three Mile Island, de La Hague, do "Pacific Fisher", das Celuloses e respectivos incêndios florestais, dos pesticidas cancerígenos autorizados, das transplantologias de orgãos, etc
10 -Relativamente ao modelo de crescimento económico baseado numa absurda pilhagem dos recursos da Terra - pilhagem cujo reverso é o desperdício a que se chama consumo e que se leva, pela publicidade, o consumidor a praticar e a alimentar, - propomos como inevitável recurso a curto prazo a prática das eco-tácticas ou alternativas sectoriais (sector cooperativista, movimento macrobiótico, defesa ecológica do consumidor, greve a alguns consumos, moderação nos gastos), enquanto não é possível praticar uma estratégia global de consumos apoiada em princípios correctos de reciclagem sistemática e de sistemática racionalização, estratégia global que só é praticável em circuitos autónomos do Establishment, com o enraizamento de novas comunidades nos campos, repovoamento e revitalização(ou renascimento) dos meios rurais, descentralização administrativa (lei das finanças locais), exploração dos recursos locais em função dos respectivos interesses da população e não com destino aos mercados internos ou externos, redes viárias regionais em contrapartida às grandes auto-estradas, etc.
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1-2 - fe-5-ac-ie = ideia ecológica do afonso = selecção autobiográfica - diário militante – texto em “nós” – inédito ac de 1983 - Segunda-feira, 21 de Julho de 2003
SOMOS CONTRA O NUCLEAR PORQUE SOMOS PELA VIDA
15/7/1983 – A questão que se coloca aos ecologistas portugueses na presente conjuntura - Julho de 1983 - é a de mostrar ao Poder que têm direito a ser ouvidos como sector representativo da vida e da opinião pública.
A verdade, porém, é que os ecologistas não têm, neste momento, meios objectivos de mostrar que possuem essa representatividade, enleados num ciclo vicioso que decorre do próprio sistema jurídico-legal que regula e regulamenta a representação democrática de indivíduos e grupos.
Somos minoria numérica - exactamente porque nos faltam meios de acesso aos órgãos de Comunicação Social que permitam amplificar a nossa voz e fazê-la chegar a uma potencial base de apoio. O direito de acesso a esses órgãos , por seu turno, tem-nos sido vedado porque não somos nem um partido, nem uma classe profissional, nem um grupo de pressão suficientemente organizado e agressivo para impor ao poder esse acesso e esse direito.
A questão é que ter a razão e a verdade não dá automaticamente direito a difundir essa verdade pelos órgãos de Comunicação Social que a façam chegar a quantos nela estão potencialmente interessados.
O QUE PROPOMOS
A política energética é, para nós, parte essencial de um modelo de desenvolvimento económico e social. Tendo como certeza o carácter finito e limitado dos recursos naturais não renováveis, qualquer política energética deverá ter como pressuposto esta realidade para ser exequível.
Assim, não podem os portugueses continuar a sustentar sistemas produtivos que se basearam na ilusão de fontes energéticas inesgotáveis, prosseguindo na via de um consumismo irracional e no desperdício crescente, com efeitos profundamente negativos para o meio ambiente.
Confirmativo desse sistema irracional é o facto de que actualmente não chega a 20% a energia que provém de fontes renováveis .
Uma nova política energética passa por uma reestruturação do aparelho produtivo, por uma nova relação entre a cidade e o campo, por uma dimensão humanizada das comunidades urbanas.
Por isso propomos:
a) um projecto de gestão civil que passe por uma efectiva descentralização e regionalização, pelo diminuição do poder da burocracia do Estado e da sua dimensão,
b) uma efectiva democratização da sociedade portuguesa, que passa pela modificação das leis eleitorais impeditivas da participação dos cidadãos e das suas organizações na gestão das comunidades, leis que distorcem a realidade política impedindo a expressão das minorias
c) uma outra Europa que avance com um projecto de solidariedade mundial, de desarmamento e de modificação de um mundo à beira da guerra, marcado pela vergonha da fome que afecta imediatamente mais de 800 milhões de pessoas
Por isso afirmamos:
À sociedade de consumo e do desperdício, à exaustão dos recursos naturais, à tecnologia sofisticada e geradora das elites do poder centralista e burocrático, à civilização industrial alienante, é possível contrapor alternativas viáveis e realistas, recorrendo a tecnologias intermédias, ao uso de energias limpas e à economia de energia, propondo uma gestão racional de recursos e a formação de postos de trabalho criativo e dignificante da pessoa humana
Ao macrocefalismo, é possível contrapor o desenvolvimento regional, com base nas potencialidades naturais e humanas do território, na utilização racional dos recursos vivos, das fontes de energia infinita e das matérias primas regionais, recorrendo a tecnologias apropriadas, dignificando a cultura e a vida locais, ligando o homem à terra que o sustenta.
Aos sistemas produtivistas, em que se baseiam quer as economias de livre mercado quer as de planificação centralizada e ditatorial, geradores de crescente desertificação, da morte dos sistemas bióticos fundamentais como os rios, estuários e oceanos, da crescente intoxicação das cidades, é possível contrapor soluções alternativas numa perspectiva ecológica, para os problemas que as sociedades urbano-industriais não têm sido capazes de resolver.
A via que propomos para a mudança passa por:
Não desperdiçar, utilizar racionalmente as descobertas científicas e tecnológicas, distribuir melhor, diversificar as fontes de matérias-primas e energias renováveis , reciclar produtos, materiais e resíduos.
São para nós linhas-força para uma estratégia realista de desenvolvimento sustentável:
um Plano Nacional de Poupança e Conservação de Energia, com regulamentação que imponha o seu efectivo cumprimento
instalação de indústrias segundo um critério selectivo que dê prioridade às menos energívoras e às que consomem menos água
instalação de indústrias seleccionadas por um critério que vá das menos para as mais poluentes, dando prioridade às que mais racionalmente utilizem os recursos vivos do território português
dinamização de um sistema agrícola não degradante dos solos
investigação e aplicação de tecnologias alternativas, através de experiências-piloto de unidades produtoras de energia, controladas pelos consumidores e não por organismos estatais e/ou de cúpula suspeitos de antipatia para com as alternativas limpas
democratização do Sistema Estatístico Nacional, tornando-o acessível aos cidadãos
incentivo aos projectos de análise energética aplicada à agricultura, à indústria, aos transportes, à habitação, etc
criação de um sistema escolar alternativo que, através da descentralização do ensino e sem esquecer a ligação cultural entre os povos, contemple particularmente os valores que respeitam a cada região e aos seus habitantes
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1-2 - fe-6-ie-ac- ideia ecológica do afonso – selecção autobiográfica - notícias da frente – memórias da frente - inédito ac de 1983 – diário militante – diário das siglas
AOS QUE NOS ESCREVEM
14/7/1983 - Aos amigos que nas últimas semanas têm escrito à "Frente Ecológica" , tentamos dar aqui uma primeira resposta, mais geral, enquanto não nos é possível escrever pessoalmente a cada um desses amigos.
Amigos nos escrevem criticando a "Frente Ecológica" por ser tão "ideológica" e tão pouco prática, activa nas edições que publica.
A todos os amigos que nos escrevem, respondemos:
1 - Obrigado pela atenção e por terem escrito: são uma grata companhia nesta solidão, neste deserto
2 - Não temos pronta a solução para os problemas pontuais que proliferam e por toda a parte surgem agredindo as pessoas
3 - Lembramos que para os casos de poluição local ou de agressão pontual, existem organismos, existem leis, existem governos, existem autoridades,
4 - O mais que podemos fazer na "Frente Ecológica" é fornecer endereços e números de telefone de todos esses responsáveis a quem as pessoas devem dirigir as suas queixas
5 - Sugerimos que uma carta, de vez em quando, aos jornais pode conseguir mais do que muitas vezes se julga
6 - Quanto à crítica que fazem à "Frente Ecológica" - demasiado ideológica - pensamos que pensar já é alguma coisa num país que se habituou, há muitos anos, a não pensar. Produzir ideias é, na "Frente Ecológica" o nosso oficio e a nossa indústria. Bastante poluente ao que me dizem ... Mas foi nesta que apostámos e agora, aos 50 anos de idade, é tarde para mudar. Por mais que a juventude faça chacota do "maluquinho da Frente". Admito que é anacrónico, inútil, ridículo, produzir ideias. Mesmo entre ecologistas, qualquer ideia que não seja a reprodução pura e simples de qualquer cassete, tem o condão de iriçar os ânimos. Mas pensar é o que sabemos e podemos e a mais não somos, aqui na "Frente", obrigados.
7 - O Prémio Resistência Ecológica foi uma tentativa de fazer com que as ideias aqui produzidas saíssem da gaveta ou das edições de 100 exemplares de tiragem em que se encontram. Mas foi mais uma tentativa falhada, sem o mínimo eco da dezena e meia de ecologistas a quem o mostrei
8 – Há um catálogo de publicações que enviamos a quem o solicitar. Milhares de páginas, centenas de artigos, dezenas de reportagens, alguns livros publicados, é a forma que temos de agir. Outros preferem marchas pró-paz. Cada um dá o que tem.
9 - Se as pessoas acharem útil, podemos fornecer listas com os artigos que, publicados na imprensa portuguesa, procuram traduzir o que se veio entendendo por realismo ecológico aqui na "Frente". Nesta frente de batalha.
10 - Podemos também fornecer listas bibliográficas, se o objectivo for estudar e...reflectir.
11 - Queremos dizer que , nesta "Frente", nos encontramos sempre prontos a dialogar, mas que aos 50 anos de fado e quinze de fado ecologista, nos sentimos no direito de impor algumas condições. Que pela juventude (seu futuro) nos batemos dia e noite, as 24 horas do dia, é óbvio, por isso não admitimos que ainda nos critiquem .
12 - Continuamos a corresponder, sempre que possível, à solicitação para comparecer em colóquios: mas também temos um aviso prévio a fazer. Evitem, por favor, aqueles colóquios onde, no final, se costuma fazer um balanço solene do (que foi) dito, concluindo regra geral os oradores por atribuir ao moderador do colóquio a culpa do que consideram um "fracasso" do mesmo. Nos colóquios que oriento, são as pessoas quem o orienta, de onde, portanto, convém perceber que êxitos e fracassos pertencem mais ao auditório do que ao sr.que, regra gral, foi ali apenas "moderar".
13 -Alguns amigos perguntam como se pode assinar a "pequena publicação" "Ecologia em Diálogo".
Respondemos o que já ficara anunciado no primeiro número: não há assinaturas, cada um "dará quanto puder e quando quiser".
O motivo é óbvio: publicar um jornal, mesmo pequeno, como "Ecologia em Diálogo", implica encargos, de número para número, de tal modo agravados, que nunca sabemos quando será possível prosseguir e quando será inevitável parar.
É o caso: estamos num impasse. O "porte pago" foi-nos negado pelo Director Geral da Informação, jornalista Manuel Figueira. Pedimos em 30 de Junho de 1981 ao Director Feral de Acção Cultural um subsídio e a resposta foi que a publicação não se encontrava na área...cultural.
De momento, pois, com uma publicação que deduzimos ser indesejável aos olhos dos organismos oficiais, não vemos grandes possibilidades de publicar tão cedo um novo número. Vamos esperar.
Mas o fardo cada vez mais pesado de viver em Portugal e o facto aqui cada vez , por isso mesmo, mais evidente é que uma "voz independente" está condenada, fatalmente, à morte, por todas as máquinas e instituições democraticamente num totalitarismo só para essa clique confortável.
Isto tem que ver, profunda e essencialmente, com o futuro de "Ecologia em Diálogo". E, aliás, com o futuro de todo o movimento ecologista, de todo e qualquer movimento alternativo.
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1-2 - fe-7-ac-ie = ideia ecológica do afonso – selecção autobiográfica = notícias da frente – as constantes do sistema – inédito ac de 198?- entrevista-testamento - Segunda-feira, 21 de Julho de 2003
ECOLOGIA & ENGENHARIA, LDª
198? - A Ecologia como discurso do método - e contra-cartesianismo fundamental - é a concepção que tem demarcado e até certo ponto afastado o grupo "Frente Ecológica" das variadíssimas correntes que se metem debaixo do chapéu de chuva chamado Ecologia.
É fundamentalmente uma concepção pedagógica, portanto, que nos define e demarca. Daí a solidão e isolamento em que temos andado estes tristes anos que têm sido o pós 25 de Abril, na esteira do 24.
Entendemos a Ecologia como um alfabeto, um aeiou, uma categoria mental como a lógica ou a matemática que nos permite ler, de outra maneira e a outra luz, toda a realidade. Quer dizer: nada, portanto, da realidade escapa à "leitura ecológica" que dessa realidade pode ser feita.
E gostaria de vos apontar exemplos que julgo comprovam esta máxima: "Ecologia surge onde menos se espera." Talvez porque esteja em toda a parte.
COLÓQUIO NA ORDEM
Exemplo comprovativo de que a Ecologia é afinal uma leitura diferente dos assuntos mais comuns, encontro-o num colóquio promovido pela Ordem dos Engenheiros sobre corrosão de materiais em condutas enterradas no solo.
Assunto especializado, para não dizer árido, quem iria prever encontrar ali ligações com o Ambiente?
Um breve contacto com as comunicações das Jornadas fez surgir questões de interesse ecológico indiscutível.
- A propósito das condutas de água da EPAL - Empresa Pública de Águas de Lisboa - soubemos que a material usado - fibrocimento - é uma mistura de asbestos (amianto) com argamassa. Sabendo-se que o amianto está denunciado há muito em todo o Mundo como causador de asbestose, espécie de cancro do pulmão, o contacto dos asbestos com a água de consumo público põe ou não um problema ecológico de fundo?
- Ainda a propósito de condutas, temos um quadro claramente derivado da macrocefalia e do sistema concentracionário que os ecologistas alvejam como inimigo principal.
Nunca, de facto, o mundo foi um panorama tão grotesco de "pipe-lines" cruzando-se como rede de uma grande prisão planetária.
Dois assuntos polémicos da actualidade ecológica ressaltam desta monomania do pipe-line; o oleoduto da NATO em construção em Portugal e a gasoduto da União Soviética que talvez chegue a Portugal, eis dois temas que de repente emergem de jornadas tão técnicas
- Terceira e talvez mais importante questão ecológica levantada por um tema de engenharia aparentemente tão circunscrito, diz respeito à explicação que os técnicos dão do fenómeno "corrosão" de materiais, nomeadamente o ferro, em fios e condutas enterrados e portanto em contacto com os mais diversos tipos de solos e correntes electromagnéticas .
A carga eléctrica dos solos é uma verificação que para os engenheiros apenas põe um problema de conservação de materiais: para um investigador da Ecologia é um dos desafios mais importantes e que pouca ou nenhuma resposta tem tido nos manuais oficiais de Ecologia.
As relações dos entes vivos com esse ambiente telúrico electromagnético é condicionante fundamental da vida humana totalmente ignorada da cultura e da ciência ocidentais.
No entanto, a mais antiga medicina chinesa - a acupunctura - baseia os seus princípios numa cosmologia do homem (biocosmologia) em que o factor electromagnético desempenha papel fundamental.■