sexta-feira, 8 de maio de 2009

GRIPE SUÍNA 1981

1-5 - montijo-1-ie-ce> = ideia ecológica do afonso - dossiês do silêncio – dossiês de ecologia humana – files alimentares – mein kampf – histórias de horror – inédito (obviamente) ac – 5 estrelas

19-10-1981: O PESADELO KÁRMICO DO MONTIJO INDUSTRIAL: PORCOS E DOENÇAS À ESCALA INDUSTRIAL/(*)

(*) Para saber a data aproximada deste inédito dossiê do silêncio, só me lembro da polémica publicada no Guia do Consumidor, sobre o assunto suínos, em conversa com um técnico do Instituto Nacional do Consumidor. Tenho de lembrar, também, que este texto foi possível, graças à colaboração prestada ao jornalista pelo meu querido amigo Dr. Rocha Barbosa que, muito à contre coeur, era delegado de saúde na altura. Mais actual do que nunca, não só tenho de reaver todo este dossiê (incluindo a reportagem que foi publicada n’O Século) , como tenho que salvaguardar a sua manutenção ...póstuma.

Se se fizesse uma análise bacteriológica às águas de consumo no Montijo, e se esse estudo conduzisse a medidas efectivas em função da gravidade da situação que essas análises denunciariam, era toda a economia local, totalmente apoiada nos porcos de engorda, que se afundava.

DO MITO DA PROTEÍNA À PATOLOGIA ÚNICA NO MUNDO

Desde que organismos internacionais como a F.A.O. e a OM.S. internacionalizaram o mito da proteína animal, - com o objectivo de fomentar os lucros de algumas multinacionais - , iríamos assistir a uma série de absurdos e distorções de que o Montijo nos dá flagrante exemplo.
Aqui se pode observar, neste “microcosmos porcino", o macrocosmos do consumo mundial de carne e seu absurdo económico. Para lá do que se poderá dizer (e tentaremos a seguir dizer o que soubemos) quanto à patologia animal específica inerente a este tipo de indústria pecuária, e para lá também da patologia humana que lhe fica epidemiologicamente associada na respectiva região, é no campo económico que os maiores absurdos se patenteiam, e a máxima irracionalidade de todo o sistema alimentar vigente se manifesta.

UM ABSURDO ENTRE MUITOS

Por motivos igualmente absurdos que se poderiam enumerar, temos um facto consumado: o País é extraordinariamente deficitário em cereais para alimentação do gado: diz-se que não temos pasto, diz-se que produzimos menos de 20% dos cereais necessários à engorda e produção de proteína animal.
No ano de 1978, importámos 4,5 milhões de toneladas de cereais em que quase 90% se destina a alimentação animal.
E no mesmo ano produzimos 900 mil toneladas de cereais.
O bom senso pensaria que estes cereais iriam directamente para a alimentação humana. Em termos de macrobiótica, o homem deve ter uma alimentação essencialmente cerealífera, desde que o cereal não seja completamente desvirtuado pelos processos de industrialização, farinação, refinamento, etc
Por estranho, absurdo e aberrante que seja, mas esses milhares de toneladas de cereal que o País importa e que põem a famigerada balança de pagamentos de pernas pró ar, vão para engorda dos animais que depois comemos (quem come), mais concretamente: esses cereais destinam-se à indústria de rações.
O mito da proteína animal serviu durante muito tempo para acompanhar o fado da importação: o País era importador de Carne, tínhamos que gastar divisas na carne que vinha da Roménia, Espanha, França, Jugoslávia, etc pelo que os industriais que queriam lançar-se no super-lucro da produção estabulada e de aviário, tinham nessa importação (e nas divisas) um argumento económico de oiro para exigir todo o proteccionismo ao estabelecimento das suas indústrias: pocilgas e aviários, por todo o lado, começaram então a grassar como benesse para o País. Tínhamos proteína, finalmente, de acordo com todos os preceitos tantos anos gritados pela F.A.O., pela O.M.S., e por outras internacionais do mesmo jaez.


"COME CARNE, PEQUENA, COME CARNE
NÃO HÁ MAIS METAFÍSICA NO MUNDO DO QUE UM BOM SALPICÃO..."
(Adaptado do Fernando Pessoa/Álvaro de Campos)

Fiambre, presunto, paio, lombo, pézinhos, salpicão, mortadela, - ao comer qualquer destes produtos de salsicharia, o consumidor talvez não saiba o complicado caminho que essa carne de porco percorreu para chegar ao seu prato ou à sua sanduíche mista.
Nada melhor, portanto, do que visitar o maior centro de criação, engorda e abate de gado suíno do País, a vila do Montijo, cuja fisionomia peculiar de aglomerado industrial é fundamentalmente marcada por essa complexa e desconhecida indústria pecuária, alicerce importante da economia do País.
A importância que o Estado, antes e depois do 25 de Abril, reconhece à produção suína, tal como se pratica no Montijo, revela-se (confirma-se) através de vários factos que traduzem um proteccionismo expresso ao sector.
Centenas de malhadas, no Montijo, engordam centenas de milhares de porcos. No entanto, e apesar dos pesados encargos que essa concentração acarreta para a comunidade, apesar dos custos sociais no que respeita à insalubridade directa do ambiente e indirecta das águas subterrâneas - e, portanto, à patologia especifica das populações, - apesar do incómodo que para os 50 mil habitantes da vila (e 70 mil do concelho) representa essa presença pestífera , os criadores não estão obrigados a contribuir com uma parte dos enormes lucros auferidos para beneficiar um concelho que, desde saneamento básico a obras de abastecimento de água, de melhoramento hospitalar e de criação de centros de saúde é, relativamente à numerosa população, tão carenciado.
Mas o Estado, através da Junta de Produtos Pecuários, reforça essa protecção ao produtor, pagando por cada animal atacado de doença (peste africana ou qualquer outra de carácter endémico ou epidémico) uma indemnização largamente compensadora.
Daí, portanto, que o produtor não se preocupe com as endemias e zoonoses, pois está sempre seguro de vir a receber o seu.
Daí, também, que os cuidados com a limpeza e saneamento das malhadas, raramente ou nunca se pratiquem, exactamente porque ao produtor é indiferente que o gado seja vítima crónica de doenças sem conta.

ONDE A PORCA TORCE O RABO

E aqui começa a outra face desta remexida realidade que são os milhares e milhares de porcos em permanente engorda.
É aqui que a porca torce o rabo.
De facto, com propriedade se pode falar de "permanente engorda". O porco está continuamente a comer. Comprado pelo engordador ainda na idade de leitão (2 meses, cerca de 20 quilos), ele é metido , em absoluta promiscuidade, num espaço que normalmente fica superlotado por razões de superprodução e superlucro.
Três factores são desde logo determinantes do estado de doença crónica ou contínua em que o porco enjaulado "vive" :

1 - A promiscuidade da pocilga;
2 - O alimento forçado e contínuo, 24 horas por dia, a que é submetido;
3 - Os vários produtos químicos que ingere, adicionados nas rações, na água de beber ou directamente injectados pelo veterinário, a pretexto de vacina ou outro pretexto qualquer. Muitos destes produtos químicos são polivalentes, quer dizer, pretendem por um lado obviar ao estado de doença ou endemia crónica em que os animais estabulados se encontram (expostos a todas as infecto-contagiosas:) e, por outro lado, provocar um estado de permanente apetite por parte dos animais cujo objectivo único e último é a engorda: durante 4 meses prefixos.
Para se avaliar das consequências desta engorda acelerada, basta dizer que o porco do Alentejo, da raça portuguesa, leva pelo menos um ano a engordar, livre no montado e comendo bolota dos sobreirais.
As raças usadas no Montijo - ou em qualquer parte onde o porco se produza à escala industrial - são escolhidas especialmente pela velocidade a que engordam.
Ambas de origem inglesa, a raça "large white” e “land race” adquirem 80 a 90 kg em 4 meses.

CAMPANHA CONTRA O PORCO DE MONTADO

Está portanto bem à vista o motivo que levou a uma campanha contra o porco alentejano, alegando-se que tem gordura a mais e que era pasto fácil da "peste suína africana".
É preciso descaramento , de facto, para dar cobertura a tal campanha quando o porco estabulado em malhadas está constantemente doente de peste ou de qualquer outra doença; o que lhe vale e lhe permite aguentar, é que aos quatro meses vai para o matadouro e acabou-se...
No fundo, a campanha contra o porco do montado partiu de outras razões muito mais fortes: razões de rapidez na engorda, de superprodução e, portanto, de super-lucro: no grande centro do Montijo, o criador tem de lucro em cada porco uma média de 4 a 5 mil escudos.
O fenómeno porcino já alastra portanto do Montijo aos concelhos limítrofes de Palmela e Moita , constituindo toda a região como que um “hinterland” , com características únicas na Europa e talvez em todo o Mundo. Embora a sede de lucro não seja apanágio só do Montijo, claro.
Mas os ganhos com o porco não são apenas em lucro directo: há maneiras hábeis de receber os subsídios de doença, indo comprá-los, por exemplo, já doentes e metendo-os no meio dos outros... Há também maneira de fugir à fiscalização, já que em teoria os porcos atacados de "peste africana" são abatidos a tiro (com uma pistola especial que só o senhor veterinário tem...) e incinerados na presença de um técnico da Junta de Produtos Pecuários.
Em teoria, é o proprietário que deverá queimar os animais com alguém da Junta presente. Na prática... há sempre maneira de ter amigos por esse mundo pecuário fora.
Outra fuga possível e que de tão frequente quase a torna legal pela rotina, é pura e simplesmente não manifestar o número de cabeças à Junta de Produtos Pecuários.
Se é um facto que, assim, o proprietário perde o direito a receber a indemnização, também é certo que pode ir vender a carne dos porcos que morreram "doentes".
Mas, como já vimos, os porcos crescem permanentemente doentes e só duram os 4 meses da tabela à custa de terramicinas, antibióticos e toda a casta de medicamentos ora anti-infecciosos, ora bactericidas, ora para abrir o apetite, ora para as vias respiratórias ...
Que diferença faz, afinal, e onde está a fronteira que separa o abate legal de um porco doente do porco que morre clandestinamente doente também?

PORCO SÁDIO É SÓ PARA ALGUNS

No Alentejo e outras regiões onde ainda existem, as varas de porcos já são só paisagem e não têm expressão industrial. Os industriais da engorda, pelo menos, tudo fizeram para que isso acontecesse. O porco alentejano, boloteiro e fabulosamente saboroso, indiscutivelmente sadio, foi vencido na batalha da concorrência.
Levando 12 meses para engordar, ficou literalmente arrumado e em desfavor para com os seus comparsas de raça inglesa, que engordam em 4 meses.
E o saboroso porco do montado, alimentado a bolota, sadio, de que se tirava a banha ou a manteiga de cor (e nem só), é hoje apenas privilégio dos que matam o porco para consumo caseiro. Os únicos que, de facto, ainda comem porco são...
A composição das rações para os porcos estabulados é um segredo extraordinariamente bem guardado.
Por isso mesmo existem por parte do público consumidor, as maiores dúvidas sobre o que essas rações contêm.
Supõe-se que vitaminas, hormonas, antibióticos e terramicinas entram em doses suficientes.
Estimulante do apetite e facilitando ao nível do intestino a absorção do alimento, a terramicina, por exemplo, é ao mesmo tempo aplicada com fins bactericidas.
Acelerando o crescimento, as hormonas, por seu turno, completam a acção dos antibióticos devastando a flora intestinal

UMA PATOLOGIA HUMANA TOTALMENTE DESCONHECIDA

Esta população suína, em regime de autêntico campo de concentração, apresenta um complexa quadro patológico que tem o seu desfecho ao fim dos quatro "meses" de engorda. Mas a população humana, que coabita neste meio, que bebe da água dos poços, que come desta carne, que respira estas pestilências?
A abundância de água de furos e poços na região é, aliás, um dos factos que determinam a concentração desta indústria verificada aqui.
Em estratos alternados de areia e barro, esta zona aluvionar tem água por todo o lado: mas se isso é, do ponto de vista económico, uma "benção" para os industriais, e se contribui para limpar um pouco a "porcaria" das pocilgas (que seria então sem água?), cria à população humana riscos de saúde gravíssimos.
A água que escorre, não só das malhadas, mas das explorações agrícolas, não tem tempo para depurar na camada freática.
E ao consultório do médico sanitarista chegam as mais incríveis doenças.
" O médico hoje, no Montijo, tem 90% da patologia que não sabe o que é.
" Em cada 100 pessoas com febre, faz-se uma hemocultura e só se consegue, na melhor das hipóteses, fazer o diagnóstico de uma.
" Há toda uma nova patologia desconhecida.
"Para lá da patologia clássica - pleurisia, febre de malta, enfim, toda uma patologia respiratória, aparecem-nos pessoas com acessos febris que vão para os hospitais de Lisboa e voltam sem diagnóstico feito.. "
Montijo, o maior centro português de criação, engorda, abate e transformação de gado porcino - e centro mor da Patologia das zoonoses suínas - é assim, em Portugal, um dos casos mais flagrantes e dignos de estudo, porque exemplifica, de maneira brutal, uma das contradições em que a sociedade anti-ecológica pode enredar a humanidade, levando-a "enforcar-se" a si própria.
Perante casos como o do Montijo, o vegetarianismo anti-carnívoro não é uma mania místico-religiosa: como o prova o patológico exemplo deste pesadelo kármico chamado Montijo, o alimento de carne conduz , de facto, assolado pelo sistema capitalista do lucro, a situações socialmente auto-destrutivas ou suicidas.
Um País que come carne cronica e sistematicamente doente, alardeando de que a proteína animal é absolutamente necessária à alimentação, enquanto mete no bucho desses animais doentes praticamente todos os cereais que importa a peso de ouro, para lá de um País crónica e sistematicamente doente, não será um País irremediavelmente condenado à supermistificação dos ideólogos que lhe lavam o cérebro?

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(*) Para saber a data aproximada deste inédito dossiê do silêncio, só me lembro da polémica publicada no Guia do Consumidor, sobre o assunto suínos, em conversa com um técnico do Instituto Nacional do Consumidor. Tenho de lembrar, também, que este texto foi possível, graças à colaboração prestada ao jornalista pelo meu querido amigo Dr. Rocha Barbosa que, muito à contre coeur, era delegado de saúde na altura. Mais actual do que nunca, não só tenho de reaver todo este dossiê (incluindo a reportagem que foi publicada n’O Século), como tenho que salvaguardar a sua manutenção ...póstuma.

quarta-feira, 18 de março de 2009

BIOTECNOLOGIA 2007

1-3- Rifkin-1-ie>

MAIS DO MESMO CLIC AQUI:

http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/casulo1/rifkin.htm
http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/rifkin-1.htm
http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&cr=countryPT&q=+site:pwp.netcabo.pt+%C2%ABentropia%C2%BB+de+jeremy+rifkin
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30 ANOS DE BIOTECNOLOGIA
O «NIM» DE JEREMY RIFKIN:A MAIORIA SILENCIOSA CONTINUARÁ SILENCIOSA
21.06.2007
A segunda edição do «Thinkeconomics», em Lisboa, trouxe à tona da actualidade um dos nomes fundamentais do nosso tempo-e-mundo, nome com o qual temos de contar para tentar perceber como anda e se metamorfoseia a ideia ecológica, frente à tecnocracia dominante e totalitária.
Jeremy Rifkin, presidente da Foundation on Economic Trends, é um nome incontornável e foi boa ideia trazê-lo a Lisboa.
Tentarei 4 ou 5 pontos de referência, porque me interessa falar de Jeremy Rifkin e do pouco que dele conheço, através dos três livros que tem traduzidos em português.
1.Para começar, a obra seminal «Entropia», traduzida por Henrique de Barros e editada pela Universidade do Algarve quando era reitor o Prof. Gomes Guerreiro. Sub-intitulada «uma visão nova do mundo», recomenda-se a crianças de todas as idades e a todos os graus de ensino, para quem quiser saber o fundamental da ideia ecológica. Só com uma advertência: o que ele chama uma «nova visão do mundo» - entropia versus neguentropia - é a mais antiga sabedoria do mundo, a dialéctica dos opostos complementares, encontrável nas civilizações superiores como a egípcia e a taoísta. A ciência moderna – e Jeremy Rifkin pertence à ciência moderna – por vezes distrai-se e chama «novo» ao que é novo há milénios.
2.Outra área em que Jeremy Rifkin se tornou uma referência deste nosso tempo-e-mundo foi a da biotecnologia: a sua obra «O Século Biotech», felizmente editada em português pela Europa América, 1998, é um tratado sobre o que convém saber das patifarias bio.
Entre a utopia ecológica e a utopia tecnocrática, Jeremy Rifkin fica em uma zona de fronteira ou terra de ninguém que dá para o catalogar na pasta do «NIM», nem sim nem não às imensas patifarias da era megatecnológica. Ele o diz, em 1998, no prefácio a «O Século da Biotech», página 17. Por causa dessa posição «nim» e pelas intermináveis bibliografias e notas de rodapé com que recheia os seus livros (ele é acima de tudo um erudito), alguém o terá interpelado como ele comenta:
«Quando um colega leu uma primeira versão deste livro, comentou que a lista de pormenores citados no manuscrito era tão convidativa que ficara a pensar se eu estaria a fazer a apologia das novas biotecnologias. A minha resposta foi sim e não.»
3.É esta característica – o «nim» - que o torna um adorno adorável das nossas estantes: o «nim» é precisamente a invariável dominante na eco-tecnocracia dominante. E como qualquer ser humano normal, de cérebro normal, nunca poderá abranger a erudição avassaladora que Jeremy Rifkin manipula com particular agilidade, o seu «nim» impõe-se à maioria dos leitores.
4.Mesmo os da utopia ecológica – que não são assim tão poucos e fazem uma boa maioria silenciosa – hesitam em dar um rotundo não às patifarias da biotecnologia de que Jeremy Rifkin nos dá uma sinopse muito pedagógica que devemos anotar na página 13 do prefácio:
« [Em 1978] entre outras coisas , predissemos que as espécies transgénicas, as quimeras e clones de animais, os bebés-proveta, o aluguer de úteros, o fabrico de órgãos humanos, e a engenharia genética humana haveriam de ser todos concretizados antes do final deste século. Também dissemos que a despistagem de doenças genéticas viria a ser uma prática generalizada , suscitando graves questões relativamente à discriminação genética pelos empregadores, companhias de seguros, e escolas. Expressámos a nossa preocupação pela crescente comercialização do material genético da Terra por parte de firmas farmacêuticas, químicas e biotecnológicas, e levantámos questões sobre os impactos potencialmente devastadores a longo prazo de libertar no meio ambiente organismos geneticamente manipulados. Na época, os biólogos moleculares, os líderes políticos, os pânditas mediáticos, e os escritores de editoriais e de artigos científicos do país [E.U.A.], qualificaram as nossa previsões de alarmistas e artificiais. (...) Era um dado adquirido, entre os cientistas, que não havia necessidade de examinar as implicações ambientais, económicas, sociais e éticas daquilo que afirmavam ser um futuro «hipotético». »»
Como a gente te compreende, Jeremy !
Fazendo jus a quem o convidou para vir a Lisboa, Jeremy resolver também botar palavra sobre alterações climáticas (óbvio!) e termina as suas declarações à «Agência Financeira» com um elogio à febril hiperactividade de Portugal (devem ter-lhe sussurado aos ouvidos e ele quis ser cortês). Segundo a entrevistadora, Martha Dahnis, Jeremy disse estar seguro de que Portugal assume a liderança das energias renováveis da Europa.
Sem reticências nem aspas, deixa-nos, evidentemente, impantes de orgulho.
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Um conselho de avô à maioria silenciosa: nunca percam o pé desta dialéctica, entropia/neguentropia. É a melhor amarra para não ser arrastado na corrente.
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Da «Agência Financeira» - publicação on line – transcrevo uma notícia relacionada com o evento:
««O hidrogénio como fonte de energia vai ser o gerador da III revolução industrial, afirma o presidente da Foundation on Economic Trends, Jeremy Rifkin, que está preocupado com a leveza com que o mundo olha para as alterações climáticas.
O responsável, que se encontrava na segunda edição do Thinkeconomics, considera que o mundo «tem a ideia errada das mudanças climáticas e que somos demasiado conservadores a ver a rapidez com que está a avançar» esta fatalidade. «As alterações climáticas estão a acelerar muito mais rápido do que aquilo que imaginámos. Ainda não percebemos que a nossa espécie e biodiversidade estão em risco», apontou o mesmo, sublinhando que alterações climáticas que o mundo tinha previsto que acontecessem no século XXII já estão a acontecer agora e outras irão dar-se em breve.

««Para Jeremy Rifkin, a forma de tentar contornar este problema passa, sem dúvida, pela consciencialização destes problemas por parte de todas as nações e pelas energias renováveis, mas também por reservas de hidrogénio que podem garantir energia quando não há sol, vento, (..). «O hidrogénio vai gerar a III revolução industrial», realça. Renováveis e hidrogénio são assim as grandes apostas do futuro próximo.

««Por outro lado, opõe-se ao nuclear ao ver uma série de problemas que lhe são intrínsecos. «É demasiado cara, ainda não sabemos como fazer desaparecer o lixo que provoca, daqui a 20/25 anos vamos ter falta de urânio e não temos água».

««Quanto à armazenagem do dióxido de carbono, também não vê com bons olhos. «Não se perspectiva tecnologia que permita armazenar CO2, e como o faríamos sem que houvesse fugas», aponta.

«Estamos a iludir-nos se pensamos que podemos voltar às fontes de energia anteriores», referiu Jeremy Rifkin que se mostrou seguro de que Portugal assume a liderança das energias renováveis na Europa.»»
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Do «Jornal de Negócios» on line:
««Energias renováveis marcam arranque do Thinknomics
O presidente da Foundation on Economic Trends, Jeremy Rifkin, propôs ao Governo português que aproveite a presidência da União Europeia (UE) para dar mais espaço às energias renováveis, um tema que marcou o início do Thinknomics, um fórum de discussão promovido pelo Ministério da Economia e da Inovação, que se realiza hoje em Lisboa.»»
Miguel Prado
Miguelprado@mediafin.pt

ENTROPIA 1991

1-9- tragedia-8-ac-ab> entropia> manifesto

13-2-1991

ENTROPIA E GIGANTISMO

Quanto mais o cancro cresce, mais pele, osso e camisa nos tiram. Como Roberto Vacca sugeriu e quase demonstrou no seu ensaio célebre «A Próxima Idade Média», o gigantismo produz três principais consequências:
a) a partir de certa dimensão, os sistemas, como os dinossauros, deixam de servir os objectivos para que socialmente foram criados, vampirizando os seus já teóricos destinatários ou utentes;
b) se o sistema, ao crescer, entra em irreversível Entropia, tenderá autofagicamente, a comer-se a si próprio, pois, exponencialmente, quanto mais se autodestroi e autodevora mais energia precisa para se manter;
c) resulta daqui que cada homem na terra está a pagar, e pagará cada vez mais caro, esta entropia logarítmica em que o sistema, girando sobre si próprio, entrou. Por mais corpos, vidas, pessoas, consumidores que o sistema meta na «caldeira», nunca se dará por satisfeito, os défices e as dívidas externas aumentarão logica e logaritmicamente, as tensões sociais e as guerras localizadas proliferarão, pois tudo isso é logicamente carne de canhão para o sistema continuar, a Leste e a Oeste, destruindo ecossistemas, em marcha vertiginosa para a sua autofágica autodestruição.
Na sua crítica à Entropia, Ivan Illich chega às mesmas conclusões: o actual sistema de transportes urbanos, feito para alegadamente aumentar a velocidade de deslocação dos utentes, já se encontra na vertente contrária: os transportes na cidade servem hoje não para acelerar a deslocação mas para congestionar e paralisar a vida quotidiana das pessoas. Sofrendo de indigestão crónica, o sistema vomita-se a si próprio. No entanto, continua a enfardar, para o que precisa de nos tirar alma, olhos, pele, osso, camisa e etc..
A lógica do absurdo girando à velocidade da luz. Quanto mais os subsistemas nacionais e regionais se ligam à Central (no caso dos bancos o cerne é o Banco Central...) mais custosos ficam ao pagador final (nós todos), pelo tal fenómeno de entropia logarítmica.
Aplicando esta mesma regra do funil, D. Branca não fez nenhum discurso inflamado contra a Banca, nem prometeu melhores dias e salários para o futuro (sic). Reproduziu, ponto por ponto, a engrenagem. Limitou-se, em microcosmo, a pôr em prática uma pequena engrenagam que inutiliza a macroengrenagem. É isto que o sistema não perdoa. Que acusem o capitalismo de comer meninos (ou vice-versa), sim, óptimo. Dá-se ares, assola cães-polícia, ejacula mangueiras e gás lacrimejante sobre as ululantes multidões. Agora que o ignorem, pura e simplesmente, que lhe passem ao lado sem sequer lhe dar a honra de o desprezar, o sistema fica pior que uma barata.
[Recentemente, a Ordem dos Médicos travou-se de polémica com a comissão instaladora da Faculdade de Medicinas Alternativas. Adorou a oportunidade estupenda de ir à televisão, de andar em polémica, de se mostrar em forma, de exibir seu poder, seu monopólio, suas garras, sua arrogância.]
Já a «tecnologia apropriada»,[das medicinas alternativas] o contrário de toda e qualquer retórica, de toda e qualquer abstracção, de toda e qualquer ideologia, enquanto tecnologia útil que inutiliza o sistema, não agrada nada. Não dá luta. Esgueira-se no mato, como a guerrilha vietcong no Vietname. Na clandestinidade. É como bambu - dobra mas não parte. Continuará progredindo, clandestinamente, até minar o sistema.
Somos os ratos do sistema, os clandestinos da Sociedade.♥♥♥

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1-1 90-09-04 – ls > leituras do afonso - sábado, 12 de Abril de 2003-novo word -entropia>

RAÍZES DA DECADÊNCIA: O DESESPERO DOS HEDONISTAS(*)

[(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Livros na Mão», 30-10-1990+-]

4-9-1990

A palavra «entropia» ainda não estava na moda quando Miguel de Unamuno escreveu «Del Sentimiento Tragico de la Vida», que agora aparece em nova tradução portuguesa(*). Em 1953, a editora Educação Nacional, do Porto, publicara a versão de Cruz Malpique, mais literal e académica do que esta que o Círculo de Leitores agora apresentou.
Para o filósofo de Salamanca - também romancista, poeta e dramaturgo - a condição humana já era entendida como maldição e prova, no que andou muito perto dos «pessimistas» como Schopenhauer, Nietzsche, Leopardi ou Kierkegaard e também de muitos que se viram englobados no rótulo de «existencialistas».
Mas de uns e outros ele se demarcou, pela intuição central que o título desta obra particularmente expressa: o «sentido trágico da vida» seria o sentido entrópico da vida que regula todos os sistemas morais do Ocidente, baseados num cego, obstinado e estúpido hedonismo. Essa seria, no Ocidente, a nossa «doença», que levámos séculos a difundir pelo Mundo, como a maior pandemia da História. Perdemos as raízes da sabedoria, que consistia exactamente em saber que o homem é energia e que toda a ciência se deverá resumir, afinal, em conhecer a arte de administrar essa energia.
A nossa «doença» chama-se «ignorância» e daí, dessa ignorância, o sentido trágico e cego do caminhar por este mundo. Ler Miguel de Unamuno e o seu diagóstico, é ler os sintomas exacerbados da Doença que se reconhece, confessa mas não ultrapassa, e isso ainda por preconceito «cultural».
Fala Unamuno dos «Upanishads» mas o seu despeito irritado logo se revela nesta acusação ao monismo das cosmologias extremo-orientais que da Energia sabiam como ninguém mais voltou a saber: «aquilo a que eu aspiro, não é submergir-me no grande todo, na Matéria, ou na Força, infinitas e eternas, ou em Deus. Aquilo a que eu aspiro não é a ser possuído por Deus, mas a possuí-lo, a fazer-me Deus, sem deixar de ser o eu que vos digo ser neste momento. »
A «doença» ocidental, a que Unamuno chama «tragédia», um tanto exageradamente, caracteriza-se por criar essa espécie de catarata ideológica que impede de ver tudo quanto não seja e não ajude ao progresso da própria doença.
Para lá do interesse quase mórbido que a sua fascinante leitura suscita, especialmente aos que gostem de romances policiais, para lá do muito que se aprende e sofre neste testemuno humano de beleza inigualável que é o livro de Unamuno, importa ao militante da Heresia detectar algumas passagens francamente demonstrativas do apego ao erro e da rejeição apriorística das raras janelas terapêuticas que se podem abrir.
Pobres filósofos como este «trágico» Unamuno que, na imensa noite e na imensa doença da «civilização» ocidental, marraram contra as paredes do cárcere, não vendo que eram de vidro..., muitas vezes tendo na mão o amuleto - a intuição central da entropia cósmica - capaz de exorcismar angústias, revoltas, desesperos, mas sem o saber utilizar. Mais: alguns deles, como Unamuno, tiveram o amuleto na mão e deitaram-no fora.

Os filósofos ditos «pessimistas» e, em séculos mais recentes, os «existencialistas», com seus gritos, aflições, insónias e calafrios, são bem a imagem, o sintoma de uma «doença» cada dia mais incurável e de que a Poluição e suas sequelas é apenas um dos sintomas mais ridículos e insignificantes. Mas foi ela, a Poluição, que obrigou algguém a descobrir a palavra Entropia. Valha-nos isso.
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(*) «O Sentimento Trágico da Vida», Miguel de Unamuno, Ed. Círculo de Leitores
(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Livros na Mão», 30-10-1990+-


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1-5 75-04-07-ie-ls> ideia ecológica - domingo, 20 de Abril de 2003-novo word
entropia-1-ls>


[(*) Este texto de Afonso Cautela, apesar dos exageros, foi publicado no caderno «A Idade Solar : Ivan Illich e Wilhelm Reich – Dois Profetas da Utopia Ecológica , Nº 9 da colecção «Mini-Ecologia», Paço de Arcos, 1976 ]

Escrito em 7 de Abril de 1975

Nomes de autores ocorrentes neste texto, neste tempo:

 Herbert Marcuse
 Ivan Illich
 Michel Bosquet
 Raymon Aron
 René Dumont
 Roger Gentis

“A nossa tomada de consciência ecológica é um facto relativamente recente.
" Mas, há 30 anos, Reich denunciava já o carácter fundamentalmente destrutor da nossa civilização, dita do progresso, que nos afasta de maneira perigosa das nossas origens naturais.
" Ensinara-nos - diz ele - a ter medo da nossa animalidade. Temos necessidade de regressar aí, de reencontrar a consciência de si mesmo enquanto animal, uma coisa que perdeu o Homo Normalis, Já ninguém se preocupa com o seu lugar no Universo. Pelo contrário, muitos esquizofrénicos têm uma consciência aguda da sua dependência com o sistema ecológico. Para eles é uma preocupação tão importante como saber se vão comer amanhã. É capital na sua vida"
Roger Gentis, in "Le Sauvage", Janeiro de 1975

I
Se há campo que pode evidenciar, de maneira luminosa, as relações profundas entre Economia e Entropia, entre tudo o que uma Tecnocracia paranóica dividiu, separou, desintegrou, entre Cosmos e Micro-Cosmos, entre Sistemas Vivos e Sistemas Inorgânicos, entra Homem e Ambiente, entre Biosfera e Tecnosfera, esse campo é precisamente o da Energia.
Energia cósmica, energia solar, energia vital, energia psíquica, energia moral, energia física, energia química, bio-energia, eis vários nomes (aflitivamente dispersos e numerosas) para designar talvez uma só realidade, uma Unidade Global, mítica ou metafísica seja ela ou lhe queiram chamar para assim a denegrir.
Não é por acaso que as cosmologias extremo-orientais como o Taoísmo se deverão ter debruçado com tanto afinco sobre essa Energia Única e é quase por acaso que, na cultura ocidental, (fundamentalmente interessada em expoliar o homem de todas as suas energias ou potencialidades originais) vamos encontrar em Wilhelm Reich o mesmo tipo de preocupações.
À custa, porém, de que preço para Reich?
À custa de uma drástica e dramática separação com a cultura ambiente oficial, separação a que a psiquiatria igualmente oficial logo apôs o rótulo de "paranóia da personalidade" levando às ultimas consequências o castigo que uma tal "paranóia"e uma tal independência em relação à loucura oficial obviamente merecia.
De Wilhelm Reich diz Roger Gentis,(anti-psiquiatra e um dos neo-utopistas que mais vivamente têm criticado os sistemas repressivos, anti-ecológicos, paranóicos e aberrantes do desenvolvimentismo) em uma entrevista a "Le Sauvage" (Janeiro de 1975):
" Reich comparava as perturbações atmosféricas ao fenómeno da convulsão do organismo humano durante o orgasmo. O objectivo do seu pensamento era, pois, este: o mesmo fluxo energético banha o conjunto da criação."

II
Há uma pergunta que gostaria de fazer aos partidos políticos: se é verdade que há, neste momento, 250 mil desempregados em Portugal, o que fizeram de imediato esses partidos para mobilizar toda essa energia paralisada, bloqueada, para imediatamente a desbloquear e a pôr a render em qualquer acção útil, organizada, de interesse geral?
Com tanto que há para realizar, porque estão por empregar 250 mil portugueses e por empregar plenamente certamente uns milhões ?
Quando, na sociedade anti-ecológica do Desperdício (também chamada ironicamente de Consumo), pensamos em desperdício dos valores e recursos humanos, compreendemos de que maneira o conceito de emprego e de pleno emprego tem condicionantes ecológicas nítidas, fundamentais, indiscutíveis.
Mas também fica patente e bem claro que emprego não será então apenas acorrentar as pessoas a (novos) postos de trabalho adrede preparados, adrede "fabricados" com o propósito de as ter "em uso", atadas à cadeia de montagem, atrás de uma máquina de escrever, à canga de uma charrua ou à boca ardente de uma forja de acearia.
Pleno emprego implica, quando se tomam em consideração as dimensões ecológicas da praxis humana, a carga psíquica gasta, (a bioenergia despendida), a satisfação do trabalho realizado, as relaçóes harmónicas do trabalho com as outras actividades do trabalhador.
Pleno emprego implica, pois, uma equação entre o carácter, a vocação, as tendências, as potencialidades (bioenergéticas) do trabalhador e o trabalho que executa.
Empregar por empregar está longe de solucionar o problema, e se nenhum partido levanta os aspectos qualitativos (humanos, individuais, biológicos) do pleno emprego, é necessário que o Partido das Alternativas Ecológicas o faça e o levante, desde já, pois para isso existe.
Um dos caminhos que se vislumbram (e não será certamente o único nem o melhor) é a relação estudada por Wilhelm Reich entre os aspectos psíquicos, morais, estéticos e afectivos do trabalho com a sua noção de energia orgónica.
Por outro lado, é evidente de que maneira a energia Ki (assim designada na terminologia taoísta) tem que interferir no processo energético geral.
Na sociedade reaccionária em que ainda estamos - em que a divisão do trabalho domina, porque é essa uma das formas intrínsecas à dominação capitalista - tudo se separa, o manual do intelectual , o engenheiro do homem de letras, o operário do trabalhador rural, o poeta do matemático, o campo da cidade, o individual do colectivo, a teoria da prática, o espírito da matéria, o instinto da razão, etc. .
Tudo se separa na Sociedade de Morte e Desperdício, na Sociedade Anti-Ecológica e Contra-Revolucionária, estando portanto e para um lado a energia humana, a bio-energia, a energia Ki ou energia orgónica, enquanto as Energias que se consideram com direito a esse nome (eléctrica, nuclear, hidráulica, etc.) estão para outro.
Ora o problema da Energia é um só e daí que tivéssemos começado por dizer como a Energia é campo privilegiado para aclarar a Unidade que preside às questões ecológicas.
Energia, Entropia, Economia e Ecologia não podem discutir-se em separado. Diríamos até, exagerando, que é a mesma e única questão.
São, pelo menos, conceitos estreitamente inter-ligados e as interdependências entre eles são os adeptos da Dialéctica Ecológica os únicos que neste momento se encontram empenhados em estudar, mostrar e difundir.
Note-se que Wilhelm Reich - perseguido e encarcerado, vergonhosa e ferozmente atacado pela mafia norte-americana da "Drug and Food Administration",- exemplifica só por si de que modo as sociedades anti-ecológicas do Desperdício e do Biocídio são, também e principalmente, as sociedades que sistematicamente mutilam, atrofiam, perseguem, encarceram, desperdiçam a energia criadora (a bioenergia) que se pode conter num indivíduo como Reich.
Exemplifica como são tratados e aproveitados os Reich e Galileos que a história regista (ou não regista): torrando-os na fogueira.

Nas sociedades regidas pelos "tecnocratas do rendimento", este problema da "energia individual", da imaginação criadora, do capital em ideias que um escritor, um artista, um trabalhador das ideias pode representar, tem hoje acuidade igual à que tinha nas inquisições medievais.
A batalha contra a Estupidez e contra o Farisaísmo, travada agora e também por alguns resistentes ecológicos, é prova de como a luta de classes tem formas e razões que certos partidos desconhecem, e se estende também - na completa ignorância desses partidos - ao campo específico das ideias, da imaginação criadora e da sensibilidade, da energia criado e da bioenergia.
Como dizia Fréderique Lebelley em "Le Sauvage", "vivemos hoje o que se pode chamar uma crise de energia humana: a civilização industrial atrofia o nosso potencial energético - poluição, condições e ritmos de vida - e utiliza-o para produzir mercadorias" que depois temos de consumir.

V
É de notar, também, nesta questão do pleno emprego, de que modo o desemprego (tal como o a inflação, a recessão, a alta dos preços, a baixa do nível de vida, o atraso dos salários em relação àquela alta, etc.) é fenómeno intrínseco ao capitalismo, não tendo o dilema/chantagem da "Poluição ou Desemprego", "Industrialização ou Subdesenvolvimento" mais consistência do que qualquer outro sofisma, do que qualquer outra mentira com que o capitalismo se impõe na exploração e manipulação do homem pelo homem.
Sofisma tantas vezes ouvido para combater a estratégia ecológica e a sua exigência de selectivar a industrialização, o dilema "Poluição ou Desemprego", apresenta-se como fraude óbvia à luz de algumas razões apresentadas a seguir:

a) Dentro do capitalismo, o desemprego é crónico, não só por razões estruturais e conjunturais mas por razões de estratégia política inerentes à exploração capitalista: com mais ou menos fábricas, mais ou menos postos do trabalho, mais ou monos poluição, mais ou menos industrialização, as crises cíclicas de desemprego são "indispensáveis" à exploração capitalista, que politicamente encontra no desemprego um dos seus melhores aliados; criando o desemprego a insegurança, é esta insegurança que permite ver no patrão empregador potencial um permanente messias do trabalhador, um Pater Nostru, um Salvador que vem dar-nos aquilo que não temos o de que totalmente dependemos para subsistir;

b) Numa Economia Planificada, o desemprego não pode continuar a existir sob pena de contradição interna mortal: e se existe, só pode ser por motivos também de estratégia política inconfessável e que resta saber a quem servem;

c) Encarado o Produto Nacional Bruto, o problema que se põe numa Economia planificada é redistribuir equanimemente não só os rendimentos mas as ocupações, as horas de trabalho, os leques salariais e os esforços despendidos ou bio-energia gasta;
Contraditório será, pois, que numa Economia planificada sejam pedidos aos trabalhadores mais sacrifícios, mais horas, mais surménage, mais bioenergia;
É evidente também que uma população trabalhadora é convidada a dar esse suplemento de esforço e sacrifícios em função do um modelo de crescimento, de um padrão do desenvolvimento, de uma política de produção e de consumo que é concebida e traçada nas suas costas; haveria que perguntar, primeiro, às populações se querem dar sacrifícios para terem mais alguns gadgets em casa, ou se preferem ter menos gadgets e supérfluos, mas mais horas livres para ler, estudar, sonhar, brincar com os filhos, apanhar sol, ver um bom filme, ir à praia ou ao campo, etc.
É evidente de que maneira o modelo do crescimento se tem que subordinar a um modelo de vida que terá de ser, necessária e obviamente, ecologicamente definido; porque é atributo especifico da teoria ecológica definir os valores que apontam para a vida e para a qualidade de vida;

e) É urgente ainda desmistificar a correlação feita por tecnocratas de esquerda e da direita entre desenvolvimento económico e satisfação ou felicidade individual, (qualidade de vida): há que atentar no carácter deliberado de “complicabilidade" que têm os Macro-sistemas da Economia do Desperdício, para justificar, com essa tremenda “complicabilidade" a que chamam "complexidade", não só a divisão e hiper-divisão do trabalho e o domínio do especialismo (hiper-especialismo) tocnocrático - a cada um sua especialidade, a responsabilidade para ninguém", como já demonstrei em outro ensaio inédito - como ainda a intérmina escravidão do trabalhador ao posto de trabalho, dando o seu contributo individual para desenredar a meada (tecnocrática) que é cada vez mais e por natureza, por definição, enredada.
Dado o seu gigantismo congénito, os Macro-Sistemas “complicam-se a si mesmos" por inércia intrínseca mas também por estratégia de exploração, para justificar o consumo de produtos cada vez mais sofisticados, produtos que se vão fabricando para, por seu turno, “simplificar” o que outros anteriormente deliberadamente complicaram;

f) O computador é exemplo da fraude anterior: diz-se que vem simplificar o trabalho que o cérebro humano, coitado, já não poderia realizar. Vem, portanto, "libertar" (sic) o trabalhador.
Sofisma, mentira, descarada e mistificante fraude esta.
Se há hoje contas complicadíssimas a resolver, isso deve-se apenas às macrocefalias e concentrações empresariais ou urbanísticas a que o sistema conduz; e o computador, neste contexto, não contribuiu em nada para a felicidade ou libertação humana, porque apenas contribuiu para reforçar a sua escravidão, para estofar e dar aparência de conforto, de suavidade ao sistema repressivo em si mesmo.
O que um homem independente deve afirmar e defender é que o computador não faz falta porque não fazem falta as complicadas contas que o sistema inventou. Ou se as inventou, que as resolva ele sem apelar ao sacrifício e às horas extraordinárias do trabalhador.
Revolucionar é simplificar - incluindo as contas.
Simplificar é descentralizar, é substituir por micro-sistemas alternativos, vivos, dimensionados ao homem e aos ritmos biológicos, os Macro-sistemas anti-ecológicos, anti-biológicos, anti-humanos.

VI
É Roger Gentis que, na já citada entrevista a Le Sauvage (Janeiro de 1975) afirma:
"De momento, ao ter do escolher entre dois mitos - o de um esquizofrénico que elabora um mito cósmico e o mito do progresso e da expansão económica , admitidos pela nossa sociedade - o primeiro parece-me mais razoável, menos irracional, pois ele permite viver melhor e de maneira mais intensa".
Qualquer pessoa inteligente - e que ainda não esteja vendida à grande exploração - terá de pensar da mesma maneira razoável.

VII
Está o autor suficientemente alertado para as mistificantes "amálgamas" que os adversários da Política Ecológica estão sempre prontos a inventar para lançar sobre a guerrilha ecológica o descrédito e o anátema de reaccionária.
Sabe-se de que maneira, por exemplo, a crítica aos sistemas anti-ecológicos, Biocidas e Ecocidas, Tecnocráticos e Biocráticos, pode ser assimilada com a crítica reaccionária feita por senhores como Raymond Aron - ele fala de "sociedade industrial" - ou como Herbert Marcuse - ele fala do "homem unidimensional" da mesma sociedade industrial.

Há muitas maneiras de matar pulgas e o percevejo tecnoburocrático, o piolho tecno-industrial criticado por Raymon Aron não é o mesmo (nem criticado da mesma maneira) que o criticado por Illich, Dumont, Gentis, Reich ou Michel Bosquet (e só para citar alguns que criticam o “industriocratismo" da perspectiva ecológica).
No momento partidário presente, aliás, assiste-se a uma amálgama idêntica: partidos de Esquerda criticam os partidos social-reformistas, mas a sua crítica não é evidentemente a mesma que lhe fazem os partidos da direita e extrema-direita; embora aparentemente o alvo seja o mesmo...
Que a lição sirva de exemplo, que o exemplo sirva de lição.
Seja Aron ou seja Marcuse, não é por assimilar o primeiro à reacção e o segundo ao ultra-esquerdismo contra-revolucionário que se resolve o problema fulcral por eles também colocado: o trabalho alienante em geral, o trabalho automático em cadeia, em particular.
Esta questão - a da alienação no trabalho e de que modo a Bio-energia é canalizada para supérfluos, desperdícios, gastos e usos que nada têm a ver com a felicidade humana - com a Economia Humana - dos que despendem essa energia - eis a questão que, queiram ou não os mistificadores, a Revolução Ecológica pôs, põe e há-de continuar a pôr como questão central da Revolução Cultural em Marcha.

(1) - Como ficou exemplificado nas reportagens realizadas pelo autor (e publicadas pelo jornal «O Século», em 16-1-75 e 30-12-74), Maceirinha e Praia do Ribatejo são dois casos portugueses bastante significativos do "alto" preço que os povos dessas regiões são obrigados a pagar pela "vantagem" de terem empregos.
São dois exemplos da chantagem "Poluição ou Desemprego", "Industrialização ou Subdesenvolvimento", que é das mais vergonhosas que a exploração capitalista impõe, mas nem sempre desmistificada a tempo e desmascarada até às últimas consequências pelos críticos habituais do capitalismo, que na industrialização acelerada e indiscriminada põem também suas únicas esperanças de pleno emprego (a que antes se deverá chamar plena escravização).
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(*) Este texto de Afonso Cautela, apesar dos exageros, foi publicado no caderno «A Idade Solar: Ivan Illich e Wilhelm Reich – Dois Profetas da Utopia Ecológica, Nº 9 da colecção «Mini-Ecologia», Paço de Arcos, 1976
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40anos-1-ac-ab>
09.07.2007

IDEIA ECOLÓGICA & AMBIENTE

Agradecendo mais uma vez ao José Amoreira, meu interlocutor na Ambio Archives, aproveitei os feriados e as pequenas férias na Ambio, para colocar no meu site pessoal, em seguimento do tema «eco-tecnocracia», mais algumas páginas de diário e de bloco-notas, tentando cobrir alguns itens dos muitos que se relacionam com esta temática.
Não dizendo respeito ao Ambiente, acho que poderão ter algum interesse para alguns dos amigos ambionautas interessados na ideia ecológica:

a desastrosa sociedade industrial
a ideia ecológica à luz da globalização
a ideia ecológica: 40 anos de um oscilador cósmico
a lista negra dos produtos químicos
a utopia trágica do crescimento económico infinito e exponencial
ambientopatologia ou ecologia humana
biocracia cega
bio-informação – a a z
carta ao meu compadre al gore
consumismo desenfreado
crescimento da fome mundial
da tecnocracia à eco-tecnocracia: ambiente e a nova classe dirigente
destruição das duas florestas equatoriais:Amazónia e África Central, pela ganância de muitos gananciosos
do biocídio à biocracia
eco-equívocos
economias do desperdício
exaustão de recursos planetários
exploração do terceiro mundo pelo imperialismo capitalista
imperativo cósmico: a grande esperança
índices de entropia e neguentropia
mecanismo vibratório do cancro: o microcosmos é igual ao macrocosmos
o desenvolvimento do subdesenvolvimento
o ecocídio e a esquerda necrófila
o eco-fascismo segundo michel bosquet
o oportunismo político de algumas teorias científicas
o sistema que vive de ir matando os ecossistemas
os cronófagos
os demónios da entropia
os energívoros
os hidróvoros
os novos sofistas 40 anos depois
palavras-chave para compreender a vida
poluições e/ou desemprego: a chantagem habitual
projecto 2012: a biblioteca de alexandria
retrocessos do progresso
se a ciência é rei, o rei vai nu
sociedade paralela das eco-alternativas: a saída pela vertical
utopia ecológica versus utopia tecnocrática
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1-9-tragedia-9-ac-ab> merge em quarta-feira, 13 de Junho de 2007

OS DEMÓNIOS DA ENTROPIA
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entropia-bm1>331 cartoes sobre entropia

Com itens predominantes de entropia, nomeadamente poluentes químicos, lá me meti em mais uma seca no scan, para sacar de uma lista que fiz em cardfile e que não abre no moderno windows 98: salvam-se, mais uma vez, os nomes próprios de acontecimentos que foram datas de catástrofe. De qualquer modo, foi a lista entrópica mais exaustiva das muitas que cometi. Ainda estou para saber porquê e para quê.
abrasivos
acção alternativa — títulos ac
acetona
ácido bórico
ácido cianídrico
ácido clorídrico
ácido fórmico
ácido fosfórico
ácido hidroclorídrico
ácido nítrico
ácido pícnico
ácido sulfúrico
acrilonitrilo
açúcar
aditivos
adubos nitrogenados
aerosóis
afluentes do rio ecologista
agente-laranja
alcatifas
alcatrão
alchimist eden
alexander kielland
alienação
almaraz
alumínio
ambiente que mata
amianto
aminas
amococadiz
andré gernez.
anfetaminas
angiografia cerebral
anidrido carbónico
anidrido maleico
anidrido sulfuroso
anilina
antibióticos na carne
anticoncepcionais
anti-inflamatórios
anúncios alimentares
apocalipses
ar condicionado
arseniatos
arsénico
asfixia das cidades
atomizadores
azotite de soda
azoto líquido
baía de todos os santos
barreiro
barulho
bayer
benidina
benzeno
benzerina
benzopireno
betanaftelamina
bhopal
bicarbonato de soda
bicloreto de etileno
biocídio
biodegradáveis
biotecnologia
bismuto
borrachas perfumadas
brinquedos de plástico vermelhos
brown sequard
brown’s ferry
bruchkoebel
cádmio
calor
campos de electricidade estática
cancro
canibalismo civilizado
carbonato de soda
césio 137
chernobyl
christian barnard
chumbo
cianeto
cianeto de potássio
ciclamato
ciclohexanom
cidades deixam de respirar
cloreto de cal
cloreto de metilo
cloreto de polivinilo
cloreto de potássio
cloreto de soda
cloreto de vinilo
cloro
clorobenzol
clorofluormetanos
cloroquine
clorprene
cobaias humanas
cobalto
cobalto 60
cobre
coca-colas
colas
condicionadores de ar
congelados
conservantes
consumos alimentares
contaminação
corante azul
corticoides
cosméticos
cresol
cripton 85
crómio
cubatao
datas-acontecimento
dc—10
ddt
desertificação
desodorizantes domésticos
desordens do clima
desperdício
dextroanfetamina
dibrómio de eteleno
dióxido de carbono
dióxido sulfúrico
dioxina
discovery
dispositivo intrauterino
doença mental
doenças do ambiente
doenças por erros alimentares
doping
droga
e—330
edulcorantes
egas moniz
engenharia ambiental
engenharia genética
enlatados
estarreja
esteróides anabolizantes
estrogéneo
etapas da autocura
éter
etileno dibromido
etnocídio
eutanásia
explosões
ezalo
fiscomania
fitofármacos
fluorcarbonetos
fluoreno
fogões de gás
formaldeído
formol
fornos microondas
fosforados
fosgénios
fotocopiadoras
fuel
fugas radioactivas
fungicidas
gás dos nervos
gás propano
gás sulfuroso
gases de fluorcarbono
gases inervantes
genocídio
grisu
herbicidas
heroína
hexaclorofene
hexafluoreto de urânio
hidrocarbonetos voláteis
hidróxido de carbono
hipoclorito de sódio
hooker chemical co
hormonas na carne
hospitais
iatrogénese
ice cream
índio 192
infrasons
insecticidas domésticos
intoxicações
intoxicações agudas
iodo
iões positivos
isocianeto de metilo
isocianetos
isopor
ixtoc um
kachino
karin b
képone 1
laboratórios
lâmpadas fluorescentes
laranjas de jaffa
lentes de contacto
linfer
listas negras
lobotomia préfrontal
los alfaques
love canal
manipulação psíquica
margarinas
medicamentos
mercúrio
metanol
metilfenidato
milão
minamata
monocloreto de vinilo
monofluorfosfato de sódio
monóxido de carbono
morte por acidente
naftalina
níquel
nitrato de plutónio
nitratos
nitrofeni1
nitrosaminas
norefedrina
oceano assassinado
óculos de sol
oleoduto do alasca
óleos comestíveis
óleos de corte
óxido de azoto
óxido de etileno
óxido de urânio
óxidos nítricos
ozono
plutónio
paraquato
pcb
pentaclorofenato de sódio
pentotal
pesticidas
pílula anticoncepcional
pílula contraceptiva
piridina
placebo
plásticos
pó de talco
policloreto de bifenilo
policloreto de vinilo
polietileno
poli-isocianalatos
poluentes
poluentes alimentares
porto—rico
pozzuoli
pragas
propano
propileno
psicocirurgia
psicotrópicos
química
rádão
radiação
radiações ionizantes
radiondas
recursos naturais em extinção
referendos
refinados
reserpina
resinas epóxidas
ruído de supersónicos
sacarina
sahel
serra mecânica
seveso
silicato de soda
sindroma sísmico nuclear
soda cáustica
solventes aromáticos
solventes clorados
solventes de tintas
sprays
stirolene
stolzenberg
stugeron
suicídio infantil
sulfato de cobre
sulfato de crómio
sulfureto de carbono
talidomida
tálio
tampões higiénicos
tânio
tccd
televisão
temik
terebentina
terminais vídeo
thiodiglycol
títulos ac de revistas
tolueno
torrey canion
toxicologia
toxicologia do flúor
tranquilizantes
transplantes de órgãos
tricloroetileno
triclorofenixiacético
tucurui
ultrasom
union carbide
urânio
vacinas
vapores de benzina
wallington (surrey)
xénon ■
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entropia-bm> - a catástrofe está inscrita no... - os demónios da entropia - 109 cartões de energia ra - lista aberta para inventário da abjecção

Tirei com scan esta lista de um cardfile que não posso abrir no windows 98: as reticências de alguns itens significa que são itens que só posso ler no cardfile e, portanto, no Toshiba. Apesar de algumas brincadeiras, com a minha nomenclatura muito pessoal, esta lista contém itens significativos, nomeadamente nomes próprios que são datas de catástrofes

a trilateral das multinacionais
acção política
acidentes com reactores
açúcar industrial
aditivos químicos alimentares
apocalipse alimentar
apocalipse biológico
apocalipse climático
apocalipse químico
apocalipse radioactivo
apocalipse sísmico nuclear
apocalipses
balanços do terror
bebidas yin
best sellers literários
biocídio
biocídio de espécies animais
bophal
buraco do ozono
burocracia
cancros
cepticismo
chernobyl
cirurgias
concursos de televisão
congestionamento de dados
congestionamentos (encombrements)
consumos provocantes
correr para parte nenhuma
crise planetária
desastres industriais
deseconomias externas da economia
desertificação ou... desperdícios de papel
dietas muito hidratadas
doenças da entropia
efeito estufa...
egoísmo e inveja social
época gonçalvista
espanha 82
estupefacientes
etnocídio
exploração do homem pelo homem
explosões de gás
filas de espera em serviços públicos
filmes-desastre
fornos de pão a óleo
fugas de radiações
ganâncias
gigantismos à escala desumana
greves do metro e transportes
greves dos transportes
guerras em geral e guerra do Golfo em particular
hamburgo 84
hiroximas
iatrogénese
ideologias da competição
imunosupressão generalizada
inflação capitalista
inflação de conhecimentos científicos
inflação de informações
inflações
investigação científica conduzida pelo marketing
ixtoc um
love canal
lutas da competição profissional
lutas de classe
marketing
medicamentos
medicamentos químicos
megalomanias do sistema
megaplanos
metas olímpicas
minamata
mitos desportivos
música rock
noticiário da actualidade
o fascismo dos impostos
o frenesim das metas
o pesadelo da grande cidade
oceano assassinado
olimpíadas: o modelo entrópico...
os devoradores de tempo
os hidróvoros
os ladrões do nosso tempo
os sete cavaleiros do apocalipse
partido comunista português...
pilhagem de recursos vivos naturais
poder político
poluições = recursos mal colocados
pressas e/ou corromaças
prioridades invertidas ou perversas
publicidade
sahel
semanários em geral e diários em particular
sindroma sísmico-nuclear
stress
televisão em geral e cinema em particular
teoria do vírus
three mile island
todo o desperdício de recursos...
trabalho mecânico
transportes públicos
utopias tecnocráticas
vietname■

ECO-TECNOCRACIA 2007

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14.06.2007

A IDEIA ECOLÓGICA: DA TECNOCRACIA À ECO-TECNOCRACIA

 ALGUMAS INVARIÁVEIS
 RECAPITULANDO MATÉRIA DADA
 E AS ECO-ALTERNATIVAS ONDE ESTÃO?
 UTOPIA ECOLÓGICA VERSUS UTOPIA TECNOCRÁTICA

Recapitulando matéria dada e bastante antiga, a maior parte da qual remonta ao século passado, verifica-se que a ideia ecológica tem evoluído e a actual eco-tecnocracia não nasceu do nada, tem vindo a ser incubada através de uma complexa conjugação de forças, na qual as energias cósmicas vibratórias talvez tenham um papel decisivo mas sempre ou quase sempre omisso mesmo no discurso dos mais perspicazes críticos e analistas do status quo global.
Se a velocidade a que marcha a história neste tempo e mundo é uma das características mais evidentes do mundo global – uma das suas constantes invariáveis em que todos concordam e contra a qual ninguém pode nada - , serve de enquadramento a tudo o que se quiser dizer ou fazer contra ou a favor da utopia ecológica.
O congestionamento de dados é outra invariável que nos submerge e afoga: o que implica um método qualquer – chame-se-lhe holística ou análise global dos sistemas – para poder avançar e caminhar.

Merda, Morte e Mentira são os três M invariáveis que caracterizam o nosso tempo-e-mundo e portanto a marcha da ideia ecológica nos últimos 40 anos.
Falei numa terceira geração de tecnocratas e não sei se isso corresponde aos factos: se não coincidir, aproxima-se: e neste terreno movediço já nos podemos felicitar com algumas (medrosas ou envergonhadas) aproximações.

A fé na ciência analítica surge como a invariável dominante dos últimos quarenta anos da história do mundo: mortas as religiões, depois do iluminismo, do cartesianismo, do positivismo, do cepticismo e outros ismos, nasce sem se assumir a religião da ciência.
Que, como todas as igrejas, se tornou altamente mortífera, já que existe sempre aliada aos 3 M da Abjecção antes citados: Merda (a que delicadamente chama Poluição), Morte ( genocídios, etnocídios, biocídios em vertiginosa carreira e dos quais lava a as suas mãos) e Mentira (a manipulação de almas e consciências a que o sistema sistematicamente recorre para exercer sem embargos o seu poder de destruição dos ecossistemas).

A utopia ecológica ainda teve fôlego para propor um tribunal universal de direitos para todos os seres vivos, em que se julgassem os crimes desse tipo. Felizmente que nunca ninguém de bom senso ligou à ideia e hoje teremos apenas que confiar na justiça cósmica e na deusa Maat que preside ao tribunal de Osíris.

Como tenho dito, uma das componentes da tragédia actual – minha e dos eco-tecnocratas - é que todos somos culpados, não haver portanto ninguém de fora – a não ser Deus - que nos possa julgar.

Todos os dias se acrescentam novos itens à lista das abjecções da Abjecção contemporânea. A lista negra dos produtos químicos no Ambiente, por exemplo, atinge cifras astronómicas. Tal como acontece com o congestionamento de dados (citado antes) é a quantidade que esmaga qualquer hipótese de estudo, análise e crítica do fenómeno, justificado então por outro leit-motiv do sistema que vive de ir matando os ecossistemas: «é o progresso, amigos, é o preço do progresso. E quem não quiser, que se mude.»
Ou seja: como consumidores dos produtos da indústria que polui e mata, somos automaticamente cúmplices e portanto reduzidos automaticamente ao silêncio. Não há defesa do consumidor, há organizações que recuperaram eco-tecnocraticamente a defesa do consumidor. A publicidade nobre como se pode verificar lendo as revistas mais conhecidas do ramo.
Outra invariável da Abjecção e que nada tem a ver com Ambiente: não há saída e o 1% de hipóteses teriam que vir das tecnologias alternativas de vida – aquilo a que o realismo ecológico chamou «sociedade paralela» e aquilo a que, na década heróica do movimento ecológico em Portugal se chamou eco-tecnologias, tecnologias suaves, alternativas de vida.
Tudo isso, actualmente, caiu no esquecimento. A estratégia imediatista das organizações ambientalistas em voga, mais do que reformista é pontualista e de curto prazo, o que o poder político agradece e premeia.
Há muito que não se fala de alternativas de vida, de tecnologias doces, de Ivan Illich e de E.F. Schumacher.
Sem nostalgias nem saudosismos, isto tem que ser verificado e dito, embora, claro, não tenha nada a ver com Ambiente.
Mesmo que não haja ninguém para ouvir, podemos repetir as antigas palavras de ordem do M.E.P. e do movimento ecológico.
Sem saudosismos mas acho-me no direito (na obrigação) de relembrar aos algoristas que o mundo não nasceu com eles e com a sua eco-tecnocracia de ponta. Mas que houve gente, houve ideias, houve sonhos, acções e estratégias que foram ficando pelo caminho.
Talvez vencidas mas não derrotadas.
Porque a batalha final ainda não está terminada: só termina em 21 de Dezembro de 2012, ao meio dia da hora solar.

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segunda-feira, 11 de Junho de 2007

EM LOUVOR DA ECO-TECNOCRACIA

Mesmo que a «eco-tecnocracia» fosse um rótulo (e não é) acho que deveria merecer alguma atenção dos cientistas, nomeadamente sociólogos, que deveriam estudar, aprofundar, analisar um fenómeno que me parece inegável, seja qual for o nome que lhe pusermos.
Descartar mais uma hipótese de trabalho, só porque ainda não foi reconhecida oficialmente pela ciência oficial, é que me parece, em ciência, uma atitude muito pouco científica.
Mesmo que fosse rótulo (e não é), também me parece ter direito a um, quando, na Ambio, já tenho sido mimoseado com alguns.
Não tenho direito é de continuar roubando espaço e bytes à Ambio, com as minhas pesquisas pessoais, pelo que irei publicar em site meu a prosa de resposta que queria endereçar aos interlocutores que se referiram ao texto sobre «a tragédia dos eco-tecnocratas».
Irei, nessa página, continuar a pesquisar o que é afinal a eco-tecnocracia e se há ou não uma nova classe emergente.
+
Alguns estribilhos mais comuns podem ser detectados, implicita ou explicitamente, no discurso do poder tecnocrático que hoje domina o nosso horizonte global, graças aos esforços de notabilidades como Al Gore e de outros menos notáveis mas que seguem a sua filosofia de vida:
« podemos obter grandes lucros e não precisamos de mudar o nosso estilo de vida».

Os estribilhos pouco variam e vão definindo as invariáveis do padrão que se está, com êxito, implantando no subconsciente colectivo, sob a forma de arquétipos decisivos, que monitorizam a acção.

Por exemplo:
«É o preço a pagar pelo progresso.»

«Se a ciência o diz, é porque é assim. É verdade.»

«Problemas sociais e políticos e de segurança civil, o que tem isso a ver com Ambiente não me dirão?»

«Eu não fui, nem sequer estava lá quando ocorreu a catástrofe (Pilatos dixit).»

«Reformar o sistema para não mudar de sistema (estilo de vida).»

«Não podemos ter tudo: a poluição faz parte integrante do progresso industrial. E ninguém, mesmo os que o criticam, quer perder esse progresso, essa qualidade de vida».

«Como não podemos parar o progresso, o melhor é aproveitá-lo, em proveito próprio, e quem não tiver poder de compra ou poder de produzir, que se aguente.»

«Está bem, defendo os meus interesses de empresário e de industrial, mas se for em nome do Ambiente e da defesa do Ambiente, terei garantida a gratidão do povo. Do povo consumidor.»
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OUTRAS ALEGAÇÕES

A religião da ciência é a religião de quem diz não ter religião.

Um técnico competente só tem que ser um técnico competente: não lhe cabe avaliar a consequência social e ambiental dos seus actos. E se tiver poder para governar, só lhe cabe ser um tecnocrata competente. Não lhe cabe ser etica, política, social e ideologicamente responsável pelo que faz ou manda os subordinados fazer.

O governo dos tecnocratas é um facto como é um facto o poder dos tecnocratas. Que usam o poder do discurso para fazer vingar todos os projectos de poder, ainda os mais tresloucados, desvairados e assassinos.

Não consta que haja tecnocratas arrependidos, o que há são os novos convertidos ou eco-tecnocratas.
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Que a Abjecção nunca seja vista globalmente e já que tanto se orgulham da globalização em curso, eis o que me parece obsceno na eco-tecnocracia.
Ou há moralidade ou comem todos.
A globalização, para eles, é só a da asneira e da destruição e da ganância dos lucros. E as ameaças globais são só aquelas que ainda permitem, in extremis, indústrias de substituição que tornem obsoletas as anteriores (vide clorofluorcarbonetos).
Eles são serenos e quando alguém se indigna com as desigualdades e injustiças sociais, com a malvadez mercenária e a destruição deliberada, sofre de maus fígados, não tem a serenidade científica do observador, é subjectivamente inútil ou prejudicial e a emoção nunca resolveu problema nenhum dos que a tecnologia, dia a dia, engendra e agrava: só a tecnologia – sublinham eles – nos pode socorrer dos crimes vandálicos da tecnologia – digo eu.
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Obsceno é também que ainda arranjem desculpas para desculpar os profissionais da destruição (caso exemplar mas não único: os sismos provocados por bombas.)
Não só lavam daí as suas mãos como estão sempre a lavar as mãos dos primeiros responsáveis por essa e outras normalidades, rotinas ou invariáveis do sistema, que evidentemente nada tem a ver com Ambiente: mais sismo menos sismo, mais tsunami menos tsunami, nada disso tem a ver com Ambiente.
Tem sim é a ver com o ego desmedido do Afonso Cautela, como diria o meu amigo e interlocutor na Ambio, José Moreira..
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Com a cantiga do CO2 nunca irá haver tempo para discutir as bombas e os sismos consequentes, nem de fazer perguntas tão disparatadas como se os sismos são todos induzidos ou quase todos? Se o Tsunami da Ásia foi de uma bomba detonada pela Índia, Paquistão, China, França ou de algumas e/ou todas ao mesmo tempo?
Mais uma grande vantagem do CO2 é de reduzir às alterações climáticas o debate sobre Ambiente e arredores.
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Reciclar neste sentido – o recuperacionismo sistemático da ideia ecológica – é a palavra de ordem nos Al goristas da terceira geração.
Reciclar inclui também a reciclagem do plutónio produzido nas centrais nucleares, no fabrico de bombas. Que depois são testadas nos poços das grandes potências para produzir sismos e tsunamis. Já que não se lhes vê qualquer outra vantagem.
Mas como diria o José Luís Moreira, o que é que tudo isto tem a ver com Ambiente?
Nada, amigo José Luís, nada: tem a ver sim com Abjecção-deste-Tempo-e-Mundo, que por sua vez não tem nada a ver com Ambiente e não pode nem deve andar a poluir o Ambiente da Ambio.
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Nesta pesquisa rápida sobre eco-tecnocracia, terei que voltar ao que escrevi em 1972 e ao uso da palavra «apocalíptico» que, segundo os meus interlocutores na Ambio, também não tem nada a ver com Ambiente.
Essa palavra «apocalíptico» provocava sempre forte brotoeja entre esquerdistas e PC’s já que os amanhãs, nessa altura, ainda cantavam (de galo) desafinados mas cantavam.
Se teclarem mais dois itens, o Google dar-vos-á o que eu disse em 1972:

Do político ao apocalíptico

Independentemente de irem ou não à questão de fundo que enquadra esta:

Deep ecology

Ecologia Profunda esta que, evidentemente, nada tem a ver com Ambiente, segundo o meu interlocutor José Moreira. Que também me lembrou, muito oportunamente, que afinal não falo de Ambiente e apenas de mim, como não me canso de citar já que essas palavras do Luís Moreira me fizeram ver ao espelho e me levaram a recapitular toda a matéria dada:
««Caro Afonso Cautela: Vou ser mais claro. Olhe, francamente acho que o Afonso não escreve sobre o ambiente. Acho que o Afonso escreve sobre o Afonso. Sobre como é esperto, sobre como sabe quem puxa os cordelinhos do mundo, sobre como a si ninguém o engana e também sobre como somos todos ou uns arrogantes eco-tecnocratas, ou uns pobres de espírito. A minha pergunta retórica foi uma forma delicada de lhe dizer isto em público.»»
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Uma vez que o José Moreira me fez ver ao espelho, umas férias na Ambio irão contribuir para sanear o Ambiente, o que é sempre de louvar.
Sanear para depois poder voltar a poluir, isto é que é Ambiente.
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Fico todo vaidoso se procurar com o Google «Ecologia do Trabalho», os dois primeiros resultados são meus em 164.000 resultados.
O que além de vaidoso, me deixa optimista: quando falei de Ecologia do Trabalho, ainda não havia Google e muito menos havia Ambiente. Já havia era Trabalho.
E o que tem a ver a Ecologia do Trabalho (o cancro profissional, por exemplo, com um nome dado assim pelos cientistas) com Ambiente? Nada, rigorosamente nada.
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Às vezes arrependo-me de palavras que usei: caí algumas vezes nessa odiosa expressão «qualidade de vida», palavra favorita da eco-tecnocracia e da sua hedonista filosofia de vida.
De vez um quando, uma gaffe não nos fica mal: que diabo, ninguém é perfeito. Errare humanum est.
E já agora, o que tem a ver o Diabo com Ambiente?
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Vejo-me grego para descobrir um tema que diga respeito ao Ambiente.
Se falo em «elogio da sesta» (e tenho falado e escrito bastante, pois adoro a sesta), são logo coisas dos hippies, modismos da época.
Para o eco-tecnocrata, há que trabalhar sem sesta. As estatísticas não perdoam e há sempre um diário ou semanário económico a exigir (a gritar) produtividade.
E nada disto tem a ver com Ambiente.
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A propósito e mais uma vez falando do meu enorme ego, mais uma listinha de itens que se podem gloogar com algum êxito, em louvor da eco-tecnocracia que continuarei a louvar embora nem o Al Gore nem os filhotes dele me agradeçam este esforço.
Eis uma pequena lista para search no Google, em páginas de Portugal:

A sofística em 1974
Biocracia cega
Bio-informação – a a z
Do biocídio à biocracia
Eco-equívocos
O ecocídio e a esquerda necrófila
O Eco-fascismo segundo Michel Bosquet
O microcosmos em linguagem de gente
O oportunismo político de algumas teorias científicas
Os novos sofistas 40 anos depois
Palavras-chave para compreender a vida
Se a ciência é rei, o rei vai nu
Aviso prévio: nada disto tem a ver com Ambiente.
+

BIOCOMBUSTÍVEIS 2007

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BIOCOMBUSTÍVEIS & MONOCULTURAS INDUSTRIAIS

Quinta-feira, 29 de Março de 2007

Resumindo e concluindo, tudo vai dar à pergunta:
Quem governa em Portugal: o governo ou os lobbies, os agora denominados «empresários verdes»?
Quem manda no País: os poderes institucionais (eleitos?) e constitucionais - PR, Primeiro Ministro, etc – ou os PIN, os lobbies da construção, do cimento e do betão?
Quem traça a política energética do País: O ministério da pasta ou os lobbies da biomassa?
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1-Perante o verdadeiro regabofe de «iniciativas», «investimentos» e «empreendimentos» que, à conta da biomassa e das necessidades energéticas (?) do País, se está a verificar, com o patrocínio das altas entidades e dos poderes institucionais, venho confessar a minha ignorância e recorro aos amigos ambionautas para que me ajudem e outros ignorantes como eu (que deve haver), a compreender o que penso ser uma «histeria colectiva» artificialmente provocada por um lote (lobby) de empresários que julgam ter descoberto na biomassa e nas eólicas as suas galinhas dos ovos de ouro.
E para dar conta das minhas dúvidas (e uma certa inquietação, porque não confessá-lo?) socorro-me de um artigo da jornalista Marisa Fernandes, pedindo desculpa por só agora me ter apercebido do que se estava a tramar nos bastidores e nas entrelinhas das notícias surtas em jornais e telejornais. Sob os auspícios das maiores notoriedades do País, incluindo opinion makers que, à excepção do Pacheco Pereira (sempre lúcido!), ainda não se aperceberam do tsunami que se prepara para este país.
O artigo que a seguir comento, é a primeira antevisão do apocalipse que nos espera, à vista do qual o apocalipse climático (aquecimento global & cª) é uma brisa suave.
+
2- De facto, ficámos todos mais esclarecidos com o que a jornalista Marisa Fernandes nos revela, no seu magnífico artigo da Revista «Natural» (ex-Beija Flor), nº 67 (Abril 2007), sobre a aposta nos biocombustíveis.
O prefixo bio, aplicado por tudo e por nada no discurso new age dos cristãos novos da ecologia, vinha a provocar-me uma certa alergia e desde que ministros em promiscuidade com empresários começaram a lavar-nos o cérebro com mais essa campanha mediática dos biocombustíveis a preparar mais um supositório, ou seja, uma nova indústria e novos lucros à conta do aquecimento global e do CO2.
No bidom do carbono cabe toda a manipulação mediática e ainda sobra espaço.
De facto há uma certeza nisto tudo e que o magnífico artigo da revista «Natural» vem confirmar: os biocombustíveis, tal como se pretendem hoje impingir à escala global, é uma das mentiras mais atrozes que, à conta do ambiente e da defesa do ambiente, do aquecimento global e do famoso CO2, se estão a transformar no novo eco-equívoco, um neo-totalitarismo que deixa a perder de vista todos os que temos vindo a ver na história pregressa deste Tempo-e-Mundo. Caricatura abjecta de uma estratégia ecológica (o agora chamado desenvolvimento sustentável), de uma política francamente favorável de sobrevivência planetária e de tudo o que nele vive.
Para quem como eu não percebe nada de nomenclaturas tecnocráticas com que os especialistas diariamente nos indrominam (em tudo o que é veneno mediático, jornais e telejornais) vai ser difícil para mim coligir algumas ideias elementares sobre a verdade dos factos e a mentira da desinformação torrencialmente debitada.
Mas o que custa é que Deus agradece, por isso vou tentar, tacteando, alinhar algumas banalidades de base. Tentarei, por estrito dever de consciência, alinhar as ideias-chave que ajudem a deslindar o complicado imbróglio dos biocombustíveis.
1.
O que a jornalista Marisa Fernandes conta do que está acontecendo na América Latina é bem elucidativo da mentira global que eles se preparam para nos impor também a nós.
O encontro de Lula com Bush foi um marco histórico de uma estratégia bem mais antiga.
Em nome dos subdesenvolvidos e do seu alegado subdesenvolvimento (que eles próprios fabricaram) mais uma vez se estará a pôr em prática uma nova forma de os submeter, eliminar e explorar.
Todos sabemos (mas às vezes esquecemos) que o FMI, braço armado dos EUA, foi quem fabricou milhões de pobres na América Latina.
2.
A questão central dos bicombustíveis não é de CO2 ou de combater o aquecimento global ou de qualquer outro sofisma digno dos apóstolos da banha da cobra, tipo Al Gore.
A questão central dos biocombustíveis é a da plantação em massa de monoculturas vegetais, a que podemos chamar, com toda a propriedade, «monoculturas industriais», obviamente esgotantes.
Sejam elas as mais evidentes ou menos evidentes, algumas citadas no artigo da revista «Natural» e sejam elas culturas lícitas de sobrevivência alimentar:

Eucaliptos encabeça o pelotão.

Depois temos A-Z:
Algodão
Beterraba
Borracha
Cacau
Café
Cana-do-Açúcar
Castanha
Chá
Girassol
Milho
Óleo de Palma
Tabaco
Quase tudo coisinhas de que os nossos super-mercados se encontram bem abastecidos. Como consumidores não temos nada de que nos queixar.
Mas tudo isto tem um nome: monoculturas industriais ou esgotantes, que provavelmente irão escapar ao senhor Algore, como ameaças globais de longa data. De longuíssima data. Desde que o mundo industrializado explora o Terceiro Mundo. As maiores secas e fomes do Norte de África, por exemplo, têm sido causadas por plantações esgotantes com produtos de exportação.
Em Portugal, até o trigo, cultura de subsistência, foi esgotante. Das campanhas do trigo se fala quando se quer dizer mal de Salazar. Mas já não se fala de Salazar quando a democracia retomou os dois planos mais emblemáticos do salazarismo - , Sines e Alqueva - que recorreu aos megagigantismos para disfarçar a sua congénita mediocridade.
Anedota mesmo, em 2007, é quando se pergunta: afinal quando é que Alqueva produz energia?
Às culturas esgotantes se deve inclusive o fim de algumas grandes culturas e civilizações do Mundo, como parece ter sido a dos Incas e Maias e Aztecas.
O castigo que eu daria às carpideiras do Apocalipse climático era escrever vinte vezes, todos os dias, no caderninho da escola, a palavra «culturas esgotantes» por cada sermão que nos viessem pregar sobre CO2, aquecimento global e, claro, energia nuclear que é, ao fim e ao cabo, o que está sempre à espreita na actual campanha contra o aquecimento global e onde toda a retórica do carbono vai dar.
Quem sabe disso e de muitas outras coisas que não estão no filme é o apóstolo Al Gore.
3.
Ainda a América Latina, de acordo com a informação da revista «Natural»:
«Os EUA e o Brasil, produzem cerca de 34 mil milhões de litros de cana-de-açúcar e pretendem duplicar esta cifra até 2010.»
É melhor que se apressem, pois a grande reviravolta está próxima. E o fim dos gananciosos iminente.
O artigo da «Natural» relembra outra santa entidade sempre pronta a defender o Ambiente e a salvar os povos (quando não as nossas almas):
«O Conselho Europeu – diz a revista – no passado mês de Março, propôs adoptar a obrigatoriedade de utilização de 20% de biocombustíveis no sector europeu de transportes, até 2020. O objectivo é fomentar plantações para fins energéticos»
Aqui nem se deram ao cuidado de usar o eufemismo «desperdícios».
Aliás, o Conselho Europeu só nos dá bons conselhos. Não fora a União Europeia e sua cornucópia de apoios financeiros (a crédito, claro, e com juros) e talvez o crime de Alqueva não se tivesse consumado.
Espaço para as tais «plantações energéticas» é que resta saber onde está. Será que vão arrasar mais uns milhares de oliveiras centenárias como fizeram por causa de Alqueva?
Com um bocadinho de jeito, talvez se arranjasse ainda um quintalinho nas traseiras das celuloses para:
Mais eucaliptos
Mais girassol
Mais tabaco
Mais beterraba.
Já agora, já alguém perguntou quantas celuloses funcionam em território português, e quantas delas são multinacionais aqui instaladas? A precisar de biomassa como de pão para a boca?
Convém lembrar que uma das empresas mais faladas ultimamente – com idas e vindas do presidente Cavaco – se propõe instalar 15 (15, meus senhores) centrais eléctricas queimando raspas das matas (!!!).
Como se a gente acreditasse que vão só apanhar as raspas.
O que de certeza vai haver – o ministro já deu luz verde para que não haja atrasos em mais este projecto redentor – o que de certeza vai haver é uma disputa de território a colonizar para mais umas «culturas esgotantes».
Disputa que vem desde há meio século com a corrida das celuloses aos eucaliptos. E com as famosas campanhas do trigo.
O que eu gostava mesmo é que se metessem à estalada uns com os outros a ver quem fica com o melhor quinhão.
A minha leve suspeita é de que já não há quinhão a disputar mas isso de números é com os homens dos números. Eles é que sabem tudo de estatística e se não sabem vão perguntar ao António Barreto, vedeta das estatísticas negras.
4.
Ainda a América Latina.
Diz a revista «Natural»:
«Os resíduos do fruto da castanha podem ser aproveitados pela indústria e pelo comércio.»
Castanhas há muitas e não sei a qual a Marisa Fernandes se refere: mas a questão não é essa. Mais uma vez o que a manipulação mediática se encarrega de difundir é a palavra «resíduos», quando não a de «reciclagem». Para tranquilizar as massas inquietas.
Houve quem defendesse nos anos 70 da nossa Era um Plano Nacional de Reciclagem sistemática. Porque a reciclagem deverá ser também uma política nacional, além do que algumas autarquias vão fazendo à escala local.
De qualquer maneira, há um facto irreversível: poupar e reciclar são as duas verdadeiras fontes primárias de energia. O resto são tretas para impressionar papalvos. O resto, e por enquanto (enquanto não houver um plano e um planeamento) são apenas negócio de lobbies.
A pergunta que inquieta mesmo é esta: em matéria de recursos nacionais, ficaremos sujeitos à «política» dos lobbies?
5.
A moral bastante imoral de toda esta história bastante sórdida é muito simples e tem só 3 alíneas:
a) a proliferação de «novas» energias alegadamente + ecológicas, apenas vai estimular o consumo desenfreado de um sistema feito para desperdiçar, desperdiçar, desperdiçar. E que quanto mais desperdiça, mais lucra. Deliberada e propositadamente.
A haver uma política energética amiga do ambiente (e nem uma coisa nem outra existe) teríamos que começar por aí: uma ditadura de poupança. Coisa de que ninguém, nem o Durão Barroso, fala ou alguma vez falará. Mas de que nos poderia falar, se quisesse, o novo acessor de Durão, o ecologista Viriato Soromenho Marques.
b) Em vez da actual proliferação de «energias» (de que a eólica ocupa o topo das manchetes mediáticas) totalmente comandadas pela lógica do lucro de alguns empresários, o que falta mesmo é um planeamento graduado e faseado do tipo de energias a desenvolver, mais ou menos por esta ordem:

1- Biogás: curiosamente a actual campanha dos biocombustíveis praticamente omite o biogás a partir de excrementos animais.
No princípio dos anos 70, havia uma exploração-piloto no Minho, em Vila Nova da Cerveira.
Outras experiências-piloto se seguiram, uma das quais no Instituto de Agronomia (em Lisboa) e uma de dimensão industrial, em Marrases (Leiria).
Depois o plano do biogás foi metido no gavetão do LNETI pelo ministro Veiga Simão e nunca mais ninguém piou a favor da energia que bem podia só por si suprir as necessidades do sector agrícola em electricidade.
O biogás estava integrado num plano conjunto de energias renováveis que vinha desde 1975 – da Direcção Geral de Energia - pacote que chegou a ter promessas de financiamento do Banco Mundial.
Além disso, não era uma energia «limpa» (limpa sempre foi o nuclear!) pois reaproveitava a porcaria dos animais. (!!!)
Marrases chegou a oferecer excedentes de energia eléctrica à rede da EDP provenientes de uma unidade de dimensão industrial perto de Leiria.
Eu disse «oferecer» não disse vender.
2- Energia Solar – Obviamente a energia renovável por excelência, quando nos encontramos à porta da Era Zodiacal do Aquário
3 – Energia Ondomotriz – há uma unidade no Norte neste momento e não sei se tenho o recorte da notícia à mão para confirmar. Diga quem saiba. O prof. Delgado Domingos, sempre que lho permitem, fala disso e de outra energia mal amada e esquecida:
4 – Energia das marés, omissa do discurso noticioso e dos políticos e opinion makers em exercício.
5 – Arquitectura bioclimática também se pode inscrever nesta lista futurista e se de facto quisermos falar em energias e investimentos amigos do Ambiente. Claro que é uma coisa de elites endinheiradas mas que o dinheiro sirva então para incentivar as boas iniciativas. Boas para a gente, para o ambiente e não só para os lobbies.
5 – Energia eólica seria a última a incentivar, por ser a mais problemática quanto aos efeitos no ambiente. Mas como os empresários parece terem descoberto a sua galinha dos ovos de ouro, vamos ter eólicas por tudo quanto é sítio a «embelezar» a paisagem e muitas aves mortas enredadas nas pás. Que o seu radar as proteja.
Haja Deus que no ambiente cabe tudo. E lá vai o PR, o Primeiro Ministro e os ministros da Corte dar o beneplácito a tão brilhantes iniciativas e investimentos.

c) Um último sofisma e para me ficar por aqui: quando se fala (raramente) em poupar energia – o eufemismo usado é «eficiência energética» - , o ónus da culpa recai sempre sobre o consumidor individual e a luzinha vermelha nos stand by de alguns electrodomésticos. Há normas da Comunidade Europeia sobre este por maior tão importante.
Dos grandes gastadores de energia, nem pio.
E das noitadas da televisão em permanência as 24 horas, nem pio.

segunda-feira, 16 de março de 2009

SCHUMACHER 1981

1-3 domingo, 19 de Janeiro de 2003- schuma-2-ls>
segunda-feira, 30 de dezembro de 2002-scan

«THE SMALL IS BEAUTIFUL» (*)

[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 18–8-1981]

Acaba de sair em tradução portuguesa a obra mais conhecida e discutida do célebre economista alemão radicado na Grã Bretanha, Ernst Frederich Schumacher.
«Small is Beautiful» - título original do famoso livro - tornou-se, em todo o mundo, desde a sua publicação em 1973, sinónimo de economia e tecnologia intermédia, tese fundamental no pensamento de Schumacher.
Este «estudo de Economia em que as pessoas também contam» representa uma crítica tanto mais pertinente ao sistema económico até hoje vigente a Leste e a Oeste, quando o seu autor é um especialista eminente dessa ciência e desse sistema.
Schumacher, com efeito, tem uma brilhante carreira de economista.
Refugiado em Inglaterra, ele voltou à vida académica como investigador científico em Oxford, sendo simultaneamente conselheiro económico do Governo britânico para a reconstrução da Alemanha.
Durante as décadas de 50 e 60 documentou sobre problemas do desenvolvimento numerosos governos.
Fundador do Intermediate Technology Development Group (Grupo para o Desenvolvimento de Tecnologia Intermédia), foi durante anos conselheiro económico do Departamento Nacional de Carvão, do Reino Unido e conselheiro económico do Governo da Birmânia em 1962 e da Índia em 1966.
As críticas que desfere contra a economia da exploração hoje vigente, quer no bloco capitalista quer no bloco socialista, baseiam-se portanto numa longa carreira de investigador, professor e economista político.
Schumacher morreu em 1977, dias antes da publicação do seu livro «Guide for the Perplexed». Mas não morreram as suas teses, difundidas hoje por todo o mundo onde começa a compreender-se que a ecologia e o ecodesenvolvimento são inseparáveis na luta dos povos e dos explorados contra o imperialismo industrial.

O DESASTRE DA MACROCEFALIA

Embora a macrocefalia urbana seja em si mesma o maior atentado à qualidade de vida das populações, agrada no entanto à es-querda e à direita que, nos seus programas de urbanismo e habitação, prometam defender essa qualidade de vida dos cidadãos.
A macrocefalia e a superconcentração industrial nas cinturas urbanas - embora causem doenças orgânicas e sociais as mais diversas - trazem enormes vantagens para as estratégias partidárias quer da esquerda, quer da direita. Para os organismos políticos que controlam os sindicatos, a concentração é vantajosa porque facilita a unidade de luta e da contra-repressão. As importantes greves dos metalúrgicos nos arrabaldes de São Paulo, magalópolis tentacular,
símbolo do concentracionário urbano, mostram de que maneira a grande cidade facilita a unidade dos trabalhadores e como pode portanto ter vantagens para uma estratégia grevista dos sindicatos.
Para a polícia, o Estado e as multinacionais, por outro lado, (quer dizer, a direita), a macrocefalia é ideal, pois todas essas forças da direita reprimem melhor o trabalhador em grandes concentrados do que se estivessem dispersos.
Com grande dose de objectividade, portanto, poderá dizer-se que a macrocefalia serve a direita e a esquerda com igual proveito.
De onde, portanto, não se vislumbra que possa vir da esquerda ou da direita, qualquer política urbana (e de desenvolvimento global) alternativa à macrocefalia - uma das principais causas da crise ecológica que o mundo vive, como São Paulo ilustra.
Da nada serve dizer que a macrocefalia de Lisboa provoca não só a morte do estuário do Tejo mas muitos outros males de que este País padece. Enquanto essa macrocefalia interessar, na perspectiva do concentracionário industrial, os partidos de esquerda tanto como os partidos de direita, Lisboa continuará a crescer, com a UNESCO, benfeitora, a dizer que nos vem estudar o estuário.
O exemplo, aliás, repete-se com o mesmo vigor no caso da concentração agrária que é o latifúndio: tem-se visto como ele é particularmente grato aos amigos e inimigos da reforma agrária (sic). Como alternativa ao latifúndio, querido à esquerda e à direita, a revolução ecológica dos campos espera.
Porque também neste caso - o latifúndio - o gigantismo é, ecologicamente falando, a ruína e o desastre.
Os dois exemplos encorajam uma generalização: o gigantismo é sempre antiecológico e só o que estiver à escala humana serve o homem, tudo o que for além disso o destruirá.
«The Smatl ia Beautiful» - foi a paráfrase que o economista Schumacher encontrou para definir um dos vectores fundamentais da política ecológica.
Sendo o gigantismo - quer a macrocefalia urbana, quer o latifúndio, quer o complexo megalómano do tipo Sines, quer o empreen-dimento gigantesco do tipo Alqueva - inerente aos imperialismos que planificam a pilhagem dos recursos naturais da Terra - e dos países, é natural que os representantes, nesses países, desses imperialismo, à esquerda e à direita, sirvam os seus donos e senhores, lançando o «slogan» «The Large is Beautiful».

QUANDO O (PROMETIDO) CONFORTO DA CIDADE SE TRANSFORMA EM INCÓMODO PESADELO

Também não é por falta de informação que a auto-suficiência se encontra impossibilitada. Hoje tudo está praticamente investigado. E se nos dizem que não está, é essa mais uma das habituais mentiras com que o sistema pretende travar a marcha inevitável dos homens para a libertação eco-alternativa.
Para que o «regresso ao campo» encontre a sua principal justificação, há que não perder de vista este facto dominante: o famigerado conforto, o emprego, o posto de trabalho, o bem-estar que se prometia ao rural quando o aliciaram para a cidade, é cada vez mais uma fraude maior.
O que nós temos mais certo, suspenso como um cutelo sobre as nossas vidas, é a mais atroz da incomodidade, o maior descon-forto e o mais vergonhoso dos sofrimentos, quando, por exemplo, a torneira dos combustíveis voltar a fechar como fechou em 1973.
Na total dependência de uma fonte energética que de repente termina, como iremos pagar uma bilha de gás? Mil, dois mil escudos? E haverá bilhas de gás para comprar, mesmo a preço de ouro? Já se viu o ritmo a que o preço cresceu desde 1973? Pode calcular-se o ritmo em que vai crescer?
Porque nos continuam a embalar com histórias de fadas?
Este é apenas um facto para servir de símbolo a tudo o mais que nos conta a mitologia da felicidade pregada pela sociedade de consumo e seus anúncios.
Quando a ameaça desse conforto - a água quente – se transformar num pesadelo (devido ao custo do gás), onde está afinal e teoria do conforto que nos tem sido prometido a troco da «dura vida dos campos»?
Mantidos na prisão da cidade, só já tarde compreenderemos o logro e as mentiras da mitologia publicitária: conforto, afinal, onde estás tu?
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(*) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado em «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 18(16?)–8-1981
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1-3-schuma-1-ls> segunda-feira, 30 de Dezembro de 2002-scan c/anexos

UMA HERESIA DE F. SCHUMACHER OS DEUSES DA ECONOMIA (*)

[CPT, in «A Capital», 8-8-1987] - Um novo-riquismo, perceptível a olho nu, tem grassado desde há uns tempos no discurso alegadamente ecológico ou meramente ambiental. Todos descobriram, de repente, a pól-vora. E o ambiente, a dois passos da uma, é bestial, grande amigo, um gajo porreiro, principalmente se der subsídios e tiver também mecenato.
Mas toda esta euforia pró--ambientalista de conjuntura não impede que o discurso economicista, do cifrão e dos per capita que já existia antes, que durante o salazarismo ocupou corporativamente todo o nosso espaço mental, sem falar obviamente do económico, esteja ainda de boa saúde e com grande vigor.
O nacional-ambientalismo, embora um tanto grotesco, não perturba os pan-conomicistas, que já não sabem aprender discurso diferente daquele que beberam no leite maternal, como é patente nos discursadores dos partidos, todos convencidos de que nos convencem.
Ecologismo que não se fique pela rama, porém, ecologismo com o mínimo de autenticidade e coerência, é claramente perturbante, já que traz, para a plena luz pública, o que estava condenado a permanecer secreto para o resto da eternidade: a sífilis do sistema, as «des-economias externas-», como às vezes lhe chamam. Os direitos ecológicos das pessoas, esses, são hoje tabu como eram no tempo do Marquês de Pombal.
O grande escândalo das correntes ecologistas autênticas, não é a denúncia das poluições e dos poluentes, com um discur-so igualmente poluído, porque sintomatológico: o escândalo de um realismo ecológico coerente, independente, com princípio, meio e fim, é ir à causa, às raí-zes e não aos efeitos (poluições) do macrossistema que vive de nos ir assassinando.
O grande escândalo do realismo ecologista, defendido com unhas e dentes por meia dúzia de franco-atiradores clandestinos, é pura e simplesmente que o homem concreto, com senti-mentos, pele, nervos, sofrimentos, riscos, stress, angústias, etc., irrompe na praça pública a dizer que é mais importante do que cifrões, dólares, produtividade, bolsas, planos quinque-nais, dólares, produtividade, economia de mercado, colectivização socialista, etc.
Esta é a lição (o escândalo) que os viciados discursos economicistas de todas as tendências, desde a direita às esquerdas, ainda não aprenderam nem aprenderão tão cedo, mesmo que a casa (da economia) já esteja outra vez a arder com o renovo da chamada crise petrolífera.
Dizem-nos então, por reacção reflexa, que sem economia e sem petróleo, a sociedade se desmorona. E até talvez tenham razão. Mas por muito indispensável que a economia (do desperdício) se tivesse feito, por uma natural esperteza dos economistas e sua própria sobrevivência como classe, o que pisa hoje o risco vermelho do escândalo é a Ecologia Humana, porque põe as pessoas no lugar da Primeira Prioridade, no lugar onde têm estado e continuam a estar os cifrões e as metas desenvolvimentistas.

UMA QUESTÃO DE VALORES

Dizer que a Economia é uma questão religiosa parece à pri-meira vista uma provocação. Uma blague de mau gosto.
Mas é talvez a afirmação mais rigorosa que hoje se pode fazer num tempo de acelerado apodrecimento da História.
O economista E. Frederic Schumacher, que alcançou os postos mais elevados na hierar-quia tecnocrática ocidental, teve o arrojo de propor, no seu livro intitulado Small is Beautiful,(1) a economia budista como doutrina modelar de desenvolvimento.
A sua tese tem, entre outras vantagens, a de colocar a ques-tão do crescimento económico no seu lugar exacto, quer dizer, onde nunca os economistas di-tos ateus tiveram coragem de a colocar: no campo dos valores, dos princípios, da ética.
A maior religião do mundo e que conta com maior número de adeptos é hoje a religião do crescimento industrial. Basta ver quantos nomes se têm dado a este deus do pós-guerra que é o desenvolvimento. Progresso, bem-estar, felicidade nacional bruta, produto nacional bruto, metas do progresso, qualidade de vida, industrialização acelerada, tanto nome só para um deus.
Os mitos que o mito do pro-gresso fez proliferar e alimenta, os subdeuses que propõe à adoração das massas, os into-cáveis que governam as suas igrejas, as igrejas que, como cogumelos, se reproduzem por todos os LNEC do mundo, com seus sacerdotes, rituais, hóstias de enfiar pela boca, suas polícias políticas chamadas cientistas, confessores chamados psiquiatras, fiscais chamados técnicos de informática, inquisido-res chamados engenheiros nucleares, que grande família de grandes patriotas!
O que adoradores e padres-curas do deus-economia, do deus-progresso, do deus-crescimento, do deus-etc., não têm, entretanto, coragem de confessar, por um fenómeno de recalcamento semelhante ao complexo de Édipo, eis que o ecologismo o aponta como o menino que grita que o rei vai nu, porque efectivamente o rei vai em pêlo.
O ecologismo faz da Economia uma questão moral. Fala de moral energética, igual a moral ecológica. Diz que o problema da fome não é de crescimento demográfico como repe-tem os maltusianos, mas um problema de decência. Enquanto um carnívoro ocidental comer por dia, em suínos tuberculosos, o que daria, em cereais, para alimentar 100 crianças esfomeadas do Terceiro Mundo, há aqui um problema de vergonha na cara.
Revolução ecológica terá de ser uma revolução ética, antes, durante e depois. Se quiserem, uma revolução religiosa.
Não sou eu que o digo. Têm-no dito alguns pilares da Mitologia do Crescimento, na hora da verdade em que batem com a mão no peito e gritam: «Mea culpa, mea grande culpa. Per-doai-me Senhor, que errei na minha estupidez tecnocrática.»
Assim berraram Sicco Mansholt, o já citado Schumacher, filósofos como Garaudy, René Dumont, Henri Lefèbvre, Edgar Morin e outros menos conhecidos, porque sussurraram as coisas mais em segredo para a galeria não ouvir. Porque ai daquele que, herege, se baldar da religião do crescimento. Nunca mais tem toca a que se aninhar.
Se o renascimento ecológico do planeta está hoje a realizar--se através de comunidades di-tas laicas, também é um facto que as mais avançadas e dura-douras, as mais enraizadas e radicais, são claramente de confissão religiosa, Nyima Dzong, nos Alpes, a Comunida-de da L’ Arche fundada em França por Lanza dal Vasto, a cidade de Auroville, na Índia, fazem-nos compreender melhor porque é a Economia uma questão (de) Moral.
A ciência vai a reboque e descobre o que já estava des-coberto desde o princípio do Mundo pela Sabedora Primordial Viva, a que alguns chamam Yoga. Tudo é energia. Tudo se liga a tudo. Na ordem do universo tudo é interdependente. A energia somos Nós. Nada se faz que não se pague.
Estes e outros aforismos de moral energética que se podem ler, em lista, num dos breviários do ecologista, provam que a ciência chega finalmente às banalidades de base que estavam inscritas no coração humano até ao momento em que a pulhice ocidental, nomeadamente europeia e nomeadamente lusitana, corrompeu quase todas as grandes culturas do mundo.
Por exemplo: o famoso controle cibernético é, afinal, a auto-regulação dos sistemas vi-vos, a que eles chamam um palavrão: homeostase. E por aí fora.
Quando os políticos se metem a legislar sobre questões morais, então, é um espe-ctáculo chocante: ver-se como eles falam de objecção de consciência, é de fazer corar o diabo mais pornográfico.
Tentando mostrar que a questão ecológica é uma ques-tão de vergonha na cara da gente que a tiver, andaremos nós a dizer, até que nos ouçam.

(1) Ernst Friedrich Schumacher, «Smal is Beautiful (Um Estudo de Economia em que as pessoas também contam)», Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1980
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(*) Este texto de Afonso Cautela, apesar de 5 estrelas, foi publicado em «Crónica do Planeta Terra», jornal «A Capital», 8-8-1987

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«SMALL IS BEAUTIFUL»: A LÓGICA ABSURDA DO CRESCIMENTO(*)

[revista «Come e Cala», em 3–12-1981 ] - As grandes concentrações urbanas, levando à fatalidade do monopólio, parecem ser uma componente imprescindível ao sistema imperial-monopolista, à esquerda, à direita e ao centro.

O sentido monopolista da história europeia nos últimos 150 anos explica:

- a tendência concentracionária das cidades;

- a mitificação da indústria fabril enquanto os campos e a agricultura se cobrem de desprezo.

O EXEMPLO MULTISSECULAR DAS CISTERNAS

No campo da água, essa tendência monopolista avassaladora compreende-se claramente através de exemplos brutalmente flagrantes: as cisternas, que foram, desde os árabes, um dos processos mais expeditos e ecológicos de armazenar água, insensivelmente (?) caindo em desuso à medida que a indústria consciencializava a sua própria ideologia de domínio e destruição.

A cisterna permitia a diversidade e a proliferação, portanto a independência e as alternativas individuais ao monopólio (no caso, o das Águas).

A cisterna poupava a água dos lençóis subterrâneos.

A cisterna foi acusada de não conservar a água em bom estado - que se deterioraria devido à falta de luminosidade - mas muitos sabiam que o «sistema veneziano» impedia esse inconveniente.

A cisterna passa à história.

E hoje, a sua versão moderna - a pequena barragem de terra batida - é igualmente omissa nos planos nacionais e regionais de desenvolvimento.

Já ouvimos um engenheiro acusar estas barragens de «criar muitos mosquitos», inconveniente ecológico de monta que evidentemente as desaconselha...

As pequenas e médias cisternas, tal como as pequenas e médias barragens, tal como as pequenas e médias cidades, tal como os pequenos e médios agricultores, comerciantes, produtores, não interessam ao sistema imperialista que sabe quanto ganha ao concentrar.

Nem que seja à custa da destruição ecológica da Terra.

Como provam as distâncias cada vez maiores - com furos artesianos cada vez mais fundos - a que se vai buscar a água para abastecer estômagos insaciáveis de cidades tentaculares como Lisboa, a lógica do Crescimento é absurda.

CRESCER CRESCER SEMPRE... COMO A RÃ DA FÁBULA

Ao falar da Fábrica Daupias - fiação de lã - a «Revista Universal Lisbonense» (14/Agosto/1851) tinha um bom exemplo para fazer o elogio da «indústria ao serviço da agricultura».

Embora a lã não venha propriamente da terra mas dos carneiros que nela pastam, era na época (1851) um exemplo da indústria que não arruina a terra mas fomenta um produto dela.

Uma indústria, aliás, que ainda hoje se mantém «simpática»: não só porque produz algo de essencial à vida humana - roupa - mas porque vai sendo também cada vez mais uma raridade em vias de extinção, face à invasora vulgaridade das fibras sintéticas.

Não deixa, porém, de ser claro que a «Revista Internacional Lisbonense» denunciava uma certa «má consciência da indústria relativamente ao campo, que os poderes públicos definitivamente tinham abandonado à sua sorte com a célebre pauta aduaneira de 1837, o princípio do fim, a data-chave, no crescente monopolismo da sociedade portuguesa, onde se enxertava a indústria como engrenagem que, século e meio depois, ainda procura devorar, como um cancro, todo o corpo social do País.

Lisboa foi, nesse corpo, o primeiro grande teste.

E quando em 1880 D. Fernando inaugurava a primeira estação elevatória de água a vapor - a dos Barbadinhos - era a consagração do monopólio, da concentração, das necessidades de um aglomerado cada vez mais exigente.

A água que desde os romanos era trazida de Belas-Carenque, a 30 Km da cidade, passava em 1880 a vir do Alviela (Olhos de Água) a 114 Km e em 1980 vem do Castelo do Bode, já a 200 Km.

Onde irá Lisboa, sempre a crescer, buscar a água daqui a outro século?

A 400 Km de distância, logaritmicamente, mas onde?

A BIPOLARIZAÇÃO EM 1865

As grandes opções do plano já se discutiam em 1865!

Num curioso artigo do «Archivo Pittoresco», Ignácio de Vilhena Barbosa dava conta dessa bipolarização que, um século depois, continua vigente e quase sem alterações.

Apenas com alguns fracassos no caminho percorrido por um dos contendores: pelo que ouvimos aos ideólogos representantes da indústria, ainda existe muita gente no campo, pelo que o objectivo estratégico lançado pela pauta aduaneira de 1831 - e respectiva política proteccionista - não terá conseguido os êxitos que pretendia na literal liquidação da produção agrícola.

Tratava-se - diz Ignácio de ViIhena Barbosa - «de designar a vida ou ocupação que convinha a Portugal».

E acrescenta o arguto cronista:

«Uns optavam pela indústria agrícola, dizendo que uma Nação, que a Providência colocara em um país tão fértil (...) devia ser, tinha obrigação de ser, essencialmente agrícola.»

«Outros, vendo que a indústria fabril era a feição mais proeminente deste século, prognosticando que ela seria em breve o mais poderoso elemento da civilização e a par disso crendo que as nossas ricas províncias ultramarinas não tardariam a constituir-se em grandes mercados de consumo para os produtos industriais da metrópole, opinaram em favor deste ramo da indústria.»

Era a bipolarização.

Era o monopolismo industrialista de vento em popa.

Era fazer de Lisboa o concentracionário fabril de manufacturas que as «colónias» depois sugariam em troca das matérias-primas que de lá viessem.

Era o sonho imperial típico de século XIX, mas típico ainda do século XX.

Porque o mesmo ou maior desprezo pela agricultura, pelo «primado da agricultura» se continua a ouvir e a perceber, através dos discursos mais ou menos inflamados da mesma ideologia.

A diversidade dos campos - pequenos e médios agricultores, pequenos e médios aglomerados - já se visionava nessa época como o principal obstáculo à massificação monopolista que assumia o nome do Progresso e, posteriormente, os de crescimento ou desenvolvimento.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, só muito remotamente inspirado em Schumacher mas que pode ficar incluído na série, foi publicado na revista «Come e Cala», em 3–12-1981

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TEMPO DE VIRAGEM (*)

[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital» , 10-8-1985]

Na esteira de E. F. Schumacher, pensador e economista falecido em 1977, multiplicam-se os simpósios e as mesas-redondas para estudar a sua obra e desenvolver as premissas do seu sistema filosófico.

As consequências deste pensador rebelde são tanto mais tremendas quanto, até hoje, ainda não foi possível recuperá-lo e pô-lo ao serviço do sistema que combateu. O seu ensaio sobre «economia budista», caindo como um raio sobre os meios científicos académicos da época, suscitou os inevitáveis engulhos, mas desencadeou também uma atenção crescente dos investigadores que compreenderam encontrar-se aí a viragem necessária.

E não falo dos místicos que há muito se converteram à sabedoria primordial, falo dos cientistas de cuja «positividade» não se poderá duvidar nem pôr em causa. Tão-pouco falo de escritores, artistas e pensadores que assumem hoje a radicalidade contra o sistema. É fácil, contra esses, ao cientista ortodoxo atirar-lhes o anátema de «místicos» com toda a carga pejorativa que o cientista coloca nesta palavra.

Já a meio da década de 80, estamos em Portugal na mesma situação intelectual que acolheu, durante os anos 50 e 60, as ideias revolucionárias de E. F. Schumacher sobre a economia e o crescimento económico erigido em deus dos planificadores.

«Louco idealista» foi o menos que chamaram então a Schumacher.

Mas é ainda o que lhe chamam em Portugal os pretensos vanguardistas, exactamente quando os seus livros se tornaram «best-sellers» mundiais, quando por toda a parte se formam sociedades para estudar a sua obra, quando o seu ensaio «Economia Budista» se tornou um
clássico e quando a sua palavra de ordem «small is beautiful» se tornou bandeira de importantes movimentos sociais.

Regularmente, o Grupo de Desenvolvimento de Tecnologia Intermédia, de Londres, ao mesmo tempo que publica a revista «Resurgence» promove colóquios sobre a obra de Schumacher para os quais convida cientistas de nomeada. Um desses simpósios foi coligido em volume, intitulado «The Schumacher Lectures».

NO GUETO E À MARGEM

Portugal, no seu habitual borralhinho cultural, continua à margem disto tudo. As questiúnculas internas do País, devidamente salgadas com os rigores da austeridade, não deixam os responsáveis (pelos principais pelouros da administração) perceber que o mundo intelectual de vanguarda marcha agora a outra velocidade, num outro comprimento de onda, movido por outras metas, inspirado por outros princípios, orientado por outra moral.

Imutáveis, monolíticos, imobilistas, indefectíveis, os discursadores oficiais do Reino consideram-se estrelas da última hora, campeões do progresso e da modernidade. Quando falam em modernizar o País, eles referem-se a coisas que deixaram de ser modernas há uns bons vinte anos. Os fósseis do nosso meio científico, intelectual e cultural são, com os seus pretensos modernismos, apenas risíveis, se vistos à luz da dinâmica tomada pelas correntes de fundo que agitam, de facto, a cultura contemporânea.

Uns porque agarrados à vulgata marxista, outros porque agarrados à bíblia estruturalista, outros porque eurocratas e europeístas, outros porque assim, outros porque assado, não é a sua figura de múmias o preocupante, já que o problema é deles.

Preocupante, para o País, é que são estas luminárias/alimárias quem continua a mandar aqui, através das chamadas tecno-estruturas, a decretar as escalas de valor onde os outros terão que ser aferidos.

As elites intelectuais em Portugal estão a conduzir-nos para uma espécie de gueto, para um buraco sem esperança nem horizontes, literalmente à margem da vanguarda europeia.

FIM DA VIA ÚNICA

A sociedade foi, durante séculos, impregnada por uma visão do mundo que, partindo da observação analítica da realidade - o método científico -, acabaria por institucionalizar e eternizar essa visão. A imagem estática da vida e do mundo acabaria por imobilizar a própria vida e o próprio Mundo, mumificado e paralisado na sua dinâmica natural. A realidade degradou-se e mutilou-se à medida dessa visão, que o método científico e a observação analítica impuseram.

O «drama», que fundamentalmente se traduz na crise ecológica de hoje, é que se tornou ontológico o que era metodológico, se fez definitivo o que era provisório, se instituiu em dogma o que começou por ser uma teoria. A sociedade passou a ser unidireccional e unidimensional. O que era uma das várias vias possíveis para essa sociedade, tornou-se a única que, ainda por, cima e como provam os factos (a crise ecológica), nem sequer era a melhor.

Até se modificar a raiz, a visão do mundo que está na origem da crise actual, vai um complexo processo de autocrítica, difícil de assumir principalmente pelos que têm uma profissão vinda directamente das ciências que essa visão do mundo sustenta. Não é das ciências em si que o impulso detonador para a mudança pode hoje partir, mas de uma posição filosófica, de uma visão do mundo-que se lhes antecipe e que tenha independência crítica em relação a elas.

É para esse salto em frente, para essa mutação qualitativa, para essa revisão da visão do mundo que apontam as eco-alternativas em geral e as tecnologias leves em particular.

A inércia dos meios científicos ortodoxos oferece uma resistência quase infinita a esta inovação crítica. E os próprios funcionários das ciências que materialmente beneficiam deste estado de coisas - estático e imobilista - constroem periodicamente teorias tendentes a conservar o «status», a manter o imobilismo, a prorrogar o sistema que hoje se encontra em guerra aberta com os ecossistemas.

Inclusive, o sistema adoptará e recuperará qualquer dinâmica nascente que ameace pô-lo em questão e em causa: a ecologia, por exemplo, já foi recuperada, esvaziada da sua radicalidade, posta ao serviço de tudo o que em princípio deveria contestar.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas sobre o novo paradigma, foi publicado, sabe-se lá com que habilidades, na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 10-8-1985