segunda-feira, 22 de outubro de 2007

pensar o óbvio

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ECO-FILOSOFANDO SOBRE A ARTE DE FILOSOFAR
RECURSOS DE UM APRENDIZ DE FILÓSOFO

Felizmente que há especialistas capazes de nos falarem, em termos de toda a gente, dos assuntos mais especializados, de economia, bolsa e finanças ou de Ambiente.
Foi o caso num artigo de António Peres Metelo, redactor principal do «Diário de Notícias» e um dos nossos melhores especialistas em jornalismo económico.
Várias lições podemos retirar desse magnífico editorial, («DN», 7 de Setembro de 2007) onde, entre outras metáforas certeiras, destaco esta: «a crise está na massa do sangue do nosso sistema económico».
Quem não percebe nada de economia e finanças, nunca se atreveria a escrever isto mesmo que o pensasse.
A metáfora exprime um vasto conjunto de ideias e factos que o discurso analítico normal nunca poderia exprimir com tanta clareza e, curiosamente, com tanta exactidão.
No artigo de António Perez Metelo, detectei outras metáforas igualmente elucidativas e que fazem o leitor comum compreender matérias altamente especializadas:
«o efeito dominó»
«panaceia»
«velocidade da luz»
«transparência»
«lambem as feridas»
«os ventos da fortuna»
«febres cíclicas»
E finalmente, a frase-chave: «A existência de ciclos, com as suas inevitáveis crises, por mais que não se queira, está na massa do sangue do sistema económico que nos rege.»
Sem metáforas, o jornalista nunca se poderia fazer entender em matérias tão especializadas.
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Dá gosto ver e ler um especialista que eco-filosofa sobre o essencial e o estrutural.
Porque, sendo o essencial o sistema no seu intérmino labor de destruir os ecossistemas, há sempre ocasião de um economista falar de ecologia falando de economia, ou falar de economia falando de ecologia, prestando bons esclarecimentos ao entendimento causal de tudo o que acontece e inter-relaciona (porque, para o bem e para o mal, tudo se interrelaciona com tudo).
Se tudo é Ambiente – outra banalidade de base a que podemos recorrer – então nenhuma especialidade, só por si, pode dar um contributo consistente a uma visão global do enredo (ou rede) chamado ecossistema.
Quem é suficientemente genial para falar de várias especialidades e relacionar (acima de tudo relacionar) umas com as outras? Nem Leonardo da Vinci hoje o conseguiria.
Quem não é génio, nem Leonardo da Vinci da Ecologia, mas não desiste de pensar as inter-relações de causalidade, refugia-se na única coisa que qualquer um pode fazer: eco-filosofar livremente.
E eco-filosofando, tentar relacionar as partes com o todo.
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Já vimos que, ao falar de sistema (o todo no seu conjunto) a metáfora dá bastante jeito, embora o cientista especialista, aí, fale de Retórica.
Dou exemplos da minha Retórica:
«ciclos viciosos»
«ponto sem retorno»
«crescimento logarítmico»
«a sociedade industrial desemboca em vários becos sem saída»
«ao puzzle do sistema faltam sempre peças»
«a crise é estrutural a um sistema crítico que vive de ir matando os ecossistemas: não pode viver sem matar».
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Uma aproximação filosófica ao meio ambiente não é evidentemente uma ciência de rigor. Mas será possível uma ecologia de rigor? As ciências humanas e as ciências da vida poderão ser ciências de rigor?
A arte de filosofar não é uma ciência de rigor. É uma arte de conhecer, por aproximações sucessivas, um pouco melhor a realidade ambiente que nos cerca.
O dever de filosofar sobre o (estado do) Ambiente deveria estar inscrito como direito, na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
E o direito à metáfora para expressar ideias gerais.
E o direito a errar, já que errar é caminhar.
O caminho da análise (científica) já nos levou longe demais na atomização da realidade ambiente. Na pulverização do seu entendimento. Na parcelarização do que só faz sentido em pequenos, médios e grandes conjuntos.
Julgo saber que a parte e o todo é um problema por resolver na epistemologia institucional, a que hoje se reduz a Filosofia admitida.
É esta outra dificuldade básica para quem quer pensar sobre o meio ambiente: é que qualquer «todo» que se considere é sempre parte de um «todo» maior. Daí que tenhamos se falar em «ciência alargada» e em «ecologia alargada».
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A eco-filosofia postula-se em uma banalidade de base:
Reconhecer e pensar o óbvio: Tudo é ambiente.
Por exemplo: relacionar uma patologia com o ambiente (exógeno ou endógeno) que a provoca, é um óbvio ainda não reconhecido oficialmente pela ciência médica oficial. Este óbvio não será reconhecido enquanto a doença for rentável. Enquanto a doença for rentável , nunca mais teremos uma eco-filosofia da saúde (Holística , ou lá o que lhe quiserem chamar).
A ciência médica recusa-se a reconhecer o óbvio – a doença está no ambiente – porque isso contraria uma indústria que é, depois do armamento e do automóvel, uma das mais lucrativas.
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Outro óbvio ululante é a existência de um continuum energético: a matéria seria apenas um grau de condensação do espírito criador: a eternidade, o infinito.
O microcosmos seria apenas a outra «ponta» do macrocosmos. Por isso se diz que filosofar sobre o óbvio é repetitivo, volta-se muitas vezes ao mesmo ponto para avançar mais alguns.
Este postulado óbvio (outra metáfora) inutiliza muitas teorias que a ciência se gaba de ter produzido mas principalmente a última em data que dá pelo nome de «teoria do todo».
Uma tolice ainda no limbo, ao que parece, e que como tolice irá continuar.
Como é, aliás, óbvio.
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Entropia e Neguentropia, Nómeno e Fenómeno voltam a entrar no vocábulo básico de uma eco-filosofia.
Os 4 elementos de Empédocles e os 5 elementos da biocosmologia taoista são metáforas muito úteis a quem quer filosofar sobre o todo ambiente.
Fazem um corte transversal – outra metáfora! – onde a ciência analítica cria mais um nicho e faz casuística sistemática (?).
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Além da metáfora o aprendiz de filósofo dispõe de outros recursos na sua tarefa artesanal de pensar com a própria cabeça: as listas de inventário são outra forma (artesanal, concordo) de nos aproximarmos de uma realidade complexa e, por vezes, inflacionária.
A «lista negra» das poluições, por exemplo, é o menos que podemos invocar quando se pretende apontar uma entre mil poluições.
Os transgénicos são outro exemplo de como a discussão acaba por se polarizar apenas num capítulo do todo que é o horror da biotecnologia e respectivas putifarias (esta das patifarias é outra metáfora útil).
Mas quem diz listas de inventário, diz títulos de jornal: resumem em duas linhas o que levaria páginas a explicar analiticamente.
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A Retórica , outro recurso muito mal visto nos meios académicos, presta relevantes serviços a quem não conhece todas as especialidades de todas as ciências e matérias sobre as quais tem que se pronunciar, não de maneira analítica mas sintética: como faz a metáfora. E lá vai chegando onde pode, por aproximação e com margem de erro maior ou menor. Afinal, o que a ciência académica também faz. Apenas com maior arrogância.
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Como o artigo de António Perez Metelo confirma, um bom editorial de um bom jornal (a ilacção geral a partir de um caso particular) é mais um bom caminho de nos aproximarmos à realidade ambiente.
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Saber é poder. E lucro.
Não vale a pena fingir que ignoramos um dado básico em toda esta questão: com o «monopólio da verdade», quer das religiões quer das universidades, a arte de filosofar deixou de ter legitimidade. O que não for atestado pelas corporações, atestado pela universidade ou abençoado pelas igrejas, é zero.
Mas é nesse zero que os marginalizados do sistema ainda conseguem arranjar espaço para se pronunciarem sobre o que «sabem» (pensar é recordar). O direito a pensar há muito que foi proibido pelas inquisições e instituições. A quem fica de fora – ainda somos uma boa maioria silenciosa – só resta filosofar. Só resta ir eco-filosofando.
E seja o que Deus quiser.

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http://catbox.info/big-bang/ecologiaemdialogo/+deep%20ecology+.htm

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