quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

CRISE 1990

dezemb11-diario

REFLEXÕES SOBRE A CRISE: O «EFEITO BOOMERANG»: A ilusão do «átomo pacífico»/com a ciência de ponta, toda a tecnologia se torna bélica

Lisboa, 11/12/1990 - Nos laboratórios da História é que a Ecologia nasceu e esta é a razão principal que torna a Ecologia Humana uma ciência proibida, clandestina, que se tem vergonha de identificar na sua triste genealogia.
Tudo aquilo que Miguel Sousa Tavares, advogado e jornalista, indica muito justamente como sendo o comportamento «intolerável» do Iraque para com o Ocidente laico, ateu e democrata (jornal «Público», 10/12/1990) - a chantagem química, a chantagem biológica, a chantagem petrolífera, a chantagem política e económica, aprendeu ele, Hussein, com os bons mestres do Ocidente, onde a chantagem, como o M.S.T. sabe, é religião, na vida internacional e até na vida quotidiana do nosso «modus vivendi».
A chantagem nuclear, durante décadas, não manteve em confronto, à beira do holocausto, duas superpotências nucleares? E o argumento podia ser o mesmo: 20 mil mortos agora ou 20 milhões daqui a alguns anos?
O que o sistema reclama, sempre, é mortos e deles se alimenta: razão por que não nos devemos admirar agora de tantos nos serem exigidos. Acontece que a ciência hoje nasce dos mortos.
O que se verifica na actual situação centrada no Golfo Pérsico e que particularmente irrita alguns observadores - é apenas o agudizar das contradições do sistema a que se poderá chamar de consumo, capitalista, economia de mercado, imperialismo industrial antiecológico, etc. Ao lado deste fanatismo, o fundamentalismo islâmico é uma brincadeira de crianças... Se o Ocidente reparar que a chantagem, que sempre utilizou como norma, princípio, arma e religião, agora lhe dá na cara, é apenas o típico «efeito de boomerang» que caracteriza o relacionamento ecológico dos sistemas e das partes dentro do sistema.
O que a engrenagem do consumo tem é uma péssima memória: e quando chegam os efeitos das causas que ela própria engendrou , os observadores, que fazem o discurso dominante nos média, espantam-se!
O Ocidente procura outra vez desatascar-se das crises onde periodica e estruturalmente tem que mergulhar, para se continuar reproduzindo. Com os avisos dados pelos dois choques petrolíferos, um em 1973 e outro no princípio dos anos 80, o sistema reincidiu e continuou a debitar o discurso sonolento de que as «energias alternativas» ao petróleo não eram para já, não eram rentáveis, eram só para divertir esses rapazes folclóricos ditos ecologistas, etc.
Em quase vinte anos - perguntam alguns - o que se progrediu em matéria de ecoenergias alternativas? Quer ou não o Ocidente capitalista continuar na dependência do petróleo e portanto sujeito, submetido à lógica da chantagem?
A próxima guerra será «ecológica» entre aspas no duplo e total sentido da palavra: o que não é talvez por acaso, prque a ciência hoje nasce principalmente da guerra e a principal guerra se deve, fundamentalmente, a um sistema económico que tem como dominante preponderante a sua impiedosa atitude contra os ecossistemas, custe o que custar e apenas para fazer andar os mecanismos do lucro e a engrenagem da produção?
As armas biológicas, por exemplo, e a respectiva chantagem que Hussein está fazendo com elas, são ou não uma típica invenção do Ocidente laico, ateu e democrático? E as armas químicas? Não foi o Vietname o maior laboratório de Ecologia Humana, depois de Hiroxima, exactamente pela guerra química ( o célebre agente laranja) que deixou sequelas eternas no corpo do povo vietnamita?

[Este texto talvez valha **** porque nele se recombinam vectores fundamentais das intuições ac de Ecologia Humana: e ecologia não é uma ciência académica, obtida na calma dos laboratórios mas uma ciência que se impôs sobre uma massa impressionante de cadáveres e vítimas: e a cada Hiroxima, a cada Vietname, a cada Seveso, a cada Bhopal, a cada Chernobyl, a cada Bâle, - ver outras datas do industrial - a guerra confunde-se com a paz e a paz com a guerra, pelo menos quanto a número de mortos.
[O curioso desta situação é que a retórica do «átomo pacífico», tal como a da «química pacífica», tal como a da «engenharia biológica pacífica», etc., deixou de fazer sentido e cada vez a palavra «pacífico» é menos adequada para designar uma ciência e uma tecnologia - «braço armado da ciência» - que estruturalmente nada têm de pacífico.
[Também o efeito «boomerang» se constata neste apontamento como uma lei fundamental da Ecologia Humana, o que já tem sido, em outras circunstâncias, por mim sublinhado.]

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ABSTENHAM-SE, MAS NÃO SE ABSTENHAM DE CONSUMIR

Lisboa, 5/6/1996 - Quando em 1969 publiquei, na colecção «Cadernos do Século», o primeiro dossiê ecológico que apareceu em Portugal, e por isso fui apelidado de fascista perigoso, ninguém, evidentemente, iria acreditar que, em 5 de Junho de 1996, os jornais proliferassem de anúncios , com proliferantes escolas que dão proliferantes cursos de ciências do ambiente, educação ambiental, protecção do ambiente, ordenamento do território, saneamento básico,
isto, claro, no meio de proliferantes matérias que muito contribuem para a proliferante destruição do ambiente,
para desordenar o território
para extinguir as espécies
para cometer constantes atentados ao equilíbrio ecológico
Como, por exemplo, engenharia
barragens e superbarragens
gestão empresarial
marketing
finanças
international business
reengenharia
ciências químicas
engenharia civil
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2029 caracteres -arcos-1-diario92
Arcos, 7/11/1992
Os Meus Discursos Anarco-Surrealistas Manifesto Anti-Ecologia em 1993

A POLUIÇÃO DA ANTI-POLUIÇÃO

A quem me fizer, em 1992, o discurso da Modernização e do Desenvolvimento, devolvo-lhe a bola e vou tentando saber se me responde a perguntas tão  óbvias como estas:
- Desde que aceleram o Desenvolvimento e me fazem discursos sobre a Modernização, alterou-se alguma coisa relativamente às desigualdades entre o Norte e o Sul, entre o Terceiro Mundo e o Primeiro Mundo, entre o interior e o litoral, entre os que têm tudo e os que não têm nada, entre os Nababos e o Lumpen proletariat? Alguma coisa se alterou das injustiças, das poluições, dos bairros da lata, das misérias? O discurso do desenvolvimento é tal como o da Política da chamada Saúde (que promove a Doença), tal como o da política chamada do Ambiente (que tem apenas assistido impassível à escalada biocida sobre tudo o que vive e mexe ao de cima do Globo).
Alguma coisa de estrutural está podre neste sistema podre. O que é, não sei nem me interessa. Sei é que não entro em discursos de hossana ao desenvolvimento, e muito menos nos discursos da política que dizem que vão melhorar o ambiente, a Pobreza, a Fome, o Subdesenvolvimento, a Injustiça, o ódio de classes, as epidemias. Nem um só milímetro deste panorama foi alterado, desde que o capitalismo é capitalismo. A única diferença é milhares de coisas belas que foram destruídas, aldeias e outras espécies vivas em vias de extinção. A única diferença, na paisagem, é que há desertos onde antes havia florestas.

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