sábado, 21 de fevereiro de 2009

HÁ JÁ 36 ANOS

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1364895&idCanal=11

O JORNAL «PÚBLICO» DAVA ASSIM A NOTÍCIA:

««12.02.2009 - 08h45 PÚBLICO, com agências
Um satélite de comunicações norte-americano e um satélite “morto” russo colidiram no espaço – o primeiro acidente do género –, a quase 800 quilómetros de distância da Terra, algures sobre a Sibéria, revelou hoje a NASA. O acidente, que ocorreu na terça-feira, não inspira receios de ameaça à Estação Espacial Internacional (ISS).»»

FOI, PORTANTO, UMA ESTREIA: O LIXO ESPACIAL E COLISÃO DE SATÉLITES. MAIS UM LIXO A JUNTAR AOS QUE JÁ TÍNHAMOS.

É OPORTUNO PUBLICAR O QUE SOBRE SATÉLITES E CORRIDA ESPACIAL SE DIZIA HÁ JÁ 36 ANOS

1-4 - 72-01-00-jb> jornal a batalha - espaço-3> - os dossiês do silêncio – texto 2 vezes cinco estrelas

O DELÍRIO DAS GRANDEZAS(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela, com o título «Eles Destruíram a Terra e Querem Agora Colonizar o Espaço», foi publicado, com ligeiras variantes de estrutura, mantendo embora o essencial, no jornal «A Batalha», Janeiro de 1972.

Os satélites artificiais podem “prestar bons serviços" - dizem os entendidos - identificando lavouras e prevendo colheitas. Transformando energia solar em energia eléctrica. Retransmitindo programas de televisão e rádio. Servindo de raiseaux às telecomunicações. Fornecendo fotogramas ou cartogramas por sistemas de teledetecção e fotografias através de câmaras . Descobrindo recursos mineiros subterrâneos, adivinhando petróleo, urânio, água... A cartografia e a mapificação dos fenómenos dinâmicos da crosta também podem beneficiar da tele-informação fornecida pelos satélites, que não deixam igualmente de prestar bons serviços à espionagem propriamente dita.
Com estas e outras aplicações "úteis" dos satélites pretendem os países que entraram na corrida espacial justificar os enormes investimentos feitos pela indústria e os gastos colossais de energia que, globalmente, a maratona espacial representa.
Por isso uma das aplicações - ainda na fase de promessa - será "obter electricidade ilimitada na Terra através da energia solar captada por satélite" como quer a British Aerospace Dynamics Group. .

JUSTIFICAR OS GASTOS

Para rentabilizar os investimentos e justificar os gastos, nomeadamente em energia - os mais escandalosos face à opinião pública - ter-se-ia que tecer em volta da "aventura espacial" uma espessa mitologia, igualmente cultivada e propagandeada a Leste e a Oeste, com um objectivo claro mas não confesso por parte dos dois principais corredores da maratona: desviar para o espaço os narizes e as atenções, para esquecer as crises e desperdícios que continuam a apodrecer a Terra. Numa espécie de ''transfert'' psicanalítico, desvia-se para uma dimensão inédita a inflação e os fracassos de uma ideologia de crescimento infinito em acentuada auto-necrose.

SKYLAB

Até que os satélites começassem a cair, com mais ou menos estrondo, sobre as nossas cabeças, e até que a queda do SKYLAB se consumasse - substituindo com vantagem, durante meses, todos os tela-folhetins da rede da mundovisão, - a imagem da mitologia espacial mantivera-se sem manchas, quase inalterável.
Em 1979, porém, quando o SKYLAB caiu, com ele caíam muitas máscaras e mentiras, fantasias e especulações, manias e monomanias. De repente, mesmo o homem comum percebeu o ridículo de todo o discurso ditirâmbico que desde o primeiro
SPUTNIK, em 1957, passando pelos primeiros passos do homem na Lua em 1969 até ao abraço russo-americano do Apollo-Soyuz, acompanhava a corrida espacial.
Em 1979 , a celebração de efemérides astro-espacïais misturavam-se já sem nenhuma convicção dos feitos celebrados com as constantes notícias de fracassos e acidentes com satélites, tornados uma ameaça e uma chatice muito mais do que uma glória da humanidade.
Enfim, a humanidade começava a digerir com custo este naturalmente bastante indigesta salada russo-americana de correrias espaciais.

E toda a literatura tão copiosamente fabricada , começava a soar a falido. O escritor Eurico da Fonseca perdia crédito junto dos editores e dos “mass media". Viam-se agora claramente o que sempre tinham sido as promessas de chegar até aos confins da Galáxia: mera fantasia demencial de cérebros evidentemente atacados de mania das grandezas. Racharam as trombetas do triunfalismo e os hinos ao progresso soavam de marcha fúnebre. Por mais que se tentasse minimizar o grotesco, o ridículo, o tolinho do SKYLAB em desórbita e com ele todo o sistema de que ele era a vedeta, a miséria de tantas ainda há poucos triunfais grandezas era patente, indisfarçável.
O desastroso mundo industrial terminava mais uma vez com saídas de sendeiro suas entradas de leão. E aos miados pungentes, o SKYLAB espatifava-se algures no Oceano Pacífico: era um pózinho irritante e decadente o que fora o triunfo do Homem a caminho do infinito das estrelas!
Escritores muito conhecidos da colecção "Argonauta", como Arthur Clark ou Isac Asimov, e realizadores como Stanley Kubrick, não vieram sequer dar os pêsamos à N.A.S.A., nem prestaram declarações à revista "Playboy" confessando, em remorso retrospectivo, que se tinham redondamente enganado nas suas profecias de merda.
Não deram sinal de si nem das bojardas e atoardas com que, durante tantos anos, alimentaram as suas tecno-previsões e mitomanias astrais.

EXTRA-TERRESTRES

Jacques Bergier também não acusa o toque: prima-dona do dueto realista fantástico que se lançara com o "Le Matin das Magiciens", concorreu prestimosamente para o folclore espacial, preparando todo o campo para que uma outra mitologia - a dos extra-terrestres - viesse a fundir-se na dos astronautas e por ela engolida, numa das manobras mais habilidosas deste mundo equívoco das ficções.
Foi de tal modo útil o seu trabalhinho, que uma indústria se montaria na sua sequência, incluindo filmes baseados na obra do senhor Erich Van Daniken, émulo do Eric Von Braun.
A literatura desempenhou um papel primordial na criação desta mitologia, sendo acompanhada pelo esforço pungente de conceituadas instituições: Academia das Ciências dos EUA, Academia. dos Ciências da URSS, o MIT, a Sociedade Norte-Americana para o Progresso da Ciência, a revista inglesa "Nature", enfim, toda a inteligência electrónica se lançara também no futuro cósmico do homem, cada qual aventando o que lhe vinha à burra.
Acima de tudo, este abraço espacial tresandava a coexistência pacífica, a Acta Final do espírito de Helsínquia, enfim, todos os ingredientes do pan-imperialismo, para lá de Blocos, Raças, Credos, Sexos e Religiões. Todos unidos no amor da Ciência, da Técnica e do Progresso.
Mas, entretanto, tresandava também a combustível queimado em cada arranque de foguetão e ardiam milhões de dólares por minuto que era uma beleza.
No auge desta Campanha para a Conquista do Infinito, não se hesitou em falar de "colonização do espaço", segunda edição corrigida e aumentada, do pan-imperialismo que, na Terra, parecia já não ter com que fartar a sôfrega vilanagem.
A revista “Science et Vie" publicava a cores o desenho ou maquete do "fabuloso projecto”congeminado pelo físico de Princeton, Gerard O 'Neill, para uma colónia-ilha no espaço: ela poderia abrigar, segundo se afirmava, 10 mil pessoas no ano 2.074 e custaria só 25 biliões de dó1ares.
Condição sine que non: os materiais necessários a esta engenharia do espaço seriam transportados directamente da Lua...

MAIS DELÍRIOS

Mas este delírio de cientista não era inocente nem se devia apenas a um exercício febril de imaginação desempregada.
Visava, com uma campanha de intoxicação cósmica bem planificada, objectivos de dois tipos muito precisos:
- por um lado, desviar as atenções da Terra e dos podres em que as super-potências espaciais atolaram a Terra;
- por outro lado, levar ao paroxismo certas outras campanhas de intoxicação já existentes mas que, com a dimensão espacial, iriam ganhar novo alento e credibilidade que, s na Terra, já começavam a perder.

"A principal razão para colonizarmos o espaço é de ordem energética. A terra vai-se esgotar".
Assim profetizava uma revista de divulgação, evidenciando as mais secretas intenções desta campanha pró-espacial.
Dizendo que se ia ao espaço buscar energia que já faltava na Terra, pretendia-se várias coisas:
- Mostrar que a lógica imperialista da escalada é imparável e que de nada serve alguém pensar que se lhe opõem limites terrestres (quer dizer, ecológicos);
- Mostrar que a tecnologia pode tudo e irá explorar energia onde quer que ela se encontre: nas profundidades abissais do oceano para sacar petró1eo como nos abissais caminhos do sistema solar;
- Mostrar que se pode na Terra continuar, e até acelerar a escalada energívora , visto que, afinal, não faltará matéria-prima explorada do grande espaço inter-planetário;
- Mostrar que, comparativamente, o imperialismo de escala terrestre bem pouca coisa é (mesmo despiciendo) comparado ao que já se antevê de escala celestial.
A mitologia da colonização espacial serviu, portanto e como se vê, a mania energívora que fundamentalmente caracteriza a necrose industrial do pan-imperialismo transfronteiras: mas servia também o mito maltusiano.

POPULAÇÃO É UMA AMEAÇA

"A população máxima que a Terra pode conter é da ordem de uma dezena de biliões de habitantes " - perorava Kraft A. Ehricke, dirigente na Rockwell International.
" A população não é a única ameaça susceptível de expulsar o homem da Terra " - referia o sujeito como se o mito maltusiano fosse facto arrumado, indiscutível. E dizia também a palavra chave: "expulsar".
A corrida para fora da Terra tinha enfim a justificá-la uma necessidade.
Já não era um objectivo, um ideal, um sonho, um desejo, uma ambição, uma meta. Já não era um luxo, nem o que gastava de energia um desperdício. A humanidade era obrigada a isso porque a população crescente a comia já pelas pernas.
Mas a pacotilha espacial servia ainda para anestesiar um problema mais ou menos real: as alterações no meio ambiente produzidas pela queima de combustíveis fósseis, em particular o aumento da temperatura do ar ambiente, eram logo aproveitados para comprovar que a vida na Terra se tornaria inviável, só restando emigrar para o espaço.
Mas os dados factuais desta realidade ambiental seriam logo empolados e especulados para obter os efeitos in extremis de urgência: "O aumento da poluição térmica, que representa apenas 16% da energia solar absorvida pela vegetação do globo, poderá levar ao ponto de ebulição cerca de 60% da totalidade das águas da Terra."
A ilação não se faz esperar:
"Para evitar esta situação desastrosa, a melhor solução é produzir energia fora do Planeta”.

A VERTIGEM DA PARANÓIA

Mas a vertigem da paranóia, por estes lidos, é irresistível. Não pára nunca.
E tudo o que é suposto ou real cataclismo sucedido na terra (crime ou desastre ecológico) pelos imperialismos galopantes, a Leste e a Oeste, eis que o mesmo discurso ( dos cientistas lacaios desse imperialismo) do mesmo passo que o incita, do mesmo passo o desculpa; revelando os podres que o imperialismo produziu na terra, ao mesmo tempo aproveita esses podres como justificativo para novas investidas do mesmo imperialismo no espaço, fora da terra, já que a Terra está leprosa.
Isto chamam-lhe eles, cronistas ao serviço, " a emigração do homem em direcção às estrelas".
O cronista de serviço já se diz satisfeito:
"Estes argumentos mostram claramente que não há limite ao crescimento e ao desenvolvimento da espécie humana. Não há nenhum motivo para o homem se restringir à Terra. Mais cedo ou mais tarde partiremos em direcção ao espaço e, antes de mais, á procura de novas fontes de energia":
Límpido discurso este. Nunca esteve tão claro, de facto, o principal motivo da campanha para o espaço: ultrapassar o grande e maior obstáculo à pilhagem e à pirataria imperialista, que eram os limites ecológicos postos pelo Planeta Terra.
Nunca esteve tão claro como as palavras "desenvolvimento" e "crescimento" sempre foram os eufemismos que no fundo significam exactamente "imperialismo".
Nunca foi tão evidente que é a energia a ponta de lança desse imperialismo.
Nunca foi tão evidente também que para continuar gastando energia na corrida espacial se possa levar o raciocínio a tais extremos de distorção.
Gasta-se toda a energia da Terra na Conquista Espacial com a justificação de que se vai buscar energia ao Espaço para continuar na Terra o mesmo deboche energívoro.
Este "ciclo vicioso" é ainda típico de uma situação anómala.
O exponencialismo surge como outro ingrediente inevitável de todo este podre previsionismo.
Outro ingrediente do megagigantismo- a mega-Engenharia ou Engenharia do Ambiente - surge também no delírio destas antevisões, que não são tão delirantes como isso.
O cientista F.J. Dyson propõe , por exemplo, a demolição pura e simples do Planeta Júpiter.
Não basta adaptar planetas e asteróides, colonizar luas e estrelas, - exige o alucinado proboscídeo - mas seremos obrigados a modificar o próprio sistema solar.
Perante tão modesto propósito, o próprio LNEC se envergonharia . Ali sonha-se mais alto.
Rebocar icebergues, controlar climas, desviar tufões, produzir chuvas, mudar rios, secar lagos, enfim, tudo isto empalidece perante o projecto de simplesmente fazer obras de engenharia civil no sistema solar.
Onde está o mal? E onde poderá estar a dúvida?
Sendo impossível enumerar os sonhos destas cabeças, o leitor interessado fará melhor em consultar as actas do Congresso da Federação Internacional de Astronática , todos os anos...
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1-3 - 79-08-04-ie> = ideia ecológica do afonso - espaço-2> os dossiês do silêncio Quinta-feira, 24 de Julho de 2003

O QUE PENSA DAS LUAS, UM AMIGO DA TERRA(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 4/8/1979

4/8/1979 - A propósito do aniversário que recentemente se festejou - há 10 anos a Apolo 11 chegava à Lua -, com o fracasso Skylab poucos dias antes, escreve-nos um leitor, apresentando razões críticas sobre a mania (das grandezas) espacial dos dois blocos hegemónicos, que só em correrias e solturas destas, gastam energia que daria para resolver todas as «crises» do mundo rico e transformar em países habitáveis todos os pobres do mundo pobre.
Sem mais comentários, eis o que escreve o leitor:

Serei retrógrado e muito conservador, mas continua a espantar-me e a comover-me muito mais ver grelar e crescer, na janela da minha cozinha, um grão-de-bico, do que assistir na televisão à pisadela do primeiro homem na Lua.
Só vejo, portanto, qualquer vantagem em participar nesta polémica, no papel de cardeal-diabo. Para falar de vantagens, benefícios, glórias e grandezas da maratona espacial, haverá certamente quem, pelo saber e pelo entusiasmo, se avantaje à minha deliberada Ignorância de pormenor sobre o assunto. Sobre qualquer assunto técnico e desde que técnico.
A corrida espacial não me move nem comove mais do que qualquer outra tecnologia, pesada ou de precisão, electrónica ou cibernética. Se nunca nutri grande simpatia pelos progressos da técnica, a perspectiva mais moderna de tecnocratizar a biosfera, transformando-a em tecnosfera, antes de desalienar e humanizar o homem, parece-me uma manobra de substituição pouco honesta.
Daí resulta que a única tecnologia a interessar um partidário da ecologia radical é, pelos seus aspectos negativos, aquela que directamente pretende bulir com a vida, com a biosfera do planeta: ou seja, a tecnologia biocrática, a dos transplantes, congelamentos, pesticidas, medicamentos, tóxicos, revolução verde, robôs, bebés-proveta, célula viva feita em laboratório, etc., etc.
Em que medida - pergunto- afecta a tecnologia espacial a biosfera? Em que medida se pode traçar, ensaiar, esboçar uma ecologia da competição espacial?
Em que medida concorre esta tecnologia especial, peculiar, para o biocídio sistemático perpetrado pela tecnologia em geral?
Tentarei resumir em que pontos a monomania espacial toca tangencialmente a biosfera:

1 - Manobra de coexistência pacífica, os foguetões servem, à maravilha, para pôr os povos de nariz no ar, enquanto na Terra os mesmos povos são convidados a digladiar-se até ao extermínio. O que é, desde logo, um trabalhinho sujo, de que alegremente se incumbe a indústria espacial.

2 - Não é tanto o dinheiro que se gasta numa tecnologia de luxo e de supérfluos como a espacial o que, quanto a mim, está em cheque: que esse dinheiro dava de imediato para matar a fome a três humanidades iguais a esta, parece estar demonstrado e não me ocuparei de evidenciar a evidência.
De acentuar, creio eu, é o que normalmente passa despercebido: a questão de método e de princípio que preside à estratégia hoje coexistente das conquistas lunares.
O complexo de recursos mobilizados para manter os programas espaciais é, como princípio, imoral e execrável: porque vai tornar irreversível uma data de outros complexos tecnológicos que, por sua vez, se dirão justificados pelo apoio à conquista espacial, etc.
Entrámos no círculo infernal das dependências em cadeia, na engrenagem dos gigantismos que pretendem justificar-se uns aos outros. Chegaremos, sem dúvida, à necessidade de continuar mantendo um armamento pesado de toda a ordem.
Assim, uma indústria aparentemente pacífica, serve e motiva a bélica.
No momento em que, muito à pressa, Europa e Japão se deram conta de estarem a ser codilhados pelas multinacionais do petróleo, o que em combustível se gasta num foguetão e respectiva nave, não deixa de ser argumento que um partidário da ecologia evite colocar no balanço de razões que é urgente apresentar contra a incoerência que a ambição do espaço representa em relação ao próprio sistema do desperdício e suas jeremiadas à poupança de combustível.
Convidam-nos a poupar no banho, mas gastam-no todo na estratosfera?
Ora bolas para a «moralidade»destas coisas.

3 - Outro aspecto de choque entre crise do ambiente e desatino espacial é a maneira como o ser vivo tem mostrado que reage aos ambientes exógenos que lhe são biológica e ecologicamente estranhos, ou aberrantes: por um lado, o ambiente fechado das cápsulas onde os astronautas permanecem como aleijadinhos do século XXI (mas isso é o menos, pois nem todos somos astronautas e eles escolheram a profissão); por outro, os efeitos da imponderabilidade prolongada no psicossomático das cobaias (o próprio facto de já se aceitarem sem discussão homens para cobaias de experiência!) ;por outro lado ainda, espaços e radiações astrais a que a máquina humana tem mostrado reagir da pior maneira.
Contam as crónicas que nem um só dos heróis astronautas é mentalmente sadio. Para quem tenha umas noções básicas de ecologia humana, porém, não precisavam as crónicas de o dizer. Era mais que óbvio..

4 - Não vale a pena referir (pois outros o farão com maior conhecimento de causa) em que medida a proeza espacial é um condicionante político de propaganda entre blocos de hegemonia.
Importante, nela, é a mitologia das grandezas que se pretende insinuar no subconsciente colectivo ao relatar maravilhas e milagres da técnica. A técnica pode tudo. Tudo, incluindo esbater as desigualdades económicas e a exploração do homem pelo homem, será resolvido pela técnica. Ela é tão todo-poderosa, podia lá deixar de...

5 - Na vasta literatura inerente às angústias espaciais, é vulgar ler-se que os cientistas estão multo interessados em obter provas de vida em outros planetas...
Sabendo um partidário da ecologia melhor do que ninguém de que maneira a vida e a saúde são tratados neste planeta-escola, a que lindo biocídio de espécies (incluindo o homem) por aqui se está, se vai, se irá praticando, precisamente pela invasão das tecnologias hiperpoluentes e anti-humanas, biocráticas e de manipulação do homem pelo homem quando calha - aquele zelo de encontrar vida extraterreste em Marte ou Júpiter não deixa de parecer suspeito e, de certo, sadomasoquista.
Será que, além de implantar um colonialismo na Lua, se pretende já desenvolver ali o processo biocida que aqui tão exemplarmente vem sendo praticado?

6 - Esta pergunta não é tão fantasiosa como pode parecer aos optimistas do «gadget» interplanetário.
Ficaram célebres as experiências sísmicas que, logo na chegada à Lua, foram efectuadas pelos endiabrados exploradores do Espaço.
A Lua tremeu durante não sei quantos minutos... e os sábios cá da Terra a gozar que nem uns perdidos.
7 - Sabendo como a indústria turística é hoje ponto forte da reciclagem do sistema -pretendendo-se com os últimos «paraísos da Terra» só para ricos, fazer esquecer aos pobres que a transformámos num inferno - a ideia de aproveitar a Lua e arredores para estância balnear de veraneio não é fantasia minha de crítico irritado, mas foi proposta honesta e a sério de um senhor norte-americano, que propunha essa saída para o actual «cul de sac» de saturação e esgotamento planetário.
E lá ia a gente com a família para a Galáxia... Tudo tão fácil, não é?

Uma coisa é certa e honra lhes seja feita: aos futurólogos da N. A. S. A. e quejandos nunca falta espírito de humor para gozarem e nos gozarem.
Numa tentativa de balanço e resumo, direi que tudo quanto foge à escala hurnana será humorístico mas enfadonho.
Quer se trate de monstruosas aquisições em peso, de recordes, gigantismos, de tempos astronómicos só medíveis em anos-luz, é de suspeitar.
Encontrou-se um meteorito com 4000 milhões de anos! A minha pergunta é: como é que descobriu isso o senhor físico Kerald Wasserburg e, ainda que assim fosse, o que me interessará a mim tantos milhares de anos, eu que na melhor das hipóteses serei meio centenário se a poluição e a estupidez me deixarem?...

O MITO DO ESPAÇO

O meu ponto de vista pretende ser o do homem comum. No entanto, um homem comum que não aceita os ídolos impostos e tornados regra.
Na nossa época, os mass media são poderosos fabricantes de ídolos, mitos, ideias feitas, transformados em ícones religiosos...
É preciso, de vez em quando, um banho lustral (ou brutal) de senso comum e de bom senso, para não encarreirar na forte corrente de opinião uniformizada, estandardizada que nos arrasta.
A conquista espacial (exploração ou descoberta) é um dos mitos propostos ao consumo internacional por dois países que pretendem dar cartas (e obter sempre trunfos) a todos os povos do planeta.
Digamos que é um negócio, um «affaire» doméstico lá entre eles. Mas a verdade é que, no caso americano os gastos com o programa interplanetário são obtidos da exploração feita a povos do Terceiro Mundo, e no caso soviético são de verbas roubadas ao benefício nacional nas matérias-primas e energia que se gastam sem sentido e sem reciclagem.
Pretendo ver a exploração espacial não como proeza (assim nos é relatada e imposta pela propaganda), mas como mito, como idolatria, como questão de princípio.
É isso: ainda que a indústria espacial não fosse um luxo de supérfluos, ainda que ficasse barata em recursos humanos, materiais e energéticos, ainda que daí resultassem os benefícios e utensílios que a propaganda diz resultarem, era como questão de princípio, de método, como ideologia implícita de coexistência - no que esta palavra pode ter de mais odioso- que a rejeitaria e detestaria.

UM LEITOR DEVIDAMENTE IDENTIFICADO
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 4/8/1979
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1-3 -espaço-1-ie> = ideia ecológica do afonso - os dossiês do silêncio
Quinta-feira, 24 de Julho de 2003

ESPIÕES DE BOAS INTENÇÕES: A GUERRA DOS SATÉLITES COM FINS PACÍFICOS(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1983

21/5/1983 - Não haveria necessidade de falar em «utilização pacífica» de um invento (tecnologia, ciência ou forma de energia) se a sua utilização bélica não surgisse primeiro e não fosse um facto há muito tempo.
Obviamente.
É assim que logo se inventou um «átomo pacífico» paralelamente à escalada do armamento nuclear, em vez da «guerra química» a propaganda inventou os «benefícios da química», a «guerra biológica» aparece disfarçada de pacíficas epidemias naturais, a «guerra climática» é sempre atribuída a distúrbios e culpas da intratável Natureza, enquanto a genética deixa de estar ao serviço da mais feroz «manipulação do homem pelo homem, mascarando-se de grande benefício para a humanidade.
Também a «guerra espacial» não podia escapar a esta regra ou hipocrisia, de fundo. E quando a espionagem por satélite já era rotina de uma guerra secreta entre grandes potências, surge a utilização «pacífica» dos satélites, do espaço exterior e da «detecção remota» ou «teledetecção».

A GUERRA COM FINS PACÍFICOS

Com a chamada «utilização pacífica» do «espaço exterior» e da «teledetecção» pretendem os técnicos da especialidade cantonar e sectorizar o público em geral ou o jornalista mais renitente. Tudo o que fica de fora desta «pacífica» utilização, já não é evidentemente com os serviços, com o LNEC, com o novo computador. Vai para a zona negra, indefinida, abissal do «uso bélico», intocável, situado numa espécie de outro planeta.
Com isto pretende-se escamotear a questão de fundo, que é esta: de que modo a «pacífica» captação de imagens pode ser utilizada para fins menos pacíficos.
Mais: a «espionagem» deixará de se chamar assim, se em vez de informações de instalações militares, captar informações de culturas agrícolas, manchas de poluição, águas subterrâneas, urânio e outros minérios?
O sofisma que dá o carácter «diabólico» à nossa época, comandada por tecnologias de ponta que escapam ao controlo dos próprios técnicos que dizem controlá-las, é exactamente esta duplicidade ou hipocrisia de fundo: quando surge a palavra «paz» é porque se pretende camuflar ou legitimar uma qualquer «guerra», circunscrita assim a uma zona interdita onde poderá desenvolver-se à vontade sem interferências da sociedade civil ou de jornalistas indiscretos.
Teremos então o seguinte quadro: tudo quanto se fizer de triunfal no domínio dos satélites vai para a zona boa ou pacífica. Mas o que suceder de sinistro ou odioso fica na sombria área «não pacífica» e como tal não se discute. Rotula-se de «segredo militar».

SOFISMA, SEXTA DIMENSÃO DA INTELIGÊNCIA TERRESTRE

Assume aspectos patológicos esta pretensão sofística de rigor terminológico.
Se, por exemplo, eu digo que o Landsat dá informações para lá da superfície terrestre, eles corrigem: «não dá, contribui para».
Se eu digo teledetecção, eles corrigem (como se eu tivesse dito uma grande asneira) para «detecção remota».
Se eu incluo na teledeteccão os aparelhos de medida usados na Base Aérea n.° 1 e que captam imagens de grandes altitudes, tal como os satélites, logo me emendam: isso não é já teledetecção mas «geofísica»...
Esta flutuação de palavras entre a terra e o espaço verifica-se igualmente no caso dos satélites e «porque caem».
«Nada obriga a que todos os satélites venham um dia a cair», dizem os engenheiros espaciais, para logo a seguir se desdizerem: « qualquer satélite, até a Lua, pode cair»...
Nenhum afirma, explìcitamente, que a «energia nuclear» é usada como «sistema de propulsão de alguns satélites», preferindo sublinhar outras fontes energéticas igualmente utilizadas como o combustível «hidrazina» e os «painéis solares»
A ambiguidade de linguagem é ainda notória quando se chega ao melindroso assunto da «informação que as potências obtêm sobre recursos naturais de outros países e o aproveitamento que venham a fazer dela».

TERCEIRO MUNDO ENTRA NA CORRIDA

A ambiguidade e o sofisma, a subtileza manhosa e a flagrante contradição, continuam, quando se chega à regulamentação prevista para a «gestão do espaço exterior».
Enquanto foram as grandes potências imperialistas a encher o espaço de satélites (meteorológicos, telecomunicações, de recursos, espiões, etc.) não se falou de lei, nem de «anarquia existente».
Quando os pequenos quiseram entrar na corrida, porque para isso os grandes os aliciaram, realiza-se em Viena de Áustria uma conferência para «ver se se chegava a um acordo».
Os termos em que a Conferência de Viena (9.8.1982) decidiu sobre a «gestão do espaço» são verdadeiramente imponentes. Imperialistas, ditatoriais e tirânicos. Dessa conferência sai, com efeito, uma recomendação ao Comité das Nações Unidas para a Utilização Pacífica do Espaço Exterior, para «definir legislação relativa à possibilidade de um país ser detectado (observado) por satélites de outro e dos dados obtidos serem vendidos a países terceiros (eventualmente por empresas privadas) sem autorização prévia do país observado».

TERCEIRO MUNDO EM BICOS DE PÉS

É uma obra-prima de sofística esta recomendação. Não se põe em causa, de raiz, que a superpotência espacial saiba o que muito bem quer e entende dos países que eventualmente «coloniza» ou irá colonizar economicamente.
Isso não é ponto em questão para os técnicos reunidos em Viena sob os auspícios da O. N. U. Hipocritamente «teme-se apenas» que a mesma informação «vá parar a terceiros...»
Paternal e enternecedor é o súbito receio dos espacialistas (com pa):«Há - imagine-se! - o perigo de o Terceiro Mundo não vir a ter espaço para pôr os seus satélites...»
Perigo, portanto, não é a matilha de satélites já em órbita e que podem em qualquer altura cair-nos em cima ou desfazer-se em merda radioactiva.
«A questão das quedas é irrelevante» - dirá um tecnocrata espacial. Perigo e grande é que o Terceiro Mundo seja também chamado à glória de competir com as grandes potências espaciais, disputando-lhe espaço no espaço, pondo-se em «bicos dos pés» para conseguir gastar em corrida espacial a energia que não tem para dar de comer aos seus povos.
Até onde irá o cinismo canibalesco destes ternos guerreiros espaciocratas?
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1983
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1-4 - 83-05-21- ie> os dossiês do silêncio – publicado ac 5 estrelas – texto de 1983

ESPIÕES DO ESPAÇO

21/5/1983 - Não haveria necessidade de falar em “utilização pacífica" de um invento (tecnologia, ciência ou forma de energia), se a sua utilização bélica não surgisse primeiro e não fosse um facto há muito tempo.
Obviamente.
É assim que logo se inventou um "átomo pacifico" paralelamente à escalada do armamento nuclear, em vez da "guerra química" a propaganda inventou os "benefícios da química", a "guerra biológica" aparece disfarçada de pacíficas epidemias naturais, a "guerra climática" é sempre atribuída a distúrbios e culpas da intratável Natureza, enquanto a genética deixa de estar ao serviço da mais feroz "manipulação do homem pelo homem", mascarando-se de grande benefício para a humanidade.
Também a "guerra espacial" não podia escapar a esta regra ou hipocrisia de fundo. E quando a espionagem por satélite já era rotina de uma guerra secreta entre grandes potências, surge a utilização "pacífica" dos satélites, do espaço exterior e da "detecção remota" ou "teledetecção".

A GUERRA COM FINS PACÍFICOS

Com a chamada "utilização pacífica" do "espaço exterior" e da "teledetecção", pretendem os técnicos da especialidade cantonar e sectorizar o público em geral ou o jornalista mais renitente. Tudo o que fica de fora desta "pacífica" utilização, já não é evidentemente com os Serviços, com o LNEC, com o novo computador. Vai para a zona negra, indefinida, abissal do "uso bélico", intocável, situado numa espécie de outro planeta.
Com isto pretende-se escamotear a questão de fundo, que é esta: de que modo a "pacífica" captação de imagens pode ser utilizada para fins menos pacíficos.
Mais: a "espionagem" deixará de se chamar assim, se, em vez de informações de instalações militares, captar informações de culturas agrícolas, manchas de poluição, águas subterrâneas, urânio e outros minérios?
O sofisma que dá o carácter diabólico à nossa época, comandada por tecnologias de ponta que escapam ao controle dos próprios técnicos que dizem controlá-las, é exactamente esta duplicidade ou hipocrisia de fundo: quando surge a palavra "paz" é porque se pretende camuflar ou legitimar uma qualquer "guerra", circunscrita assim a uma zona interdita onde poderá desenvolver-se à vontade, sem interferências da sociedade civil ou de jornalistas indiscretos.
Teremos então o seguinte quadro: tudo quanto se fizer de triunfal no domínio dos satélites vai para a zona boa ou pacífica. Mas o que suceder de sinistro ou odioso fica na sombria área "não pacífica" e como tal não se discute. Rotula-se de "segredo militar".

SOFISMA, SEXTA DIMENSÃO DA INTELIGÊNCIA TERRESTRE

Assume aspectos patológicos esta pretensão sofística de rigor terminológico. Se, por exemplo, eu digo que o Landsat dá informações para lá da superfície terrestre, eles corrigem: não dá, contribui para...
Se eu digo tele-detecção, eles corrigem (como se eu tivesse dito uma grande asneira) para "detecção remota".
Se eu incluo na teledetecção os aparelhos de medida usados na Base Aérea n° 1 e que captam imagens de grandes altitudes, tal como os satélites, logo me emendam: isso não é já teledetecção mas "geofísica”...
Esta flutuação de palavras entre a terra e o espaço verifica-se igualmente no caso dos satélites e "porque caem".
" Nada obriga a que todos os satélites venham um dia a cair, dizem os engenheiros espaciais, para logo a seguir se desdizerem: "qualquer satélite, até a Lua, pode cair..."
Nenhum afirma, explicitamente, que a "energia nuclear" é usada como "sistema de propulsão de alguns satélites", preferindo sublinhar outras fontes energéticas igualmente utilizadas como o combustível "hidrazina e os "painéis solares".
A ambiguidade de linguagem é ainda notória quando se chega ao melindroso assunto da "informação" que as potências obtêm sobre recursos naturais de outros países e o aproveitamento que venham a fazer dela".

TERCEIRO MUNDO ENTRA NA CORRIDA

A ambiguidade e o sofisma, a subtileza manhosa e a flagrante contradição continuam, quando se chega à regulamentação prevista para a "gestão do espaço exterior" .
Enquanto foram as grandes potências imperialistas a encher o espaço de satélites (meteorológicos, telecomunicações, de recursos, espiões, etc) não se falou de lei nem de "anarquia existente".
Quando os pequenos quiseram entrar na corrida , porque para isso os grandes os aliciaram - realiza-se em Viena de Áustria uma Conferência para "ver se se chegava a um acordo:"
Os termos em que a Conferencia de Viena (9.8.1982) decidiu sobre a "gestão do espaço", são verdadeiramente imponentes. Imperialistas, ditatoriais e tirânicos. Dessa Conferência sai, com efeito, uma recomendação ao Comité das Nações Unidas para a Utilização Pacífica do Espaço Exterior, para "definir legislação relativa à possibilidade de um país ser detectado (observado) por satélites de outro e dos dados obtidos serem vendidos a países terceiros (eventualmente por empresas privadas) sem autorização prévia do país observado."

TERCEIRO MUNDO EM BICOS DOS PÉS

É uma obra-prima de sofistica esta recomendação. Não se põe em causa, de raiz, que a superpotência espacial saiba o que muito bem quer e entende dos países que eventualmente "coloniza" ou irá colonizar economicamente.
Isso não é ponto em questão para os técnicos reunidos em Viena sob os auspícios da O.N.U. Hipocritamente "teme-se apenas" que a mesma informação "vá parar a terceiros..."
Paternal e enternecedor é o súbito receio dos espacialistas (com pa) : "Há - imagine-se! - o perigo de o Terceiro Mundo não vir a ter espaço para pôr os seus satélites..."
Perigo, portanto, não é a matilha de satélites já em órbita e que podem em qualquer altura cair-nos em cima ou desfazer-se em merda radioactiva.
" A questão das quedas é irrelevante dirá um tecnocrata espacial “ , perigo e grande é que o Terceiro Mundo seja também chamado à glória de competir com as potências espaciais, disputando-lhe espaço no Espaço, pondo-se em "bicos dos pés" para conseguir gastar em corrida espacial a energia que não tem para dar de comer aos seus povos.
Até onde irá o cinismo canibalesco destes ternos guerreiros espaciocratas?

MAIS CULPAS, MAIS DESCULPAS

A pretender justificar o que não se faz - porque não se quer fazer! - há um verdadeiro catálogo de argumentos que os tecno-sofistas aplicam avulso ou por atacado.
"Falta equipamento técnico para análises:" pode ser um desses argumentos. Ainda em 1980, por exemplo, o tenente-coronel Silva e Castro, no III Simpósio sobre Detecção Remota , anunciava que finalmente fora adquirido o radiómetro - por iniciativa da Comissão Nacional do Ambiente e da Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica - com o qual se poderia controlar a poluição petrolífera da nossa costa.
Até então, dizia ainda Silva e Castro, o "controle de poluição" fora "ineficaz, quer pela falta de estruturas adequadas, quer pela falta de equipamentos e de conhecimentos técnicos apropriados,"
Estamos em Julho de 1983. O que faltará agora e até quando?


DOS E.R.T.S. (I e II) AO "SKYLAB":A VOCAÇÃO DOS SATÉLITES PARA A ESPIONAGEM

A espionagem seria afinal a grande e sublime vantagem da corrida espacial. De tudo o que se pintou e delirou, escreveu e fotografou, ficaria o satélite-espião como o verdadeiro e derradeiro motivo pelo qual se pôs em movimento toda a engrenagem espacial, a razão que excitou tanto cérebro ensandecido de cientista, o motor que pôs em órbita tanto cronista pago à linha e tanto escritor de ficção científica promovido ao estrelato da fama.
O que fez correr tanta gente, na URSS e nos Estados Unidos, "a caminho das estrelas", como diziam os épicos que cantaram tais feitos, foi afinal o satélite espião.
Em 23 de Julho de 1972, estreou-se o primeiro satélite conhecido por E.R.T.S. , o que significava , claramente, Earth Resources Technology Satelitte. Não se hesitou em considerá-lo, por isso, um "satélite ecológico" mas logo se lhe mudava o nome, rebaptizando-o de Lsndsat I, quando se verificou que lhe tinham posto um nome demasiado explícito...para espião .
E.R.T.S. ficaria para sempre, porém, como símbolo da super-espionagem. Incansável, às voltas em volta do Globo Terrestre, o ERTS 1 transmitiu mais de 1 milhão de fotos "multi-espectrais" , cobrindo mais de 160 milhões de Km2 na totalidade, dando uma imagem dos recursos vegetais e minerais da Terra.
Lançado em 22 de Janeiro de 1975, por seu turno, o ERTS 2 - logo rebaptizado de LANDSAT 2, tinha a mesma missão que o 1, estudo dos recursos terrestres ainda inexplorados pelo imperialismo.
A estes satélites, com efeito, confiavam os estados Unidos observações que seriam impossíveis desde a superfície da Terra, nomeadamente porque a atmosfera intercepta quase todos os raios diferentes da luz visível.

ECOLOGISTAS AGRADECIDOS

Inadmissível seria, portanto, que os ecologistas não rendessem as maiores homenagens aos engenheiros dos satélites espiões, tão úteis a revelar, dia e noite, tudo quanto as potências precisavam e precisam para travar a sua santa guerra ecológica ou pilhagem dos recursos naturais da Terra.

Mas nesta missão, os satélites vão ainda mais longe. O aperfeiçoamento da técnica é tal que até "as formas de poluição da água podem ser detectadas" por esse espertíssimo invento.
Chama-se Detecção Remota a todo o sistema que observa, vigia, fiscaliza, toma apontamentos, regista desde o Espaço tudo o que se passa na Terra com interesse para o imperialismo pilhar.

LEGENDAS

A fonte de dados - ou "input" - que se mete no sistema é uma banda magnética onde se encontram os dados digitalizados das imagens obtidas por satélite ou avião.
Os dados são de novo reprocessados, obtendo-se em écran de televisão - a cores ou preto branco - as imagens visuais sobre a superfície terrestre colhidas pelos tele-detectores.
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Apesar da sua enorme gama de aplicações e poder “perfurante”, o radiómetro MSS tem limitações. Pesquisa recursos terrestres mas só nas «plataformas continentais», o que deixa de fora a «mina» dos oceanos e suas profundidades ricas de nódulos minerais.
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(*) Parcialmente e com o título «Espiões de Boas Intenções – a Guerra (dos satélites) com fins pacíficos», este texto foi publicado no jornal «A Capital», (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1983
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EM 16/2/2009, foi finalmente noticiada uma colisão de satélites: o que não significa necessariamente que seja a primeira.

Lixo espacial leva questão do meio ambiente às alturas
(Redação do Site Inovação Tecnológica)

16/02/2009

[Imagem: ESA]

A colisão entre dois satélites, ocorrida na semana passada, fez o problema do lixo espacial subir vários pontos na lista de prioridades das autoridades ligadas ao setor.

Enquanto a questão era meramente uma possibilidade, cuja chance de ocorrer era estimada em 1 em 1 milhão, o acidente fez o que sempre se espera que a estatística faça: aumentou esse risco para 1 em apenas 7.000. E isto apenas para o caso específico dos satélites de comunicação semelhantes ao que foi atingido pelo satélite russo desativado.

Os objetos mostrados nesta imagem representam meramente uma ilustração, estando com suas dimensões largamente exageradas para se tornarem visíveis nesta escala.

O primeiro satélite artificial, o Sputnik, foi lançado pela União Soviética em 1957. O primeiro satélite de comunicações foi lançado em 1964, para transmissão das Olimpíadas de Tóquio pela televisão. Hoje, o número de satélites de comunicação em órbita da Terra cresce a uma média de 200 por ano.

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