domingo, 8 de agosto de 2010

CIENTIFISMO E CIENTIFISTAS





CIENTIFISMO E CIENTIFISTAS

A IDEOLOGIA CIENTIFISTA

Tudo o que o Professor Vasco Magalhães-Vilhena, da sua cátedra na Sorbonne, cientificamente minimiza, achincalha e apouca, como resíduo ultrapassado da filosofia, agarro-o eu como o discurso que, não agradando ao establishment da Sofística dominante, oferece algumas garantias de não se encontrar contaminado. Encaro-o eu, salvificamente, como o que fica e não foi contaminado da peste avassaladora, da praga galopante do nosso tempo: a ideologia cientifista. Defendo-o eu, como uma bolsa de resistência que não foi ainda ocupada pela rede avassaladora que tudo devora e absorve da ideologia totalitária dominante.
O «coisificante substancialismo» da psicologia arcaica, a «psicologia metafísica dita racional», a «tradição morta» -- tudo isso eu não sei, nem sabia, se era mau ou se era bom, mas ao ver o modo pejorativo como o Professor V. M.-G. se lhe refere, fico fã e admirador, quero saber o que tanto o molesta.
Ler nos luminares do cientifismo o que eles deitam fora, e imediatamente escolher o que importa submeter de novo a estudo, análise e conhecimento, leva-me imediatamente correr para aí. Eles são os meus propedeutas. Se eu quero saber o que é importante, é ler nos ideólogos modernos da Sofística científica o que eles dão como desimportante e caduco.
Neste aspecto, tudo o que está inserido no âmbito das «ciências malditas» -- ditas ocultas -- suscita o meu desvelo e atenção. O meu interesse pelas ciências ocultas (ocultadas) vem daí: pelo mal que delas ouvi e vi dizer aos representantes da ciência revelada.
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A TEORIA DA RELATIVIDADE
O relativismo é o princípio satânico que pode ser introduzido na ordem estabelecida.
Se eu disser, olhando o rei -- que vai nu mas que todos dizem ir vestido de ricas vestes -- que o discurso dado hoje como oficialmente reconhecido e único válido é, daqui a dez anos, o mais tardar 20, completamente obsoleto, anacrónico e ridículo, estou a dizer a Heresia absoluta.
No fundo, limito-me a reconhecer o que o próprio sistema afirma e dá como seu atributo de vanglória: o carácter evolutivo do discurso científico, da ortodoxia sofística. Afirmando o que eles afirmam, eu passo por herege e eles por prémios Nobel.
Um texto de Flammarion sobre Astronomia, hoje, faz-nos rir, como daqui a 20 anos nos fará rir um texto de Carl Sagan. E isto porque, como eles -- os especialistas -- dizem, o conhecimento científico nunca pára, está sempre a conquistar novas etapas, o progresso é que o anima, o heroísmo dos cientistas é patente, o seu sacrifício pela sagrada causa, etc., etc..
O «evolucionismo» do conhecimento científico, sempre a correr pró progresso, mais do que um atributo do método sofístico, é a sua trave mestra e a trave mestra da própria sociedade de canibais que promete sempre para amanhã o que nunca e jamais dá hoje. O «evolucionismo» visto do outro lado é o aleatório, uma desculpa mestra e eterna, um alibi permanente para que a ciência nunca resolva um só dos grandes problemas, existenciais ou sociais, com que o bicho homem se defronta, através dos tempos e dos lugares.
O cancro?
Daqui a una anos, a ciência encontrará certamente um medicamento...
A SIDA?
Daqui a una anos, a ciência encontrará certamente uma vacina...
A poluição?
O bairro da lata?
A toxicodependência?
A desabitaçao?
A alienação no trabalho?
A inflação?
A fome do Terceiro Mundo?

A ciência encontrará sempre, daqui a uns anos, a solução...
É com esta retórica balofa, abusiva, mecânica, sofística, megera, que o Especialista continua a adormecer-nos, a mergulhar-nos neste sono carregado de pesadelos e fantasmas que é esta abominável sociedade assente na religião da ciência e na igreja da técnica.
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Pergunta de palmatória com que tenciono pôr em fúria um dos muitos V. M-V., um dos muitos E.P.C., um dos muitos --->, um dos muitos adeptos da ciência como dogma inviolável:
- Se a filosofia também é ciência, porque não acontece ao discurso filosófico a caducidade, a anacronização que acontece ao discurso científico e tecnológico?
- Ou não será a filosofia tão científica como dizem?
- Ou não será tão científica a ciência -- por envelhecer tão depressa?
- Qual o critério de preferência: o discurso que envelhece depressa, que se torna rapidamente caduco, porque é científico-evolutivo
ou o discurso que não envelhece e permanece porque não é científico-evolutivo?
Outra pergunta para enfurecer os V. M.-V. da nossa praça:
- Que faz a medicina científica actual a tudo o que puseram no contentor do passado como desactualizado -- graças aos avanços da ciência -- , o que faz ela a tudo o que foi criado, pensado, feito, avançado, conquistado, não só na história da medicina europeia, bem curta e pouco imaginativa, mas nas grandes medicinas universais de outras culturas como a Sufi, a Chinesa (taoísta) e a Hindu-ayurvédica?
-Joga fora Hipócrates?
-Baseada na regra positivista da escala evolutiva, deita fora Paracelso e Christian Friedrich Samuel Hahnemann?
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A «reabilitação» a que os especialistas de vez em quando procedem de algumas figuras que eles próprios tinham deitado no contentor do velho, antigo, inactual, não moderno e que durante séculos estiveram no Índex, na lista negra da Inquisição iluminista -- Aristóteles foi um dos malditos e amaldiçoados para a filosofia científica moderna -- é exemplo pouco decente da ética (?) pouco limpa que preside à actividade do especialista, quando toma conta de matérias que ele própria classificou e cantonou na etiqueta de «Filosofia».
Para esta ciência de merda tudo são etiquetas. As etiquetas dos que ela decreta bons e os que ela decreta maus.

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