sexta-feira, 1 de junho de 2007

BIOMASSA A MAIS

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Estereótipos & arquétipos

20% DA MATÉRIA ORGÂNICA

Já no terreno, a ideologia da biomassa prossegue aceleradamente o seu glorioso objectivo: fornecer ao país 15 centrais de produção de energia eléctrica a partir da dita biomassa.
Os gananciosos do desperdício já se lambem. Mais electricidade e mais desperdício correspondente será a lei lógica inerente a esta mentalidade brilhante, que tem o alto patrocínio dos melhores cérebros pensantes e das maiores autoridades em várias e desvairadas especialidades.
O discurso que lá conduz continua invariável – com jornais e telejornais a ajudar à festa – e não haja dúvidas que tudo irá acontecer conforme o previsto (as tais 15 centrais de que temos tanta, tanta falta, bom deus!).
Poderá haver um pequeno obstáculo mas também esse removível com mais umas páginas de jornal (e telejornal) «dando voz às populações» que têm direito a ser devidamente esclarecidas. É o que faz uma belíssima reportagem da jornalista Sílvia Nogal Dias, no «Diário de Notícias» (28 de Maio de 2007), informando que «a população da Abrunheira, concelho de Sintra, reivindica debate público alargado».
Um «Prós e Contras» para uso local.
Porque uma cornucópia de vantagens vai advir desse empreendimento na Abrunheira:
1.A central poderá abastecer mais de cem mil pessoas (o que é bué de giro)
2. Orçada em 15 milhões de euros, a central da Abrunheira trará a criação de postos de trabalho, numa localidade em que dos 4.000 habitantes, mais de 230 estão desempregados. Mais milhão menos milhão, tenho a vaga impressão de que já ouvi esta.
3. Para o vereador da CDU, Pedro Ventura, a central é «um investimento estruturante», já que promoverá a criação directa de 25 a 30 microempresas, um factor que «revitalizará a economia da zona»: à parte as «microempresas», também me parece que já ouvi esta, provavelmente em uma minha anterior reencarnação;
4. Resta anunciar que a AMES é a Agência Municipal de Energia de Sintra, o que vale dizer que tudo está em boas mãos e vai prosseguir em velocidade de cruzeiro: calma mas irremediavelmente.
Fernando Seara, presidente da Câmara Municipal de Sintra, parece alheado desta iniciativa e apenas destacou, em Março, a vertente de valorização energética, ao combinar o uso de resíduos florestais e de lamas, provenientes das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que representariam cerca de 20 por cento da matéria orgânica utilizada. «No entanto – frisa a jornalista Sílvia Nogal Dias – a participação das ETAR municipais no processo de produção de energia pode já não vir a concretizar-se.»
A terminar com chave de ouro, diz a jornalista:
«« Apesar da vertente das lamas ter sido equacionada inicialmente, Luís Fernandes, da Agência Municipal de Energia de Sintra, disse ao DN que «na solução técnica esta não estava prevista.» O director daquele organismo admite que a introdução das lamas pode já não constar do projecto, devido ao «incremento dos custos associados ao transporte» dos resíduos das ETAR para a central de biomassa.»»
Em linguagem vulgar, quer-se dizer que o incremento dos lucros seria menor com o aproveitamento das lamas.
Mais claro do que isto nem por música.
Tenho a vaga impressão de que já ouvi esta melodia em outras alturas.
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Das 15 previstas, já vamos na segunda, na Abrunheira. A primeira foi em Mortágua e deu pouco que falar, julgo. A população ainda não estava «sensibilizada». Agora, no concelho de Sintra, com a população mais sensibilizada (ou não estivesse à testa da autarquia um homem de sensibilidade) nada de novo no discurso apologético debitado: apenas os estereótipos já tetra-conhecidos da gente em outras ocasiões, circunstâncias e lugares. Estereótipos que, devidamente martelados pela manipulação mediática, se instalam como arquétipos no subconsciente colectivo das populações que acabarão por aceitar o que lhes quiserem impor.
Qualquer dia vamos ter notícia da terceira central eléctrica de biomassa, das 15 previstas.
Moralidade da história: «Desenrasca a tarefa e safa-te.»

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