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BIOCOMBUSTÍVEIS & MONOCULTURAS INDUSTRIAIS
Quinta-feira, 29 de Março de 2007
Resumindo e concluindo, tudo vai dar à pergunta:
Quem governa em Portugal: o governo ou os lobbies, os agora denominados «empresários verdes»?
Quem manda no País: os poderes institucionais (eleitos?) e constitucionais - PR, Primeiro Ministro, etc – ou os PIN, os lobbies da construção, do cimento e do betão?
Quem traça a política energética do País: O ministério da pasta ou os lobbies da biomassa?
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1-Perante o verdadeiro regabofe de «iniciativas», «investimentos» e «empreendimentos» que, à conta da biomassa e das necessidades energéticas (?) do País, se está a verificar, com o patrocínio das altas entidades e dos poderes institucionais, venho confessar a minha ignorância e recorro aos amigos ambionautas para que me ajudem e outros ignorantes como eu (que deve haver), a compreender o que penso ser uma «histeria colectiva» artificialmente provocada por um lote (lobby) de empresários que julgam ter descoberto na biomassa e nas eólicas as suas galinhas dos ovos de ouro.
E para dar conta das minhas dúvidas (e uma certa inquietação, porque não confessá-lo?) socorro-me de um artigo da jornalista Marisa Fernandes, pedindo desculpa por só agora me ter apercebido do que se estava a tramar nos bastidores e nas entrelinhas das notícias surtas em jornais e telejornais. Sob os auspícios das maiores notoriedades do País, incluindo opinion makers que, à excepção do Pacheco Pereira (sempre lúcido!), ainda não se aperceberam do tsunami que se prepara para este país.
O artigo que a seguir comento, é a primeira antevisão do apocalipse que nos espera, à vista do qual o apocalipse climático (aquecimento global & cª) é uma brisa suave.
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2- De facto, ficámos todos mais esclarecidos com o que a jornalista Marisa Fernandes nos revela, no seu magnífico artigo da Revista «Natural» (ex-Beija Flor), nº 67 (Abril 2007), sobre a aposta nos biocombustíveis.
O prefixo bio, aplicado por tudo e por nada no discurso new age dos cristãos novos da ecologia, vinha a provocar-me uma certa alergia e desde que ministros em promiscuidade com empresários começaram a lavar-nos o cérebro com mais essa campanha mediática dos biocombustíveis a preparar mais um supositório, ou seja, uma nova indústria e novos lucros à conta do aquecimento global e do CO2.
No bidom do carbono cabe toda a manipulação mediática e ainda sobra espaço.
De facto há uma certeza nisto tudo e que o magnífico artigo da revista «Natural» vem confirmar: os biocombustíveis, tal como se pretendem hoje impingir à escala global, é uma das mentiras mais atrozes que, à conta do ambiente e da defesa do ambiente, do aquecimento global e do famoso CO2, se estão a transformar no novo eco-equívoco, um neo-totalitarismo que deixa a perder de vista todos os que temos vindo a ver na história pregressa deste Tempo-e-Mundo. Caricatura abjecta de uma estratégia ecológica (o agora chamado desenvolvimento sustentável), de uma política francamente favorável de sobrevivência planetária e de tudo o que nele vive.
Para quem como eu não percebe nada de nomenclaturas tecnocráticas com que os especialistas diariamente nos indrominam (em tudo o que é veneno mediático, jornais e telejornais) vai ser difícil para mim coligir algumas ideias elementares sobre a verdade dos factos e a mentira da desinformação torrencialmente debitada.
Mas o que custa é que Deus agradece, por isso vou tentar, tacteando, alinhar algumas banalidades de base. Tentarei, por estrito dever de consciência, alinhar as ideias-chave que ajudem a deslindar o complicado imbróglio dos biocombustíveis.
1.
O que a jornalista Marisa Fernandes conta do que está acontecendo na América Latina é bem elucidativo da mentira global que eles se preparam para nos impor também a nós.
O encontro de Lula com Bush foi um marco histórico de uma estratégia bem mais antiga.
Em nome dos subdesenvolvidos e do seu alegado subdesenvolvimento (que eles próprios fabricaram) mais uma vez se estará a pôr em prática uma nova forma de os submeter, eliminar e explorar.
Todos sabemos (mas às vezes esquecemos) que o FMI, braço armado dos EUA, foi quem fabricou milhões de pobres na América Latina.
2.
A questão central dos bicombustíveis não é de CO2 ou de combater o aquecimento global ou de qualquer outro sofisma digno dos apóstolos da banha da cobra, tipo Al Gore.
A questão central dos biocombustíveis é a da plantação em massa de monoculturas vegetais, a que podemos chamar, com toda a propriedade, «monoculturas industriais», obviamente esgotantes.
Sejam elas as mais evidentes ou menos evidentes, algumas citadas no artigo da revista «Natural» e sejam elas culturas lícitas de sobrevivência alimentar:
Eucaliptos encabeça o pelotão.
Depois temos A-Z:
Algodão
Beterraba
Borracha
Cacau
Café
Cana-do-Açúcar
Castanha
Chá
Girassol
Milho
Óleo de Palma
Tabaco
Quase tudo coisinhas de que os nossos super-mercados se encontram bem abastecidos. Como consumidores não temos nada de que nos queixar.
Mas tudo isto tem um nome: monoculturas industriais ou esgotantes, que provavelmente irão escapar ao senhor Algore, como ameaças globais de longa data. De longuíssima data. Desde que o mundo industrializado explora o Terceiro Mundo. As maiores secas e fomes do Norte de África, por exemplo, têm sido causadas por plantações esgotantes com produtos de exportação.
Em Portugal, até o trigo, cultura de subsistência, foi esgotante. Das campanhas do trigo se fala quando se quer dizer mal de Salazar. Mas já não se fala de Salazar quando a democracia retomou os dois planos mais emblemáticos do salazarismo - , Sines e Alqueva - que recorreu aos megagigantismos para disfarçar a sua congénita mediocridade.
Anedota mesmo, em 2007, é quando se pergunta: afinal quando é que Alqueva produz energia?
Às culturas esgotantes se deve inclusive o fim de algumas grandes culturas e civilizações do Mundo, como parece ter sido a dos Incas e Maias e Aztecas.
O castigo que eu daria às carpideiras do Apocalipse climático era escrever vinte vezes, todos os dias, no caderninho da escola, a palavra «culturas esgotantes» por cada sermão que nos viessem pregar sobre CO2, aquecimento global e, claro, energia nuclear que é, ao fim e ao cabo, o que está sempre à espreita na actual campanha contra o aquecimento global e onde toda a retórica do carbono vai dar.
Quem sabe disso e de muitas outras coisas que não estão no filme é o apóstolo Al Gore.
3.
Ainda a América Latina, de acordo com a informação da revista «Natural»:
«Os EUA e o Brasil, produzem cerca de 34 mil milhões de litros de cana-de-açúcar e pretendem duplicar esta cifra até 2010.»
É melhor que se apressem, pois a grande reviravolta está próxima. E o fim dos gananciosos iminente.
O artigo da «Natural» relembra outra santa entidade sempre pronta a defender o Ambiente e a salvar os povos (quando não as nossas almas):
«O Conselho Europeu – diz a revista – no passado mês de Março, propôs adoptar a obrigatoriedade de utilização de 20% de biocombustíveis no sector europeu de transportes, até 2020. O objectivo é fomentar plantações para fins energéticos»
Aqui nem se deram ao cuidado de usar o eufemismo «desperdícios».
Aliás, o Conselho Europeu só nos dá bons conselhos. Não fora a União Europeia e sua cornucópia de apoios financeiros (a crédito, claro, e com juros) e talvez o crime de Alqueva não se tivesse consumado.
Espaço para as tais «plantações energéticas» é que resta saber onde está. Será que vão arrasar mais uns milhares de oliveiras centenárias como fizeram por causa de Alqueva?
Com um bocadinho de jeito, talvez se arranjasse ainda um quintalinho nas traseiras das celuloses para:
Mais eucaliptos
Mais girassol
Mais tabaco
Mais beterraba.
Já agora, já alguém perguntou quantas celuloses funcionam em território português, e quantas delas são multinacionais aqui instaladas? A precisar de biomassa como de pão para a boca?
Convém lembrar que uma das empresas mais faladas ultimamente – com idas e vindas do presidente Cavaco – se propõe instalar 15 (15, meus senhores) centrais eléctricas queimando raspas das matas (!!!).
Como se a gente acreditasse que vão só apanhar as raspas.
O que de certeza vai haver – o ministro já deu luz verde para que não haja atrasos em mais este projecto redentor – o que de certeza vai haver é uma disputa de território a colonizar para mais umas «culturas esgotantes».
Disputa que vem desde há meio século com a corrida das celuloses aos eucaliptos. E com as famosas campanhas do trigo.
O que eu gostava mesmo é que se metessem à estalada uns com os outros a ver quem fica com o melhor quinhão.
A minha leve suspeita é de que já não há quinhão a disputar mas isso de números é com os homens dos números. Eles é que sabem tudo de estatística e se não sabem vão perguntar ao António Barreto, vedeta das estatísticas negras.
4.
Ainda a América Latina.
Diz a revista «Natural»:
«Os resíduos do fruto da castanha podem ser aproveitados pela indústria e pelo comércio.»
Castanhas há muitas e não sei a qual a Marisa Fernandes se refere: mas a questão não é essa. Mais uma vez o que a manipulação mediática se encarrega de difundir é a palavra «resíduos», quando não a de «reciclagem». Para tranquilizar as massas inquietas.
Houve quem defendesse nos anos 70 da nossa Era um Plano Nacional de Reciclagem sistemática. Porque a reciclagem deverá ser também uma política nacional, além do que algumas autarquias vão fazendo à escala local.
De qualquer maneira, há um facto irreversível: poupar e reciclar são as duas verdadeiras fontes primárias de energia. O resto são tretas para impressionar papalvos. O resto, e por enquanto (enquanto não houver um plano e um planeamento) são apenas negócio de lobbies.
A pergunta que inquieta mesmo é esta: em matéria de recursos nacionais, ficaremos sujeitos à «política» dos lobbies?
5.
A moral bastante imoral de toda esta história bastante sórdida é muito simples e tem só 3 alíneas:
a) a proliferação de «novas» energias alegadamente + ecológicas, apenas vai estimular o consumo desenfreado de um sistema feito para desperdiçar, desperdiçar, desperdiçar. E que quanto mais desperdiça, mais lucra. Deliberada e propositadamente.
A haver uma política energética amiga do ambiente (e nem uma coisa nem outra existe) teríamos que começar por aí: uma ditadura de poupança. Coisa de que ninguém, nem o Durão Barroso, fala ou alguma vez falará. Mas de que nos poderia falar, se quisesse, o novo acessor de Durão, o ecologista Viriato Soromenho Marques.
b) Em vez da actual proliferação de «energias» (de que a eólica ocupa o topo das manchetes mediáticas) totalmente comandadas pela lógica do lucro de alguns empresários, o que falta mesmo é um planeamento graduado e faseado do tipo de energias a desenvolver, mais ou menos por esta ordem:
1- Biogás: curiosamente a actual campanha dos biocombustíveis praticamente omite o biogás a partir de excrementos animais.
No princípio dos anos 70, havia uma exploração-piloto no Minho, em Vila Nova da Cerveira.
Outras experiências-piloto se seguiram, uma das quais no Instituto de Agronomia (em Lisboa) e uma de dimensão industrial, em Marrases (Leiria).
Depois o plano do biogás foi metido no gavetão do LNETI pelo ministro Veiga Simão e nunca mais ninguém piou a favor da energia que bem podia só por si suprir as necessidades do sector agrícola em electricidade.
O biogás estava integrado num plano conjunto de energias renováveis que vinha desde 1975 – da Direcção Geral de Energia - pacote que chegou a ter promessas de financiamento do Banco Mundial.
Além disso, não era uma energia «limpa» (limpa sempre foi o nuclear!) pois reaproveitava a porcaria dos animais. (!!!)
Marrases chegou a oferecer excedentes de energia eléctrica à rede da EDP provenientes de uma unidade de dimensão industrial perto de Leiria.
Eu disse «oferecer» não disse vender.
2- Energia Solar – Obviamente a energia renovável por excelência, quando nos encontramos à porta da Era Zodiacal do Aquário
3 – Energia Ondomotriz – há uma unidade no Norte neste momento e não sei se tenho o recorte da notícia à mão para confirmar. Diga quem saiba. O prof. Delgado Domingos, sempre que lho permitem, fala disso e de outra energia mal amada e esquecida:
4 – Energia das marés, omissa do discurso noticioso e dos políticos e opinion makers em exercício.
5 – Arquitectura bioclimática também se pode inscrever nesta lista futurista e se de facto quisermos falar em energias e investimentos amigos do Ambiente. Claro que é uma coisa de elites endinheiradas mas que o dinheiro sirva então para incentivar as boas iniciativas. Boas para a gente, para o ambiente e não só para os lobbies.
5 – Energia eólica seria a última a incentivar, por ser a mais problemática quanto aos efeitos no ambiente. Mas como os empresários parece terem descoberto a sua galinha dos ovos de ouro, vamos ter eólicas por tudo quanto é sítio a «embelezar» a paisagem e muitas aves mortas enredadas nas pás. Que o seu radar as proteja.
Haja Deus que no ambiente cabe tudo. E lá vai o PR, o Primeiro Ministro e os ministros da Corte dar o beneplácito a tão brilhantes iniciativas e investimentos.
c) Um último sofisma e para me ficar por aqui: quando se fala (raramente) em poupar energia – o eufemismo usado é «eficiência energética» - , o ónus da culpa recai sempre sobre o consumidor individual e a luzinha vermelha nos stand by de alguns electrodomésticos. Há normas da Comunidade Europeia sobre este por maior tão importante.
Dos grandes gastadores de energia, nem pio.
E das noitadas da televisão em permanência as 24 horas, nem pio.