sábado, 21 de julho de 2007

BECO SEM SAÍDA

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UM CENÁRIO DE HORROR, DIZ A JORNALISTA

Com a lição bem aprendida e recapitulando a matéria do primeiro ciclo, a jornalista Carla Guerra, correspondente em Berlim do «DN», publica neste jornal, 20 de Julho de 2007, um resumo muito elucidativo do status quo nuclear na Alemanha e no mundo.
Aliás, o beco sem saída do nuclear é muito, muito simples. E repete-se sempre igual a retórica mediática que o acompanha: quando não se reduz ao silêncio puro e simples, não passa dos lugares-comuns tetra-conhecidos, logo que um acidente faz voltar o assunto aos jornais:
O compromisso da Angela Markel de «encerrar centrais nucleares até ao ano 2020» traz à tona os velhos lugares comuns da retórica pró-nuclear:
«O compromisso de encerrar centrais nucleares causará graves danos à economia»
«Os gigantes industriais e organizações comerciais temem sérios prejuízos na economia alemã, a perda de postos de trabalho e o êxodo de trabalhadores qualificados»
Finalmente, a grande razão patriótica, que também move o Lula da Silva, no Brasil, aspirante a grande potência nuclear, como ele disse dias antes dos 200 mortos no aeroporto de S. Paulo:
«como vai a terceira maior economia do Planeta [Alemanha] compensar a necessidade de energia para a indústria caso as centrais encerrem?», pergunta a jornalista Carla Guerra.
À escala global, portanto, a situação nunca poderá piorar mais do que já está: mesmo que alguns países recuassem, alguns querem avançar invocando os mesmos argumentos rançosos dos outros. «Se eles têm, a gente também quer» E assim sucessivamente.
À escala global, a indústria nuclear não contribuiu o mínimo para combater o subdesenvolvimento, antes pelo contrário.
À escala global, o beco não tem saída e as estatísticas tendem a melhorar, como nos lembra a jornalista:
«Os norte-americanos, com apenas 5º da população mundial, são campeões em consumo eléctrico e o país com maior número de centrais nucleares. Hoje, estão a construir quatro centrais e planeiam mais cinco. Mas é a Ásia que tem mais centrais em construção, 29 no total, e planeadas, 64, sendo que por países a China lidera, com 13. A Alemanha, a Suécia e a Bélgica são os únicos países do globo que planeiam fechar centrais nucleares durante a próxima década.»
Uma confissão pessoal:
a.Foram estes números que me fizeram ir ver ao dicionário o significado de duas palavras-chave: «plutocracia» e «imperialismo»
b.foram estes números que me fizeram acreditar em milagres e de que só um milagre nos poderá safar deste buraco negro. O fim do Mundo, portanto, não virá do CO2 e outras tretas que só têm o objectivo de acelerar a proliferação nuclear.
O Nuclear é um beco sem saída.
Um buraco negro.
Uma fraude há muito conhecida e que continua, obviamente, a ter defensores. E aqui na Ambio também. Ainda bem, vão precisar todos que lhes rezem pela alma.
Resumindo e concluindo: venderam a alma ao diabo e agora o diabo já não a devolve.
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A notícia de Carla Guerra no «DN», 20 de Julho de 2007, não vá o Bruno Garcia dizer-me que ficou confuso:

«« ALEMANHA DIVIDIDA ENTRE O FIM DO NUCLEAR E A DEFESA DA INDÚSTRIA
A PROMESSA DE FECHAR AS CENTRAIS NUCLEARES ATÉ 2020 É CONTROVERSA

Por CARLA GUERRA, Berlim

««O tempo urge para Angela Merkel: ou avança com o compromisso de encerrar centrais nucleares, o que causará graves danos à economia, ou reconsidera e transforma as centrais num tema de campanha para as próximas legislativas.

Os gigantes industriais e organizações comerciais temem que as ambições ecologistas da chanceler Angela Merkel, de encerrar progressivamente as centrais nucleares até 2020, possam provocar sérios prejuízos na economia alemã; a perda significativa de postos de trabalho e o êxodo de trabalhadores qualificados para outros países seriam duas das consequências imediatas mais graves. Merkel colheu louros dos colegas em Bruxelas pelo acordo ambiental conseguido, mas em casa enfrenta agora duras batalhas frente ao poderoso sector industrial, e que podem decidir o futuro da coligação governamental nas próximas legislativas.

A questão central que preocupa o sector industrial é de que forma vai a terceira maior economia do planeta compensar a necessidade de energia para a indústria caso as centrais encerrem? Os empresários argumentam que será impossível conseguir uma redução de CO2 sem cortar e mudar de forma pesada as condições de produção actuais, e o recurso a energias renováveis ao máximo, não seria suficiente para substituir a energia necessária para a indústria continuar em actividade.

"Os políticos estão constantemente a fixar objectivos irrealistas", diz Jurgen Hambrecht, presidente da multinacional de produtos químicos BASF, a maior do mundo e que emprega cerca de 50 mil pessoas só na Alemanha.

A opinião de Hambrecht é partilhada por todas as grandes empresas de energia como a E.ON, RWE, EnBW e Vattenfall. Todos são unânimes ao afirmar que "o Governo não está a ter uma política energética realista, ao invés, defendem políticas anti-energia".

Em conjunto com a federação das indústrias, todos acusam o plano de Merkel de poder desindustrializar um país onde a produção e transformação industriais sempre foram a base do crescimento económico e das exportações.

Das 19 centrais nucleares alemãs, 17 estão em actividade, juntas produzem 21 426 megawatts de electricidade. A mais antiga, Biblis A, funciona há 33 anos, mas até 2005 foram registados 135 incidentes que envolveram estes reactores. Componentes com defeitos e erros de operação foram alguns dos motivos apontados em relatórios, sendo que o mais grave ocorreu em Julho de 2004 quando a água contaminada da central nuclear de Neckerwestheim II contaminou o rio Neckar, no sul da Alemanha.

Para já, tudo indica que Berlim está a viver um grande dilema, por um lado a defesa de políticas ambientais, por outro a protecção do importante sector industrial, crucial para a prosperidade económica do país. Muito provavelmente a questão ambiental vai durar até às legislativas de 2009. Caso o encerramento das centrais nucleares avance nas próximas décadas, conforme acordado no anterior Governo liderado por Gerard Schroeder, os empresários prevêem um cenário de horror em que a competitividade alemã vai estar em perigo e centenas de empregos ameaçados. »»

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