sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

ECOS 1987

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Abril. 1987

O 25 DE ABRIL 13 ANOS DEPOIS

Escritores neo-realistas da década de noventa, vão ter que contar este período fáustico, em que os poderosos ficaram mais poderosos e os miseráveis mais miseráveis. A cada novo governo derrubado, mais uma medalha para quem o derrubou, porque o povo é sereno e nada vingativo. E quando não é, ameaça-se para que seja.
Quem saberá, na Europa dos Burocratas, que somos aqui e agora, a resistência clandestina mais antiga e mais mal organizada da Europa?
Por isso, no intervalo de dois governos derrubados, há sempre quem nos apanhe desprevenidas, com novos lixos radioactivos, com novos fosgénios, com novas Estarreja, com novos cianetos de vinilo, com novas prospecções petrolíferas, com novas centrais nucleares da Espanha socialista , com novos cargueiros atulhados de produtos tóxicos, com novos petroleiros partidos ao meio, com novos sindicalismos reformistas iguais aos que já tínhamos, com novos verdes à ribatejana, com mais chumbo na gasolina, com mais cancro na carne de vaca, com mais hormonas no leite, com mais pesticidas na sopa, com...
Gostará mesmo o povo português de viver no chafurdo? Porque não fazem uma sondagem das normais, sobre estes quesitos sem importância (que dizem respeito à vida e à morte da gente?)
Ou não chegará ainda o circo de fantasmas chamado política, o pirolito suporífero chamado desporto (a todas as horas do dia e da noite), as fofocas das chamadas artes e letras?
Escândalos que só já escandalizam alguns ou que já não escandalizam (mesmo) ninguém, fariam uma lista interminável, Indicam-se (mais) alguns como contributo ao inventário sempre incompleto do fascismo quotidiano:
- A exploração de impostos que sobrecarregam principalmente
a classe média;
- A diferença abissal de classes que separa os Burocratas dos portugueses em geral que continuarão, no entanto, a suportar, como contribuintes, as farras da Europa e os mitos da adesão;
- O pesadelo nuclear e radioactivo que o socialismo espanhol decidiu reforçar com um cemitério de resíduos radioactivos, depois de nos ter já contemplado com as centrais nucleares de Almaraz, as previstas de Sayago, Valdecaballeros, etc.
- As vacinas obrigatórias que, na maioria dos casos, obrigam as vítimas a contrair as doenças de que dizem protegê-las;
- A respiração obrigatória do chumbo adicionado à gasolina e que tem sobre a célula nervosa e cerebral efeitos comprovadamente devastadores;
- O luxo da classe científica que o país contribuinte não só paga para formar doutores mas também para manter e que regularmente pede mais subsídios para prosseguir as investigações, das quais até hoje não se viu nunca um único resultado prático: ciência que se faça em laboratórios do Estado, aliás, ou é platónica, ou serve exclusivamente os interesses de qualquer indústria estabelecida, que muitas vezes se aproveita do trabalho dos investigadores pagos pelo Estado; o luxo da classe científica é assim o escândalo da classe dita científica;
Há instituições, cujas proezas os jornais só raramente contam mas que só de ouvirmos pronunciar os seus santos nomes um arrepio de medo e morte nos assalta.
Poder político que ignore isto ou finja ignorar, há muitos, muitos anos que se fez cúmplice de ataques quotidianos contra a humanidade.
Se quem tem o poder não pode pôr cobro a estas pequenas grandes anomalias, então quem pode?
Ou ao poder interessa mesmo que a situação seja socialmente e permanentemente explosiva?
Ou ao poder interessa que o cidadão esteja permanentemente pelos cabelos e com vontade de pegar fogo às caras solenes, de gravata e fato inglês, que aparecem na televisão a pedir mais sacrifícios, mais subsídios ou mais adesões à Europa?
Se ainda não lavra por este País uma luta munida de escopetas, pronta a mandar ir pelos ares os possidentes do poder (que vão da direita à esquerda, diga-se) isso só se deve ao bom feitio do português, de brandos e bons costumes, que prefere morrer esmagado do que esmagar uma formiga que seja.
Talvez por isso os poderosos tenham adubado bem o terreno de violência, abusos, injustiças, corrupções, prepotências, etc., testando assim a capacidade do português de comer e calar até ao inverosímil (com desfecho no suicídio, no crime ou na embriaguês).