segunda-feira, 22 de outubro de 2007

incurável miopia

almada-2-nw> segunda-feira, 24 de Setembro de 2007

DOENÇAS DO AMBIENTE: AFINAL EXISTEM?

«Triste tempo o nosso, em que é preciso lutar pelas evidências» - Max Frisch, escritor suíço.

Várias notícias recentes confirmam uma óbvia evidência: o ambiente influi na saúde das pessoas.
Começou a saber-se, inclusive, que existe uma cadeira universitária de Saúde Ambiental e uma Escola Superior de Tecnologia da Saúde.
Aleluia, aleluia!
O facto de o ambiente não ser levado em conta no diagnóstico clínico, é só uma questão de miopia que a medicina ainda não conseguiu curar.
Vejamos então o que se tem dito desta relação intrínseca entre ambiente e saúde, óbvia evidência com séculos de vigência:
Mais cancro entre os que vivem próximo de poste de alta tensão (2 Setembro de 2007, in «Meia Hora»)
Viver junto a altas tensões aumenta taxa de cancro (3 Setembro de 2007, in «Diário de Notícias»)
Leite materno aumenta alergias? (14 de Setembro de 2007, in «DN»)
Uma em cada três escolas tem placas de amianto (19 de Setembro de 2007, in «DN»)
EUA: Medicamentos vitimam mais desde 1998 (11 de Setembro de 2007, in «Global»)
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Pormenorizemos esta última:

««A DOENÇA DOS MEDICAMENTOS

O número de casos de efeitos secundários graves e mortes ligadas a tratamentos mais do que duplicaram, segundo um relatório das autoridades federais americanas, relativo ao período entre 1998 e 2005.
Os medicamentos e analgésicos destinados a reforçar o sistema imunitário foram os principais responsáveis pela maioria dos incidentes registados.
Ao longo deste período de sete anos, foram assinalados 467 809 casos de reacções severas e por vezes fatais. O número de mortes provocadas por ingestão de medicamentos passou de 5 519, em 1998, para 15 107, em 2005, de acordo com os dados recolhidos pela FDA (Food and Drug Administration).
No total, l 489 medicamentos foram relacionados com os efeitos secundários graves e as mortes. No entanto, entre estes, 51 foram referenciados em 500 casos anuais, contando para 43,6% do total de incidentes.»»

Não precisa de comentários, uma notícia onde está tudo dito.
Nem sempre o que vem dos USA é desconfiável.
Nem sempre as verdades inconvenientes são reveladas com tanta crueldade.
Nem sempre a célebre afirmação de Ivan Illich é confirmada nos noticiários mundiais: «Medicina provoca mais doenças do que cura.»
Só falta acrescentar um dado insignificante: A iatrogénese já ocupa o 1º lugar, depois do cancro e das cardiovasculares, nas estatísticas de mortalidade.
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CANCRO E POSTES DE ALTA TENSÃO

Nuno Teixeira, coordenador do departamento de Física da Escola Superior de Tecnologia da Saúde, explicou à Lusa que há «evidência científica» de que a presença de uma corrente eléctrica muito forte pode levar ao «aumento de patologias do foro oncológico», por aquela poder originar campos electromagnéticos elevados.
Eu bem me parecia que sim, mas ainda bem que a ciência confirma evidências do senso comum.
Já não confirma outra evidência, os efeitos nefastos para a saúde dos telemóveis.
«Não estão provados cientificamente» - diz o próprio Nuno Teixeira .
Teremos que esperar, pois, que a ciência confirme o óbvio.
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OBRA DE INTERESSE PÚBLICO QUE O PÚBLICO NÃO QUER

Pela notícia a seguir transcrita do «Portugal Diário» (7/9/2007), mais uma vez se verifica que o público não quer uma obra decretada como de «interesse público».
Contradição do sistema?
Ciclo vicioso?
Buraco sem saída?
Seria apenas mais um.
Resumindo: o povo não quer o progresso que lhe querem impor:
««Moradores da urbanização Quinta de São Macário, Almada, irão manifestar-se sábado contra a construção da linha de muito alta tensão junto ao local, considerando que a medida é ilegal e prejudicial para a saúde dos habitantes.
Bruno Silva, morador da urbanização, disse à Agência Lusa que alguns postos desta linha de muito alta tensão ficarão situados a 30 metros das habitações e a 100 metros do colégio Campo de Flores, uma escola com cerca de mil alunos, o que «põe em causa a saúde dos moradores e dos alunos do colégio».
Esta linha de muito alta tensão, a cargo da Rede Eléctrica Nacional (REN) pretende fazer a ligação entre as subestações de Fernão Ferro, no Seixal, e da Trafaria, em Almada, estando prevista a sua entrada em funcionamento a partir do início de 2009.
Os moradores envolvidos no protesto acusam a REN de estar a realizar a obra ilegalmente, visto que o terreno onde ficará situado o posto mais próximo da Quinta de São Macário «estava destinado a espaços verdes, como consta no alvará de loteamento aprovado pela Câmara».
O título do «Diário de Notícias» despachava o assunto muito mais rapidamente:
«Despacho de interesse público para linha de alta tensão muito contestado em Almada».
Uma coisa de interesse público que o público não quer faz as delícias de um coleccionador de paradoxos.
Ou contradições, becos sem saída, estrangulamentos do sistema, ciclos viciosos.
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PERIGOSO AMIANTO NAS ESCOLAS

Sopas depois de almoço ou ciclo vicioso, parece ser também outro gravíssimo problema de saúde ambiental:
««Uma em cada três escolas tem placas de amianto (19 de Setembro de 2007) »
Se uma em três escolas tem placas com amianto, como titulava o «Diário de Notícias», pode avaliar-se o que vai custar a reconversão desses tectos todos.
É mais uma invariável do sistema – acordar tarde demais para as tecnologias que produz – mas porque é que a Ecologia não há-de dinamizar a indústria?
Não vejo nada contra.
Aconteceu, à escala mundial, com os frigoríficos e os famosos cloro-fluorcarbonetos (todos para o lixo, como alertava Hélder Spínola, no Dia Mundial do Buraco do Ozono, 16 próximo passado) e acontece agora à escala europeia com o amianto em revestimentos de sítios como escritórios e escolas.
Pode imaginar-se o que vai ter que ser investido na reconversão, mas lá terá que ser, uma vez que ficou provado, embora bastante tarde, que o amianto era prejudicial à saúde. E fora lá posto com a melhor das intenções: garantir segurança contra fogos.
São assim os paradoxos da nossa sociedade de consumo, que nos protege mas que tem de fazer de nós cobaias para os produtos que comercializa.
Mal se faz uma coisa boa para as pessoas, logo essa coisa se prova, anos, décadas, depois que prejudica a saúde pública.
Está bem que a saúde é individual e intransmissível e ainda me hão-de explicar o que é isso de «saúde pública».
Mas a gente entende o que este discurso troca-tintas nos quer dizer e que é óbvio: o ambiente influi na saúde das pessoas.
E os avanços tecnológicos, ao industrializar-se, ao comercializar-se, nunca levam em consideração as consequências no ambiente e na saúde das pessoas.
E contra isto, batatas.

RETROSPECTIVA CONFIRMATIVA:
http://catbox.info/big-bang/ecologiaemdialogo/+ecologia%20humana+.htm

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