1-3- lumpen-1> os dossiês do silêncio – manifesto do lumpen - inéditos & publicados em 1975, 81(*)
SOMOS TODOS UMA ESPÉCIE EM VIAS DE EXTINÇÃO
Sumário:
- Proteger também a espécie humana
- Para um manifesto do lumpen proletariat
- Para um manifesto do eco-realismo
- Ecologia, luta do povo (CPT,21 /3/1981)
- O fascismo quotidiano
18/4/1983 ( in «A Capital») - Se todos os explorados e todas as espécies em vias de extinção compreendessem que travam a mesma luta, o movimento alternativo seria rapidamente uma poderosa realidade.
Se um minuto de consciência súbita colectiva - a que alguns chamam "milagre" - unisse todas as vítimas do mesmo inimigo principal comum, unisse tacitamente todos os que resistem ao ecocídio, ao etnocídio e ao biocídio, o movimento surgiria por si sem precisar de vanguardas.
Se todos compreendessem que não estão sós, o movimento avançaria como uma necessidade vinda das bases.
Era apenas necessário compreender - sentir, intuir - que a luta é a mesma nas várias frentes:
o pequeno agricultor que luta contra a invasão do latifúndio capitalista ou colectivizado;
o artesão que luta, à sua banca, contra o desemprego, a inflação e a conspiração organizada do trabalho proletarizado e proletarizante, a neo-escravatura a que se chama "trabalho assalariado";
o peão que luta para não ser passado a ferro por um tráfego liberalmente assassino;
o activista que não quer centrais nucleares ;
o objector de consciência que enfrenta os aparelhos da Hierarquia;
o escritor que, por não ter aderido ao sindicato dos virtuosos, morre com uma obra de génio realizada, num asilo, só e desamparado;
o operário da média e pequena empresa, que não pode fazer greve porque a arma da greve é só para os privilegiados das estatizadas e porque a greve numa média empresa significa o desemprego a curto prazo;
a dona de casa que toda a vida trabalhou por três e a quem não foi ainda reconhecido estatuto, porque à direita basta a retórica da família como célula da Nação e à Esquerda não interessa reconhecer um trabalho que evita a proletarização;
o pequeno proprietário rural a quem a Celulose, as Auto-Estradas, o Eucalipto, a Petroquímica, as todo-poderosas Barragens, os Oleodutos da NATO, as Cimenteiras, etc. , pura e simplesmente expropriaram os bens "em favor da colectividade";
o contribuinte que, além de espoliado pelo fisco, passou a ser apenas um número para o Estado que se vangloria de moral e de levar em conta a Pessoa Humana, quando afinal se limita a arrancar-nos pele e a deixar-nos no osso;
o eleitor que, como carne de canhão, apenas serve para depor votos na urna e a quem, antes e depois do funeral, os partidos votam o mais absoluto desprezo;
o jovem que na escola é tiranizado por programas absurdos, depois da escola é convidado a empregar-se no desemprego e que em resposta ao futuro cor-de-rosa prometido pelos papás - altos funcionários da Engrenagem tecnocrática - apenas lhe oferecem a droga, a prostituição, o Suicídio, etc;
o doente colonizado por uma medicina demencial que adoece propositadamente, que fabrica doentes, que reproduz consumidores de fármacos, de análises, de operações, de consultas, que estropia e produz à sua conta o maior contingente de deficientes;
SIMBOLOS DA RESISTÊNCIA
A destruição, se entra na rotina, chama-se progresso.
Um lagar de varas ainda a funcionar, na freguesia de Meimão, pode ser um símbolo da Resistência quando a barragem de Meimão vier.
A Aldeia da Luz, no concelho de Mourão, a fábrica de reciclagem de papel, o monumento megalítico de Monsaraz e o monumento romano da Lousa (Luz) podem ser outros tantos símbolos desta resistência à destruição, à pilhagem, ao dessoramento que eles chamam progresso.
A Foz do Dão, outra aldeia engolida pela Barragem da Aguieira é, como foi Vilarínho das Furnas, outro símbolo da Resistência que desistiu.
Os proprietário da área de Sines, expoliados de terras, casas, bens, alfaias, culturas, são outro fenómeno da Resistência Humana ocupada, invadida e esmagada pelo canibalismo tecnocrático, a Leste e a Oeste.
" Hermes da Cruz Passarinho vai ficar sem seis dos seus sete prédios, em Meimão, quando vier a barragem" diziam os jornais com o seu habitual jeito de quem debita frivolidades (15.2.1980).
Se a indústria dos louseiros, em Valongo, baseada na ardósia das minas, entrou em crise pura e simplesmente pela concorrência da quinquilharia plástica - e para uso coercivo do papel em vez de ardósia nas escolas... - não vamos acreditar que foi tudo progresso e que era inevitável banir a ardósia dos costumes escolares.
Nunca como agora, em que o frenético desperdício de papel se tornou na corda que nos há-de enforcar a todos, nunca como agora a ardósia podia e devia ser promovida a produção de primeira grandeza neste País de gente mesquinha e estúpida, de cérebros atravessados e lavados por todas as ladainhas dos progressistas da Morte .
A chamada "empresa familiar", da qual o agrocrata fala com tanto desprezo, também não é nada que se conserve em redoma ou meta em vitrine de museu.
Ou vive e sobrevive como sector alternativo da sociedade - ou será um bocado do País e da sociedade que morre com cada uma dessas empresas familiares que forem desaparecendo. Que forem sendo exterminadas, porque é disso que deliberadamente se trata.
APRENDER COM OS OUTROS A DIFÍCIL ARTE DE RESISTIR
Numa visão sem preconceitos, penso que podemos e devemos tentar aprender junto de organizações que não tendo aparentemente afinidades com este projecto, são, no entanto, muito mais significativas, enquanto pequeno trabalho reformista dentro da Engrenagem do que supostas e pretensas organizações pomposamente designadas de culturais.
Por exemplo: as corporações de bombeiros, as ordens monásticas e as Casas do Gaiato dão informações de funcionamento muito úteis a uma reaprendizagem da resistência local contra o monopólio da Engrenagem central e das sub-engrenagens centrais.
Os ciganos e suas vicissitudes no seio das sociedades ditas democráticas, são outro exemplo bem flagrante do carácter etnocida e segregacionista dos nossos costumes cristãos.
Eles são outra espécie que resiste à paranói. E de tal maneira têm sido, por isso, obrigados a degradar-se que, recorrendo ao último recurso de subsistência, o comércio, esqueceram as suas práticas taradicionais de trabalho e economia de auto-abastecimento.
Quando a retórica pseudo-ecologista apresenta os defensores do ambiente isolados deste contexto étnico - esquecendo que pertencem à mesma raça de explorados, à mesma espécie das espécies em vias de extinção, esquece que a resistência das minorias rácicas é um dos aliados naturais com o qual deviam fazer frente comum. Ecológica ou não.
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(*) Publicado no jornal «A Capital»(Crónica do Planeta Terra), 18/4/1983
sábado, 27 de dezembro de 2008
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