Também quero festejar o meu 25 de Abril, espero que não me levem a mal a pretensão.
A nostalgia impõe-se, nestas datas lacrimogénicas.
Dei com um texto , publicado em 1971, no semanário «O Século Ilustrado» (quem se lembra?) e fiquei triste porque os temas e autores deixaram de estar na berra: hippies, Theodore Roszack (o da contra-cultura), Allan Watts, Herbert Marcuse, Edgar Morin, contrastam com o actual deserto ( de ideias, de autores, de correntes, onde tudo se passa sem nada se passar).
Chega de nostalgia.
Vamos então festejar mais um Abril de águas mil. Oxalá o sol brilhe para não empanar a glória dos retroactivos.
Deixo os primeiros parágrafos do texto que digitalizei e que pode ler-se na íntegra no meu site catbooks.
http://www.catbox.info/catbooks/hippies-1-ie.htm
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O UNIVERSO DOS "HIPPIES" NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO (*)
3-4-1971
Dos Estados Unidos estão a chegar insistentes notícias de uma contra-cultura que, nascida há pouco mais de 4 anos, cresce e floresce sob a forma de comunas das mais diversas orientações e ideologias, à margem do Sistema, do Establishment, da Sociedade Produtiva.
L'Univers des Hippies (1) é um dos livros mais recentes que falam desse surto a que importa estar atento, ao menos para o criticar, e se não queremos ignorar um dos mais importantes movimentos humanos do pós-guerra.
Jean-Pierre Cartier e Mitsou Naslednikev escrevem essa reportagem através do universo "hippy" e concluem positivamente o seu balanço. Deslumbrados, sem dúvida, mas também compreensivelmente perturbados e até um pouco aterrorizados, com a extensão e importância do fenómeno. Embora a contra-cultura seja avessa a estatísticas, como os dois autores não se esquecem de sublinhar, eles, como representantes ainda da sociedade estabelecida da cultura vigente, deram-se ao trabalho de calcular entre várias centenas de milhar e dois milhões, nos Estados Unidos, os que pertencem hoje à grande comunidade das comunidades, aos grupúsculos de jovens dissidentes, de marginais e (auto-) marginais.
A imprensa “underground” ou «free press», documenta esse movimento de maneira brilhante. Edgar Morin, que viajou pela Califórnia a convite da Fundação Salk (um viveiro de prémios Nobel!), de Setembro de 1969 a Junho de 1970, anota, nessa imprensa, uma combinação de hippismo e de marxismo, «associação de termos que de ordinário se repelem», diz ele.
A propósito, Edgar Morin, o famoso sociologista e filósofo do aggiornamento entre culturas (pensador de uma antropolítica), propõe-se estudar este neo-tribalismo que, dentro do território norte-americano, está fazendo carreira pacífica ao lado das comunidades minoritárias de índios, porto-riquenhos ou negros. Só que, a contra-cultura juvenil é em sentido inverso ao dessas minorias: enquanto os índios, os negros e os porto-riquenhos reclamam o poder, a integração na sociedade de consumo que os segregou, e aspiram também aos benefícios da Tecnocracia e do Desenvolvimento, os jovens dissidentes despedem-se dessa abundância, fogem ao conforto dos lares burgueses, auto-segregam-se e desejam viver, tribalmente, como dantes, antes da colonização tecno-capitalista, viviam na sua cultura peculiar os índios americanos. Como eles eram, antes de o gringo chegar.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
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