segunda-feira, 16 de março de 2009

ECO-REALISMO 1983

1-1- ecorealismo-15> - os dossiês do silêncio – entrevista testamento (revisão da matéria)
sábado, 13 de Julho de 2002 -

A LISTA DE ITENS (*)

26/4/1983 - Polarizar a luta alternativa na poluição é um equívoco que interessa principalmente às forças políticas de fundo totalitário. A melhor maneira que estas têm de enquadrar, na primeira altura, os movimentos alternativos em geral e ecologistas em particular, apossando-se deles, é reduzi-los a caricaturas, transformando um vasto movimento de emancipação humana em propósitos pontuais de luta anti-isto e luta anti-aquilo.
Com as tácticas pretendem fazer e esquecer toda uma estratégia.
De facto, a poluição é para essas forças um óptimo «inimigo», pois com ele conseguem distrair o povo do inimigo principal - o crescimento industrial sob todas as suas formas e em todos os seus subprodutos.
É portanto em relação ao imperialismo industrial que o movimento alternativo se deverá definir.
Não é só a poluição o inimigo, nem só de poluição morre o homem.
Por ordem de prioridades, o inimigo é o crescimento e seus subprodutos;
O capitalismo privado tanto como o capitalismo de Estado;
A burocracia tanto como a tecnoburocracia;
O latifúndio, a monocultura industrial e a exploração extensiva;
O pesadelo urbano-industrial e o drástico despovoamento dos campos;
A destruição da pequena e média exploração agrícola;
A democracia sem democraticidade;
O gigantismo industrial, hiperpoluente e concentracionário;
O desperdício a que se chama economia de mercado;
O energivorismo inerente a todos os processos que a análise energética demonstrou serem irracionais;
O crescimento económico logarítmico;
O gigantismo da corrida espacial e nuclear;
A sintomatologia médica , motor que autoreproduz até ao infinito o sistema de doença, morte e destruição;
A luta de classes nas suas formas mais bárbaras de luta contra a geração seguinte, contra as espécies vivas, contra as minorias culturais e rácicas, contra todas as formas de vida alternativa tradicionais;
A alienação do trabalho livre, criador, autónomo, cooperativo e autogestionário;
A macrocefalia urbana e a desertificação dos campos para aí se instalar o imperialismo industrial sob as suas formas mais atrozes de indústrias de ponta hiperpoluentes;
As categorias abstractas que reduzem a dignidade da pessoa humana a números: contribuinte, consumidor, utente, eleitor, peão, etc
O concentracionário industrial, nomeadamente nuclear, celulósico, cimenteiro, químico, petroquímico e alumínico;
A publicidade do mundo capitalista tanto como a propaganda política do mundo não capitalista.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 26/4/1983
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1-1- problems>manifest>

MANTER PROBLEMAS PARA AUMENTAR OS LUCROS

[20-2-1991]

Cancro, desemprego, poluição, ruído, bairro da lata, inflação, energivorismo, deficiência psicomotora, desabitação, não são para o sistema problemas por resolver: enquanto continuarem a dar lucros, são factores intrínsecos ao sistema e à sua própria sobrevivência. Ainda que houvesse meios técnicos de os resolver, não seriam resolvidos.
São estes, portanto, os «problemas» sem os quais o sistema não poderia subsistir: e alguns outros, que o sistema igualmente não resolverá enquanto deles obtiver lucros económicos ou dividendos políticos:
Poluição é um dos problemas que interessa manter e não resolver. Se não houvesse poluição, teria que se inventar - como disse alguém. Ela assegura só por si o grau de intoxicação (alienação) necessário para que o sistema possa pôr e dispor do rebanho que tem à sua guarda.
Se o cancro, à partida, é rendoso, todos os dispositivos de mercado estão orientados para o fazer ainda mais rendoso. Por isso nunca será resolvido, embora seja hoje um dos tais grandes «problemas» que já têm solução.

- Desemprego é outro dos «problemas» tecnicamente com solução mas que o sistema diz insolúveis. Bastava diminuir as horas de trabalho por semana e os anos de trabalho da vida de um trabalhador, medida já tomada por Leom Blum, em França, em Maio de 1936.
- Mortes na estrada
- Deformações e deficiências provocadas por medicamentos e centenas de consumos
- A crise energética que é apenas energivorismo do sistema e do qual ele não quer abdicar
- Habitação: não resolver o problema da habitação é, tal como o desemprego, manter as pessoas no mal-estar, na angústia, na instabilidade, no stress, na submissão, na humilhação da miséria
- a chamada crise do mundo rural e agrícola - sistematicamente provocada, mantida, agravada - é evidentemente um «problema» que ninguém esteve, está ou estará interessado em resolver; enquanto o sentido imposto pela exploração tecnoburocrática for despovoar os campos para, nas grandes cidades, nas cidades-pesadelo faer funcionar com maior rentabilidade, os mecanismos da repressão, da alienação e da destruição.
Aliás, qualquer dos outros problemas entre aspas - poluição, cancro, ruído, desemprego, morte rodoviária, deformação e deficiência psicosomática, energivorismo, habitação, etc - sendo problemas da macrocefalia urbana são, portanto, consequência directa da desruralização. ou seja, consequência do que acima de tudo o sistema quer e necessita: arrancar o homem à terra, arrancar a terra ao homem.
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1-3 - domingo, 19 de Janeiro de 2003
manifesto-1-ie>= ideia ecológica do afonso - eco-realismo


PARA UM MANIFESTO ALTERNATIVO: O INIMIGO PRINCIPAL(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», Crónica do Planeta Terra, 26/3/1983


26/3/1983 - Polarizar a luta alternativa na poluição é um equívoco que interessa principalmente às forças políticas de fundo totalitário. A melhor maneira que estas têm de enquadrar, na primeira altura, os movimentos alternativos em geral e ecologistas em particular, apossando-se deles, é reduzi-los a caricaturas, transformando um vasto movimento de emancipação humana em propósitos pontuais de luta anti-isto e luta anta-aquilo.
Com as tácticas pretendem fazer esquecer toda uma estratégia.
De facto, a poluição é para essas forças um óptimo «inimigo», pois com ele conseguem distrair o povo do inimigo principal - o crescimento industrial sob todas as suas formas e em todos os seus subprodutos.
É, portanto, em relação ao imperialismo industrial que o movimento alternativo se deverá definir.
Não é só a poluição o inimigo, nem só de poluição morre o homem.
Por ordem de prioridades, o inimigo é o crescimento e seus subprodutos:
O capitalismo privado tanto como o capitalismo de Estado;
A burocracia tanto como a tecnoburocracia;
O latifúndio, a monocultura industrial e a exploração extensiva;
O pesadelo urbano-industrial e o drástico despovoa mento dos campos;
A destruição da pequena e média exploração agrícola;
A democracia sem democraticidade
O gigantismo industrial, hiperpoluente e concentracionário
O desperdício a que se chama economia de mercado;
O energivorismo inerente a todos os processos que a análise energética demonstrou serem irracionais;
O crescimento económica logarítmico;
O gigantismo da corrida espacial e nuclear;
A sintomatologia médica, motor que autorreproduz até ao infinito o sistema de morte e destruição;
A luta de classes nas suas formas mais bárbaras de luta contra a geração seguinte, contra as espécies vivas, contra as minorias culturais e rácicas, contra todas as formas de vida alternativa tradicionais;
A alienação do trabalho assalariado que destroi todas as formas de trabalho livre, criador , autónomo, cooperativo e autogestionário;
A macrocefalia urbana a a desertificação dos campos, para aí se instalar o imperialismo industrial sob as suas formas mais atrozes de indústrias de ponta hiperpoluentes;
As categorias abstractas que reduzem a dignidade da pessoa humana a números: contribuinte, consumidor, utente, eleitor, peão, etc.
O concentracionárlo industrial, nomeadamente nuclear, celulósico, cimenteiro, químico, petroquímico e alumínio;
A publicidade do mundo capitalista tanto como a propaganda política do mundo não capitalista.

OPOSIÇÃO CRÍTICA

Este polvo de vários tentáculos - o Industrialismo - é que é o inimigo principal, onde as poluições surgem como subproduto a desviar as atenções.
Até porque a poluição não é uma desgraça: é, como a definiu, o P.N.U.M.A. (organismo das Nações Unidas para o meio ambiente), um «recurso mal aproveitado».
A definição do inimigo principal é fundamental numa estratégia alternativa por duas razões: evitar, por um lado, que se confunda com a direita um movimento profundamente progressista e de emancipação humana; evitar, por outro lado, que a esquerda não democrática, primeiro diga dele cobras e lagartos reaccionários para logo a seguir, caricaturando-o, se apossar das suas premissas e cavalgá-lo.
Definir o inimigo principal é ainda decisivo para saber em que medida - como, porquê, contra e a favor de quê - os alternativos se assumem como oposição independente.
Venham os governos que vierem, serão todos iguais se, quanto ao principal - energivorismo, gigantismo, macrocefalia, centralização concentracionária, latifúndio, etc. - a sua actuação for no fundo a mesma, independentemente dos superficiais rótulos políticos que usem, só na aparência diferentes.
Oposição crítica, não querem o poder enquanto o poder estiver dominado por forças, à direita ou à esquerda, que têm um tipo de actuação direitista, quer dizer, que praticam uma política destrutiva do meio e do homem.
Ao ser tão dialéctica como materialista, a análise ecológica da sociedade (relações entre classes dominantes e classes dominadas) verifica que a esquerda se encontra cada vez mais ultrapassada pela realidade histórica, teimando como teima em ignorar por um lado a subtileza e por outro lado a brutalidade das formas cada vez mais diversas e variadas (alienações, crimes, manipulações) que a exploração do homem pelo homem assume, fundamentalmente ajudada pelos grandes avanços da ciência e da técnica.
Para lá do carácter insidioso que assumem estas novas formas de opressão, elas ganham um carácter ainda mais tirânico na medida em que sobre elas não há debate e sobre elas recai a conspiração do silêncio cúmplice de todas as correntes políticas.
Há um tácita cumplicidade entre esquerda e direita, governo e oposição, relativamente aos crimes do fascismo quotidiano, precisamente porque esses crimes são indistintamente praticados ou consentidos pelas potências imperialistas a que esses partidos devem obediência, à esquerda e à directa.
Compreende-se claramente essa tácita cumplicidade entre aparelhos de esquerda e aparelhos de direita, ao enunciar algumas formas (diferidas, subtis, difusas, indirectas ou camufladas) que assume, na engrenagem industrial, a luta de classes e consequentemente a exploração do homem pelo homem.
Mesmo os observadores que nada têm a ver com o realismo ecológico, verificam que as propostas económicas das diversas forças políticas, parlamentares e extra parlamentares, pouco diferem no fundamental.
O caso da França é significativo e o cepticismo sobre um presidente de esquerda sucedeu-se à decepção de um presidente de direita.
Neste contexto, que sentido tem dizer-se que os «verdes» de Brice Lalonde não têm esquerda nem direita?
É que as propostas de esquerda e de direita não alteram, no fundamental, o modelo dito de desenvolvimento, o sistema de desenvolvimento.
Num sentido mais preciso, no entanto, o projecto do realismo ecológico será obviamente de esquerda, se visa em última instância a dignificação e a emancipação humana.
No mesmo sentido em que o projecto evangélico cristão é de esquerda, sempre que não perde de vista a emancipação dos humilhados e ofendidos
Os projectos económicos de direita e de esquerda tendem a estar cada vez mais identificados, quanto mais a tecnologia monopolista e o terror «científico» tomar o poder sobre os aparelhos clássicos da política e da economia.
Ir ao coração do problema é o objectivo visado pelo realismo ecológico. Que há muito deixou claro qual é, no seu entender, o Inimigo principal.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», Crónica do Planeta Terra, 26/3/1983>

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