domingo, 28 de dezembro de 2008

HÁ JÁ 21 ANOS

1-6-chumbo-1- merge de 8 files de 1987-todos estes files existem individualizados, com títulos de data e alguns com recorte anexo – inéditos ac com anexos

8 CENAS DE CAÇA EM 1987: 3.3.1987 A 1.12.1987
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87-03-03>
3. Março.1987
Como o uso da gasolina sem chumbo obriga a meter no carro um conversor que custa 100 contos - preços do primeiro semestre - espera-se que milhares, mesmo milhões de portugueses com carro vão já a fugir meter conversor no carro só para proteger o ambiente e para que o ar não seja mais poluído com Chumbo.
Pergunta de um "chumbado" : será mesmo como foi dito ou é mais uma forma de gozar ao Carnaval com as vítimas de sempre?

Fazer depender a saúde pública dos contribuintes, de uma despesa de 100 contos a fazer por cidadãos particulares também contribuintes, o que será senão uma bisnagada de Carnaval?

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<87-03-19>

«INGERÊNCIA» NOS NEGÓCIOS INTERNOS

19.Março.1987

A ciência está de facto entre essas entidades supra-nacionais, que se permitem entrar portas adentro de um País, devassando, investigando, explorando, rotulando, sem pedir licença e sem que ninguém diga basta, ao abrigo não sei de que imunidade .
O que os cientólogos do Hospital Claude Bernard, de Paris, se permitiram fazer em Cabo Verde, a pretexto de aí pesquisarem, em Março de 1987, os portadores do vírus da sida (como eles dizem) exemplifica o poder que determinadas entidades possuem para, completamente fora de qualquer lei, e provavelmente até ao abrigo de qualquer acordo científico e tecnológico, agirem e devassarem até à vida privada os cidadãos de um país.
Ponto de partida que serviu de pretexto à invasão: rotulado de sida, um doente cabo-verdiano internado em Lisboa, no Hospital Egas Moniz, foi o pretexto para que uma equipa médica do Hospital Claude Bernard caísse em bando nas ilhas do Sal e Santiago, onde recolheram 360 amostras de sangue, em hospitais, cadeias e estabelecimentos militares.
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1-3

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87-05-08

8.Maio.1987

De vez em quando vem a público um caso, como o da senhora vítima de um desastre no autocarro da Carris ( Semanário " Tal & Qual", 8.Maio. 1987), que espera justiça há 19 anos!
Não só estes casos fazem qualquer pessoa embasbacar de espanto, não só as intocáveis instituições implicadas, intocáveis continuam, como ficam por revelar os casos intermédios e anónimos que todos os dias ocorrem, sem advogado que os defenda (porque o advogado também leva a dinheiro e só tem advogado quem o pagar).

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87-06-27>

EIS O NOVO TESTE PSICOTÉCNICO

27.Junho.1987

A lembrar que a luta de classes não foi uma invenção de Karl Marx mas permanece, no dia a dia aparentemente pacífico das nossas sociedades, eis o novo teste psicotécnico, com o nome de "Token-Teste", apresentado no Porto, em 26 de Junho de 1987.
Segundo o especialista que apresentou mais esta maravilha da técnica, da psicotécnica, temos - sob a capa da ciência avançada - os clássicos ingredientes do ódio de classes, só que já devidamente liofilizado , com os "inferiores" suficientemente neutralizados para não darem problemas aos manipuladores das inteligências infantis e juvenis.
O discurso da classe dominante sublinha, várias vezes, os "mais inferiores", os mais dotados, os mais altos, os mais infelizes, os mais abjectos, os mais menos e os menos mais.
Quem estabelece todas estas hierarquias, quem escolhe, quem avalia, quem rejeita, quem elimina, quem aproveita, quem examina, quem decide que alguém é inteligente, estúpido ou assim-assim?
É a cena eterna: vencidos e vencedores, frente a frente, no eterno espectáculo do niilismo humano.
Que hoje chama os jornais e dá conferências de Imprensa, em nome da ciência e do progresso.
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87-08-11

INFORMAÇÃO ACESSÓRIA PARA DESINFORMAR

11. Agosto.1987

O diluvio de informação acessória para desinformar ou não informar sobre o essencial, eis uma das constantes do Macro-sistema detectáveis no intervalo dos acontecimentos importantes.
Um vespertino, hoje mesmo, 10 de Agosto de 1987, descobre como novidade uma realidade que está mesmo debaixo dos nossos olhos e que topamos na rua sem dar por ela.
Independentemente do grau de demagogia que sempre possa haver nestas descobertas de "assuntos escaldantes" por parte de uma Imprensa que se especializou em frivolidades (talvez por exigência do leitorado) e só se ocupa de questões sérias quando falta assunto (Verão ou Natal, por exemplo), independentemente do exagero que haja nesta generalização, o que importa reter desta reportagem sobre as inalação de cola pelos jovens, é isto:
- A Informação é hoje,  uma forma de desinformar
- O conhecimento prático dos problemas e dramas é inversamente proporcional a avalanche inflacionaria do chamado conhecimento científico, teórico e abstracto
- Estas toneladas de ciência que nos afogam, esta inflação de informação funciona, por esmagamento, como um dos principais factores de não-informação e desinformação
- As prioridades na sociedade industrial estão invertidas e o que toca o número, o cifrão, o dólar, o barril de petróleo, o cálculo, a contabilidade, é sempre mais importante do que o que fala dos dramas humanos, das pessoas, do sofrimento dos que sofrem.

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87-09-09

AVENTURAS DE UMA RETRO-ESCAVADORA

9.Setembro.1987

A eventualidade de Lisboa ficar coberta de gás butano desencadeou, no dia 9 de Setembro de 1987, uma série de mecanismos mentais que  parecem típicos do sistema e a que ele recorre  para sair ileso e impune (moralmente ileso e impune) dos delitos cometidos.
Foi óptimo  porque foi acidente, foi "asneira" de uma retro-escavadora mecânica (falha humana, leia-se), quando andava, em Beirolas, em operações não se sabe de quê, mas pressupõe-se de construção civil, a febre do século.
Mas andaria mesmo a retro-escavadora em andanças de construção civil?
Serviço de tanta necessidade e transcendência, é claro que não se pode questionar o facto de haver toneladas de gás butano armazenadas com uma cidade de um milhão de pessoas ao lado.
Todos fazemos por esquecer esse tipo de pesadelo, pois já nos bastam outros. E como os órgãos de informação têm que dizer alguma coisa, verberam então a falta de "planos" com a rede de pipelines subterrâneos, de modo a que os construtores civis em acção na respectiva área saibam onde não devem furar.
Mas que andava a escavadora a escavar numa área minada de canalizações de gás?
Mais: Nossa Senhora de Fátima já disse, em entrevista à Agência Lusa, que protegia esta terra portuguesa. Mas não estaremos nós a abusar das boas graças da santa?
Porque - note-se - mais uma vez e como é típico da tragédia  portuguesa, a grande catástrofe só não aconteceu pela tal unha negra, que começa também a ser uma das nossas instituições mais queridas.
Quis Deus, para quem acredita n' Ele, que o gás saído da conduta furada pela escavadora (que andava a escavadora ali a fazer?) se incendiasse de imediato.
De contrário, ter-se-iam espalhado por Lisboa e arredores as 70 toneladas de gás butano.

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87-12-01

A OUTRA ORELHA DE VAN GOGH

l. Dezembro.1987

"Baixa a bolsa, sobem as cotações na (bolsa da) Arte" - dizia Amaral Pais, no "Jornal das Nove" (e dez) do dia l de Dezembro de 198?.
Era a propósito de um Van Gogh "Os Lírios", que atingiu, ao que parece, o valor de sete milhões de contos, quase o Orçamento do Estado português.
A relação de vasos comunicantes entre a Bolsa de Valores e a Bolsa das Artes Plásticas é, de há muito, uma evidência , sem que, no entanto, haja  um grande interesse em enfatizar essa evidência.
Convém que o negócio esteja relativamente resguardado dos curiosos e, principalmente, dessa praga que são os amadores metendo-se ao jogo de mistura com os profissionais.
Longe vão os tempos em que o Van Gogh escrevia ao seu irmão Lheo pedindo-lhe que lhe valesse num suprimento de comida, longe vai o tempo em que o fisco perseguia os poetas e artistas, longe vai o tempo em que o artista (plástico) comia (quando não comia pau de marmeleiro) o pão que o diabo amassava com vinagre, às segundas, quartas e sextas feiras, guardando aos domingos o santo nome de Deus.
A velocidade das "mudanças" só assusta os covardes:cada dia uma nova moda, e agora a moda é o que está a dar.
Cada dia a bolsa sobe, cada dia desce, cada dia um artista sobe na girândola da fama, cada dia desce.
E nós, os escribas acocorados, cá estamos para o sobe-e-desce de todas as bolsas.
Um Van Gogh por sete milhões?
"Se lá no assento etéreo onde subiu, memória desta vida se consente, seria que o Van Gogh cortaria, de raiva e de horror, a outra orelha?■

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