segunda-feira, 14 de abril de 2008

VAI TUDO RASO

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FLAMINGO AMIGO O POVO ESTÁ CONTIGO
PROGRESSO DESTRUINDO O PROGRESSO

9 de Abril de 2008

Já tem maquete, vai ser metálica e fica pronta em 2014.
De um dia para o outro, é a já famosa ponte Chelas/Barreiro que irá destruir, para ser construída, tudo à sua passagem, progresso e tudo, no concelho do Barreiro em geral e na freguesia do Lavradio em especial.
Conforme pormenorizava a notícia, no contexto do artigo assinado pela jornalista Leonor Matias (in «Diário de Notícias», 9 de Abril de 2008) vai tudo raso. E as demolições são em série para o comboio de alta velocidade (CAV) passar.
Ainda não veio a Quercus, mas há-de vir, a requisitar uma de «impacto ambiental», mas a razia vai começar e descreve-se assim:
A ponte Chelas/Barreiro, com uma estrutura idêntica à ponte 25 de Abril, vai obrigar (na freguesia do Lavradio) a uma série de demolições, afectando principalmente o Bairro dos Engenheiros, onde serão demolidas quatro vivendas (quatro!).
Simbolicamente, a série de demolições vai afectar principalmente este Bairro dos Engenheiros. Quem com ferro mata, com ferro (neste caso metal) morre.
Quanto à Escola Básica Álvaro Velho, o termo moderno do progresso é «deslocalização»: a escola fica no enfiamento do traçado do comboio de alta velocidade, pormenorizava a notícia.
Nem o hipermercado Feira Nova, à entrada da Quimiparque escapará, «assim como a maior parte do parque industrial , que terá de ser alvo de um longo processo de descontaminação ao nível dos solos, onde são visíveis grandes montes de resíduos resultantes da extracção das pirites», sublinhava a notícia.
Ficamos também a saber que a partir de agora uma tal Rave (com ar de sigla mas em minúsculo) vai passar a ser muito falada. Trata-se, com certeza, de uma nova sigla, criada de um dia para o outro (tal como a Ponte) e quando se trata de siglas os jornais partem do princípio de que toda a gente já sabe a tradução.
Mas esperem aí que a coisa ainda não terminou:
«As indústrias localizadas na zona de amarração vão ter de sair do Parque e entre elas está a IPODEC, que faz a incineração dos resíduos hospitalares.»
E a pequena grande notícia terminava com uma nota de vida: «apesar da degradação e poluição, a zona ribeirinha é habitada por dezenas de flamingos.»
Claro: os únicos que em 2014 (data da prevista ponte metálica) irão sobreviver por ali: se sobreviveram à primeira e segunda «revolução industrial» , irão evidentemente sobreviver também à 3ª e última.
Do resto, progresso e fanfarrões do progresso, espero que nem restos haja.
Nas fileiras dos flamingos, a palavra de ordem já se ouve: contra as pirites, o betão e agora o ferro metálico, marchar, marchar. Não são os heróis do Mar, são os heróis do Rio.
Só mais um pormenor sem importância no meio destas singelezas: como não existem em Portugal metalomacânicas suficientes com capacidade para fornecer a nova estrutura, «as metalomecânicas espanholas já estão a cobiçar», conforme realçou realçando o responsável da Rave nas declarações que fez à jornalista Leonor Matias, in «dn», 9 de Abril de 2008.