quinta-feira, 10 de junho de 2010

MICHIO KUSHI SEMPRE PRESENTE


<92-07-09-bm> satillar-1>ninguém está inocente das doenças que tem.

A DIFICULDADE DA FACILIDADE: A DOENÇA ESTÁ NO AMBIENTE

9-7-1992 - Após 8 seminários de Michio Kushi em Lisboa, após 12 restaurantes a funcionar, só na área de Lisboa, após a publicação em português de duas dezenas de livros e de um periódico que se chamou «Jornal da Via Macrobiótica» e de outras publicações mais efémeras, já ninguém pode hoje dizer que desconhecia e, por isso, adoeceu.
Ninguém está inocente das suas próprias doenças.
Após o pioneirismo de ecologistas e ambientalistas, já ninguém pode hoje alegar que não sabia: a doença está no ambiente, está principalmente no ambiente e nenhum diagnóstico o pode ignorar. Se o ignora, não é a Ecologia Humana que tem que se demitir, mas as instituições que continuam a chamar doença à saúde e saúde à doença, na mais indescritível das confusões.
Ninguém pode hoje alegar ignorância.
Após a fase heróica em que lacto-ovo-vegetarianos ajudaram a impor uma nova noção de higiene alimentar, ninguém pode hoje ignorar o contributo da macrobiótica como vanguarda do vegetarianismo: o movimento holístico não pára, está em constante evolução e a macrobiótica, ela própria em movimento, veio para dinamizar o que tinha a tendência para cair na inércia.
Ninguém pode hoje alegar desconhecimento das alternativas de vida que se colocam ao beco sem saída que é a sociedade moderna, dita de consumo, dita industrial e dita também do lixo e do luxo.
Se os ambientalistas sectoriais (e sectários) contribuíram muito pouco para a amplitude de um verdadeiro movimento holístico, ignorando completamente a ecologia humana, isso não significa que tudo seja hoje claro quanto ao paradigma que sairá vencedor neste fim de século e neste fim de milénio.
Ninguém pode alegar ignorância desse paradigma.
Quando a Entropia acelerada conduz o Planeta Terra a um regime de catástrofe permanente, só ignora quem quer as saídas e as alternativas que hoje se colocam.
Se nos guiarmos pela lógica do bom senso, em vez de sermos subservientes à lógica do absurdo, do disparate e do non-sense, num mundo que se tornou, com ajuda dos media, ridiculamente pós-surrealista, sabemos que a saúde é para conservar e não para desperdiçar.
Que a doença é uma oportunidade de evoluir e não uma oportunidade de acrescentar mais lucros aos que dela vivem. Como dizia Antonin Artaud, o suicidado desta sociedade e deste sistema, «os que vivem, vivem dos mortos.»
Quem não tiver vocação de vampiro, só tem que mudar de agulha. Sem esquecer que a pior doença é a da alma: embora se note menos, mas a neurose do lucro (a febre do bezerro de ouro, como diria o nosso sempre lembrado António Sérgio), mas o que hoje se verifica, como nova endemia destes tempos terminais, é que as almas dos poderosos já ardem nas labaredas de um merecido inferno... Antes ficar no purgatório onde essas alminhas de sucesso (consumidas pela ganância) nos condenaram a ficar.
Curar é fácil, e prevenir ainda mais. Difícil é vencer a opacidade estúpida e arrogante, a inércia da asneira, os preconceitos familiares e escolares, os interesses e monopólios da indústria alimentar que mata, a fraude publicitária e a mentira dita científica, a escalada mediática de violência, o poço sem fundo da era do virtual.
A verdade não está só nos livros, nem está principalmente nos livros. Depende essencialmente dos olhos puros e sem preconceitos que queiramos abrir à maravilhosa e poderosa Ordem do Universo. Cujas leis teimamos em não respeitar. Em não conhecer. Em ignorar.
Porque sabemos demais das ciências que temos.
Porque nos ocupamos mais a ter do que a ser.
Porque estamos metendo as nossas alminhas no inferno, convencidos de que voamos (a jacto) a caminho do paraíso.
Não digam é que ninguém avisou.
No dia do julgamento, ninguém poderá alegar ignorância.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

ECO-MILITANTE 1977

sexta-feira, 14 de Abril de 2006-> texto longo de um único file, proeza só possível nessa data benfazeja de 1977!

1-14 terça-feira, 25 de Novembro de 2003 sabedoria-md-aa-ce>

sabedoria-1> - inédito 1977 (ensaio longo) - em louvor da ciência que o povo ensina - a fase «tecnologias alternativas»: antecedentes da hipótese vibratória( 8/5/1997) - manifesto contra a ciência universitária, oficial ou ordinária - manifesto ecológico pela ciência das ciências (ciência iniciática)


CARTA EM 1977 AO ECO-MILITANTE DO FUTURO: PRIMITIVAS CONCEPÇÕES SOBRE O "PRIMITIVO"

1977 - Haverá um primitivo e o que já não é primitivo? Mesmo para a ciência oficial, que sentido poderá ter essa adjectivação hierarquizante, carregada de subjectivismo e ideologia?
Curioso: mesmo em etnólogos com a envergadura de Jorge Dias, é frequente uma nomenclatura que de certo modo traduz uma posição passadista e um critério da tecnologia segundo o evolucionismo darwiniano: teríamos começado de zero até atingir as culminâncias electrónicas e cibernéticas de hoje em dia, nec plus ultra da raça humana, esse infinito...
Referindo-se, por exemplo, à roda de oleiro e sua sobrevivência em Portugal, Jorge Dias usa esta linguagem:
"Tais rodas ainda subsistem, não só em Portugal como em Espanha, e são utilizadas, em parte, por mulheres que, ainda hoje, empregam técnicas primitivas como as dos nossos antepassados pré-históricos ou como os nossos contemporâneos primitivos em certas regiões"
Pergunta-se: primitivos como? Primitivos porquê? Primitivos desde quando?
É aqui um dos pontos em que a leitura ecológica parece ultrapassar a leitura etnológica da realidade, tentando acabar com as distinções de classe, o elitismo e o paternalismo da ciência (até etnográfica) para com aquilo que não se ajeita ao esquema comercial-capitalista do produto standart, ideologicamente apoiado em Darwin.
Nesse caso, uma pintura rupestre também seria primitiva em relação a um quadro de Picasso? Esta ideia darwinista de que viemos , numa linha única, de um limbo arcaico até às luminárias e arranha-céus de um apoplético progresso, é francamente , e graças aos empurrões do militante radical, irrisória, ridícula, sem sentido.
Muito em especial, se se provarem as hipóteses que, em torno da Atlântida, tornam cada vez mais verosímil a existência de civilizações solares ao lado das quais as do carvão, do aço, do petróleo, do urânio, do plutónio, do mercúrio, do arsénico e da lata não são apenas a grande e porca porcaria que são mas pálidas cintilações reflexas do que foi a Luz Primordial.

JORNALISTA E MILITANTE ALIAM-SE: DINAMIZAR A DESCRIÇÃO ESTÁTICA
DOS ETNO E ANTROPOLOGISTAS

Obra simultaneamente de arqueologia e de antecipação, obra de história passada e, ao mesmo tempo, de história futura ou prospectiva, a Etnografia encontra-se hoje na Encruzilhada.
Ao prescrutar, no Espaço, o que resta da memória do Tempo, a Etnografia, a Geografia Humana, a Antropologia Social , a Sociologia e a Ecologia estão na Encruzilhada onde se encontram Passado, Presente e Futuro.
A equipa que trabalha no Centro de Estudos de Etnologia não está apenas a conservar o que resta de um Portugal em vias de extinção: alfaias, indústrias artesanais, tecnologias de aldeia, usos, costumes, materiais, recursos, inventiva, iniciativa e poder criador.
A equipa de Ernesto de Oliveira, Benjamim Pereira e Fernando Galhano, está pondo nas mãos do futuro os instrumentos mais adequados à sua construção.
Invadindo a estrutura secular da vida rural, a indústria e a tecnologia pesadas ganharam a primeira batalha: mas tudo indica que vão perder a última, quer dizer, a que hoje se trava na supracitada Encruzilhada.
Também o estudioso da Antropologia Social entra neste quadro de comparticipações, nesta Encruzilhada. E o investigador de Geografia Humana. E o sociólogo do Meio Rural. E, possivelmente, o filósofo do concreto, do existencial.
Qualquer desses contributos, porém, ganha um sentido novo a partir dos dados decisivos da Ecologia. Conservar o património artístico, monumental e paisagístico tem um sentido. Conservar espécies animais e vegetais já tem um sentido ligeiramente diverso E conservar ecossistemas como base biofísica de toda a história restante, tem um sentido ainda mais radical e decisivo.
Verdade seja que a diplomacia habitual entre universitários, leva o geógrafo a ignorar o sociólogo; o sociólogo a ignorar o antropologista; o antropologista a ignorar o ecólogo; o ecólogo a ignorar o etnógrafo; o etnógrafo a ignorar o geógrafo; etc.
É da praxe. É de esperar. E o eco-militante , no meio disto, no meio deles, no meio do Meio Ambiente, a querer ligar os fios da meada, é fatalmente acusado, por todos eles, de amador, de ignorante, de autodidacta sem diploma.
Isto sem entrar no contributo do romancista, que em regra se aproxima da reportagem e do contributo que, portanto, pode ser dado pelo jornalista.
A diferença entre o jornalista e os outros istas e ólogos todos, é que ele dispõe de dois dias, onde os outros poderão ter dois anos para investigar e inquirir do Meio que estudam.
O jornalista será, portanto, sempre acusado de impressionista, sem os cuidados estéticos do escritor, sem os cuidados científicos do antropólogo, do geógrafo, do etnógrafo, do sociólogo.
Vida é para ele, como para o eco-militante , o laboratório das suas experiências científicas.

O MELHOR INVESTIMENTO É COMPRAR ALMAS...

Sem reconstruir, desde a raiz, essa vida em comum e unitária - comunitária -, sem a sequência secular que a tornou coesa e uma verdadeira linhagem transmitida de avós para pais, de pais para filhos, de filhos para netos, pergunta-se: haverá possibilidade de reconstruir uma aldeia, um projecto, uma sociedade a caminho da autosuficiência?
Convém que o militante de um projecto ecológico paralelo não alimente muitas ilusões. Ler ecologicamente a realidade é lê-la com atenção e o máximo de lucidez, sem sofismas nem fantasmas.
Convém que o militante saiba as dificuldades que vai enfrentar, que são, entre outras, dificuldades tecnológicas.
Há catálogos, já, como o World Ressources ou, em francês, o Catalogue das Ressources, onde o sistema põe de nova à disposição dos que o contestam e dele se querem afastar, as receitas e possibilidades que o próprio sistema liquidara ao estandartizar-se.
Perante esses catálogos, só o militante com poder de compra poderá adquirir essas engenhosas soluções propostas, por engenhosas casas comerciais especializadas no folk, no artesanato, na cozinha macrobiótica, no biológico, na mezinha caseira, na homeopatia, na trofoterapia, na arte marcial, no yoga, na olaria, na cestaria, no têxtil.
É o comércio do biológico, do ecológico, do etnológico.
É o reforço de uma dependência e realienação ao sistema.
E um novo truque do capitalismo para reampliar mercados mas, acima de tudo, para não perder as almas que sempre tem comprado em nome da civilização, do progresso, do futuro, da ciência, da técnica.
Agora trata-se de comprar almas em nome do artesanato, do natural, do ecológico, do comunitário, do espiritual.
Tanto assim que surge o cientista (com certa formação ou simpatia ecológica... mas não muito) , pronto a fazer a transição e a assegurar a coexistência pacífica.
Surge o investigador e o comerciante de energia solar, de energia das ondas, de energia geotérmica.
De todas as energias limpas, livres e infinitas, porém, a energia do vento é uma das que oferece mais riscos para o comércio, porque tem antecedentes nas tais culturas "primitivas", antecedentes ainda visíveis à vista desarmada do historiador oficial.
Apesar da moagem industrial ter feito tudo para levar os moleiras de farinha a suicidar-se, apesar disso os moinhos de vento ainda enchem a paisagem portuguesa, dão pasto ao turista, motivam bilhete-postal, merecem uma Associação de Amigos dos Moinhos.
Neste interim, o eólico - dadas as raízes ainda visíveis no transacto e no ancestro - tem riscos. Pelo menos, não continua assegurando uma total dependência do consumidor (neste caso o militante das alternativas) aos senhores fornecedores habituais, com venda aberta e negócio montado de "gadgets" ecológicos.
Mais do que a energia do vento, porém, o gás metano é o que oferece perspectivas de maior e mais radical subversão, pela tecnologia simples e relativamente fácil de dominar com custos de produção baixos, material reciclado e matéria-prima praticamente infinita: a bosta de nós todos, animais domésticos...

A CIÊNCIA DE JOSÉ CUTILEIRO E O ANALFABETO F. SAM PEDRO

Ao método descritivo chama-se método científico, objectivo. Verifica-se, constata-se e mais nada.
"Terras de xisto são pobres" - será afirmado por um observador que tem como dado assente (dogmático) e portanto científico a infertilidade do xisto.
José Cutileiro, ao falar de Monsaraz (Alto Alentejo) a que chama Vila Velha, utiliza esse dado inerte, adquirido e dogmático, sem discussão:
" A solene e austera beleza da paisagem proporciona uma grande satisfação estética, mas ao mesmo tempo traduz a subjacente aridez do solo."
E José Cutileiro reforça na sua obra "Pobres e Ricos do Alentejo" (Ed. Sá da Costa, Lisboa, 1977) : "A freguesia divide-se em duas zonas topograficamente distintas: uma zona plana, denominada terras mansas ou campas, que correspondem a uma estrutura geológica granítica, e uma zona ondulada, conhecida por terras ásperas ou dobradas que correspondem a xistos silurianos."

E ainda: " A área de xistos silurianos apresenta uma camada muito mais fina de solo arável do que a zona granítica. O solo é ainda mais seco e mais pedregoso do que o das terras mansas. Estas características assim como a irregularidade da superfície
A fertilidade ou infertilidade de um solo é um dado aparentemente objectivo.
Neutro. Sem discussão. Científico.
O militante diria, no entanto, que talvez seja um mito, caso a experiência o diga.
É aí, na atenção à experiência, que o método do eco-militante difere radicalmente do método que todos os outros (cient)istas e ólogos usam.
Desde logo, as dicotomias maniqueístas pouco podem ter de científicas. Para um espírito minimamente taoista, nada pode ser absolutamente mau, nem nada pode ser absolutamente bom. Nada pode ser totalmente estéril, nem nada pode ser totalmente fértil.
Dar como irremediável e fatalmente áridos determinados solos é algo que espevita o militante da dialéctica...
Que pode ele fazer, no entanto, para provar o contrário do que toda a ciência dá como certo, assente, infalível?
Mais uma vez o militante da Dialéctica (que não é via de facilidade) representa o papel de mísero David que enfrenta o avantajado Golias da Dogmática , o aprendiz que enfrenta o poderoso aparelha da mitologia universitária.
No caso do xisto e só para se saber onde está a ciência, onde está a verdade , onde está o dado de facto não inquinado de fantasmagorias teóricas, eis que o Francisco Sam Pedro, pequeno agricultor de Nisa, vem em auxílio do militante, com a experiência pormenorizadamente descrita em 10 páginas no livro "Ecologia e Luta de Classes em Portugal " (pg.. 134 a 145).
Já sei que nada disso é "científico". Nem o trabalho do jornalista que testemunha a odisseia de Francisco Sem Pedro, nem o trabalho do Francisco Sam Pedro que transformou rocha xistosa num edénico jardim de fertilidade.
De facto, quando alguém subverte as leis ditas científicas, pela razão simples de que se aliou à Lei (da Ordem do Universo) e com ela, apoiado nela, realizou o "impossível" (o que a ciência declarava impossível) torna-se de tal modo perigoso para a ordem da ciência ordinária que deve ser abatido ou, pelo menos, alvejado com todos os epítetos que só a fina educação universitária conhece.
Francisco Sam Pedro, de facto, analfabeto construtor de civilizações, tem um processo no tribunal de Nisa.
Não tanto, talvez, pela razão acidental alegada (ele teria protestado contra a Celbi que lhe plantava eucaliptos em cima das podas e a Celbi processa-o por arrancar eucaliptos!!!...): mas pela razão profunda de que Sam Pedro, pequeno agricultor de Nisa, tendo tornado fértil rocha xistosa, pode vir a provar que toda a ciência ordinária assenta em postulados tão falsos e tão aleatórios como esse da fatal infertilidade do xisto, como também defende o universitário José Cutileiro, na sua tese de doutoramento.
Mas, talvez receoso, é que José Cutileiro chama, ficcionìsticamente, Aldeia Velha ao que é pura e simplesmente Monsaraz a Bela...

CLIMA INSALUBRE, NATUREZA MÁ: OU ESTUPIDEZ DA CIÊNCIA?

A lei do menor esforço impera ainda neste tipo de cientistas e de "raciocínio" (?). Todos queremos ópera por dois tostões e o cientista também. " Exigimos" que a Natureza só nos dê facilidades e logo a recamamos de palavrões quando não funciona do nosso lado e agrado. Tudo tem que ser paradisíaco como na Califórnia, de contrário cantamos o fado da nossa subdesenvoltura. E olhamos para os países "desfavorecidos" da sorte meteorológica com infinita piedade. Os africanos, coitados, com tantos mosquitos, tanto calor, tanta selva, tantas chuvas equatoriais. Que clima insalubre, credo! Quando a Natureza não está a nosso favor, maldita seja a maldita Natureza.

Mas - oh! olímpicas criaturinhas que tais "raciocínios" fabricais - nunca em tempo algum este planeta foi ou será estância de repouso e turismo, para a gente vir passar umas agradáveis férias grandes.
Este planeta é um lugar de prova (e provação).É uma escola. É uma ponte de passagem. É o que é e cada um fez, faz e fará dele nas sucessivas reencarnações. E cada um nasce onde tem de nascer. Este planeta foi e será sempre economia de austeridade. Porque o terá julgado a sociedade de consumo uma teta inesgotável?
Cumpre-nos, sim, enquanto militantes da Inteligência, é ter um pouco mais de esperteza ao administrar o que temos, mais esperteza , pelo menos, do que aquela que os cientistas normalmente e ordinariamente, de tão inteligentes, revelam. Transmutar os contrários não é para tecnocratas nem sequer para místicos e neo-místicos.
Cumpre ao militante, se quiser sobreviver, aprender a sobreviver como sempre, através das gerações, os povos aprenderam: autobastando-se com o (mau e o bom) que tinham! Ciência tradicional tem, por isso, muito de ciência iniciática: ambas procuram transmudar os contrários em energia positiva.
Viver não é fácil! Que reles sociedade de consumo é que nos quis convencer dessa?
Isto não é só solos férteis, chuvas a preceito, a Natureza toda a trabalhar prá gente e a gente a descansar!
O militante terá muito claramente que evitar os dados inertes, estáticos, míticos que a ordinária Ciência da Natureza lhe oferece, para poder perceber o que em cada local se passa. Onde quer que o coração humano trabalha, esse lugar é sempre SAGRADO.
É evidente que se se estipular o cimento como único recurso para a construção civil, onde quer que não haja cimento a "brotar da Natureza" (da fábrica!...) lá está o cientista, economista, engenheiro, ministro ou lá o que for, a vociferar: " que terra tão pobre, não há cimento!...”
O militante revela esperteza superior à inteligência do economista, se disser apenas: vamos ver (com o olho ecológico bem aberto, alminhas de Deus!) quais recursos ou materiais para construção há aqui: na área, no local, na zona, na terra.
Era assim que faziam as comunidades quando a auto-suficiência lhes era imposta por abandono a que as votavam os poderes centrais.
É assim que terão de fazer as comunidades militantes do futuro quando a autosufïciência for a estratégia sine qua non de se furtarem à ditadura e ao monopólio dos poderes centrais, quer dizer, dos sistemas concentracionários na energia, na agricultura, no fertilizante, no combustível, no alimento, na educação, na medicina, na tecnologia, no vestuário, no tecido.
Reparai bem em Cabo Verde, militantes do Futuro: as condições naturais, as estiagens e secas, foram o grande pretexto para que o colonialismo mantivesse na miséria, na dependência, na escravatura e na subdesenvoltura um povo indómito.
Uma leitura ecológica de Cabo Verde, que é apenas uma leitura de todos os seus recursos, sem preconceitos nem dicotomias pseudo-científicas, sem hierarquias elitistas, modelos de perfeição e termos de comparação ideais, diz ao militante que Cabo Verde tem uma das maiores riquezas de mundo em energia solar. Para não falar na das ondas e na do vento.
Ao diabo os istas de todas as cores que o tenham negado e continuem negando.

SEMEAR O DESERTO, TRANSMUTAR OS CONTRÁRIOS, VENCER O FATALISMO DA CIÊNCIA ESTÁTICA (ORDINÁRIA)

Vocês agora, militantes radicais do futuro, generalizem este exemplo, passem a fio de espada todos os tratados de Pedologia que classificam os solos em bons e maus, em bonzinhos e mauzões, que distribuem adjectivos à direita e à esquerda; revistem bem os tratados todos onde se operam dicotomias como esta (tão falsas como esta) e avaliem do trabalho de limpar sótãos e teias de aranha que ao militante incumbe.
Por mim, estou velho, cansado, saturado. Que a juventude acorde .
Subverter a ciência ordinária e seus ordinários mitos - como esse da (in)fertilidade - não é das menores tarefas que incumbem ao leitor ecológico da realidade, emancipador de oprimidos.
Vocês, militantes do futuro, verão que sobre esses mitos assentam, depois, muitos outros de carácter político, económico, histórico.
"Portugal é um País pobre". "A vocação agrícola de Portugal é um engano". "O nosso regime de chuvas é desastroso". " Não temos recursos hídricos suficientes." "Somos pobres em energia.''
Enfim, o fado fatídico do costume, que podemos ler desde os livros integralistas aos do sr. Dr. Álvaro Cunhal. sempre a justificar com esses e outros slogans, esses e outros lugares comuns, esses e outros dados assentes da ciência, a inércia e inépcia do costume.
A realidade, para eles, é (foi) um dado adquirido para todo o sempre. Classificam. Dicotomizam. Moralizam. Fazem comparações e Portugal (claro!) fica sempre a perder, porque entendem eles, sempre, que Portugal tem de entrar na maratona dos outros, etc.
Até o facto de sermos clima mediterrânico, age contra nós. Até o território em declive do interior para o litoral nos torna propícios à erosão.
Enfim, um chorrilho de desgraças. E por muito que António Sérgio nos mereça uma incondicional admiração, não deve o militante esquecer-se de que ele contribuiu muito para enraizar alguns mitos, alguns complexos de inferioridade, na tarefa aliás muito patriótica e meritória de desmitificar outros tantos mitos da nossa irremediável estrutura biofísica.
Para o militante, porém, não pode haver este tipo de contra-chauvinismo, onde Portugal se toma para termo de comparação com território, solos, climas, bacias hidrográficas consideradas nos outros países modelares, ideais, óptimas e à luz das quais, evidentemente, estamos sempre a perder.
Este velho complexo de castração! Mas o que tem a ver um complexo com a objectividade da ciência?
Para o militante não se trata de fazer comparações com o "óptimo" (resta saber a que padrão se refere esse óptimo) mas de inventariar até ao fim, exaustivamente, o que de facto temos.
Até desertos, se os tivéssemos (embora o eucalipto esteja alegremente a fabricá-los), até desertos têm de entrar na contabilidade de uma economia ecológica. A velha e podre moral judaico-cristã, convenceu-nos a todos - e aos cientistas também - de que há um mal e um bem absoluto.
Para um militante radical, trata-se de saber que a vida, o mundo, a existência, a realidade é um jogo dialéctico em que terá de se jogar, continua e alegremente, com ambos os contrários.
Porém, quem nos ensina a transmutar os contrários?
De certo que não será a ciência ordinária de herança judaica: de um lado bons, do outro lado maus e abomináveis. De certo que não será a ciência estática e mítica. De certo que não será a ciência fatalista e fatídica, acompanhando-nos à guitarra e à viola - mas a ciência dialéctica do futuro, a Ecologia.

CIÊNCIA POPULAR É MAIS PROGRESSISTA QUE CIÊNCIA ACADÉMICA (Ordinária)

Aí estamos a descobrir a ciência popular. Aqui estamos, os militantes, dispostos a tudo para compreender, com os que sabem, o que ainda resta do saber original.
Aqui estamos com os amigos de Centro de Estudos Etnológicos, para com eles registar um pouca da ciência popular, da sabedoria popular, da tradição popular.

P.S.: A ciência ordinária vem indissolúvel e umbilicalmente ligada a um tipo de acumulação capitalista estruturalmente concentracionária que lhe definiu para sempre os contornos anti-ecológicos. A ciência ordinária tem uma raiz cancerosa: o dualismo. A ciência ordinária baseia-se na violentação da Natureza e na desorganização da Ordem do Universo: as suas leis são leis abstractas, não são leis funcionais. É escusado tentar ilibar esta ciência ordinária, profunda e estruturalmente anti-ecológica, a pretexto de que não temos outra. Demonstrado está que temos outra. E outras. Demonstrado está, portanto, que a única saída higiénica é desaprender tudo para começarmos a aprender alguma coisa.
Viva a greve dos doutores.

RADICAL QUER DIZER "VIRAR ISTO DE RAIZ (E DO AVESSO)"

Com ou sem Ecologia, e quer a palavra se popularize ou torne tabu, o que o eco-militante reconhece é a sua incompatibilidade com o sistema - cultural, social, político, científico, tecnológico, agrícola, didáctico, industrial - onde tem (sobre)vivido, e mal.
Muito antes de o sistema começar a poluir e a matar, muito antes dos escândalos a que na actualidade se assiste com os tecnocratas a dizer que é mentira - e que só nos seus braços temos salvação! -, muito antes de abrir falência e declarar bancarrota, muito antes de chegar à pituitária, ao ouvido, ao sabor, à pele das pessoas, muito antes de se estar afogado em poluição como hoje estamos, já havia quem tivesse percebido a burla estrutural deste projecto de (anti)civilização e proclamado que o Rei ia nu.
Mau grado o Beethoven, a catedral de Chartres, o Einstein, o Balzac, o Picasso e outras flores que é costume apontar como glórias da cultura europeia, muitas pessoas - mais poéticas ou proféticas - começaram a perceber que esta cultura era estruturalmente uma vigarice mas, acima de tudo, uma chatice.
Antes de matar à bomba (de cobalto) esta cultura matou de tédio, e bocejo, muito boa gente.
Hoje, o eco-militante tem que saber, de facto, como se safar dos que, funcionários zelosos, querem transformar a Ecologia na mesma chatice computarizada em que laboraram sempre e fizeram laborar os meninos das escolas e os adultos das universidades.

Com ou sem Ecologia, o militante tem na Ecologia uma forma drástica de lucidez: um bom pretexto para dizer basta. Um ponto de Arquimedes para revirar isto do Avesso. Está a tempo de a rejeitar.

SE O MILITANTE PERCEBER, PODERÁ JOGAR OUTRO JOGO

Se a vida não é um jogo, é uma tremenda chatice.
Se as teorias científicas - para lá de serem a burla que necessariamente são - não se apresentam, ao menos, divertidas, então nada feito.
Acontece que há teorias bacanas, mesmo fascinantes, vindas de culturas fascinantes e há teorias chatas, produzidas por cabeças chatas, cheias de lêndeas, cheirando a mofo, como por exemplo Darwin, Einstein, Egas Moniz , Pavlov, Odum, Norman Borlaug e sua genética da "revolução verde", Pasteur, etc.
Bom funcionário da FAO - que se dedica, como todos sabem, a alimentar a Fome no Mundo - , o Norman Borlaug é muito citado por René Dumont, o agrónomo que anda a ver também se lhe dão o Nobel, ou um pequeno subsídio que o ajude a desenvolver a campanha anti-natalidade. Melhor que o Nobel, agora, é o Prémio Pahalavi.
Também aqui a porca (da Ecologia) torce o seu retorcido rabinho.
Também aqui, no super-maltusianismo evidente, se revela o sofisma mais subtil da nossa época. Atenção...
O RECORDE DESTA CIVILIZAÇÃO: DESTRUIR CIVILIZAÇÕES

Nascendo num contexto real de (autosufi) ciência, a ciência popular é funcionalmente ecológica. Geógrafos há, na Universidade, que classificam as civilizações conforme o meio biofísico onde floresceram. Ainda há gente esperta .
As civilizações do barro e do granito são, por exemplo, estudadas por Orlando Ribeiro na sua "Geografia e Civilização".
A civilização do arroz, do trigo e do milho são também uma classificação corrente.
A civilização solar já é, no entanto, do domínio paracientífico e do realismo fantástico ...
Na ordem de antiguidade, porém, a civilização solar antecedeu as outras, o que coloca o paraíso no passado e não no futuro como querem os evolucionistas da escola Charles Darwin.
Pergunta pertinente: a não ser a Civilização dos 3 M, que outra civilização devemos aos universitárias da ciência ordinária?
A não ser a do carvão, do ferro, do petróleo, do urânio, do papel e do plástico, que de civilização temos nós?
Qual caverna nem meio caverna! Para o eco-militante , é disto que se trata: fundar uma civilização onde, no mínimo, não seja vergonha, vómito ou chatice existir.
Fundar uma civilização, porém, dá um certo trabalho.
Daí, portanto, que um certo folclore com comunidades, hippies, vida fácil e pobre, marginalidade boémia, "on the road" à Kerouac e outras flores nascidas de outros tantos equívocos mais ou menos alucinogénicos, possam ser outro atrazo de vida.
E lá voltamos ao tema: "ópera por dois tostões nunca houve" e construir uma civilização no meio da Morte, da Mentira e da Mistificação, dá trabalho.
Trabalho pertinaz, disciplinado, iniciático.
Em Nyima Zong, nos Alpes franceses, a malta levanta-se às 4 e meia da manhã para às oito já estar a trabalhar no campo, após uma frugal refeição.
Austeridade, vida unitária e comunitária, jejum de palavras ou de arroz, máxima economia bioenergética, tudo isto é uma disciplina de vida tal como a dos nossos ancestros. Quer dizer: em ordem iniciática não há ilusões, fantasmas, sofismas, mentiras. É o realismo ecológico (Michel Bosquet). Não se cria a ninguém ilusões de que viver é fácil, de que alguma vez foi ou será fácil. De que basta carregar num botão, engolir uma pílula, meter um supositório ou injectar-se com uma agulha hipodérmica.
A sociedade de consumo, que promete mundos e fundos, vem afinal afundar o desgraçado na inflação, na recessão, no desemprego, na instabilidade, na miséria, na fome. O que Ivan Illich chama a "modernização da pobreza".
É a esta miséria compulsiva que nos levam. É a esta miséria compulsiva que nos devemos recusar. Em nome de uma necessariamente difícil forma de viver (mas não tormentosa, escrava, alienada, instável, desorganizada e infeliz ) recusamos o folclore das facilidades, a eternidade num saquinho de marijuana e ópera por dois vinténs . É evidente que a eternidade não custa um saquinho de marijuana, custa um pouco diferente: trabalho, sofrimento, esforço criador, uma bioenergia bem administrada, alegria, verdade, um pouco menos de egoísmo, oh irmãos.
Se existe uma ordem do universo e suas leis, o militante sabe que tudo tem o seu preço: e que a felicidade (sendo possível) é acima de tudo saber como transmutar a infelicidade.
Nada de enganos.
Vamos trabalhar um projecto comunitário – mas vamos trabalhar mesmo. Nada vem por um botão, um supositório, uma pílula , um cigarrinho ou uma injecção. Com a inteligência, com o coração, com arte e com ganas, vamos trabalhar.
Como, aliás, fizeram os nossos trisavós que construíram civilizações tão expeditamente destruídas à traulitada por esta civilização cujo maior cometimento histórico foi, de facto destruir civilizações.
É do que ela, mais os portuguesinhos de quinhentos, se podem gabar. É o seu supremo título de glória. E é a colonização mental da ciência ordinária que temos ainda neste momento de gramar.

A ORDEM UNIVERSITÁRIA E A SUBVERSÃO ECOLÓGICA

Ao descobrir a determinante "ecológica" com o nome de “Política do Ambiente”, " Combate Anti-Poluição", "Conservação da Natureza", " Luta pela Qualidade de Vida", etc o sistema revelou-se atento e expedito.
Mostrou que não deixaria o crédito por mãos alheias e que trataria de recuperar a subversão, de modo a neutralizá-la e a canalizá-la, de novo, em seu proveito.
Para lá dos "duros" que continuam a cantar hinos à poluição e às centrais atómicas, espécie de cavernícolas que nem já se usam, eis que a ciência oficial se apressa também a apresentar os seus "cientistas e técnicos de Ambiente."
A estratégia de recuperação ocupa várias fases, que têm vindo a ser metodicamente executadas (metódica e "evangelicamente”) mas uma das mais importantes é a táctica dos sofismas postos a correr, pois nada melhor de que o condicionamento das mentalidades para condicionar tudo o mais.
O sofisma é a arma silenciosa e insidiosa que a ciência ordinária usa, quer para se desculpar de ser intrínseco niilismo, quer para propor plataformas de contemporização às massas (revoltadas) ou às minorias irritadas da contestação e do movimento ecológico.
Entre esses sofismas já denunciámos várias vezes o alegado neutralismo da ciência; mas em consequência directa da alegada neutralidade da ciência e da técnica vem o ecletismo: quer dizer, chegados à 25ª hora, ao momento da verdade, ao pega ou larga, e como a ciência oficial não quer largar, há que propor conciliações com o adversário, quer dizer, com a subversão ecológica.
Surge então um dos problemas mais interessantes da subversão ecológica e consequente construção de uma sociedade alternativa, paralela ou autogestionária.
Surge a pergunta: Essa adopção de energias limpas e tecnologias leves, será um salto qualitativo para a frente ou um retrocesso?
Aí é que a porca (da economia) torce o rabo, quer dizer, aí é que a porca da ciência torce o rabo da ecologia.
Haja o que houver, a ciência não quer ser acusada de reaccionária. Ela vive de ser progressista. Ela vive de impingir evolucionismo a domicílio. Ela vive de seus mitos queridos do futuro, do eden, do ideal, do "cada vez mais e melhor".
Há, portanto, que ter atenção, não vá a Ecologia - movimento já de si suspeitamente conservador - conduzir os cientistas seus simpatizantes a becos reaccionários e desevolucionistas.

Pelo ecletismo - um sofisma entre outros - a ciência ordinária propõe um pacto de progresso, uma "entente" cordial não só com a ciência popular como com a ciência iniciática. No primeiro caso, inventa e Etnografia , no segundo caso o realismo fantástico, as Ciências Ocultas e Paralelas, enfim, todo esse pandemónio de esoterismos à solta agora na moda.
Tudo isto, claro, sem jamais reconhecer que, além dela, existem outras ciências Porque todas as outras ciências acabam por aparecer como ramos e galhos recentes do tronco comum: a Ciência Absoluta. Mas ordinariamente absoluta.
Ora bem: sem jamais, nesse ponto, dar o braço a torcer, sem jamais evidentemente abdicar da sua hegemonia, assistimos então a casos de humor escocês dos mais hilariantes: o projecto do inventor Agnelo David , de Almeirim, para captação de energia das ondas é submetido a rigoroso exame e teste de um grupo catedrático; um grupo catedrático vai, igualmente, liderar a luta anti-nuclear, abarcando sob a sua asa maternal os movimentos e militantes do anti-nuclear; e quanto ao solar e ao eólico, são os laboratórios de ciência quem pode dar o último amen, a derradeira palavra, o imprimatur, o "faça-se" ou fiat lux; sem falar dos livros que os universitárias têm escrito, deslumbrados, a demonstrar que, embora não percebam patavina nem o porquê da energia Ki, eles dão também selo de autenticidade ao Yoga, à acupunctura, à macrobiótica e – hélas! - a outras curiosas quão exóticas práticas lá do Extremo Oriente. Práticas empíricas, claro, e que nada têm a ver com a ciência.
O importante , para a ciência ordinária ou oficial - aquela que mandando na Universidade manda nesta sociedade - é, portanto, continuar a deter a última palavra.
Eles é que decidem a legitimidade da subversão ecológica. Eles é que regulam a greve à sociedade de consumo. Eles é que abrem luz verde ao militante. Eles é que fazem sessões de esclarecimento anti-nuclear às massas de Ferrel. Eles é que cedem um pouca da sua catedrática sapiência em favor dos desprotegidos, do lumpen proletariado intelectual.

Antecipando um pouco as minhas MEMÓRIAS SEM MEMÓRIA, recordo uma.
Ao pronunciar-se sobre um trabalho jornalístico de inquérito ecológico sobre os atentados sobre o ambiente português - coisa que até hoje ninguém fez nem parece vir a fazer-se - um serviço ligado a uma secretaria de Estado que se diz da cultura pôs-me perante esta clara realidade: é possível que aquele trabalho tivesse algum mérito ou interesse. Mas primeiro o senhor Director-Geral reserva-se o direito de o submeter a um "especialista" ou "técnico" da Ecologia.
Tá-se mesmo a ver o que é que o muito especialista em Ecologia ia dizer de um trabalho de subversão e contestação ecológica.
Tá-se mesmo a ver que o diligente "examinando" não poderia jamais passar pelas malhas deste implacável e competente júri.
Tá-se mesmo a ver que destino reserva a ordem universitária a quem pense e decida pensar pela sua própria cabecinha.
Se o examinando está disposto a entrar no jogo, a curvar a espinha, a dizer amen e a mostrar-se rapazinho obediente , ele passa no exame. De contrário, chumba.
Tá-se mesmo a ver que, na tal secretaria de Estado da Cultura, não só me reprovaram o manuscrito sobre OS RIOS PORTUGUESES, ESSA ESPÉCIE EM VIAS DE EXTINÇÃO, como ainda por cima o crivaram de anotações à margem que eu, aliás, religiosamente guardo para a história, embora não saiba quem fez as anotações, como não sei, aliás, o nome e quem, de outras tantas vezes, me censurou, cortou os escritos ecológicos.
Querem todos, portanto, saber se a subversão ecológica nos atira para as cavernas ou se é a contestação e a construção autogestionária de alternativas ao Ecocídio, pelo contrário, a evitar que a Santa Tecnocracia nos atire para muito antes, ainda , da Idade cavernícola.
Estamos todas ansiosos por saber quem é e quem não é reaccionário.
Se é mais progressista adoptar o nuclear, se é mais prá-frentex adoptar a solar, como já fez o presidente Carter.
Mas, acima de tudo, queremos saber quem vai comandar o processo. A quem pertence a hegemonia. De quem vamos receber ordens. Se da "Raiz e Utopia" se da "Frente Ecológica".
Quem é o menino reprovado no exame de Ecologia e quem é o mestre que vai reprovar o Menino.
As universidades novas andam à compita a ver quem toma a frente da maratona.

3º SOFISMA

O catastrofismo (depois de nós, o dilúvio) é o terceiro sofisma da classe cientifística. Fora dela não haveria salvação. Fora dela é o caos. Fora dela ninguém se aguenta. Fora dela é só flores e militantes.
Neste sofisma, porém, é que a ciência ordinária tem vindo a perder terreno, desde que muitos começaram a perceber que o grande salto em frente desta revolução, o grande salto qualitativo desta transmutação, reside precisamente na descoberta das descobertas : HÁ MAIS CÌÊNCIAS ALÉM DA CIÊNCIA ORDINÁRIA e NÃO SÓ A SALVAÇÃO É POSSÍVEL FORA DA CIÊNCIA ORDINÁRIA, COMO ELA SÓ SERÁ POSSÍVEL FORA DA CIÊNCIA ORDINÁRIA,
Não só a ciência popular e a ciência iniciática são diferentes como são melhores. Trinta vezes melhoras.
Hegemonia, se a houver, será da ciência ordinária totalmente submetida à ciência iniciática e esta à ciência popular.
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sabedoria-2> anexo ao file sabedoria-1>

PLACA GIRATÓRIA DOS ANOS 70


24/Maio/2001 - O texto que acabei de digitalizar, com o nome de sabedoria-1>, bem pode ficar como placa giratória dos anos 70. Escrito em 1977, apanha algumas fortes influências, como por exemplo: Nyima Zong, a reportagem em Nisa com o Francisco Sam Pedro, certas raivas contra os universitários , o projecto «Terra do Sol» que não passou do papel, mas, principalmente, a redescoberta das tecnologias populares e da equipa de Jorge Dias: Ernesto de Oliveira, Benjamim Pereira e Fernando Galhano (todos os livros deles, vendi-os ao Instituto do Ambiente) .
Estranhamente, o texto tinha a seguinte dedicatória: «Dedico este ensaio polémico contra a ciência universitária, ao meu amigo Dr. Boaventura Sousa Santos, Professor da Universidade de Coimbra e director da Revista de Estudos Sociais.»
Outros títulos que o texto teria tido: «Da Ecologia à Ordem iniciática, passando pela sabedoria popular.» «Em Louvor da Ciência que o Povo Ensina», «Manifesto ecológico pela ciência das ciências (ciência iniciática)», « Manifesto contra a ciência universitária, oficial ou ordinária.»
Surgem neste texto palavras e expressões que seriam, na época, decisivas para as futuras posições do autor:
Alternativas ao ecocídio
Catastrofismo (depois de nós, o dilúvio)
Ciência dialéctica do futuro, a ecologia
Ciência iniciática
Ciência popular
Civilizações solares
Ecletismo
Economia de austeridade
Energia das marés
Energia das ondas
Energia geotérmica
Energias limpas
Eucalipto
Evolucionismo darwiniano
Gás metano
Greve dos consumos
Leitura ecológica
Lumpen proletariado intelectual
Luz Primordial
Militante da dialéctica
Militante do futuro
Militante radical
Mitologia universitária
Sociedade alternativa, paralela ou autogestionária
Subversão ecológica
Táctica dos sofismas
Tecnologias leves
Vida comunitária ■

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A IDEIA ECOLÓGICA AC

silencios-1-5- terça-feira, 1 de Junho de 2010

1-4 - súmula-1-ie-et; ideia ecológica do afonso – entrevista testamento - Síntese das sínteses – os dossiês do silêncio – itens do prefácio – chave ac – 1982/83 - Segunda-feira, 21 de Julho de 2003


«OS DOSSIÊS DO SILÊNCIO»

ITENS PARA O PREFÁCIO

28-04-2001 - As listagens que passei no scanner e a seguir imprimi, servem de recapitulação de matéria dada até 1982/1983, data provável deste empreendimento que classifiquei, no original, como síntese das sínteses, espécie de súmula ecológica do que fui debitando na Crónica do Planeta Terra. Para um desmemoriado como eu, serve também (e muito bem) para me ir lembrando de alguns nomes-chave, de algumas datas e até de algumas CPT mais dignas de serem passadas no scanner. Serve também como panorama dos itens que deverei contemplar no possível prefácio-resumo do livro a que (quase definitivo) chamarei «Os Dossiês do Silêncio» . É o que melhor encaixa num conjunto heterogéneo: ou então, «Diário de um Idiota» (mais geral) ou Mein Kampf (mais geral ainda). Não esquecer que a holística e o consumidor de medicinas, bem como os yin-yang serão volumes à parte e em parte já mais avançados do que este «Os Dossiês do Silêncio» que só agora, com o scanner, me encorajei a fazer. Sabe-se lá quando perderei a coragem: são 10 anos, todas as semanas, de CPT (Crónica do Planeta Terra): é muita CPT para a minha camioneta.


ACUSAÇÕES (QUASE SEMPRE IMPLÍCITAS) À ECOLOGIA HUMANA

Denunciando a face infernal do paraíso tecnológico e industrial, a Ecologia Humana é irritante e enfadonha, desmancha-prazeres face à opinião pública.

Chegando à fase do "facto consumado", quando as novas tecnologias se verificam finalmente poluentes mas entretanto já invadiram todos os locais habitados, a Ecologia Humana limita-se a inventariar os malefícios dos benefícios tecnológicos, pelo que é também assimilada com a imagem/metáfora do conformismo, "sopas depois de almoço".
Nada podendo fazer para inverter ou substituir uma situação irreversível , a Ecologia Humana é muitas vezes vista como conivente com os padrões da sociedade industrial.

Ao apontar a face infernal do paraíso tecnológico, a Ecologia Humana é irremediavelmente considerada reaccionária e impopular, funcionando como inimiga do trabalhador e até do movimento sindical, já que só prevê doenças e desgraças onde, até agora, por via de as ignorar, o trabalhador supunha ver só saúde e segurança.

Ao fixar como seus laboratórios experimentais, as datas negras de Hiroxima, Seveso, Three Mile Island, Chernobyl, Bophal etc. a Ecologia Humana cria fama de agoirenta e de só reter a parte negra da realidade. E de ser, é claro, contra o Progresso.

Com efeito, a Ecologia Humana como ciência, só pode experimentar as suas leis quando os desastres industriais acontecem: é natural que a considerem necrófoga e, além do mais, sádica, e que muitos dos desastres possam mesmo ser atribuídos a ecologistas militantes que os provocariam para a Ecologia Humana, como ciência , progredir.

COMPONENTES DA ABJECÇÃO
A marca irreversível e totalitária das chamadas inovações tecnológicas, que só se reconhecem poluentes e prejudiciais depois de terem invadido o Planeta
A doença de todas as doenças chamada Trabalho
O sistema que vive de ir matando os ecossistemas
O efeito-estufa dos discursos oficiais dominantes emanados de poderosas organizações internacionais (sem brecha) como: OMS, FAO, OMM, UNESCO

AS ILUSÕES DO APOCALIPSE

1ª ilusão - A tecnologia pesada e poluente resolve todos os problemas

2ª ilusão - Os seres vivos podem ser indefinidamente escravizados, espoliados e enganados

3ª ilusão - Os combustíveis fósseis são inesgotáveis como inesgotáveis são os recursos naturais renováveis da Biosfera

4ª ilusão - Não há limites para o crescimento industrial e económico, o desenvolvimento é infinito, exponencial e logarítmico

5ª ilusão - A ciência experimental - espécie de alta autoridade de última instância - incarna o dogma e representa a verdade absoluta


AS PRAGAS DO APOCALIPSE

A desinformação da Informação
A economia baseada no desperdício
A medicina que provoca doenças
A energia nuclear que gasta mais electricidade do que aquela que produz
A radioactividade que trata cancros provocados por radioactividade
Os radioisótopos usados em estudos de Ecologia experimental
O acidente máximo impossível que já foi possível várias vezes em 10 anos
O falado progresso que se caracteriza por taxas de suicídio à média de um por dia (Japão, ver eco datado 80)


REGRAS DE FUNCIONAMENTO DA ABJECÇÃO

O sistema só reage e toma medidas contra qualquer fenómeno de biocídio (morte rodoviária, por exemplo) quando esse fenómeno começa a pesar no Orçamento de Estado ou nos lucros das empresas (e) seguradores.
(Ver CPT, "As Outras Olimpíadas", 22.3.80)

TRUQUES DO DISCURSO TECNO-ABJECTOCRATA:

O truque do eufemismo ( poluição em vez da palavra "merda", por exemplo)
O truque da controvérsia para discutir o facto declarado (nuclear, pesticida, antibiótico, etc.)
O truque do segredo de Estado para escamotear informação sobre o factor etnocida que dizima a humanidade
O truque do preço a pagar pelo que chamam eufemisticamente progresso
O truque do "não fomos nós foram os comunistas" ou "não fomos nós , foram os americanos"
O truque de caricaturar o realismo ecologista (o único irredutível a caricaturas) sob a forma dos seus diversos equívocos (ambientalismo, escutismo, amor à Natureza, defesa do património, protecção das espécies, anti-lixo urbano, anti-poluição, etc.)
O truque de considerar a priori "impossível" o acidente máximo possível
O truque "democrático" (entre aspas) dos referendos manipulados pelo poder
O truque de silenciar factos, para que os factos assim não existam

CRISE PLANETÁRIA-VECTORES PRINCIPAIS

guerra dos cereais
" do clima
" da chuva manipulada
“ sísmica
" da mega-engenharia
" dos tufões modificados
" da desarborização (chuva ácida)
" da fome provocada
“ química
“ biológica
“ da engenharia genética


CRISE PLANETÁRIA-GRANDES REGIÕES DA BIOSFERA EM ESTADO CRÍTICO:

Amazónia
Antárctida
Aveiro
Falha de Santo André
Mar do Norte
Mediterrâneo
Pântanos de Foz
Setúbal
Sines

A CRISE PLANETÁRIA - LINHAS DE ARRUMAÇÃO (SACOS-DOSSIÊS)

Apocalipse
Balanços do Fim
Biocídio
Bophal
Cenários 2000
Chernobyl
Datas de Ecologia Humana
Datas-desastre - 1980
Datas-desastre - Notícias
Datas-Desastre (Fotos)
Desastres Industriais
Espanha 82
Etnocídio
Explosões
Filmes-desastre
Fugas-Radiações
Hamburgo 84
Hiroxima
Horror (Imagens)
Ixtoc Um
Love Canal
Megaplanos
Oceano assassinado
Ozono
Reactores-acidentes
Recursos naturais
Referendos s/ nuclear
Sahel
Sindroma sísmico
Three Mile Island
Vietname
+

1-2-silêncios-1-ac

PARA UMA ANTOLOGIA DA ASNEIRA AC


Os sismos provocados pelos testes subterrâneos com bombas termonucleares, em países como ex-URSS, EUA, França, são outro aspecto do nuclear que, omisso das preocupações ecologistas já no tempo de Ferrel, omisso continuará até à consumação dos séculos (tratando-se de radiações, é essa a escala de tempo...). (19-1-1998)
+
Falando de Bionergia, perguntem ao sr Afonso Cautela que conversa de surdos, na travessa-do-fala-só, têm sido os milhares de páginas escritas sobre o assunto: e o que irá ser dessa aventura que, depois da ecologia e da holística, se configura agora como a física ou energética do espírito: a Noologia, ciência das 12 ciências sagradas?
Relativamente vitoriosa saiu a bioenergética chinesa do yin-yang, não só pela sua vetusta antiguidade mas porque o sistema taoísta pode constituir, só por si, uma autêntica alternativa de vida aos becos sem saída ocidentais.
Por mais que, a propósito de bioenergia, se fale de uma «ecologia alargada» - onde o factor cósmico e vibratório entre como protagonista de toda a evolução humana - os ouvidos permanecem surdos, tal como há vinte anos os que intransigentemente se entricheiravam no absurdo das centrais nucleares em geral e na de Ferrel em particular. (19-1-1998)
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17/1/1992 - [mais alguns temas proibidos e tabus sobre os quais recai naturalmente o silêncio - dentro da ecologia em geral, assunto já de si pouco popular, a ecologia humana é ainda mais tabu e, dentro desta, a ecologia do trabalho e, dentro desta, o cancro ocupacional ou a iatrogénese, por exemplo]
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15/5/1992 - Semana de trabalho de trinta horas e reforma antecipada não só como direito fundamental do homem mas até e principalmente como forma de combater o (famigerado) desemprego, é uma medida tecnicamente possível, desde já, e que pode ser «implementada» (e que deveria ser implementada), concorrendo para neutralizar a exaltada demagogia dos partidos que falam em desemprego e em «dar oportunidade aos jovens». A melhor forma de dar lugar aos jovens, é dar a reforma, o mais cedo possível, aos velhos e não retardá-la até aos limites do inverosímil . Acabando com os actuais horários - ainda em vigor em países de vocação dantesca como Portugal - acabar-se-ia com a demagogia do desemprego, e particularmente do desemprego juvenil. que o poder tem interesse em manter, evidentemente, mas que tecnicamente se pode resolver e de uma penada [: trata-se muito simplesmente de reduzir a «pena maior» do trabalho forçado por penas menores e mais aliviadas]
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O desemprego - tal como a poluição, a guerra, a fome, o cancro, a inflação, o bairro da lata, a desabitação - não é um acidente de percurso mas uma componente estrutural do sistema que vive matando os ecossistemas.
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Os movimentos sociais portugueses foram pura e simplesmente sorvidos pela gula insaciável das máquinas partidárias (19-11-1983)
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files ac em destaque:
paz-1
biomassa; - 28-11-1981

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1-2 - silencios-3-ac-jl; para googlar com proveito e desvantagem

29 TÍTULOS AC QUE TALVEZ ESTEJAM NA NET

11 milhões de eucaliptos na serra de Ossa
A cidade morreu, viva o campo
A desinformação da informação
A economia baseada no desperdício
A economia macrobiótica : nova ordem alimentar à escala mundial
A energia nuclear (que) gasta mais electricidade do que produz
A guerra climática contra a humanidade
A manipulação de chuvas ou «precipitação provocada»
A manipulação do homem pelo homem
A medicina que provoca doenças
Alqueva na paz das consciências
Arboricídio e Pirotragédia
Árvores de protecção mais ameaçadas : sobreiro e oliveira
Desperdício, nosso principal recurso energético
Eucalipto hoje, deserto amanhã
Hiroxima e Nagasaki: Laboratórios de Ecologia Humana
Macrocefalia: fenómeno totalitário do sistema
Medicina sintomática e lógica causal: a doença está no ambiente
Menos horas de trabalho, mais desemprego
Metais pesados na rota do Cancro
Imbróglio celulósico-florestal
Megagigantismo – tema pessoal e intransmissível
Sindroma sísmico nuclear
Os movimentos sociais empalmados pelas máquinas partidárias
Os retrocessos do Progresso
Os tecelões da Liberdade
Para que uma política de Saúde não seja uma política de doença
Pequeno manifesto sobre o Átomo Pacífico
Provocar chuvas e manipular climas
+
1-2 - silencios - 4-ac-jl>

88-10-29; trabalho-6; os dossiês do silêncio – ideias para o novo milénio – ecologia e trabalho - VI

A ESCASSEZ FABRICADA(*)

(*) Publicado no jornal «A Capital», ( Crónica do Planeta Terra), 29/10/1988

29/10/1988 - Inimaginável, há poucos anos, era que o tempo, esse imponderável, esse bem gratuito, universal e eterno, tivesse dono.
Os proprietários do tempo, aliás, são tão inimagináveis como os da água, do ar, da natureza, da energia solar, bens gratuitos, todos eles, mas que se tornaram em poucos anos propriedade privada dos que os exploram.
Como sempre distraídos, os alegados ecologistas ainda não tiveram tempo de ler Michel Bosquet, o nome que André Gorz utilizou para falar dos temas iconoclastas, para radicalizar à esquerda a análise crítica da engrenagem tecno-burocrática.
Também, em séculos mais recuados era inimaginável que a palavra "exploração" fosse alguma coisa mais do que uma aventura bem sucedida nos confins da Natureza ( oceano, deserto, floresta tropical, pólos) e no entanto a palavra "exploração" hoje está carregada de conotações classistas: a exploração do homem pelo homem tornou-se lugar comum e a luta de classes, como se sabe, é o principal deformador do sentido etimológico das palavras, no sentido favorável da classe dominante.
Explorar o espaço, o tempo, a natureza, a energia, a água, o ar, o sol, já se tornou assim lugar-comum deste "tempo-e-mundo", onde a escassez fabricada dos bens à partida gratuitos e universais, determina a breve prazo a sua gestão em termos de rarefacção capitalista.
Talvez o espanto não se justifique, entretanto, agora que surgem os "donos do tempo", até porque, por enquanto, se trata de uma metáfora, aliás simpática, de uma simpática firma de ar condicionado...
Quem primeiro chega, primeiro se avia, e os "donos do tempo", com esta metáfora risonha, estão apenas a sugerir uma realidade não metafórica e já implícita nos procedimentos bem reais e violentos da actualidade laboral.
Como se sabe, um dos primeiros bens gratuitos e naturais a ser "apropriado" - a terra - , constitui afinal o paradigma de todas as posteriores apropriações. Por isso, as chamadas tecnologias apropriadas são hoje a chave para nos libertarmos de escravidões seculares, mostrando que a exploração do homem pelo homem é indesligável da exploração da Natureza e da manipulação do homem pelo homem.
Tão antigo é o fenómeno da "terra como propriedade privada" que a história se construiu praticamente sobre esse truque sublime dos primeiros descendentes de Adão e Eva... Houve mesmo quem proclamasse , com base em S. Tomás de Aquino, que a posse da terra era um fenómeno tão natural e congénito como a cor dos olhos.
A luta dos descamisados pela posse de um centímetro de terra ensanguentou épocas e países inteiros. Às vezes e em circunstâncias particulares, há mesmo mortais que nem sequer ao palmo e meio de terra, o necessário "caixão pra cova", têm direito, como lembra na canção do Nordestino "Morte e Vida Severina", o João Cabral de Melo Neto, para quem o caixão era o latifúndio.
E pronto: aí está a abominável palavra "latifúndio", que se desgastou, depois do 25 de Abril, tornando-se inaudível. Latifúndio, no entanto, como João Cabral de Melo Neto nos conta em "Morte e Vida Severina" , exprime a imensidão da miséria, o abominável da exploração, o cancro que eterniza o "apodrecimento da história" (Lenine).
A famigerada "aceleração da história" e a não menos famigerada "complexidade dos tempos actuais", leit motiv dos divulgadores de terceira (vaga) como Alvin Toffler, talvez resida afinal e principalmente aí: às apropriações clássicas da terra e do trabalho, que desapossaram o indivíduo das suas técnicas de libertação, seguiram-se as apropriações do que era até então inimaginável de ser apropriado, antes da providencial crise ecológica surgir: no que monta aos bens físicos da Natureza, o sol, a água, o ar puro, a harmonia da paisagem, etc.; no que monta aos bens invisíveis, a apropriação das almas, dos sentimentos, das emoções, dos afectos, das inteligências, das vontades, acelerou-se com a "manipulação do homem pelo homem", com a propaganda e a publicidade, o fenómeno mais espectacular do século XX, bem descrito por Jacques Ellul na ''Histoire de la Propagande'' e por Jean Marie Domenach, ensaísta da revista "Esprit", no livro "Propaganda Política".

"Política do Espírito" lhe chamava António Ferro e nunca um slogan político foi tão verdadeiro.
De facto, nunca se viu política do espírito tão perfeita como a "manipulação do homem pelo homem" operada pelos peritos do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) mais tarde Secretariado Nacional de Informação (para aliviar consciências) e mais tarde ainda "mass media", etc.
Mergulhados todos neste magma, submersos pelo oceano da informação, feitos "homem unidimensional", só se conhece um antídoto contra o cerco: a cabeça que produza ideias. Mas não chegou o português ao ponto mais baixo do conformismo, da apatia e da resignação calada?
Essa é pelo menos a tese de Vasco Pulido Valente, na crónica d' «O Independente» (14.10.1988). Para este cronista ilustre da actualidade política, estamos atolados no pântano da nossa autodegradação, sem sequer dizer ai, com medo de dizer ui.
Ora como Vasco Pulido Valente é dos que pensam com ideias - coisa rara e já tão pouco vista - são de registar as suas palavras, que a posteridade talvez possa confirmar como o aviso solene e dramático feito, in extremis, aos portugueses, para que readquiram rapidamente a sua identidade, sob pena de aniquilação total. Ou sob a designação astuta de «integração europeia».
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(*) Publicado no jornal «A Capital», ( Crónica do Planeta Terra), 29/10/1988
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1-5-
<90-10-29> 17236 caracteres -«vida & natureza»: «know-how» inédito e estritamente confidencial] intuições de ecologia humana (holística) em 1975-1980 - sebenta nova naturologia - dcmanos70

PARA QUE UMA POLÍTICA DE SAÚDE
NÃO SEJA UMA POLÍTICA DE DOENÇA


[Este texto chegou a ser proposto à candidatura presidencial de Otelo [em que data foi?] Apesar dos cortes já efectuados, o texto, até agora inédito, (29/10/1990), tem resquícios ainda de um radicalismo contemporâneo da época «revolucionária» em que foi escrito.]

 ALGUMAS CONDIÇÕES SINE QUA NON
 SAÚDE E AMBIENTE:PEDRA DE TOQUE DE UMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
 PREMISSAS DEMOCRÁTICAS(QUER DIZER:ECOLÓGICAS) DE UMA POLÍTICA DE SAÚDE

29/10/1990 - Pedra de toque de uma Democracia, pela política de saúde se conhecem os partidos e governos. Sendo a actual política a que se chama de saúde apenas uma política da doença (de aparente combate à doença) pode imaginar-se o estado em que continua a encontrar-se a nossa democracia.
Pedra de toque da mentalidade que anima a classe política, as elites dirigentes e os respectivos e vigentes discursos, terá de se concluir, com alguma tristeza, pelo trogloditismo inerente a esse discurso, a essa classe, a essa elite, a essa política.
Todos eles, no fundo, andam empenhados no «combate à doença» - menos empenhados, mesmo assim, do que nos querem fazer crer - combate esse que pressupõe deixar proliferar primeiro aquilo que depois se vai, bombeiralmente, combater. E nunca se acaba o combate, nunca se acaba a guerra. Uma vez por outra, o Estado, através da chamada Segurança Social, através da chamada Comunicação social, diz que a «saúde está caríssima». Mas o que está caríssimo, excelentíssimas excelências, são os medicamentos, porque as multinacionais farmacêuticas não são parvas, não perdoam, e fazem elas muito bem. Aproveitam-se. Agora que os medicamentos e as multinacionais farmacêuticas não têm nada a ver com saúde, é mais que óbvio e notório. Não é, pois, a saúde que está cara. O que está caro e nos sai dos bolsos de contribuintes pategos é a estupidez dos políticos coadjuvados pela esperteza das multinacionais farmacêuticas.
Esta política bombeiral de saúde revela assim a mentalidade vigente nas grandes e pequenas opções propostas ao eleitorado, onde a sintomatologia, o reformismo, as sopas depois do almoço fazem regra.

PARÂMETROS ECOLÓGICOS

Política de saúde que não entre em linha de conta com os parâmetros ecológicos e ambientais da higiene, da profilaxia e da prevenção é, de facto, um absurdo. Um grotesco absurdo. É que, perante um sintoma - a que chamam doença - manda a lógica que se faça o diagnóstico para indagar das causas que produzem os efeitos chamados sintomas, chamados doenças. Ora sendo hoje ambiental a causa predominante das doenças, impunha-se, antes de mais nada, uma despistagem desses factores ambientais, se por acaso na política se funcionasse lógica e cientificamente. Ou pouco mais ou menos. Mas despistagem ambiental da doença é matéria que todos os profissionais da «saúde» continuam, prudentemente, ignorando. O mais lógico, conveniente e económico - se alguma coisa fosse lógica neste reino - seria, pois, conservar a saúde enquanto ela existe e não esperar pela doença para a combater. Ora para conservar a saúde não é preciso gastar grandes verbas, há apenas que fazer stop, já, aos múltiplos factores endógenos e exógenos que a degradam - os factores que «fabricam» doenças - a começar nos políticos obtusos que são uma das principais causas de morte, toxicose e doença em Portugal.
Uma política de saúde que não pressuponha uma política do ambiente é assim uma caricatura e uma invenção paranóica. Como o programa de política de saúde de todos os partidos ilustra.

CONDIÇÕES SINE QUA NON

Não há política de saúde sem levar em consideração o poder de pressão exercido no sector médico pelos monopólios que de raiz comprometem e alienam a saúde: as indústrias químico-farmacêuticas, açucareira e alimentar (o «agrobusiness»), são as que mais substancialmente contribuem para uma degeneração acentuada da saúde pública.
Não há política de saúde sem infraestruturas sanitárias de base (sobre as quais as populações possam exercer total controle), sem condições higiénicas mínimas, sem modificação estrutural de uma política de construção habitacional totalmente ao serviço das classes até agora exploradas.
Não há política de saúde, também, sem abrandamento das tensões produzidas pela divisão e luta de classes, pelo mundo concentracionário das cidades, pelo stress do trabalho, pelas violências e alienações da máquina de consumo e da máquina publicitária anexa.
Não há política de saúde sem uma política radical de descentralização do povoamento (uma política agrícola de repovoamento rural, sem mitos tecnocráticos) e a progressiva eliminação dos cancros urbanos.
Não há política de saúde sem uma política agrícola de base ecológica, cujo primeiro efeito é atrair maior número de braços ao campo (e novos postos de trabalho) e cujos objectivos sejam efectivamente alimentar bocas, em vez de atingir metas de produção impostas pelos padrões euroimperialistas das OCDE e CEE. Quer dizer: não há política de saúde sem que se defina como prioridade a qualidade nutritiva dos produtos retirados da terra, ainda que em detrimento (mas não fatalmente) da quantidade produzida.
Não há política de saúde sem uma política educativa que reconverta os meios de comunicação social - venenos da opinião - em escolas abertas, sem uma política educativa que destine parte importante da aprendizagem básica às técnicas autocurativas e de autosuficiência, à educação alimentar, ao autodiagnóstico e às técnicas de autoconhecimento e autorealização (biofísica e biopsíquica), enfim, à descolonização do doente [ factor preponderante da descolonização cultural que uma revolução implica.]
Não há política de saúde baseada exclusivamente no «combate à doença». Uma política de saúde, por definição, será radical e prioritariamente preventiva, no sentido mais científico, preparando todas as condições para que a doença não ecluda e para que a população conserve o seu capital natural de saúde, só em última instância havendo que recorrer à medicina sintomática, em casos crónicos ou herdados de anteriores situações sociais anómalas (degradadas), mas sem jamais admitir a exploração do homem pelo homem, do doente pelo médico.
Será preventiva, também, num sentido totalmente diferente daquele em que a política de vacinação actual é considerada a única medicina preventiva.
[Ao reescrever este texto, em 30/Outubro/1990, constato que as afirmações nele feitas permanecem válidas mas, tal como quando foram escritas, utópicas. De facto, uma política de saúde que não seja uma política de combate à doença, é condicionada por uma série de outras políticas - agrícola, ambiental, educativa, económica, social - e só existe, só faz sentido se elas de facto existirem e se funcionar em consonância com elas: uma política de saúde, na prática, é decorrência de outras políticas.
Como esta harmonia de vários ministérios é impensável em qualquer governo do mundo, concluir-se-á que em nenhum país do mundo existe uma política de saúde e que ela é, portanto, utópica.
Mas não é tão utópica como isso, se, entretanto, o conceito de sociedade paralela ou sector alternativo da sociedade for introduzido. No dia em que um governo conseguir adoptar uma política de saúde, é porque os parâmetros ecológicos assumiram a predominância e foram estabelecidos como prioritários e não os da economia, da produtividade, da quantidade ou do número. No dia em que a qualidade (de vida) for de facto a prioridade de qualquer governo, teremos a almejada política de saúde. Só que não é previsível um governo com capacidade de manobra para se desembaraçar de todas as pressões dos «lobbies» que vão vivendo de matar, vão ganhando lucros com a proliferação da doença, vão enriquecendo com o definhamento e degeneração das populações.
Uma única esperança existe de que esta situação tenda a inverter-se: é que a doença hoje trepa a todas as classes e quando atingir em cheio a classe dos lobbies, talvez os filhos, as esposas dos poderosos os convençam a desistir de pressionar governos a favor das suas indústrias de morte e doença.]

PREMISSAS DEMOCRÁTICAS

Uma política de saúde em democracia pluralista, dará prioridade às condições de habitabilidade, não só no aspecto de alojamento (direito e garantia de) mas no da higiene urbana ou rural, providenciando para que todos os focos de contaminação (lixeiras, pocilgas, esgotos) sejam eliminados, sujeitando-os a rigorosa e pormenorizada regulamentação legal.
Uma política de saúde de base democrática dará às populações e ao poder local um papel preponderante no controle da poluição ambiente, tornando-as activas e organizadas não só no acondicionamento dos lixos mas na selecção de detritos que conduzam, por sua vez, a uma política económica de reciclagem sistemática de materiais, quer orgânicos e biodegradáveis, quer de origem celulósica (papel), quer de origem química (plásticos).
Essa actividade local [do poder popular], porém, será enquadrada por legislação de âmbito nacional, a que corresponda uma clara política sanitária. Estações centrais de tratamento (por incineração ou outros processos postos à prova pela experiência) de lixos serão criadas pelo poder central, sempre que as pequenas unidades de autoconstrução por iniciativa local não satisfaçam as necessidades da respectiva densidade populacional.
Uma política de saúde não pode esquecer que muitos dos problemas criados por condições anti-higiénicas são especificamente de ordem social e decorrem das condições aviltantes em que a população é obrigada a habitar.
Uma política de saúde é, por isso, automatica e grandemente estimulada pela modificação das condições gerais de vida em que as populações pobres se encontram enquanto classe explorada. Mas terá ainda que ser «construída» na parte positiva da Reciclagem e Reaproveitamento.
Para lá dos lixos domésticos, cuja recolha, selecção e reciclagem será um problema de política local,
Para lá dos esgotos urbanos e seu tratamento, que será um problema de política inter-regional,
Para lá de uma política económica de reciclagem e reaproveitamento sistemático que enquadrará todas essas políticas regionais e inter-regionais,
há o propósito de assumir o mesmo critério de reciclagem para casos como o da sucata automóvel ( a remover e a centralizar em parques fechados de âmbito provincial e inter-provincial, através de campanhas que, emanadas do poder central, receberiam ânimo e apoio das populações, agentes activos dessas campanhas).

AUTODEFESA DO CONSUMIDOR

Sem esquecer que a violência exercida sobre o consumidor é inerente à violência de uma sociedade dividida em classes, acreditamos que é possível, desde já, uma consciência cívica cada vez mais desperta que vá tornando inviáveis e caducos os aspectos mais ostensivos da opressão que a máquina do poder exerce sobre o consumidor: as vacinas e a pílula anticoncepcional seriam duas dessa violências.
Movimentos que visem reconverter os consumos em termos de economia ecológica, suprimindo supérfluos e valorizando o fundamental, terão que ser energicamente incentivados pelo poder central e as populações orientadas para seguir a mais correcta política de consumos,[ destruída que seja a infernal máquina publicitária, substituída então por uma verdadeira escola em que os meios de comunicação social terão que se transformar.]
Não há política alimentar que sirva o consumidor sem a destruição dos monopólios[????] que dirigem os consumos em geral e os consumos alimentares em particular, para objectivos que tenham apenas em vista os lucros das empresas, a eles imolando o interesse, a saúde, a segurança e a economia do consumidor.
Não há política alimentar sem uma concepção definida do alimento principal e sem uma dieta declarada pela experiência como a dieta simultaneamente mais completa, económica, nutritiva e saudável.
Neste sentido, uma política alimentar de base democrática dará apoio e fomentará movimentos que, já organizados, têm provas dadas pela experiência, no campo de uma alimentação mais racional, saudável e conservadora [?] das condições de saúde.

SEGURANÇA QUOTIDIANA

Desde o quotidiano de ruas e estradas (que dão o maior contingente de mortos e estropiados ao País, depois da guerra colonial) até às «unidades de alto risco» como centrais nucleares, gasómetros no meio da cidade, indústrias explosivas, etc,. a insegurança não deixa de constituir uma constante da sociedade de violência que tem nela, além do mais, um factor de guerra de nervos. Não deixa também a insegurança de constituir um factor condicionante da qualidade de vida da população e, no campo dos postos de trabalho, um assunto perfeitamente tabu para todas as correntes políticas, incluindo as de esquerda.
As medidas adoptadas sob o nome de segurança, ou são comandadas por objectivos meramente propagandísticos (a campanha «circular é viver», por exemplo) ou não passam, quase sempre, de remendos num pano totalmente esburacado.
Se a segurança, em bairros de habitação degradada, já não é um problema de ambiente por ser antes um problema de desigualdades sociais, eis que no caso das indústrias com graves problemas de insegurança, é já um problema de política e planificação económica global, que não sacrifique o concreto das vidas humanas ao abstracto de congeminações, fantasmas, mitos e lucros em que o tecnocrata político se confina.

URGÊNCIAS

É urgente lembrar a importância de uma política de saúde como vector fundamental de uma ética política e de um Estado de Direito. É urgente, pois:
- Que as instituições de saúde respondam claramente ao desafio posto pelas chamadas «doenças da civilização», ao respectivo diagnóstico ecológico e às respectivas terapêuticas naturais/causais adequadas
- Que as elites governantes, especialmente no campo médico, desfossilizem as suas posições, abdiquem do seu trogloditismo nato e vejam que é vanguarda europeia dar atenção aos métodos ecológicos de conservar a saúde, muito mais económicos para o orçamento geral do Estado do que o famigerado combate à doença
- [Que se ponha cobro ao escândalo do pão-borracha, à sua inferior qualidade, aos vários produtos químicos que, ilegal ou legalmente, se adicionam no seu fabrico]
- Que se tomem a sério medidas, até agora raras e tímidas, para a diversificação de horários em Lisboa e localidades onde o congestionamento de tráfego é também um factor determinante da saúde pública;
- Que se ponham imediatamente a funcionar as «comissões de gestão do ar», criadas por decreto-lei 255/80, de 30 de Julho, e cujo adiamento é mais um sinal do comprovado desprezo pela saúde pública, quando o dilema for entre saúde e interesses corporativos de uma determinada indústria
- Que os esquemas de previdência [segurança social] cubram imediatamente os tratamentos e terapêuticas naturais/causais, como acupunctura, homeopatia, etc.
- Que se dê apoio a cooperativas de medicina tradicional chinesa
- Que se reformule a chamada política de saúde e que mais não tem sido do que política de [promoção da]doença
- Que seja posta em prática uma política de agricultura biológica, introduzindo gradualmente projectos-piloto viáveis, campos experimentais, zonas de produção alternativa, para que experimentalmente se verifiquem os princípios e métodos defendidos pelos ecologistas realistas, na certeza de que maior produtividade só será conseguida, a médio e longo prezo, pela defesa biológica dos solos, obviando à sistemática esterilização provocada pela hecatombe química

MOÇÃO CONTRA O RUÍDO

Considerando que o ruído, para lá dos prejuízos já verificados sobre a saúde mental e psíquica dos cidadãos, é um factor inenarrável de embrutecimento e aviltamento quotidiano,
Considerando que há ruídos perfeitamente desnecessários, que nem sequer têm a desculpá-los serem provocados por qualquer serviço considerado de utilidade pública,
Considerando que a indústria dos motores de explosão parece interessada em corromper a saúde mental [de todo um povo] das populações,
Considerando a falta de «vontade política» e de medidas enérgicas que as entidades responsáveis pela ordem e pela saúde públicas têm manifestado relativamente ao flagelo do ruído e outros flagelos do ambiente português,
Considerando a timidez e ineficácia das campanhas levadas a efeito até agora, por entidades que não parecem muito interessadas em debelar a violência nazifascista da poluição acústica e seus principais responsáveis,
declaramos que uma política de saúde e de qualidade de vida deve ter, como pedra de toque e na sua lista de prioridades, um controle enérgico sobre todos os focos de poluição acústica, que, por sua vez, é índice nítido do nível de civilização e civismo da populações e do grau de subtileza qualitativa que uma democracia se mostra capaz de atingir.
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[Este texto foi (parcialmente) publicado na «Revista Alentejana», editada pela Casa do Alentejo?
Para efeito de eventual publicação em anexo de um volume sobre o «movimento ecológico - uma polémica amigável - diário de um jornalista», é importante saber se teve a contraprova da publicação.
De que data ou época foi a campanha de segurança rodoviária «circular é viver», citada no texto?]
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