segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ECO-REALISMO 1991

1-1 – realista-ie> -2593 caracteres

 ideias força
 manifesto
 realismo ecológico

MANIFESTO CONTRA A UTOPIA TECNOCRÁTICA

[10-01-1992]

Realista é preconizar uma política energética totalmente submetida a uma política de ambiente e de saúde - e não o inverso
Realista é planificar primeiro uma política de gastos energéticos realista, à qual se há-de submeter depois uma política de produção energética - e não o inverso
Realista é inventariar e planificar já as potencialidades em formas nacionais de energia infinita - eólica, solar, maremotriz, hídrica, etc - e não o inverso: aceitar sem crítica a invasão de energias pesadas ou hiperpoluentes, exportadas pelos monopólios multinacionais, a pretexto de que os consumos internos sobem na vertical
Realista é resolver, primeiro, toda uma política de reciclagem e recuperação - lixos, detritos, sucatas, etc - e apoiar nela uma política de consumos, uma política económica, uma política de independência nacional - e não o inverso
Realista é considerar a economia energética na sua totalidade biológica e cósmica - e não subalternizar a bionergia hipertrofiando a importância da energia eléctrica para fins meramente industriais
Realista é sobrepor a política de ambiente e de saúde à política de crescimento industrial e de produção energética - e não o inverso
Realista não é minimizar ou omitir oe efeitos catastróficos, os custos e riscos, em segurança e saúde, da energia nuclear e petrolífera (principalmente os custos económicos desses efeitos e riscos sobre o ambiente), fazendo entrar todos os factores na contabilidade e não o inverso: minimizar sistematicamente o que custam ao País as doenças e as condições insalubres quer do ambiente, quer da habitação, quer do trabalho, etc
Realista é preparar uma política energética à medida dos nosso recursos internos - recorrendo apenas in extremis à importação e à dependência externa - e não o inverso: comprometer ainda mais a independência nacional, enfeudando as necessidades energéticas do país às multinacionais do petróleo ou do nuclear
Realista é planificar a produção industrial de que efectivamente temos necessidade real, básica, inadiável, e não o inverso: continuar desenvolvendo indústrias que só interessam às multinacionais aqui instaladas, indústrias que só pretendem alimentar supérfluos, que só pretendem imitar países poderosos, ricos, desenvolvidos
Realista é distinguir as necessidades reais das necessidades inventadas pelo sistema de consumos estabelecido pela exploração capitalista - e não o inverso: basear as necessidades de produção nas artificiosas necessidades aparentes imitadas dos países exploradores do terceiro mundo.■
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eco-enªs>
[14-1-1992]

[publicado in «A Capital»? em um artigo que me foi encomendado sobre o ano 2000 e os votos que eu faria para esse ano? A confirmar se foi ou não impresso]

[DAR FORÇA ÀS ECO-ENERGIAS:ALGUNS EXEMPLOS EM PORTUGAL]

SILÊNCIOS QUE FALAM/ PROJECTOS QUE CAÍRAM NO ESQUECIMENTO: PARA UM MANIFESTO DO ANO 2000/ PROGRAMA «VALOREN» [exumar projectos que ficaram na gaveta (ou no tinteiro)]

No campo do que o cidadão comum poderia desejar ver feito, e bem feito, até ao Ano 2000, em seu próprio benefício, o realismo ecologista citaria alguns projectos alternativos energéticos, projectos que vão no sentido da criar maior independência aos indivíduos, grupos, povos e países mas que, por falta de «vontade política» -- sujeita a pressões de «lobbies» e de monopólios -- ou por instabilidade governativa (supremo alibi para não se fazer neste país o que deve ser feito), ficaram na gaveta ou no tinteiro dos ministérios.
Conforme o vespertino «A Capital» referia em 6 de Agosto de 1983, a instalação de uma unidade produtora de biogás, na Várzea de Sintra, a partir de excrementos de porco, (cerca de 1200 animais) aguardava, nessa altura, que a Assembleia da República concretizasse (desse o «sim») a um empréstimo de 2500 contos do Banco Mundial para o efeito. Enquanto projecto-piloto, esta prevista unidade de biogás poderia estandartizar em Portugal uma alternativa energética não poluente e o baixo custo das instalações, além de anular ou neutralizar uma das poluições -- pocilgas -- mais frequentes e mais gravosas do nosso País. Portugal poderia criar, além disso, uma indústria de construção de equipamentos de biogás, a partir do prototipo testado naquele projecto, e poderia tornar auto-suficiente em energia e fertilizantes orgânicos o sector agropecuário. Para isto, falta (faltava e continua faltando) apenas «vontade política». Ou vergonha na cara de quem a devia ter e não tem. Para isto, é óbvia a falta de poder que o Poder tem quando o poder dos lobbies e monopólios abre os olhos e fala mais alto.
Ainda no campo das eco-energias, esperemos que até ao Ano 2000 o pêndulo ondomotriz inventado pelo madeirense Fernando Almada, professor e campeão de judo, se torne uma forma corrente de obter energia das ondas, em que Portugal, com tão extenso litoral, é potencialmente riquíssimo, tal como em Fevereiro de 1983 ficou praticamente demonstrado, quando na baía do Funchal o sistema de Fernando Almada ali instalado evidenciou não só a sua viabilidade como o seu extraordinário futuro económico.
Instalar dezenas, centenas e milhares destes geradores ondomotrizes é o que o cidadão deseja para que o monopólio energético poluente deixe de nos trucidar, ora a pretexto de uma crise petrolífera que se inventa e nos estrangula quando convém aos monopólios petrolíferos, ou a pretexto de um excesso de produção.
O jornal «A Capital» entrevistou o inventor Fernando Almada em 1 de Fevereiro de 1983. Esperemos que o país se mostre grato aos seus inventores, dando-lhes ao menos possibilidades de trabalho. É um bom voto para um futuro próximo.
Já se disse que a maior fonte energética é:
1 - Uma política de efectiva racionalização e poupança por um lado;
2 - Uma política de reciclagem sistemática
3 - Uma política de diversificação de fontes.
Pequenas e médias empresas industriais foram, em Setembro de 1983, incentivadas a montar dispositivos para conservação de energia, podendo contactar a Linha de Crédito do Banco Mundial para as PM's portuguesas. Este incentivo estava a cargo, cremos, do LNETI, pelo que nunca mais dele se ouviu falar. Talvez que até ao ano 2000 e pela calada, a conservação de energia seja um facto e o País posso beneficiar com isso, bem como o respectivo meio ambiente.
# Projecto «Valoren»? [14/1/1992]■
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1-3 - prioridades-1-ie> = ideia ecológica do afonso - eco-realismo
Terça-feira, 22 de Julho de 2003

PRIORIDADES(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», Crónica do Planeta Terra, 26/3/1983

19/3/1983 - Que os ecologistas devem «meter-se na Política», não oferece hoje dúvidas a ninguém. Como fazê-lo e com que meios, é o que parece neste momento estar a discutir-se, a partir de alguns documentos propostos para debate, nomeadamente pela Associação Amigos do Terra.
1-Entre os grandes parâmetros que condicionam, desde logo, esse tipo de arrancada, um parece prioritário: nem o Governo se pode substituir aos movimentos alternativos de cidadãos, propondo-se demagogicamente programas radicais e utopistas que só aos cidadãos compete reivindicar; nem os movimentos de base deverão ser eles a usurpar funções que competem única e exclusivamente ao poder. Dar o seu a seu dono, assumir cada qual a função que lhe cabe, coloca-se à cabeça das grandes orientações que devem reger um debate deste tipo.
2 - Limitarem-se os movimentos alternativos à sua função específica implica, desde logo, que eles se tenham definido a si mesmos e para si mesmos. Que tenha havido debate interno. Ora, essa parece ser a grande lacuna dos ecologistas portugueses, que têm rejeitado sistemática e acintosamente qualquer trabalho de aprofundamento e reflexão, votando mesmo ao ódio e ao ostracismo quem tente pensar e fazer das ideias sobre ecologismo o seu trabalho quotidiano. Convém que o debate não omita esta deliberada casmurrice de tantos contra alguns. Porque enquanto o ecologismo não se definir , não disser o que é, o que quer e para onde vai, não poderá também saber o que vai exigir do poder. Esta a lacuna e os documentos agora divulgados como propostas bem o provam.
3 - Uma lista incaracterística de pequenas ou insignificantes reivindicações, misturadas com outras que são fundamentais, não nos levará de facto a nada. Urgente é uma hierarquização de prioridades que, no entender do realismo ecológico, devem ser tomadas em conta por qualquer governo, não por força da sua simpatia ou antipatia pelas teses ecologistas mas, pura e simplesmente, por imposição de princípios constitucionais.
Urgente é que essas propostas de prática e tácticas assumam a forma polarizada de campanha-chave sobre pontos que, desde já, conciliem vantagens imediatas para a maioria da população e minimizem desvantagens. Quer isto dizer que se devem evitar campanhas radicalizantes que, ao promover situações impopulares, afastem ainda mais as populações da ecologia em vez de as aproximar.
4 – Incidem sobre legislação, pelo menos 15 dos 32 pontos que a associação Amigos da Terra apresentou no documento distribuído para debate. Deverá ser, portanto, o reformismo legislativo a preocupação dominante dos independentes?
Relativamente às leis que existem ou devem existir, urgente é que os cidadãos não dispersem esforços lutando pontualmente por esta ou aquela lei avulsa, ou mesmo por grandes leis-quadro.
O problema neste momento em Portugal nem sequer é já, em muitos casos, falta de lei. O problema é que, mesmo existindo leis, elas não se cumprem.
Pelo que a reivindicação forte dos ecologistas daverá ser: um Estado que faça cumprir as Leis e uma Assembleia da República capaz de fazer as obviamente necessárias. Até porque muitas delas terão de ser obrigatoriamente elaboradas por pressão do C. E. E.
Por esta e por outras razões, os ecologistas não podem pôr no legalismo a tónica da sua luta e das suas reivindicações. É a ordem das prioridades, também no campo legal, o que nos cumpre exigir e propor.
De contrário, colabora-se na grande manobra de distracção que é, com a quantidade, esmagar a qualidade. Afogando-nos em leis é que muitos políticos nos têm intoxicado.
5 - Propor prioridades, no campo legislativo ou qualquer outro, implica uma estratégia muito clara por parte dos ecologistas, até agora afogados num mar de pequenas tácticas pontuais. Implica que se faça uma selecção muito rigorosa dos problemas, uma análise correcta da situação global e que se indiquem as linhas mestras das políticas a cumprir
Legislação avulsa mais do que abundante já existe numa série de áreas relacionadas com a qualidade de vida, sem que no entanto se pratique uma política minimamente coerente em cada uma delas. O problema é ainda que as leis não se cumprem, não há quem as mande executar e quem fiscalize.
6 - Indicam-se exemplos de campanhas que não só podem reunir o máximo consenso das «forças democráticas» mas que podem também ser mais simpáticas à opinião pública:
a) Campanha para a construção de pequenas barragens, exigindo os ecologistas um serviço expressamente votado ao planeamento e execução de um sistema de pequenas barragens em lugares de urgência prioritária;
b) Campanha pelas 38 horas de trabalho semanais, simpática por um lado a quem trabalhe e por outro capaz de ser aceite pelos que se preocupam com o problema do desemprego. É o que se chama uma campanha 100 por cento ecologista;
c) Ligada com esta prioridade, enuncia-se uma outra: auto-organizar os desempregados numa força social.Já foi sugerido num jornal português um «sindicato dos desempregados». A fórmula é para descobrir, o que interessa é pôr em prática o princípio; congratulemo-nos por já não ser heresia o que Ivan Illich profeticamente propôs em «Le Chômage Créateur» e Michel Bosquet reglosou no artigo de «Le Nouvel Observateur», «Quand les chômeurs seront heureux»(**);
d) Uma política de reciclagem coerente e sistemática é, no actual contexto de crise e desperdício, uma das que melhor podem obter o apoio das populações;
e) Uma escola de tecnologias e energias apropriadas é o que de momento se afigura como reivindicação-chave e primeira prioridade no campo de uma didáctica intensiva; a criação de unidades de produção artesanal a caminho da autarcia é de uma urgência dramática, mas a falta de preparação técnica dos que quiserem integrar essas unidades de auto-suficiência pode comprometer a sua viabilidade e imagem junto do público; não é difícil criar ciclos, cursos rápidos e práticos, ou mesmo escolas-piloto de auto-organização de grupos e de ofícios práticos artesanais;
f) Intimamente ligada a esta reivindicação é a de parcelas de terreno cedidas pelo Estado a quem nelas quiser realizar experiências de agricultura biológica; não se obriga a ir para o campo quem «gosta» de viver no pesadelo da cidade; mas exige-se que o Governo ajude os que, fartos da cidade, preferem ir para o campo ser produtivos e mais úteis ao País;
g) A reconversão dos padrões de consumo não é tão utópica como alguns economistas têm dito. Bastava que os políticos dessem atenção aos vários organismos e associações de consumidores (nomeadamente no campo alimentar), incentivando-os em vez de os perseguir, para aí se alargar um sector de reconversão de consumos que esses movimentos têm, na resistência e quase na clandestinidade, feito progredir;
h) A Ignorância dos políticos e governos em relação aos movimentos que têm por função criar a futura democracia ecológica é a mais deplorável das miopias e deve, portanto, constituir reivindicação prioritária que os governos deixem de ser, constitucionalmente, tão estúpidos.
- - - - -
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», 19/3/1983
(**) Traduzido e publicado nas edições «Frente Ecológica»
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1-3 -domingo, 19 de Janeiro de 2003
= a ideia ecológica do afonso - diario83>linhas> manifest>-7216 caracteres - já emendado de gralhas este texto, que só no final tem interesse para retrovisor -> temas reconhecidos anos depois - publicados ac

PRIORIDADES ECOLÓGICAS PARA A DEMOCRACIA(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 19-3-1983

[Este texto não será importante pelo que afirma -- uma série de evidências que, no entanto, ainda o não eram em 1982 -- mas pelo que posteriormente já foi reconhecido como princípio correcto e que nessa altura era ainda motivo de chacota, censura e proibição. O facto de ter sido publicado, não sei se em «A Capital», permite provar que, afinal, alguém tinha razão antes do tempo: nesse aspecto, as alíneas finais é que são particularmente significativas e comprovam que ser precursor não é fácil: parte desses pontos, hoje, já são defendidos por algumas correntes, outros ainda não, mas de qualquer maneira é com estes raros e frágeis documentos que eu posso provar que não fui, ao longo de 20 anos, um alienado, um mentecapto, um provocador, um fascista, propondo o que propus e proponho... É uma circunstância rara e feliz que esse texto tenha sido publicado: de contrário, não poderia provar que a reciclagem já é hoje uma coisa democrática e civilizada]

19/Março/1983 - Que os ecologistas devem «meter-se na política» não oferece dúvidas a ninguém.
Como fazê-lo e com que meios, é o que parece neste momento estar a discutir-se, a partir de alguns documentos propostos para debate, nomeadamente pela associação «Amigos da Terra».
1 - Entre os grandes parâmetros que condicionam desde logo esse tipo de arrancada, um parece prioritário: nem o governo se pode substituir aos movimentos alternativos de cidadãos, propondo-se demagogicamente programas radicais e utopistas que só aos grupos e comités de cidadãos compete reivindicar; nem os movimentos de base deverão querer ser eles a usurpar funções que competem única e exclusivamente ao poder.
Dar o seu a seu dono, assumir cada qual a função que lhe cabe, coloca-se à cabeça das grandes orientações que devem reger um debate deste tipo.
2 -- Limitarem-se os movimentos alternativos à sua função específica implica, desde logo, que eles se tenham definido a si mesmos e para si mesmos. Que tenha havido debate interno. Ora essa parece ser a grande lacuna dos ecologistas portugueses, que têm rejeitado sistematica e acintosamente qualquer trabalho de aprofundamento e reflexão, votando mesmo ao ódio e ao ostracismo quem tente pensar e fazer das ideias sobre ecologismo o seu trabalho quotidiano.
Convém que o debate não omita esta deliberada casmurrice de tantos contra alguns. Porque enquanto o ecologismo não se definir, não disser o que é, o que quer e para onde vai, não poderá também saber o que vai exigir do poder. Esta a lacuna e os documentos agora divulgados com propostas bem o provam.
3 - Uma lista incaracterística de pequenas ou insignificantes reivindicações misturadas com outras que são fundamentais, não nos levará de facto a nada. Urgente é uma hierarquia de prioridades que, no entender do realismo ecológico, devem ser tomadas em conta por qualquer governo, não por força da sua simpatia ou antipatia pelas teses ecologistas mas pura e simplesmente por imposição de princípios constitucionais.
Urgente é que essas propostas de práticas e tácticas assumam a forma polarizada de campanhas-chave sobre pontos que, desde já, conciliam vantagens imediatas para a maioria da população e minimizam desvantagens.
Quer isto dizer que se devem evitar campanhas radicalizantes que, ao promover situações impopulares, afastam ainda mais as populações da ecologia em vez de as aproximar.
4 - Incidem sobre legislação pelo menos 15 dos 32 pontos que a associação «Amigos da Terra» apresentou no documento distribuído para debate. Deverá ser, porém, o reformismo legislativo a preocupação predominante dos independentes?
Relativamente às leis que existem ou devem existir, urgente é que os cidadãos não dispersem esforços lutando pontualmente por esta ou aquela lei avulsa, ou mesmo por grandes leis-quadro.
O problema neste momento em Portugal nem sequer é já, em muitos casos, falta de lei. O problema é que, mesmo existindo leis, elas não se cumpram.
Pelo que a reivindicação forte dos ecologistas deverá ser: um Estado que faça cumprir as leis e uma Assembleia da República capaz de fazer cumprir as leis e uma Assembleia da República capaz de fazer as obviamente necessárias. Até porque muitas delas terão que ser obrigatoriamente elaboradas por pressão da CEE.
Por estas ou por outras razões, os ecologistas não podem pôr no legalismo a tónica da sua luta e das suas reivindicações. É a ordem de prioridades, também no campo legal, o que nos cumpre exigir e propor. De contrário, colabora-se na grande manobra de distracção que é, com a quantidade, sempre esmagar a qualidade. Afogando-nos em leis, é que muitos políticos nos têm intoxicado.
5 - Propor prioridades, no campo legislativo ou qualquer outro, implica uma estratégia muito clara por parte dos ecologistas, até agora afogados num mar de pequenas tácticas pontuais. Implica que se faça uma selecção muito rigorosa dos problemas, uma análise correcta da situação global e que se indiquem as linhas mestras das políticas a cumprir. Legislação avulsa mais do que abundante já existe numa série de áreas relacionadas com a qualidade de vida, sem que no entanto se pratique uma política minimamente coerente em cada uma delas. O problema é ainda que as leis não se cumprem, não há quem as mande executar e quem fiscalize.
6 -- Indicam-se exemplos de campanhas que não só podem reunir o máximo consenso das «forças democráticas» mas que podem também ser mais simpáticas à opinião pública:
a) Campanha para a construção de pequenas barragens, exigindo os ecologistas um serviço expressamente votado ao planeamento e execução de um sistema de pequenas barragens em lugares de urgência prioritária;
b) Campanha pelas 38 horas de trabalho semanais, simpática por um lado a quem trabalha e por outro capaz de ser aceite pelos que se preocupam com os problemas do desemprego;
c) Ligada com esta prioridade anuncia-se uma outra: autoorganizar os desempregados numa força social. Já foi sugerido num jornal português um «sindicato de desempregadops». A fórmula é para descobrir, o que interessa é pôr em prática o princípio; congratulemo-nos por já não ser heresia o que Ivan Illich profeticamente propôs em «Le Chômage créateur» e Michel Bosquet re-glosou no artigo de «Le Nouvel Observateur», «Quand les Chomeurs seront heureux».
d) Uma política de reciclagem coerente e sistemática é, no actual contexto de crise e desperdício, uma das que melhor podem obter o apoio das populações;
e) Uma escola de tecnologias e energias apropriadas é o que de momento se afigura como reivindicação-chave e primeira prioridade no campo de uma didáctica intensiva; a criação de unidades de produção artesanal a caminho da autarcia é de uma urgência dramática, mas a falta de preparação técnica dos que quiserem integrar essas unidades de autosuficiência pode comprometer a sua viabilidade e imagem, junto do público; não é difícil criar ciclos, cursos rápidos e práticos, ou mesmo escolas-piloto de autoorganização de grupos e de ofícios práticos artesanais;
f) Intimamente ligada a esta reivindicação, é a de parcelas de terreno cedidas pelo Estado a quem nelas quiser realizar experiências de agricultura biológica; não se obriga a ir para o campo quem «gosta» de viver no pesadelo da cidade; mas exige-se que o governo ajude os que, fartos da cidade, preferem ir para o campo ser produtivos e mais úteis ao País do que parasitas na cidade;
g) A reconversão dos padrões de consumo não é um objectivo tão utópico como alguns economistas têm dito. Bastava que os políticos dessem atenção aos vários organismos e associações de consumidores (nomeadamente no campo alimentar), incentivando-os em vez de os perseguir, para aí se alargar um sector de reconversão de consumos que esses movimentos têm, na resistência e quase na clandestinidade, feito progredir;
h) A ignorância dos políticos e governos em relação aos movimentos que têm por função criar a futura democracia ecológica é a mais deplorável das miopias e deve portanto constituir reivindicação prioritária que os governos deixem de ser, constitucionalmente, tão estúpidos.
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Este file repete muitos ou todos do file

dossies1> segunda-feira, 23 de setembro de 2002 – estes merges são muito apropriados ao objectivo de entrevista-testamento, compilam ideias do diário de um idiota na linha dos silêncios & silenciamentos e etc- cuidar com carinho, por favor, apesar das repetições de repetições em outros merges – tem os ingredientes sine qua non: nomenclatura pessoal de ac, por exemplo – são ideias para um manifesto

19400 caracteres - 8 páginas - dossies1> - merge doc de files wri do subdirectório do directório- - matéria aproveitável na linha documentos anexos do anuário holístico lusitano - sequência coerente (nos dois últimos) sobre realismo ecologista e utopia tecnocrática, dossiê escondido e tabu por excelência - vão em bold os recopiáveis para o file único de enunciados e temas proibidos

9 files wri inseridos em 18/1/1998:
1. agricult
2. ecoecon
3. fundo
4. inimigo
5. oposição
6. psicose1
7. realista
8. tabus
9. tecnofas
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agricult-manifest>-4533 caracteres

MANIFESTO CONTRA A AGRICULTURA COMO MÁQUINA DE FAZER CRESCER PLANTAS
PARA UMA POLÍTICA ECOLÓGICA DA PRODUÇÃO ALIMENTAR
PARA UMA POLÍTICA SOCIALISTA DA ECOLOGIA ALIMENTAR
CONDIÇÕES ECOLÓGICAS DE UMA POLÍTICA ALIMENTAR

Face à ofensiva agroquímica dos empórios multinacionais dos petróleos - que se exerce precisamente sobre os povos mais desfavorecidos, no sentido em que os ricos têm tendência para impingir aos pobres o que eles já não querem
- face à desenfreada campanha de propaganda a favor dos monopólios químicos, é urgente desencadear uma contracampanha, uma contraofensiva e uma contrapropaganda denunciando aquela e seu alcance capital-monopolista [???]
- enquanto o produto biológico e integral se torna, nos mercados dos países ricos, um luxo para privilegiados, é cada vez mais feroz a invasão pelas químicas degradantes dos países desprevenidos, a coberto da ideologia salvadora, messiânica, sebastianista, neomaltusiana, paternalista e racista do desenvolvimento, do progresso, da industrialização, da produtividade para «alimentar a fome» que, na realidade, cresce com a explosão demográfica (sic, maltusianismo)
Por isso, nos planos de Reforma Agrária é urgente relacionar a qualidade biológica de uma agricultura viva com a saúde das populações e a sua consequente capacidade produtiva;
não é com alimentos básicos desvirtuados, e transformados em palha seca, que se garante a um povo imunidade natural às doenças; o que se promove com uma desvitalização crescente dos produtos alimentares pela quimificação, pela industrialização, pela refinação e pela junção de corantes, é a não-imunização natural às doenças, para que (entre outras consequências) se abra o País a toda a invasão de «imunizantes» industriais, chamados vacinas, que dizem vir salvar o povo das doenças e que se estipulam como obrigatórias às crianças para as proteger das outras crianças;
é urgente estudar a vantagem ecológica e económica da rápida introdução de culturas como a soja, a beterraba sacarina, o trevo subterrâneo e outras
é urgente planificar as culturas em função das características dos solos
é urgente o planeamento biofísico
em vez da mentira biocrática do «melhoramento genético de plantas» (sic), é urgente não continuar delapidando o património genético natural dos produtos básicos
é urgente desmistificar tecnicamente a mentira dos híbridos e outras habilidades tecnocráticas [de feira], que apenas visam esquecer o morticínio e o biocídio que por outro lado se vai praticando, ao mesmo tempo que constituem novas fontes de lucro e de negócio capitalistas
a pecuária deve ser integrada nos complexos agrícolas como entidade «melhoradora» do ambiente biofísico, como complemento dinâmico do meio, como equilibrante e fertilizante, como companhia e apoio de trabalho ao camponês; e não, unicamente, como «riqueza ecobómica» a explorar e a abater no matadouro, máquina de produzir leite ou máquina de procriar.
*
Se por Reforma Agrária se compreende a luta contra a dominação e a exploração capitalista da Terra, contra a exploração dos «condenados da Terra», os camponeses, entende-se que Reforma é a Revolução e que esta só se processará se for total.
Quer dizer: se, gradualmente, na via socialista, forem introduzidos projectos-piloto, campos experimentais, zonas de agricultura alternativa, para que experimentalmente se verifique o que se diz ainda no campo das opiniões especulativas; saber-se-á que a maior produtividade é, a médio prazo, conseguida com a defesa ecológica e biológica dos solos, se com a sua sistemática desertificação através da hecatombe química; a experiência deve ser o único juiz a provar e a demonstrar;
Encontrando-se o País no ponto ideal - ponto zero - para fazer determinadas experiências criadoras em campos onde os outros, por desenfreado desenvolvimento capitalista, se atascaram, é a altura de saber como alguns países estão a valorizar a defesa ecológica dos solos e a agrobiologia;
se se querem evitar erros, crimes, disparates e vícios em que outros caíram, é altura de promover o estudo in loco das experiências que se mostram realmente progressistas porque ecológicas, no campo da agricultura;
igualmente se propõe que o Ministério da Agricultura [???] faça deslocar, se necessário, uma equipa de estudiosos para aprenderem o que o neo-capitalismo já descobriu e empalmou para si, como sendo a agricultura do futuro, porque mais susceptível de produtividade indefinida e garantida rendibilidade: a agricultura biológica.
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ecoecon-manifest>-3083 caracteres

Texto Aberto: DILEMAS POSTOS À OPÇÃO ECOLOGISTA/ PRIORIDADES DE UMA ECONOMIA AO SERVIÇO DO HOMEM

Uma política ecológica não é propriamente o fim do mundo.
Não é uma remota ficção no horizonte da utopia ou um graal que se procura com muitos dragões pelo caminho.
Uma política ecológica será uma coisa que os jovens hão-de ter que procurar, cada vez mais, à medida que as contradições da sociedade industrial os obrigarem a isso.
A política ecológica, aliás, já existe, mais ou menos dissimulada na política corrente de diversos países.
Só que, em tais casos, aplicam-se apenas pontualmente soluções ou medidas ditas ecológicas e para defesa do Ambiente, num contexto que de ecológico não tem nada.
Em tais casos, não há coerência ecológica entre essas medidas que resultam, portanto, demagógicas ou oportunistas, às vezes ,até, eleitoralistas.
Que os governos tomem medidas ditas ecológicas quando elas são directamente simpáticas aos eleitores, até nem é raro e é óbvio. Mas que eles tomem medidas ecológicas de fundo é que constitui raridade.
É para isso -- para uma reconversão ecológica da política -- que os ecologistas têm na sociedade um lugar único, específico, insubstituível.
Eles pressionam o poder, seja ele qual for, a tomar medidas de fundo ecológicas, na certeza de que elas terão de ser tomadas, queiram ou não os governos e as oposições, de direita ou de esquerda, a longo ou a curto prazo, mais tarde ou mais cedo.
Por isso uma estratégia ecológica de desenvolvimento defende:
Prioridade ao sector primário, ao desenvolvimento de pequenas e médias explorações agrícolas, sempre que o dilema seja entre indústria e agricultura;
Prioridade na agricultura às culturas de subsistência, sempre que o dilema seja entre agriculturas industriais esgotantes e culturas alimentares básicas;
Prioridade, nos solos aráveis, a culturas fundamentais, sempre que o dilema seja entre agricultura e turismo, agricultura e parques industriais, agricultura e eucaliptos, agricultura e perímetros militares;
Prioridade ao caminho da autosuficiência alimentar, sempre que o dilema seja entre produzir o que comemos ou importar o que temos de comer;
Prioridade às energias não poluentes, sempre que o dilema seja entre energias que temos e energias que temos de importar;
Prioridade às indústrias menos energívoras e portanto menos poluentes, prioridade às indústrias que gastam menos água;
Prioridade aos direitos das comunidades locais e regionais, sempre que estes entrem em conflito com os planos nacionais de desenvolvimento;
Para os subscritores do Manifesto Alternativo, trata-se de proclamar a República ecológica, quando estiverem para isso reunidas as condições históricas.
Mas até lá não se trata de manter a mono-arquia do desenvolvimento económico monopolista, logarítmico e exponencial -- apenas com algumas correcções de carácter parcial, pontual ou sectorial.
Pode ser contraproducente -- e desacelerador do processo histórico que conduz à República ecológica -- as soluções de protecção ou defesa, ditas ecológicas, dentro de um contexto totalmente inverso dos princípios ecológicos.
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899 caracteres-fundo>manifest>ideifor>

PROPOSTAS DE FUNDO(*)DO REALISMO ECOLOGISTA-IDEIAS-FORÇA:

-Descentralizar produção energética e diversificar fontes e matérias-primas
-Pequenas barragens já e arborização já contra o deserto
-Renascimento rural
-Reciclar resíduos e aproveitar desperdícios
-Reduzir horários de trabalho, reduzir desemprego
-Autogestão, autoorganização dos cidadãos, autodefesa e autocontrole
-Política do quotidiano e valorização da pessoa humana
-Alerta à década da catástrofe
-Alerta às doenças da «civilização industrial» como indiocadores da crise e sintomas da doença que mina a sociedade industrial
-Multiplicar a informação alternativa
-Animar a independência local
-Dar voz aos que não têm voz
-Testemunhar a verdade - recusar a propaganda
-Deixar que os cidadãos respirem
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(*) São de fundo porque condicionam toda uma estratégia política

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inimigo-manifest> ideifor>

Á PROCURA DO INIMIGO PRINCIPAL: HIERARQUIZAR OS ALVOS

Uma oposição radical-humanista - reformista e não violenta - terá de saber quem aliena mais do que ninguém:
-O capitalismo?
-O socialismo de Estado?
-A instituição burocrática e hierárquica (Estado, Exército, Igreja, Publicidade, Televisão)?
-A tecnoestrutura?
-A ideologia?
-A superestrutura?
É definindo o inimigo principal que uma oposição radical dá o primeiro passo na via correcta:
-Será a vida, afinal, que não tem emenda?
-Será a Natureza?
-Será o sistema de cultura e civilização?
-Será a história, a ciência, a técnica, a tecnocracia, a burocracia, a tecnoburocracia?
Um destes inimigos terá que ser o principal e a uma oposição esclarecida cabe conhecê-lo a tempo.
[Não adianta perder munições com alvos secundários, são munições que bastante falta fazem para a luta decisiva, para a decisiva resistência na decisiva frente. A frente ecológica.]
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oposicao>manifest>

[O REALISMO ECOLOGISTA ENTRE O RADICALISMO E O REFORMISMO]: ADOPTAR LEIS E SOLUÇÕES QUE O SISTEMA ADOPTA

Se, apesar de radical na crítica e no diagnóstico, uma oposição não-violenta tem de coexistir, obviamente, com os hábitos instituídos da ordem estabelecida, é evidente que terá de aceitar as reformas, as leis, as propostas que, embora reformistas e muitas vezes equívocas, podem ser soluções pontualmente úteis.
Entre as políticas adoptadas pelo sistema:
-Política de parques, reservas e ordenamento
-Política de animação cultural
-Política de extensão cultural
-Política de educação permanente ou educação de adultos
-Política de segurança social
-Política de higiene e segurança no trabalho
-Política de defesa do consumidor
O projecto ecológico, mesmo quando radicaliza, aceita o possível que é o da política e, portanto, uma gama variada e plural de soluções, desde as de conformismo reformista às de pontualismo sectorial, desde as de transição às de rutura com o sistema.
Pondo reservas bastante críticas a algumas delas -- é conhecida a retórica balofa da antipoluição, por exemplo -- procura principalmente não enganar ninguém, dando gato por loebre. É sabido como o sistema faz por um lado e desfaz pelo outro, é evidente como as contradições do sistema se tornam particularmente agudas nas questões de ambiente e corre-se (?) a tentação de aspirar a destruir radicalmente o sistema, utopismo este que o realismo ecológico rejeita igualmente por contraproducente.
A esta agilidade do realismo ecológico, que lhe permite abrir-se a várias frentes, sendo crítico mas colaborante com todas elas, chamou-se dialéctica. É na sua prática que pomos a esperança de um mundo possível, de maior tolerância e alguma paz, mas não pantanoso nem conformista.
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psicose 1-1752 caracteres
Quando o observador imparcial, neutro e frio dos acontecimentos anuncia, porque é um facto, os últimos dez anos do Planeta Terra (e já é dar-lhe longa vida pelo caminho que as coisas levam com a delinquência tecnocrática a comandar a marcha), aqui d'el rei que de alarmismo para baixo somos tudo.
«Catastrofismo» é a preciosa palavra com que, no melhor dos casos, nos mimoseiam os esperançados cegos que só não querem ver o que e porque não lhes convém.
Mas quando a providencial febre «aftosa», por exemplo, vai garantir uma saída de vacinas dos laboratórios que precisam vendê-las, quanto mais se pintar o quadro de «calamidade», «hecatombe», «catástrofe» nacional, melhor. Que morram alguns porcos, para melhoria da espécie, eis o que para os interessados (nos porcos e na vacina) é o equivalente à derrocada. Ao apocalipse... suíno.
Que o mundo se derreta à beira do holocausto atómico, blá, blá, que exagero o destes meninos sempre com a Natureza no coração. Se os sete grandes decidiram, em reunião de alto nível, intensificar a corrida nuclear, decidiram com certeza bem.
Democratas, cristãos, humanitários, estes «sete» deviam ser setenta e sete ou setecentos e setenta e sete: a humanidade seria com certeza outra, mais saudável, e os amigos da Natureza nem piavam (assim, com o desatino de costumes, ainda se permitem campanhas alarmistas).
Protectores do povo e da saúde do povo, são os veterinários que vão agora (como «O Diário» reivindicava com grande berraria) vacinar todo o bicho de abate, veterinários incluídos.
[E se o povo não se precata, vai apanhar também. Esperem-lhe pela pancada. É o apocalipse. ]
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realista-manifest>-2593 caracteres-ideifor>realismo ecológico>

MANIFESTO CONTRA A UTOPIA TECNOCRÁTICA

Realista é preconizar uma política energética totalmente submetida a uma política de ambiente e de saúde - e não o inverso
Realista é planificar primeiro uma política de gastos energéticos realista, à qual se há-de submeter depois uma política de produção energética - e não o inverso
Realista é inventariar e planificar já as potencialidades em formas nacionais de energia infinita - eólica, solar, maremotriz, hídrica, etc - e não o inverso: aceitar sem crítica a invasão de energias pesadas ou hiperpoluentes, exportadas pelos monopólios multinacionais, a pretexto de que os consumos internos sobem na vertical
Realista é resolver, primeiro, toda uma política de reciclagem e recuperação - lixos, detritos, sucatas, etc - e apoiar nela uma política de consumos, uma política económica, uma política de independência nacional - e não o inverso
Realista é considerar a economia energética na sua totalidade biológica e cósmica - e não subalternizar a bionergia hipertrofiando a importância da energia eléctrica para fins meramente industriais
Realista é sobrepor a política de ambiente e de saúde à política de crescimento industrial e de produção energética - e não o inverso
Realista não é minimizar ou omitir oe efeitos catastróficos, os custos e riscos, em segurança e saúde, da energia nuclear e petrolífera (principalmente os custos económicos desses efeitos e riscos sobre o ambiente), fazendo entrar todos os factores na contabilidade e não o inverso: minimizar sistematicamente o que custam ao País as doenças e as condições insalubres quer do ambiente, quer da habitação, quer do trabalho, etc
Realista é preparar uma política energética à medida dos nosso recursos internos - recorrendo apenas in extremis à importação e à dependência externa - e não o inverso: comprometer ainda mais a independência nacional, enfeudando as necessidades energéticas do país às multinacionais do petróleo ou do nuclear
Realista é planificar a produção industrial de que efectivamente temos necessidade real, básica, inadiável, e não o inverso: continuar desenvolvendo indústrias que só interessam às multinacionais aqui instaladas, indústrias que só pretendem alimentar supérfluos, que só pretendem imitar países poderosos, ricos, desenvolvidos
Realista é distinguir as necessidades reais das necessidades inventadas pelo sistema de consumos estabelecido pela exploração capitalista - e não o inverso: basear as necessidades de produção nas artificiosas necessidades aparentes imitadas dos países exploradores do terceiro mundo.
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1286 caracteres -tabus>-ideias>-manifest>realismo ecológico>

O REALISMO ECOLÓGICO DEFINE-SE FACE A OUTRAS CORRENTES DO AMBIENTE

As questões difíceis, impopulares ou tabu
os problemas que ninguém põe, com medo do sistema e dos seus polícias, à esquerda e à direita, a leste e a oeste
as teses de investigação incómodas que ninguém se atreve a formular porque vão contra a ordem estabelecida e os interesses criados,
aí é o campo do realismo ecológico.

O realismo ecológico pouco tem a ver, portanto, com as questões postas por conservacionistas, ambientologistas, mesologistas, políticos do ambiente, engenheiros do ambiente, ecotecnocratas, enfim, por moderados, reformistas e oportunistas do ambiente, que não pretendem mudar o sistema (que vive de ir matando os ecossistemas) mas ganhar dinheiro com a poluição que o sistema segrega como o pilrito dá pilriteiros.
Se a ecologia lida estruturalmente com os ecossistemas, ela põe e terá de pôr em causa, sob pena de negar o nome que usurpou, o sistema que estruturalmente e sistematicamente destroi os ecossistemas.
Este é o pressuposto fundamental inamovível de um realismo ecológico que proponha demarcar-se das contrafacções aparecidas em nome da ecologia, quando pouco ou nada, vistas bem as coisas, tem a ver com ela.
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tecnofas>manifest>-2081 caracteres-ideifor>

AFINAL QUEM É UTOPISTA?

O tecnocrata chama realismo aos seus delírios de grandeza e à cegueira dos seus planos megalómanos, classificando de utopia tudo o que procura furtar-se a essa megalomania, optando por soluções de bom senso que são todas as tecnologias leves, alternativas e apropriadas.
O tecnocrata (tecnofascista) recomenda então «bom senso» quanto à política energética, afirmando que não podemos ser muito puritanos quanto à qualidade de ambiente e qualidade de vida, se é a riqueza do país (a riqueza das classes exploradoras, leia-se e subentenda-se) que está em jogo.
«Cuidado, não vamos cair em exageros ambientalistas» - diz cinicamente o cínico profissional que é o tecnofascista (perdão, tecnocrata). «Entre ficarmos com um ambiente bom e andarmos de tanga, há que escolher» faz ele questão de acentuar.
Especialista na chantagem, no dilema sofístico, eis que o tecnofascista não hesita em jogar a cartada. E faz a chantagem em que é perito: a acreditar no tecnofascista, o povo consumidor de energia só terá então que escolher entre um cancro por pessoa e um nível de vida e de emprego razoável, aquele que o tecnocrata se dignará dizer que nos dá, a troco da porcaria generalizada, da poluição generalizada, da doença generalizada.
Mas basta olhar a curva de crescimento exponencial, tão querida do tecnofascista, para termos a imagem mais evidente da megalomania utopista.
Quando um tecnocrata, com o maior dos desplantes, classifica de utopista, irrealista, sonhador, romântico, etc. o defensor das tecnologias apropriadas e da imediata abertura de um sector ecoalternativa no sistema -- um sector convivial --, é necessário acentuar quem caminha afinal para dimensões megalómanas e alvos utópicos, quem preconiza curvas infinitas de crescimento infinito (que são fisica e logicamente impossíveis), quem julga poder continuar violentando as leis da natureza que a ciência estabeleceu, quem à viva força quer imitar os fortes, os grandes, os poderosos, os industrializados, os desenvolvidos e os exploradores.■

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