O PAPEL DA IDEOLOGIA ECOPOLÍTICA
15/12/1978
Um modesto caderno da Colecção Mini-Ecologia, o número 8 - Movimento ecológico e descolonização cultural, 1975 - permitiu-se dar algumas achegas ao grande tema. Tema que ninguém discute nem gosta de ver discutido. Um dos muitos tabus que inundam a nossa sociedade sem preconceitos...
Se é verdade, como afirma o autor de Politic of Ecology , Peter Weissberg, que não é a ideologia (e a manipulação ideológica) que derrama o petróleo nos oceanos ou extermina espécies animais e vegetais, é verdade que começa e acaba sempre por ser a ideologia que permite, desculpa, justifica, cobre, minimiza, manipula a opinião pública e a torna dócil, em suma, moraliza esse ou qualquer outro delito ambiental.
Não é a ideologia que directamente mata ou pratica os atentados ambientais.
Mas é a ideologia que os justifica, prepara ou, inclusive, lhes chama benefícios para a humanidade e bênçãos divinas, se isso for necessário. Há sempre um ideólogo de serviço à ilharga de um tecnocrata.
As formas mais grosseiras de manipulação do homem pelo homem - a violência em estado puro - não conseguem os resultados que conseguem as formas mais subtis. Mais científicas. Mais sofisticadas. Mais filosóficas.
Os ideólogos da manipulação perfeita começam, exactamente, por abordar corajosamente o tema e por afirmar uma posição crítica (?) em relação aos abusos da manipulação.
Konrad Lorenz é um dos filósofos e cientistas mais argutos da nossa época. Deram-lhe por isso o Prémio Nobel. Subtilmente, ele foi dizendo, escudado na sua reputação de Etólogo, que os homens são animais... E que a agressividade humana é inata, de constituição biofísica, estrutural: pouco ou nada tem a ver com a luta de classes e suas contradições. Com o ambiente violentógeno.
Ainda hoje não nos apercebemos do alcance e consequências que uma filosofia (tão óbvia) contém. E que serviço ideológico esta ciência presta. E que ilações psicopolíticas se podem ir retirando à medida que forem fazendo falta. Deram-lhe logo o Nobel.
Ao deificar os "mass media" e a manipulação de espírito que eles operam, Marshall Mac Luhan foi muito menos fino e subtil: e por isso a sua estrela de profeta do nosso tempo tem ido declinando, enquanto outras sobem.
Herbert Marcuse, por exemplo, prestou muito melhor e mais duradouro serviço ao imperialismo ideológico quando fingiu - sem parecer que fingia - denunciá-lo criticamente, quando entronizou a tese do fatalismo totalitário das democracias, o ciclo fechado do "homem unidimensional», da sociedade totalitária, contrapondo esse fatalismo a um impossibilismo - a Utopia.
Dizendo ao homem que ele estava encerrado, mais fechado ainda o deixava entre o fatalismo e o impossibilismo: Marcuse é afinal o verdadeiro Sade.
Além disso - e já num plano mais visível a olho nu - esgueira-se, subtilmente, da tese marcusiana a variante subtil do que é e não é totalitário, contrapondo-lhe a noção de liberal, democrático.
Enfiando o barrete da tese marcusiana, eis que há o mundo totalitário das hediondas ditaduras e o "mundo livre" das democracias como a americana que, apesar de "fechadas", sempre vão dando uns baldes de plástico nos concursos da TV.
Adolf Portmann vem também, como Konrad Lorenz, da Zoologia e avalia os hábitos humanos observando o comportamento dos animais: Que mal há nisso? Não é afinal e Etologia uma novel ciência, prometedora como todas as novas ciências quando as velhas já estão caducas?
Citando um caso verdadeiramente aberrante de "tecnologias educativas hoje em voga", Adolf Portmann desviando vai do centro a verdadeira questão de fundo.
Escreve ele:
«As concepções unilaterais do nosso processo evolutivo conduzem por vezes a perigosas aberrações da manipulação inicial. Assim, vários adeptos das mais recentes invenções técnicas descobriram que o emprego de aparelhagem moderna permite à criança aprender a ler muito antes do que é habitual. Segundo esta concepção, nunca é demasiado cedo para iniciar a criança no domínio da técnica cultural necessária: a aquisição da cultura. Leio em prospectos que na idade pré-escolar o "programa preparatório da aprendizagem da leitura" por volta dos três a quatro anos, se tornou, uma excelente credencial de capacidade intelectual para o ingresso na escola primária. A aparelhagem era atraente, de modo que os pais não deviam hesitar em enviar os filhos. Eu aconselhá-los-ia antes a hesitar: A técnica cultural atrás referida vai ao encontro da criança muito cedo – quantas vezes demasiado cedo.»
Não direi que Adolf Portmann está a manipular o leitor mas está com certeza a desviá-lo da questão central.
Aberrante não é só - não é principalmente - que tecnocratas da Educação queiram acelerar o ensino da leitura às crianças, servindo-se delas para bater recordes estatísticos.
As tecnologias educativas estão por toda a parte e desde que vários técnicos, revistas, escolas manipularam suficientemente a opinião pública, os audio-visuais (como os testes psicotécnicos) reinam nas escolas. São rotina, voga, moda, progresso. A questão de fundo é porquê o progresso e porque correm todos para ele?
No fundo, o que Portmann critica está conforme esta lógica do progresso: atingir metas, ganhar etapas, conquistar recordes, atingir alvos.
Um filósofo como Portmann está manipulando, na medida em que desfoca o essencial – a questão de fundo – e sobrevaloriza o acessório.
Mas nem só.
Os casos reais de manipulação discricionária - mesmo torcionária - são por Adolf Portmann subtilmente esbatidos fazendo-se crer de que a criança está sujeita - até morrer - ao processo manipulatório que é o processo educativo... Mais uma vez o fatalismo marcusiano como técnica de manipulação filosófica...
As linhas caricaturais com que Aldous Huxley descreve no seu «New Brave World» totalitário as manipulações genéticas e cerebrais, resultam num certo descanso para as manipulações suaves operadas nas nossas democráticas sociedades de bons e brandos costumes.
Até a caricatura serve a ideologia. E serve bem.
F.B. Skinner foi mais explícito e coerente (menos subtil): ele não critica a manipulação, fazendo demagogia com a liberdade. Faz antes, com realismo, da liberdade o mito que ela é, estabelecendo a manipulação como "técnica ao serviço da evolução humana."
Perfeito: é um caso de franqueza filosófica que devemos agradecer. Nem sempre os ideólogos do imperialismo espiritual se comportam de maneira tão evidente, nem mostram tão completamente o jogo.
Nem sequer falta a Skinner o fim de festa funambulesco, o show de toda a boa revista de bulevar.
A Terra da Utopia é para F.B. Skinner o terreno ideal onde vicejará - onde vicejará jamais entenda-se... - a total, totalitária manipulação de muitos por alguns homens-máquinas: os tecnocratas da ideologia (filosofia) manipulatória da manipulação.
Círculo fechado, todos contentes.
Ao lado desta subtil e nobilíssima manipulação de alto nível filosófico- cientifista, positivista, neo-positivista, evolucionista, etc. - bem poucos cuidados já nos deverá dar a - por exemplo - manipulação partidária ou publicitária, de tão grosseiras ambas.
0 futuro é dos subtis.
COMO SAIR DO PESADELO
Se, no conceito de Adolf Portmann, a manipulação é tudo o que condiciona e envolve o indivíduo, então a questão principal não é de minimizar ou subestimar esse condicionamento - inevitável -, esse constrangimento - necessário - mas que meios são colocados à disposição do sujeito para:
compreender até onde e por quem é manipulado;
responder à manipulação;
encontrar os métodos justos de resposta à manipulação, saindo vitorioso dos múltiplos mas ...inevitáveis condicionamentos. Tudo nos condiciona, diria La Palice.
Se o condicionalismo determinante é o sistema cultural - o sistema ideológico ou mitológico - logo se vê que a melhor pedagogia libertadora será a que possibilite uma distanciação possível desses mitos que incorporam a ideologia dominante.
Daí que muitos pensem hoje - e as novas gerações não só o pensaram como o praticaram - que a melhor pedagogia vem de culturas exógenas.
Expondo a cultura vigente a uma contra-prova de culturas exógenas - eis o método higiénico.
Cultura hindú, chinesa, japonesa, budista são algumas das pedagogias que permitem, enquanto termos de comparação, ângulos de análise e visão crítica.
De contrário, as lavagens ao cérebro sucedem-se em cadeia.
E é ver quem mais manipula o outro e pelo outro é manipulado.
Há um ponto decisivo: é o da conversão a um padrão cultural - mitológico - radicalmente diferente.
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(*) Este texto foi publicado na colecção «Mini-ecologia», das edições «Frente Ecológica», num caderno com 100 exemplares de tiragem
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1-4-
A VIDA E A ALMA EM LABORATÓRIO(*)
15/12/1978 - A análise dos sintomas paroxísticos que hoje se tornaram sensíveis e espectaculares leva-nos, pelo avesso, a conhecer por dentro o sistema ideológico que nos governa. Nos adoece. Nos mata. Nos aliena. Nos corrompe. Nos condena.
É, no fim de contas, a única utilidade dos sintomas: levar-nos às causas, sabendo então nós de que doença sofre o sistema e como nos tortura dizendo que salva.
Não fora os extremos patológicos a que o sistema fez chegar os ecossistemas e ainda hoje continuaríamos a considerar, como estupendos progressos da ciência, os mais nefandos e negregados erros.
Graças à poluição, podemos (se quisermos) acordar. E se não for suficiente, outros empurrões receberemos para aprender a (con) viver neste ecossistema Terra.
Nem sempre, porém, a análise dos sintomas nos leva directamente ao conhecimento das causas.
À causa.
Por exemplo: até que ponto uma teoria cientifica (inocente e de bata branca) poderá ser responsável pela tortura, pela manipulação, pela violência, pela mais atroz patologia mental?
Que papel no Biocídio podem ter teorias tão inocentes e tão aparentemente desligadas de toda uma praxis violenta, teorias como a que compara o cérebro a um computador, o corpo a uma máquina e o homem a um animal?
Ou a teoria (o mito) das vitaminas?
Ou a teoria (a lenda) de que é possível reproduzir vida num laboratório?
Até que ponto é polìticamente responsável por boa parte da Alienação contemporânea ter-se considerado o homem Rei da Natureza e seu Déspota Absoluto?
Até que ponto a "alma no laboratório" de tão ilustres psico-experimentalistas, não conduz directamente à miséria de todas as lavagens ao cérebro ?
Até que ponto os testes psico-técnicos não são, na origem e nos resultados, uma forma de violência?
Até que ponto os exames escolares não partem de premissas aleatórias e alienatórias estabelecidas por "modernas escolas psico-experimentalistas", mais medievais do que as medievais?
Até que ponto é violento o conceito de Q.I. (quociente de inteligência)?
Até que ponto é violenta uma hierarquização da "inteligência" e o espírito humano reduzido ao cérebro calculador?
Até que ponto é violência utilizar em experiências ratos ou macacos, retirando daí ilações para o homem?
A injecção de produtos químicos e a transformação do comportamento - até que ponto, tão interessantes experiências, são ou não são desinteressadas?
No fundo e na aparência é só a curiosidade humana que move esses cientistas misto de poetas: é o espírito da aventura e do desconhecido que os move.
No fundo, trata-se só de matar esta sede, esta fome, esta ansiedade de saber - neutral e objectivamente - que (por exemplo) ratos machos começam, após uma injecção de testosterona no hipotálamo, a ter comportamento de fêmeas e a construir ninhos de papel... (Allan E. Fischer, da Universidade de Pittsburg).
No fundo, haverá alguém mais bem intencionado do que o Prof. Delgado, da Universidade de Yale, quando estimula uma mulher com eléctrodos no lóbulo temporal direito até ao ponto em que a mulher, de tão estimulada, acaba por pedir ao ilustre terapeuta que vá para a cama com ela, tão excitada - estimulada - estava pelo Delgado?
Injectando certos produtos químicos no cérebro, um casal de macacos pode ter 81 relações sexuais em 90 minutos: a experiência é ainda do Prof. Delgado, que nada tem, evidentemente, de tarado sexual, fazendo tudo isso no seu laboratório de bata branca e por amor à arte.
No fundo, trata-se só de saber - como a ciência é desinteressada e curiosa! - que a memória do rato A para o rato B pode ser transplantada por uma operação cirúrgica.
Trata-se só de saber que a memória pode ser estimulada electricamente.
A Ciência é boa, a ciência é neutra, a ciência não é moral nem imoral. Investiga. Se vai ou que vá parar às mãos de torcionários, isso já não é com ela. Nem com a alma branca da bata branca.
Alguma vez a cirurgia do cérebro poderá ser mais do que ciência pura merecedora do Prémio Nobel?
Não será a cirurgia das transplantações, ciência pura, neutra, objectiva, para lá de toda a suspeita e de toda e classificação judicativa e de todo o colaboracionismo?
Dizem outros, desconfiados, que não.
A ciência investiga porque lhe interessa dominar processos ou mecanismos (psíquicos) e pô-los depois, manipulando-os, ao serviço de uma finalidade, de uma ideologia, de uma política, de uma moral, de um objectivo.
É sempre astuta e falsa a pretensa neutralidade da ciência.
Quando, com afinco, se procura o mecanismo da fotossíntese, evidentemente que se poderá considerar objectivo e ideologicamente neutro o conhecimento desse mecanismo. Mas o facto de se ter investigado esse e não outro, o facto de se investigar com persistência, o facto de se orientar para aí a investigação e de haver dinheiro para investigar isso e não outra coisa, esse facto é absolutamente político. Depende de toda uma política da ciência que aí se leva a efeito.
Porque, uma vez conhecido o mecanismo da clorofila, esse conhecimento será posto totalmente ao serviço de uma - por exemplo - política de maior produção de plantas!
Em 10 de Março de 1970, iniciaram-se dezenas de experiências no Instituto Max Plank de Munique para saber se o homem era um torturador nato...
Dir-se-á: ciência pura. Neutral. Nenhuma ideologia embacia a experiência.
Mas o facto de se escolher esse tema - e não outro - já é indicativo de uma política.
Aliás, toda a metodologia das experiências é a priori discutível. Nada tem de objectivo. Escolhe-se, entre várias, uma metodologia. Essa escolha obedece e envolve, evidentemente, normativos de vária ordem. Até que ponto todas as experiências não viciam na origem as conclusões a que se pretende chegar?
Há uma pergunta que se pode fazer para todas as experiências realizadas em sociologia, biologia e psicologia.
Como pode ser reproduzido em laboratório o ambiente real do mundo real?
Que poder probatório têm afinal testes de laboratório?
Provará um teste psicotécnico a inteligência de alguém?
Tudo isso, no entanto, que provoca à partida as mais sérias dúvidas e reservas é usado como dogma indiscutível pela famigerada ciência da bata branca.
Pelos temíveis gangsters da bata branca.
A PACÍFICA CIÊNCIA NASCE DA GUERRA
Quando se refere a impoluta ciência, a sua santa objectividade ou neutralidade, é quase sempre esquecida a proveniência bélica da maior parte das grandes invenções da ciência, não só moderna.
Artimanhas investigadas com verbas militares - para fins altamente (i)morais como matar o inimigo - eis que passam depois para isentas, impolutas, santas, objectivas e neutrais experiências no melhor espírito da bata branca laboratorial.
A energia nuclear deve-se à guerra e na guerra, pela guerra, fomentando a guerra foi testada.
Mas - terminada (?) a guerra - tinham que se inventar as aplicações "pacíficas" do átomo bélico.
A penicilina foi aplicada na guerra e o calculador electrónico também, para resolver problemas de balística; o transistor tinha, na origem, o objectivo de reduzir o complexo de matérias electrónicas do exército.
Há uma pergunta que se pode fazer para todas as experiências realizadas em sociologia, biologia e psicologia.
Como pode ser reproduzido em laboratório o ambiente real do mundo real?
Que poder probatório têm afinal testes de laboratório?
Provará um teste psicotécnico a inteligência de alguém?
Quando a bomba Goyave explode, trezentas bolinhas de aço, de meio centímetro de diâmetro, são projectadas em todas as direcções. À velocidade inicial de 1000 metros por segundo, a coisa magoa.
Os sábios americanos que haviam realizado esta bomba para a guerra do Vietname, verificaram depois que ela fazia belíssimos ferimentos. Estudaram então pequenas flechas que substituíram as bolinhas.
As flechas destruíam os tecidos e não podiam sair. Era melhor, embora ainda não fosse perfeito.
Continuava a haver um problema. O inimigo tinha cirurgiões, médicos, que apesar de tudo conseguiam extrair os projécteis, tratar os ferimentos, curar, por vezes, alguns feridos. Não podia ser. Os sábios produziram então uma matéria plástica, tão dura como o aço, e que tem a vantagem de ser transparente aos raios X. Impossível, portanto, ver através da rádio, onde se encontram os estilhaços, impossível operar. O progresso não pára.
(GÉRARD BONNOT, cronista de ciência no semanário «L’Express»)
PSIQUIATRIA SERVE DE AVISO
Se o escândalo no campo (nos asilos...) da Psiquiatria deu raia mais cedo e abriu, mais tarde, a dissidência chamada Anti-Psiquiatria
Se, portanto, o regime policial da ordem psiquiátrica passou a ser policiado, agora e por sua vez, por David Cooper e seus discípulos, Ronald Laing e seus alunos, etc
significa o facto três coisas:
que outros campos, asilos e ciências (de bata branca) continuam à espera do seu David Cooper;
que a ciência, pelo facto de vestir bata branca, não está limpa das mortes e do sangue que continue fazendo;
que é preciso desconfiar hoje dos que, reformistas, aconselham alguns remendos na bata (e na fachada) dos respectivos templos para que os corpos de polícia que lá moram continuem mais à vontade a sua acção, evitando roturas subversivas à Cooper-Laing-Anti-Psiquiatria.
FINGEM IGNORAR QUANDO LHES CONVÉM
Um dos fenómenos mais folclóricos é a falta de memória dos cientistas encartados.
Desmemória ou falta de atenção, de facto, é a melhor explicação para o que poderá ser má fé e voluntária obstrução de dados conhecidos.
Exemplo desse desfasamento entre os que proclamam uma coisa e os que proclamam outra, é o diagnóstico da asma: reconhecido centenas de vezes o papel dos antibióticos nas alergias e aparecendo a asma, normalmente, sob a forma de espasmos alérgicos, curioso e folclórico é quando vem outro cientista anunciar que as crises de asma são condicionadas por factores psíquicos: os doentes asmáticos - segundo estes - seriam muito nervosos e sensíveis ao ruído.
Mais uma vez a ciência confunde.
Confunde causa desencadeante ou causa intermédia com causa das causas ou causa rerum.
Se o sistema nervoso manifesta desequilíbrio ou carência, é por causa de uma causa intermédia que, por isso mesmo, só actua se tiver a provocá-la causa mais forte: os tecidos impregnados de produtos químicos tóxicos, e em particular de antibióticos reconhecidamente alergenos.
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(*) Este texto foi publicado na colecção «Mini-Ecologia» (qual número? Qual título?)
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1-2- ideologia-3-os dossiês do silêncio
O COMPUTADOR NA GUERRA DE NERVOS(*)
24/4/1981 - Em artigo já publicado n'«A Capital», falávamos nós sobre o sistema de alerta dos Estados Unidos, comentando precisamente a tendência que esse sistema tem para avariar... nos momentos de crise. Dois dias depois, deparávamos com outra notícia da France Press, que a seguir transcrevemos.
Sentimo-nos relativamente compensados desta árdua batalha de ler e compreender a actualidade no que ela tem de permanente, para lá das ilusórias fantasias a que os factos, desligados do seu contexto coerente, nos podem conduzir. E regra geral conduzem, induzindo a opinião pública em erro ou engano sistemático sobre o que se passa no planeta Terra.
A notícia que a seguir se comenta e depois transcreve tem interesse a vários níveis.
Assinala um dos pontos cruciais onde informação o Informática se cruzam.
Assinala de que maneira a informação prepara o terreno à invasão e à política da Informática, reabrindo de novo, e sempre que necessário, os mercados a novas vagas de computadores.
Assinala como o sistema usa uma publicidade especial (notícias de agência, por exemplo) para fazer render esta mercadoria também especial e excepcional que se chama «computador».
A firma precisa de vender mais uns milhares de computadores e, pressionando os meios do Pentágono, começam a exalar-se notícias (como esta) que, aparentemente, vão contra a sagrada imagem de prestígio e dignidade dos mais altos poderes dos Estados Unidos.
Mas o próprio Pentágono tem vantagem em ver substituído o velho «Wimex» por um «Wimex» nova vaga.
De que maneira essa publicidade disfarçada serve ainda a guerra de nervos declarada à população humana?
Estando o computador em questão, no centro nervoso dos litígios bélicos entre os E. U. A. e a U. R. S. S., é evidente de que maneira uma avaria em tal sistema pode colocar a humanidade num verdadeiro «estado de sítio» nervoso, de que maneira uma simples notícia sobre o computador do Pentágono prestes a provocar uma guerra nuclear mundial, constitui afinal mais uma poderosa arma na área da guerra fria.
A notícia é ainda significativa porque levanta a questão de uma leitura que a opinião pública faz dos factos que lhe contam, e uma outra leitura completamente diferente dessa que é possível fazer-se, desde que outras hipóteses de estudo e trabalho sejam postas na mesa.
E agora a notícia:
«WASHINGTON, 10 - O gigantesco sistema informático destinado a prevenir o Presidente americano em caso de ataque inimigo ou de crise internacional, está sujeito a avarias nos momentos mais críticos, soube-se domingo de fonte informada.
«Este sistema, baptizado "Wimex", consiste em uma série de computadores instalados no mundo inteiro, nomeadamente nas bases militares americanas, e ligados por uma rede complexa. Ele permite ao Presidente e aos chefes militares serem alertados em caso de ataque inimigo ou de crise tal como a ocupação de uma embaixada.
«Wimex» fornece informações actualizadas sobre as forças americanas e sobre as possibilidades de resposta a diversas situações. Uma vez as decisões tomadas, ele transmite aos comandos militares ordens para que pessoal, armas, equipamentos e meios de transporte cheguem a tempo ao lugar requerido.
«O sistema, eficaz em tempo normal, já várias vezes tem funcionado mal, no entanto, quando os chefes militares têm tido necessidade de respostas rápidas a uma série de perguntas, segundo informações recolhidas no Pentágono e no departamento da Contabilidade Geral (General Accounting Office).
«Segundo tais informações, houve pelo menos duas ocasiões graves em que se avariou: em 1975, nomeadamente, durante a operação realizada conjuntamente pela Marinha, a Aviação e os «marines» para libertar a tripulação do navio mercante americano "Mayaguez", que fora capturado ao largo do Camboja.
No Departamento da Defesa reconhecem-se estes problemas, mas afirma-se que existem, em caso de ataque nuclear, dois outros sistemas mais rápidos para prevenir o Presidente. Segundo outras fontes, porém, pelo menos um destes sistemas sofre de frequentes interrupções de energia.
«O "Wimex", concebido por Honeywell nos anos 60, era um "bom sistema para essa época", acrescentou um especialista do Pentágono, mas "não pode responder às necessidades dos anos 80". De fonte oficial, espera-se que possa ser substituído daqui a 4 ou 7 anos.»
A SOCIEDADE INDUSTRIAL «ENFORCADA» NOS SEUS PARADOXOS
NIXON DIXIT - Algumas contradições são tão evidentes que até cegos notam...
Sobre o paradoxo de uma «civilização» que manda astronautas à Lua e não consegue resolver os engarrafamentos na cidade, até Nixon notou: « Não é normal que os nossos sábios tenham conseguido mandar três homens para a Lua, transportar três homens a 390 000 quilómetros de distância, e não sejam capazes de transportar todos os dias convenientemente trezentos e noventa mil homens de suas casas para os locais de trabalho..
A GUERRA PARA EVITAR A GUERRA - Haverá mais chocante e brutal contradição do que a Paz que se conserva com a Guerra, reforço de armamento a colossais voragens de dinheiro em investigações bélicas?
A guerra - como a poluição, o esgotamento de recursos, os acidentes rodoviários, etc - já por si seria monstruosa faca à consciência humana.
Mas o que a torna n vezes monstruosa, é que seja um produto fatalmente segregado, como necessidade interna, pelo sistema e que este não pode deixar de segregar para continuar a ser o que é.
Paradoxo vertiginoso: o sistema tem que se suicidar para não se suicidar.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 24/4/1981
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1-2 - ideologia-4-di = diário de ideias - inédito ac de 1987 (?) – 5 estrelas - Da Ecologia Humana à Gnose Vibratória
A FUNÇÃO DOS SÍMBOLOS NA ÉPOCA DOS ERSATZ VIRTUAIS
- A força manipulatória dos órgãos mediáticos
- Unidade, unicidade, uniformidade
- A tentação hegemónica de uniformizar (ódio ao diferente)
Do lógico apelo à unidade, ao yoga, à religião (religação), à filosofia, à holística, nascem, sem se dar por isso, por estrutural perversão humana e cósmica, todos os ersatz ou pontos cruciais da religação que crucificam a liberdade humana.
Se uma barragem veda a corrente de um rio, transforma-se no ponto crucial de todo esse rio. É a condição sine qua non, a chave que dele decide, tal como a nascente.
A questão ecológica, não é a barragem mas a nascente de toda a realidade histórica actual, a chave, a condição sine qua non que decide de tudo.
Podem fazer-se mil acções a jusante: nenhuma tem sentido, se a nascente secar.
Consequências da crise ecológica são globais, ou tendem a ser globais, pelo que todas as estratégias políticas em vigor, mesmo as de Ambiente, não são ecológicas, ainda que levem abusivamente esse nome.
A questão ecológica condiciona todas as outras, define a lista de prioridades absolutas e reais.
O buraco na camada de ozono é um ponto de referência absoluto e não precisa de ser constantemente citado para estar presente em tudo o que se fizer ou não fizer sobre o planeta.
Risco da condicionante ecológica: da unidade essencial e real passa-se facilmente à tentação uniformizante que é a tentação de muitos sectores e de muitos sectários de onde deriva, inevitável, a tentação hegemonizante.
Unicidade , uniformidade e unificação tentam o ser humano como resposta à sua sempre frustrada fome de unidade
Medidas sectoriais e sectárias de uniformidade, as rasoiras totalitárias marcam o nosso quotidiano como dados adquiridos.
Entre essas medidas, quem se lembra de que está submetido, nos seus mais pequenos gestos quotidianos, pelo calendário gregoriano?
A força simbólica da chave vem provavelmente desse poder crucial : também a cruz não deixa de ter uma enorme carga simbólica assim como a encruzilhada.
A chave abre ou fecha um conjunto polimorfo de coisas a que posso ou não ter acesso. Ter a chave é, em certo sentido, ter uma arma, outra das entidades cruciais.
Mas também o alfabeto, invenção humana, o é. Quantas coisas dependem do alfabeto tal como outras tantas dependem do calendário?
Um primeiro-ministro concentra em si o poder crucial, porque dele derivam outros poderes. Está no ponto crucial de muitos outros poderes. A reverência pelo poder não é apenas um fenómeno de superstição, mergulha nesta certeza implantada no subconsciente colectivo de que o ponto crucial move à sua volta muita coisa.
Não será também o fascínio da pedrada no charco?
As figuras mais badaladas nos jornais, com direito a foto, são símbolos menores da chave: por elas ainda passa muita coisa, carregam-se de vibrações, de olhares, de admirações, de invejas.
Ficam uma pilha de nervos.
Há categorias, grelhas que enquadram todo o nosso quotidiano sem nos apercebermos disso. Evitam que se enlouqueça no oceano de variedade multiforme, é um ersatz da unidade perdida.
Tal como o tempo e o espaço são categorias cruciais da natureza, o sistema de calendário adoptado condiciona-nos, como construção humana, através dos séculos.
Como nos condiciona o sistema de pesos e medidas.
Como nos condiciona a força da gravidade. As estruturas prévias e primárias criadas, estabelecidas, institucionalizadas, fundam a necessária homogeneidade num universo de enlouquecedora heterogeneidade, homogeneidade estruturante que nos torna peças de um conjunto, órgãos de um mesmo corpo. Evitando perder a razão.
Mas a homogeneidade toca facilmente a uniformidade.
A tentação hegemónica e totalitária espreita.
A espécie humana é demasiado variada, as democracias agitam-se, por dentro, com os partidos (inimigos da unidade...) , o mal-estar da diversidade invade as sociedades organizadas.
Sempre, dominante, a tentação de reduzir todas as vozes a uma só voz, a torre de babel como símbolo eterno de todos os pontos e poderes cruciais da humanidade.
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