quinta-feira, 9 de agosto de 2007

HÁ JÁ 43 ANOS

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Chave para AC 1964

A ECOLOGIA HUMANA EM 1964 ?

«Diz-me o que comes -- em sentido lato -- e dir-te-ei quem és...»

Não posso provar de que o texto a seguir publicado é de 1964 mas a verdade é que é. Já lá vão, portanto, 43 anos. Pelos vistos, já em 1964 procurava o «sentido lato» (conceito alargado) e portanto a metáfora do «ar que se respira», sendo claro ao meu espírito que o «ar que se respira» é também o ideológico, o mitológico, o industrial, o químico, o físico.
Poucos anos depois, viria o sentido lato da expressão «o que comemos» e, portanto, o sentido lato da palavra «alimentos».
Mais tarde, encontraria, emocionado, em Simone Weil, a confirmação desta intuição do conceito alargado (ou plural) de alimento/alimentos.
E o inventário surgia, espontâneo, como o processo literário de dar a soma/ ou o somatório dos diversos factores ou «parcelas da soma».
O texto de 1964 aí fica, sem comprovativo porque esteve inédito e on line sobre ecologia humana o mas antigo que posso localizar é de 1975.
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Nem só os físicos atómicos e a sua herança contribuíram para definir a espécie de ar que hoje se respira e, por maioria de razão, se há-de respirar amanhã.
Nem só as poeiras radioactivas
nem só a poluição do ar atmosférico pelas explosões termo-nucleares em testes na atmosfera
Nem só a água do mar onde caem bombas perdidas (as que se sabe e as que não se sabe) de onde são ou não são retiradas
Nem só o clima de histeria internacional criado pela corrida aos armamentos,

Outros factores e ingredientes o constituem: a propaganda em torno das mitologias ou ideologias políticas, a demagogia pró-paz, os jornais, as agências, a rádio e a televisão
Outros factores e ingredientes o constituem: a atmosfera de industrialização maciça;
a superpopulação e o isolamento dos indivíduos em unidades fechadas;
o ruído difuso que corrói, o ruído directo que lacera;
o incremento de objectos domésticos e electro-domésticos, a alienação intelectual e afectiva a esses objectos;
o espaço fechado dos arranha-céus;
a desproporção entre o indivíduo e os espaços monstruosos edificados nunca a pensar nele;
a respiração física e moral dentro de ambientes viciados;
o tédio intrínseco às super-organizações e respectivas hierarquias;
a velocidade; a agressividade do trânsito automóvel sobrepondo-se ao peão, ferindo, golpeando, empurrando; a devassa da vida privada, a que procedem as polícias;
as devassas à intimidade do domicílio (livros, roupas, papéis, gavetas, etc.) com pretexto em trabalhos de investigação;
a censura oficial de actos, palavras, escritos, a chantagem e a delacção, os interrogatórios e a lavagem ao cérebro, os tribunais e as câmaras de tortura;
a espionagem e a contra-espionagem, não só ao nível das relações internacionais -- deteriorando na origem qualquer hipótese de convívio ou diálogo entre países -- mas ao nível das relações individuais, no trato quotidiano e profissional (o empregado de uma grande empresa, por exemplo, onde pode ser espiado e submetido a técnicas de chantagem sob ameaça de perder o emprego);
a pena de morte efectiva ou a pena de morte disfarçada de funcionalismo médio ao serviço do capital financeiro e do Estado;
os investimentos financeiros postos ao serviço do armamento e retirados à bolsa do contribuinte que, além desse, esportulará mais o imposto de sangue e quantos impostos a cadência inflacionária de todos os regimes lhe impõe;
Mas nem só, nem só estes «pequenos nadas» constituem a paisagem que rodeia, modela e determina o indivíduo;
os valores, os chamados valores que filósofos fabricam nas universidades, discursam nas academias, inserem nas revistas da especialidade;
as chamadas controvérsias ou colóquios de Genebra; as chamadas doutrinas ou teorias, ou humanismos, são ainda e também o habitat do homem civilizado.
Arterioesclerose, depressão nervosa, cancro, alcoolismo, intoxicação pelas drogas medicamentosas ou alucinogénicas, suicídio, acidentes de viação, acidentes de aviação, criminalidade -- parecem ser os surtos endémicos protagonistas da comédia humana nesta fase da História.
Agredido, bombardeado, atacado pelo «ar que se respira», posto à prova nas suas defesas, na sua resistência e no seu poder de superação, as doenças epidémicas são apenas a única forma que resta aos indivíduos de reagir a sobreviver: doente, mas sobrevivente.
As drogas ou «paraísos artificiais » já não chegam para atenuar a dor de existir em tal tempo e mundo; álcool. morfina, cocaína, LSD, tranquilizantes, narcóticos, já não chegam para atenuar a morte; por isso adoece, que é a única forma de estar vivo numa civilização doente de morte.

COMPROVATIVO ON LINE:
http://pwp.netcabo.pt/big-bang/oescriba/intuicos.htm
http://pwp.netcabo.pt/big-bang/ecologiaemdialogo/ec-humª.htm
http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&cr=countryPT&q=+site:pwp.netcabo.pt+intui%C3%A7%C3%B5es+de+ecologia+humana

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