domingo, 1 de julho de 2007

SUSTENTABILIDADE

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SPCE/SCE: NOVA FRENTE NA OFENSIVA DA SUSTENTABILIDADE

1.Uma empresa com 25 anos de existência, entra agora pela porta principal na grande avenida da sustentabilidade e tem agora, com o Sistema de Certificação Energética (SCE), criado há um ano, oportunidade de mostrar o que vale e de pôr a render em pleno uma larga experiência de duas décadas e meia «nos vários domínios da utilização racional e eficiente da energia», conforme o declarou, no suplemento «Público Imobiliário», 29 de Junho de 2007, o presidente da Sociedade Portuguesa de Certificação Energética (SPCE), João de Jesus Ferreira, que explica ainda:
«A SPCE possui delegações (já efectivas e em constituição imediata) em Aveiro, Coimbra, Viseu, Faro, Funchal, Ponta Delgada e Porto, sendo o nosso objectivo a cobertura nacional.»
Abre-se assim, dinâmica e activa, uma nova frente na ofensiva da «sustentabilidade» que está a ser instalada entre nós, sem que se dê muito por isso. Mas que devemos saudar com alguma esperança. Acima de tudo com algum respeito. Já que não existe poder político, que exista ao menos um poder económico e financeiro activo, dinâmico e práfrentex.

2.Desta vez é a reconversão na construção civil que está na mira e nada há que opor, antes pelo contrário.
Por estranho que pareça, as notícias sobre Ambiente devem agora ser procuradas nas páginas de Imobiliário. E tudo porquê? Por causa do já famoso, embora recentíssimo, SCE (Sistema de Certificação Energética) dos edifícios, uma forma ecológica, fresca e verde de reconverter uma indústria que naturalmente se vinha queixando de estagnação.
O Governo, que não gosta de estagnação, providenciou há um ano que a AR legislasse e legislou. Um ano depois, já se pode ler este título promissor, nas páginas do jornal:
«Edifícios construídos em Portugal não têm qualidade energética e ambiental».
Por acaso ninguém tinha reparado nisso, desde que os exaustores e ares condicionados funcionem, quem iria pensar numa desgraça dessas?
3.Os ecologistas andam sempre muito distraídos, a brincar ao berlinde e, que me lembre, só no Porto, na Faculdade de Engenharia, um departamento foi pioneiro daquilo que depois se começou a generalizar com o nome de arquitectura climática. Alguém que me diga o nome desse pioneiro, não consigo lembrar o nome, mesmo com ajuda do Google.
Mais para trás, nos primórdios do movimento ecológico em Portugal (década de 70), apareceram folhetos stencilados, de cor amarela, sobre a «casa ecológica» e um livro, também de capa amarela, « A Face Oculta do Sol – Arquitectura e Energia Solar», de Bricolo Lezardeur e publicado pela Via Editora.
Hoje, consultando o Google, podemos ter agradáveis surpresas:
Em «optimização climática dos edifícios» há apenas dois resultados, um deles a belíssima página do Instituto Superior Técnico.
Mas em «arquitectura bio-climática», curiosamente, o número sobe para 896 resultados, aparecendo nomes prestigiadíssimos como o da Universidade Católica Portuguesa e a Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica.
Mas, mais curioso ainda, é a simples palavra «sustentabilidade»: com 683 mil resultados, onde aparecem os nomes de muitas universidades. Significa isto que o Ambiente está em boas mãos e, portanto, viva a sustentabilidade.
4.Perante as declarações de João de Jesus Ferreira, presidente da SPCE, temos que nos congratular apenas com alguns pontos de interrogação e de exclamação.
Por exemplo: «Um dos objectivos da Certificação Energética (CE) é «aumentar a eficiência energética do parque imobiliário em Portugal e na Europa».
Pergunto: o horizonte da Europa para esta nova empresa significará que vamos exportar «know how» em uma matéria de que os novos tempos vão precisar como de pão para a boca?
Se é assim, estamos perante uma verdadeira revolução na nossa economia e teremos que nos congratular.
Já se fala em exportar electricidade, porque não exportar «eficiência energética»? Quem sabe se não encontrámos de novo o nosso destino de navegadores?
5. Segundo ponto de exclamação:
«De acordo com a minha percepção – diz o presidente da SPCE – ninguém está a cumprir os regulamentos que estão em vigor e a que os projectos são obrigados desde o passado dia 4 de Julho de 2006.»
O observador, mesmo desatento, não deixará de se impressionar com o panorama que se desenha relativamente às novas construções e que terá o impacto de uma revolução nas estruturas (em sentido literal). Dir-se-ia mesmo o impacto ambiental de um terremoto.
6. Mas, como se isto fosse pouco, a mesma lógica de reconversão irá aplicar-se a todos os edifícios já construídos:
«Não considero positivo – diz o presidente da SPCE – que só a partir de 2009 seja obrigatório que todos estes edifícios possuam certificado.»
O presidente entende que deveria ser antecipada a data e seriam todos, desde já, a pôr os prédios em condições climatéricas ideais.
Outra revolução, outro terremoto.
7. Uma nova frente se abre, portanto, na ofensiva em curso sob o signo do «desenvolvimento sustentável», expressão envergonhada para substituir o eco-desenvolvimento desde sempre defendido e preconizado pelos ecologistas da utopia ecológica, uma espécie claramente em extinção se é que não totalmente extinta nos pragmáticos tempos que vivemos.
Não deve escapar ao observador atento e interessado no fenómeno público – na polis – algumas constantes que, nascidas em poucos anos, têm acelerado rapidamente e todos os dias se manifestam numa autêntica explosão de novidades e notícias.
8.Foi o caso das energias renováveis, que culminou na entrada triunfal na Bolsa de Valores de Lisboa, de uma nova e prometedora empresa, com uma outra a caminho do mesmo destino.
Foi o caso da publicação do «Anuário de Sustentabilidade 2007 » – onde Belmiro de Azevedo é o nome mais em evidência na capa e no conteúdo da revista.
É o caso, agora, da ofensiva SPCE/SCE (siglas que temos de ir decorando) e que será, como tudo indica, uma verdadeira revolução até aos alicerces (literalmente) do modus vivendi português.
Os mais críticos dirão que em vez do interesse público, mais uma vez irão prevalecer os interesses privados: mas como foi sempre assim, também não é por aí que o gato vai às filhoses.
Não é mau, nem bom, antes pelo contrário. E não vale a pena barafustar. Já nem sequer os sindicatos barafustam, aprenderam a ser flexíveis, porque havia a sociedade civil de protestar?
9.Pura e simplesmente e por dever cívico, devemos estar atentos ao futuro que os interesses privados nos preparam e aos discursos do poder económico e financeiro, já que o poder político totalmente delegou naqueles.
E as notícias de Ambiente devem ser procuradas nos jornais de Economia, bem como nos suplementos de Imobiliário.
O que seriam declarações previsíveis em membros do Governo (um Ministério do Ambiente, por exemplo, que já houve e deixou de haver, como houve uma Alta Autoridade Contra a Corrupção e deixou de haver), aparecem em líderes da comunidade empresarial, em membros do poder económico e financeiro (este sempre mais discreto e sem grandes declarações públicas).
Comum aos vários sectores em acelerado desenvolvimento verde (verdíssimo no caso de uma conhecido Banco) é a nomenclatura que entretanto tem tomado forma e que vai convergir na palavra-chave (e bastante cantabile!) «sustentabilidade».

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