quinta-feira, 3 de maio de 2007

PRAGA DE INFESTANTES

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JACINTO SEMPRE, MOLIÇO NUNCA

Afinal o Jacinto de Água é uma riqueza (local e nacional) ou um flagelo infestante?
E o Moliço, ainda existe na Ria de Aveiro?
Será que os monomaníacos da Biomassa para combustível já pensaram na matéria-prima que têm à disposição?
Basta uma ceifeira de água (sabiam que existia?) e é um ver se te avias, já que é impossível controlar o crescimento descontrolado da infestante. O destino final da apanha é que não se prevê qual seja. Uma coisa é certa: ainda não surgiu o negócio do Jacinto, embora se gastem «fortunas» para se desembaraçarem da dita infestante.
Tudo isto e muito mais fiquei a saber no programa «Biosfera», da RTP2, que continua às 4ªs feiras mas que mudou mais uma vez de horário: só por um acaso lá fui dar mas agora sei que tenho um Provedor que pode receber as minhas queixas de telespectador. Claro que a caixa do correio estará cheia e o e-mail virá devolvido. Terei que queixar-me novamente ao Provedor e novamente a mensagem me virá devolvida. É o chamado efeito inter-activo dos grandes media.
Mas o assunto hoje é outro.
Nos anos 70, os quentes anos do PREC, na entrevista que fiz ao eng Correia da Cunha, para «O Século Ilustrado», já ele alertava os portugueses para este flagelo terrível da biomassa infestante chamado Jacinto de Água, que, como toda a gente sabe, pertence à família das Liliáceas e das Ponteridáceas, o que é desde logo um mau sinal: com artes do diabo, a dita ponteridácea é muito atraente de aspecto e qualquer pessoa a escolhe como planta ornamental. Em cursos de água com tendência estagnante, encontra o seu habitat predilecto e começa a reproduzir-se aos milhares. As sementes caem para o fundo, onde, segundo uma especialista, podem ficar potencialmente perigosas durante 20 anos. Uma verdadeira bomba-relógio.Ou seja, mesmo que se colham e recolham os jacintos, irão continuar a reproduzir-se em massa (biomassa) até à eternidade.
Na altura, era o Rio Tejo que padecia da praga e quando ouvi aquilo da boca do eng. Correia da Cunha, presidente da Comissão Nacional do Ambiente, fiquei mesmo assustado e ainda tive sonhos em que me via completamente tragado pelos jacintos.
A RTP 2 agora, em 2007, chama a atenção para a Pateira de Fermentelos, para o Rio Mondego e seus afluentes. Lá perto, na Ria de Aveiro, por onde andei em peregrinagem de repórter, existe outro tesouro de biomassa - o Moliço – mas não interessa (nunca interessou) apanhá-lo porque teríamos aí uma forma não de biocombustível mas de fertilizante orgânico, o que desde logo condenaria, a prazo, os fertilizantes químicos da CUF, muito fáceis de apanhar mesmo à mão.
Os fertilizantes químicos – note-se – alimentam e dinamizam a proliferação do Jacinto mas o Moliço, aqui para nós que ninguém nos ouve, daria um belíssimo fertilizante orgânico. É uma das minhas crenças mais arreigadas.
Sim, porque, para o Moliço e para o Jacinto de Água, o grande problema é como apanhá-lo: dizia o programa «Biosfera» as várias formas de captura e qualquer delas tinha inconvenientes vários que não retive(luta biológica e apanha manual, nem pensar, ficam caríssimos e não há mão-de-obra.). Retive sim foi a ceifeira (ou ceifadeira) de água, que tem estado em acção e que já limpou muito jacinto. Só não disseram o destino final do mesmo, mas isso também não importa: o caixote do lixo é sempre o destino da biomassa que não interessa aos monomaníacos da biomassa.
Tudo isto – estes alarmes e alertas tardios – é enjoativo e dá vontade ora de rir ora de chorar. Quando interessa trazer à tona o assunto – nem que seja para manchete ou abertura de telejornal – aí teremos, pressurosos, os da manipulação mediática a chamar as atenções do público sempre apático, ignorante e alheado dos grandes problemas nacionais.
Dinâmicos, práfrentex, sopas depois de almoço, eles só querem que o respeitável público esteja bem informado.
Como disse, ouço falar disto desde os anos 70. Arquivei o assunto na pasta «dossiês do silêncio» (1) (onde guardo uma centena de silêncios) e pensei que o problema já estava resolvido: que a infestante emigrara para os Estados Unidos onde se sentiria em casa na doce companhia do Bush. Afinal, em 2 de Maio de 2007, a tragédia (tragicomédia) da Ponteridácea está de volta e é devastadora. De ameaça local (e localizada) qualquer dia passa a ameaça global logo que os cientistas provem de que o aquecimento global é uma treta.
(1)http://pwp.netcabo.pt/big-bang/ecologiaemdialogo/+dossi%C3%AAs%20do%20sil%C3%AAncio+.htm

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