quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O LIVRO EGÍPCIO DOS MORTOS







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A «IMORTALIDADE» AO ALCANCE DOS MORTAIS(*)

3-12-1996
- Caderno de encargos para outra vida – viagem de ida sem regresso -- o que ficou conhecido por «livro os mortos egípcio» (*) toma notas sobre o que se deve preparar neste mundo com vista a ter, pelo menos, duas assoalhadas garantidas no outro.
Quem vai pró mar avia-se em terra e há que passar a grande prova dos símbolos. Como tudo quanto os egípcios anteriores a Mubarak faziam, na senda dos protochineses e outros habitantes do Continente Mu (vulgo: Atlântida), como, por exemplo, os Tibetanos, há que dar prioridade a quem se apresente pela direita quando o tráfego é intenso. E o tráfego (tráfico), nos dias que correm, com o afluxo de canais, está congestionadíssimo de símbolos e ícones, pelo que ter à mão de semear um guia rápido de como se foge à morte afrontando-a é, apesar das dificuldades de criptografia, de útil manuseio.
Mas este «cardfile» do inferno, agora editado com uma olímpica coragem pela Assírio & Alvim(*), tem ainda outros atributos desinquietantes. Cada investigador que o encontra, fica com histórias para contar toda a vida -- como se preparasse os próximos capítulos de reincarnações futuras. Ninguém pode estar quieto com este papiro da Morte à cabeceira, com esta telenovela pré-bíblica (e prédiluviana), com a primeira «obra aberta» do Mundo que a humanidade escreveu, ainda o sr. Umberto Ecco não tinha nascido, mais a sua tecnocracia das letras e muito menos a ninhada de discípulos que ele havia de gerar por aqui.
Comparado com o chamado «livro dos mortos tibetano», que encantou o alucinogénico e psicadélico Timothy Lear, não se notam logo as semelhanças, porque à vista desarmada não se vê nada do que importa ver. É preciso fechar os olhos.
Quem quiser fazer a viagem ao fim da Noite terá que tomar, não só algumas precauções cautelares (não comprar o livro, por exemplo) - como recomendaram dois mestres deste tipo de carreiras de autocarro, o Alan Watts (neobudista da Califórnia) e o Henri Michaux (voz da Poesia Mundial).
Pegue-se pois com pinças ou/e luvas de borracha, neste tipo de tábuas da lei, que nada têm a ver com a canja de letras do Moisés, antes pelo contrário, quando cristianismo e judaísmo surgiram para disputar o império da alma humana, baratas após o Dilúvio, já Egípcios, Protochineses e Tibetanos sabiam a escola toda. Os chineses, em vez de livro dos mortos, chamaram-lhe «livro do imperador amarelo», vulgata do «Tao Te King».
Mais tarde os gulags das religiões de Estado completariam a Obra das religiões sacerdotais. Não se confunda, porém, com nenhuma delas, a fonte perene e pós-moderna que deriva destes hieróglifos, destas figurinhas perfiladas (pintadas de perfil) e sentadas como quem escreve a carta diária aos deuses da sua paixão.
As próprias bruxas de Jules Michelet -- que eram analfabetas como todos os alfabetos sabem -- foram lá beber. Porque como diria o Prof, nas fontes frescas é que a gente deve abeberar-se.
A orgia de traduções-traições que tem sobrevoado, em ataques cirúrgicos, ambos os chamados «livros dos mortos», quer egípcio quer tibetano, mostra bem que se trata não só de um best-seller tão importante como o Kundera, mas da tal «obra aberta» que tudo contém e que, portanto, permite todas as retroversões, incluindo as eruditas, que dão bastante gozo aos eruditos, como sabem todos os ignorantes e analfabetos.
Com o advento das «novas tecnologias» e logo que o livro dos mortos esteja gravado em disquete, passa a ser um divertimento ainda mais interessante do que o I Ching, outra das «obras abertas» que mais retro-versões tem merecido dos sinólogos.
Quem quiser escrever poesia ou jogar o tarô, não tem mais do que abeirar-se e servir-se. Mas cuidado com o banquete. Como avisou Cesariny à entrada do (seu) inferno, ninguém se convença de que o bilhete de entrada para a eternidade custa tanto como uma plateia de Pavarotti: mesmo em petrodólares, o acesso à vida da morte (Leão Chestov dixit), custa os olhos da cara, meus senhores, e cada um lá sabe o preço dos olhos que tem.
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(*) «Livro dos Mortos Egípcio», Ed. Assirio e Alvim

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