1-4 - súmula-1-ie-et; ideia ecológica do afonso – entrevista testamento - Síntese das sínteses – os dossiês do silêncio – itens do prefácio – chave ac – 1982/83 - Segunda-feira, 21 de Julho de 2003
«OS DOSSIÊS DO SILÊNCIO»
ITENS PARA O PREFÁCIO
28-04-2001 - As listagens que passei no scanner e a seguir imprimi, servem de recapitulação de matéria dada até 1982/1983, data provável deste empreendimento que classifiquei, no original, como síntese das sínteses, espécie de súmula ecológica do que fui debitando na Crónica do Planeta Terra. Para um desmemoriado como eu, serve também (e muito bem) para me ir lembrando de alguns nomes-chave, de algumas datas e até de algumas CPT mais dignas de serem passadas no scanner. Serve também como panorama dos itens que deverei contemplar no possível prefácio-resumo do livro a que (quase definitivo) chamarei «Os Dossiês do Silêncio» . É o que melhor encaixa num conjunto heterogéneo: ou então, «Diário de um Idiota» (mais geral) ou Mein Kampf (mais geral ainda). Não esquecer que a holística e o consumidor de medicinas, bem como os yin-yang serão volumes à parte e em parte já mais avançados do que este «Os Dossiês do Silêncio» que só agora, com o scanner, me encorajei a fazer. Sabe-se lá quando perderei a coragem: são 10 anos, todas as semanas, de CPT (Crónica do Planeta Terra): é muita CPT para a minha camioneta.
ACUSAÇÕES (QUASE SEMPRE IMPLÍCITAS) À ECOLOGIA HUMANA
Denunciando a face infernal do paraíso tecnológico e industrial, a Ecologia Humana é irritante e enfadonha, desmancha-prazeres face à opinião pública.
Chegando à fase do "facto consumado", quando as novas tecnologias se verificam finalmente poluentes mas entretanto já invadiram todos os locais habitados, a Ecologia Humana limita-se a inventariar os malefícios dos benefícios tecnológicos, pelo que é também assimilada com a imagem/metáfora do conformismo, "sopas depois de almoço".
Nada podendo fazer para inverter ou substituir uma situação irreversível , a Ecologia Humana é muitas vezes vista como conivente com os padrões da sociedade industrial.
Ao apontar a face infernal do paraíso tecnológico, a Ecologia Humana é irremediavelmente considerada reaccionária e impopular, funcionando como inimiga do trabalhador e até do movimento sindical, já que só prevê doenças e desgraças onde, até agora, por via de as ignorar, o trabalhador supunha ver só saúde e segurança.
Ao fixar como seus laboratórios experimentais, as datas negras de Hiroxima, Seveso, Three Mile Island, Chernobyl, Bophal etc. a Ecologia Humana cria fama de agoirenta e de só reter a parte negra da realidade. E de ser, é claro, contra o Progresso.
Com efeito, a Ecologia Humana como ciência, só pode experimentar as suas leis quando os desastres industriais acontecem: é natural que a considerem necrófoga e, além do mais, sádica, e que muitos dos desastres possam mesmo ser atribuídos a ecologistas militantes que os provocariam para a Ecologia Humana, como ciência , progredir.
COMPONENTES DA ABJECÇÃO
A marca irreversível e totalitária das chamadas inovações tecnológicas, que só se reconhecem poluentes e prejudiciais depois de terem invadido o Planeta
A doença de todas as doenças chamada Trabalho
O sistema que vive de ir matando os ecossistemas
O efeito-estufa dos discursos oficiais dominantes emanados de poderosas organizações internacionais (sem brecha) como: OMS, FAO, OMM, UNESCO
AS ILUSÕES DO APOCALIPSE
1ª ilusão - A tecnologia pesada e poluente resolve todos os problemas
2ª ilusão - Os seres vivos podem ser indefinidamente escravizados, espoliados e enganados
3ª ilusão - Os combustíveis fósseis são inesgotáveis como inesgotáveis são os recursos naturais renováveis da Biosfera
4ª ilusão - Não há limites para o crescimento industrial e económico, o desenvolvimento é infinito, exponencial e logarítmico
5ª ilusão - A ciência experimental - espécie de alta autoridade de última instância - incarna o dogma e representa a verdade absoluta
AS PRAGAS DO APOCALIPSE
A desinformação da Informação
A economia baseada no desperdício
A medicina que provoca doenças
A energia nuclear que gasta mais electricidade do que aquela que produz
A radioactividade que trata cancros provocados por radioactividade
Os radioisótopos usados em estudos de Ecologia experimental
O acidente máximo impossível que já foi possível várias vezes em 10 anos
O falado progresso que se caracteriza por taxas de suicídio à média de um por dia (Japão, ver eco datado 80)
REGRAS DE FUNCIONAMENTO DA ABJECÇÃO
O sistema só reage e toma medidas contra qualquer fenómeno de biocídio (morte rodoviária, por exemplo) quando esse fenómeno começa a pesar no Orçamento de Estado ou nos lucros das empresas (e) seguradores.
(Ver CPT, "As Outras Olimpíadas", 22.3.80)
TRUQUES DO DISCURSO TECNO-ABJECTOCRATA:
O truque do eufemismo ( poluição em vez da palavra "merda", por exemplo)
O truque da controvérsia para discutir o facto declarado (nuclear, pesticida, antibiótico, etc.)
O truque do segredo de Estado para escamotear informação sobre o factor etnocida que dizima a humanidade
O truque do preço a pagar pelo que chamam eufemisticamente progresso
O truque do "não fomos nós foram os comunistas" ou "não fomos nós , foram os americanos"
O truque de caricaturar o realismo ecologista (o único irredutível a caricaturas) sob a forma dos seus diversos equívocos (ambientalismo, escutismo, amor à Natureza, defesa do património, protecção das espécies, anti-lixo urbano, anti-poluição, etc.)
O truque de considerar a priori "impossível" o acidente máximo possível
O truque "democrático" (entre aspas) dos referendos manipulados pelo poder
O truque de silenciar factos, para que os factos assim não existam
CRISE PLANETÁRIA-VECTORES PRINCIPAIS
guerra dos cereais
" do clima
" da chuva manipulada
“ sísmica
" da mega-engenharia
" dos tufões modificados
" da desarborização (chuva ácida)
" da fome provocada
“ química
“ biológica
“ da engenharia genética
CRISE PLANETÁRIA-GRANDES REGIÕES DA BIOSFERA EM ESTADO CRÍTICO:
Amazónia
Antárctida
Aveiro
Falha de Santo André
Mar do Norte
Mediterrâneo
Pântanos de Foz
Setúbal
Sines
A CRISE PLANETÁRIA - LINHAS DE ARRUMAÇÃO (SACOS-DOSSIÊS)
Apocalipse
Balanços do Fim
Biocídio
Bophal
Cenários 2000
Chernobyl
Datas de Ecologia Humana
Datas-desastre - 1980
Datas-desastre - Notícias
Datas-Desastre (Fotos)
Desastres Industriais
Espanha 82
Etnocídio
Explosões
Filmes-desastre
Fugas-Radiações
Hamburgo 84
Hiroxima
Horror (Imagens)
Ixtoc Um
Love Canal
Megaplanos
Oceano assassinado
Ozono
Reactores-acidentes
Recursos naturais
Referendos s/ nuclear
Sahel
Sindroma sísmico
Three Mile Island
Vietname
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1-2-silêncios-1-ac
PARA UMA ANTOLOGIA DA ASNEIRA AC
Os sismos provocados pelos testes subterrâneos com bombas termonucleares, em países como ex-URSS, EUA, França, são outro aspecto do nuclear que, omisso das preocupações ecologistas já no tempo de Ferrel, omisso continuará até à consumação dos séculos (tratando-se de radiações, é essa a escala de tempo...). (19-1-1998)
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Falando de Bionergia, perguntem ao sr Afonso Cautela que conversa de surdos, na travessa-do-fala-só, têm sido os milhares de páginas escritas sobre o assunto: e o que irá ser dessa aventura que, depois da ecologia e da holística, se configura agora como a física ou energética do espírito: a Noologia, ciência das 12 ciências sagradas?
Relativamente vitoriosa saiu a bioenergética chinesa do yin-yang, não só pela sua vetusta antiguidade mas porque o sistema taoísta pode constituir, só por si, uma autêntica alternativa de vida aos becos sem saída ocidentais.
Por mais que, a propósito de bioenergia, se fale de uma «ecologia alargada» - onde o factor cósmico e vibratório entre como protagonista de toda a evolução humana - os ouvidos permanecem surdos, tal como há vinte anos os que intransigentemente se entricheiravam no absurdo das centrais nucleares em geral e na de Ferrel em particular. (19-1-1998)
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17/1/1992 - [mais alguns temas proibidos e tabus sobre os quais recai naturalmente o silêncio - dentro da ecologia em geral, assunto já de si pouco popular, a ecologia humana é ainda mais tabu e, dentro desta, a ecologia do trabalho e, dentro desta, o cancro ocupacional ou a iatrogénese, por exemplo]
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15/5/1992 - Semana de trabalho de trinta horas e reforma antecipada não só como direito fundamental do homem mas até e principalmente como forma de combater o (famigerado) desemprego, é uma medida tecnicamente possível, desde já, e que pode ser «implementada» (e que deveria ser implementada), concorrendo para neutralizar a exaltada demagogia dos partidos que falam em desemprego e em «dar oportunidade aos jovens». A melhor forma de dar lugar aos jovens, é dar a reforma, o mais cedo possível, aos velhos e não retardá-la até aos limites do inverosímil . Acabando com os actuais horários - ainda em vigor em países de vocação dantesca como Portugal - acabar-se-ia com a demagogia do desemprego, e particularmente do desemprego juvenil. que o poder tem interesse em manter, evidentemente, mas que tecnicamente se pode resolver e de uma penada [: trata-se muito simplesmente de reduzir a «pena maior» do trabalho forçado por penas menores e mais aliviadas]
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O desemprego - tal como a poluição, a guerra, a fome, o cancro, a inflação, o bairro da lata, a desabitação - não é um acidente de percurso mas uma componente estrutural do sistema que vive matando os ecossistemas.
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Os movimentos sociais portugueses foram pura e simplesmente sorvidos pela gula insaciável das máquinas partidárias (19-11-1983)
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files ac em destaque:
paz-1
biomassa; - 28-11-1981
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1-2 - silencios-3-ac-jl; para googlar com proveito e desvantagem
29 TÍTULOS AC QUE TALVEZ ESTEJAM NA NET
11 milhões de eucaliptos na serra de Ossa
A cidade morreu, viva o campo
A desinformação da informação
A economia baseada no desperdício
A economia macrobiótica : nova ordem alimentar à escala mundial
A energia nuclear (que) gasta mais electricidade do que produz
A guerra climática contra a humanidade
A manipulação de chuvas ou «precipitação provocada»
A manipulação do homem pelo homem
A medicina que provoca doenças
Alqueva na paz das consciências
Arboricídio e Pirotragédia
Árvores de protecção mais ameaçadas : sobreiro e oliveira
Desperdício, nosso principal recurso energético
Eucalipto hoje, deserto amanhã
Hiroxima e Nagasaki: Laboratórios de Ecologia Humana
Macrocefalia: fenómeno totalitário do sistema
Medicina sintomática e lógica causal: a doença está no ambiente
Menos horas de trabalho, mais desemprego
Metais pesados na rota do Cancro
Imbróglio celulósico-florestal
Megagigantismo – tema pessoal e intransmissível
Sindroma sísmico nuclear
Os movimentos sociais empalmados pelas máquinas partidárias
Os retrocessos do Progresso
Os tecelões da Liberdade
Para que uma política de Saúde não seja uma política de doença
Pequeno manifesto sobre o Átomo Pacífico
Provocar chuvas e manipular climas
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1-2 - silencios - 4-ac-jl>
88-10-29; trabalho-6; os dossiês do silêncio – ideias para o novo milénio – ecologia e trabalho - VI
A ESCASSEZ FABRICADA(*)
(*) Publicado no jornal «A Capital», ( Crónica do Planeta Terra), 29/10/1988
29/10/1988 - Inimaginável, há poucos anos, era que o tempo, esse imponderável, esse bem gratuito, universal e eterno, tivesse dono.
Os proprietários do tempo, aliás, são tão inimagináveis como os da água, do ar, da natureza, da energia solar, bens gratuitos, todos eles, mas que se tornaram em poucos anos propriedade privada dos que os exploram.
Como sempre distraídos, os alegados ecologistas ainda não tiveram tempo de ler Michel Bosquet, o nome que André Gorz utilizou para falar dos temas iconoclastas, para radicalizar à esquerda a análise crítica da engrenagem tecno-burocrática.
Também, em séculos mais recuados era inimaginável que a palavra "exploração" fosse alguma coisa mais do que uma aventura bem sucedida nos confins da Natureza ( oceano, deserto, floresta tropical, pólos) e no entanto a palavra "exploração" hoje está carregada de conotações classistas: a exploração do homem pelo homem tornou-se lugar comum e a luta de classes, como se sabe, é o principal deformador do sentido etimológico das palavras, no sentido favorável da classe dominante.
Explorar o espaço, o tempo, a natureza, a energia, a água, o ar, o sol, já se tornou assim lugar-comum deste "tempo-e-mundo", onde a escassez fabricada dos bens à partida gratuitos e universais, determina a breve prazo a sua gestão em termos de rarefacção capitalista.
Talvez o espanto não se justifique, entretanto, agora que surgem os "donos do tempo", até porque, por enquanto, se trata de uma metáfora, aliás simpática, de uma simpática firma de ar condicionado...
Quem primeiro chega, primeiro se avia, e os "donos do tempo", com esta metáfora risonha, estão apenas a sugerir uma realidade não metafórica e já implícita nos procedimentos bem reais e violentos da actualidade laboral.
Como se sabe, um dos primeiros bens gratuitos e naturais a ser "apropriado" - a terra - , constitui afinal o paradigma de todas as posteriores apropriações. Por isso, as chamadas tecnologias apropriadas são hoje a chave para nos libertarmos de escravidões seculares, mostrando que a exploração do homem pelo homem é indesligável da exploração da Natureza e da manipulação do homem pelo homem.
Tão antigo é o fenómeno da "terra como propriedade privada" que a história se construiu praticamente sobre esse truque sublime dos primeiros descendentes de Adão e Eva... Houve mesmo quem proclamasse , com base em S. Tomás de Aquino, que a posse da terra era um fenómeno tão natural e congénito como a cor dos olhos.
A luta dos descamisados pela posse de um centímetro de terra ensanguentou épocas e países inteiros. Às vezes e em circunstâncias particulares, há mesmo mortais que nem sequer ao palmo e meio de terra, o necessário "caixão pra cova", têm direito, como lembra na canção do Nordestino "Morte e Vida Severina", o João Cabral de Melo Neto, para quem o caixão era o latifúndio.
E pronto: aí está a abominável palavra "latifúndio", que se desgastou, depois do 25 de Abril, tornando-se inaudível. Latifúndio, no entanto, como João Cabral de Melo Neto nos conta em "Morte e Vida Severina" , exprime a imensidão da miséria, o abominável da exploração, o cancro que eterniza o "apodrecimento da história" (Lenine).
A famigerada "aceleração da história" e a não menos famigerada "complexidade dos tempos actuais", leit motiv dos divulgadores de terceira (vaga) como Alvin Toffler, talvez resida afinal e principalmente aí: às apropriações clássicas da terra e do trabalho, que desapossaram o indivíduo das suas técnicas de libertação, seguiram-se as apropriações do que era até então inimaginável de ser apropriado, antes da providencial crise ecológica surgir: no que monta aos bens físicos da Natureza, o sol, a água, o ar puro, a harmonia da paisagem, etc.; no que monta aos bens invisíveis, a apropriação das almas, dos sentimentos, das emoções, dos afectos, das inteligências, das vontades, acelerou-se com a "manipulação do homem pelo homem", com a propaganda e a publicidade, o fenómeno mais espectacular do século XX, bem descrito por Jacques Ellul na ''Histoire de la Propagande'' e por Jean Marie Domenach, ensaísta da revista "Esprit", no livro "Propaganda Política".
"Política do Espírito" lhe chamava António Ferro e nunca um slogan político foi tão verdadeiro.
De facto, nunca se viu política do espírito tão perfeita como a "manipulação do homem pelo homem" operada pelos peritos do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) mais tarde Secretariado Nacional de Informação (para aliviar consciências) e mais tarde ainda "mass media", etc.
Mergulhados todos neste magma, submersos pelo oceano da informação, feitos "homem unidimensional", só se conhece um antídoto contra o cerco: a cabeça que produza ideias. Mas não chegou o português ao ponto mais baixo do conformismo, da apatia e da resignação calada?
Essa é pelo menos a tese de Vasco Pulido Valente, na crónica d' «O Independente» (14.10.1988). Para este cronista ilustre da actualidade política, estamos atolados no pântano da nossa autodegradação, sem sequer dizer ai, com medo de dizer ui.
Ora como Vasco Pulido Valente é dos que pensam com ideias - coisa rara e já tão pouco vista - são de registar as suas palavras, que a posteridade talvez possa confirmar como o aviso solene e dramático feito, in extremis, aos portugueses, para que readquiram rapidamente a sua identidade, sob pena de aniquilação total. Ou sob a designação astuta de «integração europeia».
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(*) Publicado no jornal «A Capital», ( Crónica do Planeta Terra), 29/10/1988
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1-5-
<90-10-29>
PARA QUE UMA POLÍTICA DE SAÚDE
NÃO SEJA UMA POLÍTICA DE DOENÇA
[Este texto chegou a ser proposto à candidatura presidencial de Otelo [em que data foi?] Apesar dos cortes já efectuados, o texto, até agora inédito, (29/10/1990), tem resquícios ainda de um radicalismo contemporâneo da época «revolucionária» em que foi escrito.]
ALGUMAS CONDIÇÕES SINE QUA NON
SAÚDE E AMBIENTE:PEDRA DE TOQUE DE UMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
PREMISSAS DEMOCRÁTICAS(QUER DIZER:ECOLÓGICAS) DE UMA POLÍTICA DE SAÚDE
29/10/1990 - Pedra de toque de uma Democracia, pela política de saúde se conhecem os partidos e governos. Sendo a actual política a que se chama de saúde apenas uma política da doença (de aparente combate à doença) pode imaginar-se o estado em que continua a encontrar-se a nossa democracia.
Pedra de toque da mentalidade que anima a classe política, as elites dirigentes e os respectivos e vigentes discursos, terá de se concluir, com alguma tristeza, pelo trogloditismo inerente a esse discurso, a essa classe, a essa elite, a essa política.
Todos eles, no fundo, andam empenhados no «combate à doença» - menos empenhados, mesmo assim, do que nos querem fazer crer - combate esse que pressupõe deixar proliferar primeiro aquilo que depois se vai, bombeiralmente, combater. E nunca se acaba o combate, nunca se acaba a guerra. Uma vez por outra, o Estado, através da chamada Segurança Social, através da chamada Comunicação social, diz que a «saúde está caríssima». Mas o que está caríssimo, excelentíssimas excelências, são os medicamentos, porque as multinacionais farmacêuticas não são parvas, não perdoam, e fazem elas muito bem. Aproveitam-se. Agora que os medicamentos e as multinacionais farmacêuticas não têm nada a ver com saúde, é mais que óbvio e notório. Não é, pois, a saúde que está cara. O que está caro e nos sai dos bolsos de contribuintes pategos é a estupidez dos políticos coadjuvados pela esperteza das multinacionais farmacêuticas.
Esta política bombeiral de saúde revela assim a mentalidade vigente nas grandes e pequenas opções propostas ao eleitorado, onde a sintomatologia, o reformismo, as sopas depois do almoço fazem regra.
PARÂMETROS ECOLÓGICOS
Política de saúde que não entre em linha de conta com os parâmetros ecológicos e ambientais da higiene, da profilaxia e da prevenção é, de facto, um absurdo. Um grotesco absurdo. É que, perante um sintoma - a que chamam doença - manda a lógica que se faça o diagnóstico para indagar das causas que produzem os efeitos chamados sintomas, chamados doenças. Ora sendo hoje ambiental a causa predominante das doenças, impunha-se, antes de mais nada, uma despistagem desses factores ambientais, se por acaso na política se funcionasse lógica e cientificamente. Ou pouco mais ou menos. Mas despistagem ambiental da doença é matéria que todos os profissionais da «saúde» continuam, prudentemente, ignorando. O mais lógico, conveniente e económico - se alguma coisa fosse lógica neste reino - seria, pois, conservar a saúde enquanto ela existe e não esperar pela doença para a combater. Ora para conservar a saúde não é preciso gastar grandes verbas, há apenas que fazer stop, já, aos múltiplos factores endógenos e exógenos que a degradam - os factores que «fabricam» doenças - a começar nos políticos obtusos que são uma das principais causas de morte, toxicose e doença em Portugal.
Uma política de saúde que não pressuponha uma política do ambiente é assim uma caricatura e uma invenção paranóica. Como o programa de política de saúde de todos os partidos ilustra.
CONDIÇÕES SINE QUA NON
Não há política de saúde sem levar em consideração o poder de pressão exercido no sector médico pelos monopólios que de raiz comprometem e alienam a saúde: as indústrias químico-farmacêuticas, açucareira e alimentar (o «agrobusiness»), são as que mais substancialmente contribuem para uma degeneração acentuada da saúde pública.
Não há política de saúde sem infraestruturas sanitárias de base (sobre as quais as populações possam exercer total controle), sem condições higiénicas mínimas, sem modificação estrutural de uma política de construção habitacional totalmente ao serviço das classes até agora exploradas.
Não há política de saúde, também, sem abrandamento das tensões produzidas pela divisão e luta de classes, pelo mundo concentracionário das cidades, pelo stress do trabalho, pelas violências e alienações da máquina de consumo e da máquina publicitária anexa.
Não há política de saúde sem uma política radical de descentralização do povoamento (uma política agrícola de repovoamento rural, sem mitos tecnocráticos) e a progressiva eliminação dos cancros urbanos.
Não há política de saúde sem uma política agrícola de base ecológica, cujo primeiro efeito é atrair maior número de braços ao campo (e novos postos de trabalho) e cujos objectivos sejam efectivamente alimentar bocas, em vez de atingir metas de produção impostas pelos padrões euroimperialistas das OCDE e CEE. Quer dizer: não há política de saúde sem que se defina como prioridade a qualidade nutritiva dos produtos retirados da terra, ainda que em detrimento (mas não fatalmente) da quantidade produzida.
Não há política de saúde sem uma política educativa que reconverta os meios de comunicação social - venenos da opinião - em escolas abertas, sem uma política educativa que destine parte importante da aprendizagem básica às técnicas autocurativas e de autosuficiência, à educação alimentar, ao autodiagnóstico e às técnicas de autoconhecimento e autorealização (biofísica e biopsíquica), enfim, à descolonização do doente [ factor preponderante da descolonização cultural que uma revolução implica.]
Não há política de saúde baseada exclusivamente no «combate à doença». Uma política de saúde, por definição, será radical e prioritariamente preventiva, no sentido mais científico, preparando todas as condições para que a doença não ecluda e para que a população conserve o seu capital natural de saúde, só em última instância havendo que recorrer à medicina sintomática, em casos crónicos ou herdados de anteriores situações sociais anómalas (degradadas), mas sem jamais admitir a exploração do homem pelo homem, do doente pelo médico.
Será preventiva, também, num sentido totalmente diferente daquele em que a política de vacinação actual é considerada a única medicina preventiva.
[Ao reescrever este texto, em 30/Outubro/1990, constato que as afirmações nele feitas permanecem válidas mas, tal como quando foram escritas, utópicas. De facto, uma política de saúde que não seja uma política de combate à doença, é condicionada por uma série de outras políticas - agrícola, ambiental, educativa, económica, social - e só existe, só faz sentido se elas de facto existirem e se funcionar em consonância com elas: uma política de saúde, na prática, é decorrência de outras políticas.
Como esta harmonia de vários ministérios é impensável em qualquer governo do mundo, concluir-se-á que em nenhum país do mundo existe uma política de saúde e que ela é, portanto, utópica.
Mas não é tão utópica como isso, se, entretanto, o conceito de sociedade paralela ou sector alternativo da sociedade for introduzido. No dia em que um governo conseguir adoptar uma política de saúde, é porque os parâmetros ecológicos assumiram a predominância e foram estabelecidos como prioritários e não os da economia, da produtividade, da quantidade ou do número. No dia em que a qualidade (de vida) for de facto a prioridade de qualquer governo, teremos a almejada política de saúde. Só que não é previsível um governo com capacidade de manobra para se desembaraçar de todas as pressões dos «lobbies» que vão vivendo de matar, vão ganhando lucros com a proliferação da doença, vão enriquecendo com o definhamento e degeneração das populações.
Uma única esperança existe de que esta situação tenda a inverter-se: é que a doença hoje trepa a todas as classes e quando atingir em cheio a classe dos lobbies, talvez os filhos, as esposas dos poderosos os convençam a desistir de pressionar governos a favor das suas indústrias de morte e doença.]
PREMISSAS DEMOCRÁTICAS
Uma política de saúde em democracia pluralista, dará prioridade às condições de habitabilidade, não só no aspecto de alojamento (direito e garantia de) mas no da higiene urbana ou rural, providenciando para que todos os focos de contaminação (lixeiras, pocilgas, esgotos) sejam eliminados, sujeitando-os a rigorosa e pormenorizada regulamentação legal.
Uma política de saúde de base democrática dará às populações e ao poder local um papel preponderante no controle da poluição ambiente, tornando-as activas e organizadas não só no acondicionamento dos lixos mas na selecção de detritos que conduzam, por sua vez, a uma política económica de reciclagem sistemática de materiais, quer orgânicos e biodegradáveis, quer de origem celulósica (papel), quer de origem química (plásticos).
Essa actividade local [do poder popular], porém, será enquadrada por legislação de âmbito nacional, a que corresponda uma clara política sanitária. Estações centrais de tratamento (por incineração ou outros processos postos à prova pela experiência) de lixos serão criadas pelo poder central, sempre que as pequenas unidades de autoconstrução por iniciativa local não satisfaçam as necessidades da respectiva densidade populacional.
Uma política de saúde não pode esquecer que muitos dos problemas criados por condições anti-higiénicas são especificamente de ordem social e decorrem das condições aviltantes em que a população é obrigada a habitar.
Uma política de saúde é, por isso, automatica e grandemente estimulada pela modificação das condições gerais de vida em que as populações pobres se encontram enquanto classe explorada. Mas terá ainda que ser «construída» na parte positiva da Reciclagem e Reaproveitamento.
Para lá dos lixos domésticos, cuja recolha, selecção e reciclagem será um problema de política local,
Para lá dos esgotos urbanos e seu tratamento, que será um problema de política inter-regional,
Para lá de uma política económica de reciclagem e reaproveitamento sistemático que enquadrará todas essas políticas regionais e inter-regionais,
há o propósito de assumir o mesmo critério de reciclagem para casos como o da sucata automóvel ( a remover e a centralizar em parques fechados de âmbito provincial e inter-provincial, através de campanhas que, emanadas do poder central, receberiam ânimo e apoio das populações, agentes activos dessas campanhas).
AUTODEFESA DO CONSUMIDOR
Sem esquecer que a violência exercida sobre o consumidor é inerente à violência de uma sociedade dividida em classes, acreditamos que é possível, desde já, uma consciência cívica cada vez mais desperta que vá tornando inviáveis e caducos os aspectos mais ostensivos da opressão que a máquina do poder exerce sobre o consumidor: as vacinas e a pílula anticoncepcional seriam duas dessa violências.
Movimentos que visem reconverter os consumos em termos de economia ecológica, suprimindo supérfluos e valorizando o fundamental, terão que ser energicamente incentivados pelo poder central e as populações orientadas para seguir a mais correcta política de consumos,[ destruída que seja a infernal máquina publicitária, substituída então por uma verdadeira escola em que os meios de comunicação social terão que se transformar.]
Não há política alimentar que sirva o consumidor sem a destruição dos monopólios[????] que dirigem os consumos em geral e os consumos alimentares em particular, para objectivos que tenham apenas em vista os lucros das empresas, a eles imolando o interesse, a saúde, a segurança e a economia do consumidor.
Não há política alimentar sem uma concepção definida do alimento principal e sem uma dieta declarada pela experiência como a dieta simultaneamente mais completa, económica, nutritiva e saudável.
Neste sentido, uma política alimentar de base democrática dará apoio e fomentará movimentos que, já organizados, têm provas dadas pela experiência, no campo de uma alimentação mais racional, saudável e conservadora [?] das condições de saúde.
SEGURANÇA QUOTIDIANA
Desde o quotidiano de ruas e estradas (que dão o maior contingente de mortos e estropiados ao País, depois da guerra colonial) até às «unidades de alto risco» como centrais nucleares, gasómetros no meio da cidade, indústrias explosivas, etc,. a insegurança não deixa de constituir uma constante da sociedade de violência que tem nela, além do mais, um factor de guerra de nervos. Não deixa também a insegurança de constituir um factor condicionante da qualidade de vida da população e, no campo dos postos de trabalho, um assunto perfeitamente tabu para todas as correntes políticas, incluindo as de esquerda.
As medidas adoptadas sob o nome de segurança, ou são comandadas por objectivos meramente propagandísticos (a campanha «circular é viver», por exemplo) ou não passam, quase sempre, de remendos num pano totalmente esburacado.
Se a segurança, em bairros de habitação degradada, já não é um problema de ambiente por ser antes um problema de desigualdades sociais, eis que no caso das indústrias com graves problemas de insegurança, é já um problema de política e planificação económica global, que não sacrifique o concreto das vidas humanas ao abstracto de congeminações, fantasmas, mitos e lucros em que o tecnocrata político se confina.
URGÊNCIAS
É urgente lembrar a importância de uma política de saúde como vector fundamental de uma ética política e de um Estado de Direito. É urgente, pois:
- Que as instituições de saúde respondam claramente ao desafio posto pelas chamadas «doenças da civilização», ao respectivo diagnóstico ecológico e às respectivas terapêuticas naturais/causais adequadas
- Que as elites governantes, especialmente no campo médico, desfossilizem as suas posições, abdiquem do seu trogloditismo nato e vejam que é vanguarda europeia dar atenção aos métodos ecológicos de conservar a saúde, muito mais económicos para o orçamento geral do Estado do que o famigerado combate à doença
- [Que se ponha cobro ao escândalo do pão-borracha, à sua inferior qualidade, aos vários produtos químicos que, ilegal ou legalmente, se adicionam no seu fabrico]
- Que se tomem a sério medidas, até agora raras e tímidas, para a diversificação de horários em Lisboa e localidades onde o congestionamento de tráfego é também um factor determinante da saúde pública;
- Que se ponham imediatamente a funcionar as «comissões de gestão do ar», criadas por decreto-lei 255/80, de 30 de Julho, e cujo adiamento é mais um sinal do comprovado desprezo pela saúde pública, quando o dilema for entre saúde e interesses corporativos de uma determinada indústria
- Que os esquemas de previdência [segurança social] cubram imediatamente os tratamentos e terapêuticas naturais/causais, como acupunctura, homeopatia, etc.
- Que se dê apoio a cooperativas de medicina tradicional chinesa
- Que se reformule a chamada política de saúde e que mais não tem sido do que política de [promoção da]doença
- Que seja posta em prática uma política de agricultura biológica, introduzindo gradualmente projectos-piloto viáveis, campos experimentais, zonas de produção alternativa, para que experimentalmente se verifiquem os princípios e métodos defendidos pelos ecologistas realistas, na certeza de que maior produtividade só será conseguida, a médio e longo prezo, pela defesa biológica dos solos, obviando à sistemática esterilização provocada pela hecatombe química
MOÇÃO CONTRA O RUÍDO
Considerando que o ruído, para lá dos prejuízos já verificados sobre a saúde mental e psíquica dos cidadãos, é um factor inenarrável de embrutecimento e aviltamento quotidiano,
Considerando que há ruídos perfeitamente desnecessários, que nem sequer têm a desculpá-los serem provocados por qualquer serviço considerado de utilidade pública,
Considerando que a indústria dos motores de explosão parece interessada em corromper a saúde mental [de todo um povo] das populações,
Considerando a falta de «vontade política» e de medidas enérgicas que as entidades responsáveis pela ordem e pela saúde públicas têm manifestado relativamente ao flagelo do ruído e outros flagelos do ambiente português,
Considerando a timidez e ineficácia das campanhas levadas a efeito até agora, por entidades que não parecem muito interessadas em debelar a violência nazifascista da poluição acústica e seus principais responsáveis,
declaramos que uma política de saúde e de qualidade de vida deve ter, como pedra de toque e na sua lista de prioridades, um controle enérgico sobre todos os focos de poluição acústica, que, por sua vez, é índice nítido do nível de civilização e civismo da populações e do grau de subtileza qualitativa que uma democracia se mostra capaz de atingir.
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[Este texto foi (parcialmente) publicado na «Revista Alentejana», editada pela Casa do Alentejo?
Para efeito de eventual publicação em anexo de um volume sobre o «movimento ecológico - uma polémica amigável - diário de um jornalista», é importante saber se teve a contraprova da publicação.
De que data ou época foi a campanha de segurança rodoviária «circular é viver», citada no texto?]
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