domingo, 9 de dezembro de 2007

HÁ JÁ 25 ANOS

1-2 - 82-11-20> - pauwels-1> leituras mágicas – diário de um leitor

O DESPERTAR DOS MÁGICOS (*)

[(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/11/1982]

20/11/1982 - Se um dia os cientistas descobrirem que houve sociedades com civilizações infinitamente superiores a esta dita civilização que temos, na base barrenta e cancerígena do petróleo, o estado de pânico que se criará em todo o funcionalismo da política, da economia, da ideologia, andará perto do que se verificou na invasão marciana de Orson Welles.
Nesta sociedade do petróleo - dita industrial e avançada - que conseguiu impor, a Leste e a Oeste, os seus padrões de vida (quer dizer, de morte) a quase todo o Planeta - apenas com algumas pequenas bolsas de resistência - o mito do progresso é a pedra de toque. Tudo se justifica, ou tenta justificar, em nome do progresso, nomeadamente as chacinas e mortandades, do biocídio puro e simples ao etnocídio e ao genocídio expresso.
Ora o que está para trás são fases deste apogeu - os três estados do senhor Augusto Comte - desta etapa final da Humanidade, a contas agora com a digestão de várias transamazónias, a caminho como todos notam do paraíso. Só quem tenha a mania de dramatizar tudo, não vê.
Caso a história e a arqueologia, pois, viessem a provar que antes disto houve mesmo uma Civilização, e que civilizações efectivamente houve muitas e dignas desse nome, exactamente antes desta ter começado a raiar (dar raia) nas fraldas do Mediterrâneo e arredores, pode imaginar-se quantos eruditos iriam ficar sem emprego.

OBEDIÊNCIA OU MORTE

Daí que a arqueologia hoje oscile entre a metafísica da pedrinha e a pedrinha da fotogrametria, entre o criado e o malcriado. Só pode ir - dizer que foi - até certo ponto, quer dizer, até onde não ponha em causa os fundamentos em que este sistema apoia os seus podres alicerces: a ciência ocidental, a que normalmente se chama ciência ordinária.
Se a arqueologia investiga um pouco mais, vai descobrir que ciência houve, da boa e da melhor, muito antes desta que os historiógrafos oficiais do reino anunciam.
Em suma: recuar uns séculos oferece perigos de tremendas revelações e revoluções. A verdade vem à tona. Claro que entre arqueólogos logo se mobiliza a contra-ofensiva e o rótulo de "esotérico" surge então para anatematizar tudo o que não passe pelo filtro, pelo exame, pela real mesa censória da ciência ordinária e seus exércitos de fiéis servidores.
Em 1962 - há portanto vinte anos - dois autores franceses, um químico e outro (apenas) escritor lançavam um feixe laser de hipóteses, que atordoaram muita gente.
O livro em Portugal, na tradução de Gina de Freitas, chamou-se "O Despertar dos Mágicos” e o editor não acreditava nele quando o lançou. O argumento de sempre: vanguarda não se vende. Cremos que vai na 10ª edição e continua a esgotar-se.
Gabo-me de ter escrito sobre esse livro logo que apareceu em França, o primeiro e não sei se único artigo que sobre ele apareceu na imprensa portuguesa. Posteriormente, os cadernos de “O Século” – colecção «A Par do Tempo» - viriam igualmente a consagrar-lhe exclusivamente um dos seus números.
Apostar vinte anos antes no que vai ser um êxito editorial, cultural e de opinião pública vinte anos depois, eis o que ninguém jamais neste país deverá fazer, sob pena de morte. Antecipar-se ao que o tempo vai dizer e confirmar, eis o pecado mortal. Mas não dramatizemos.
O êxito daquele livro significa que milhões de pessoas sintonizaram uma banda do espectro cultural até então interdita e tabu. Com esse livro e o movimento intelectual que dele derivou, milhões de pessoas já perceberam que a historiografia oficial foi posta em causa. Não significa isso que toda a classe dos historiadores, arqueólogos, geólogos e palentólogos se tenha convertido à verdade. A inércia tem muita força e os interesses criados ainda mais.

A NOVA GERAÇÃO QUE ESCOLHA

À nova geração cabe mais esta opção difícil, mais este salto por cima dos pais, patrões e patronos da Pátria. Entre os sacerdotes das ordens imobilistas estabelecidas - que exigem rendição e culto - e a liberdade de pensar livremente a verdade, quem vier que escolha.
Anos depois de aparecer "Le Matin des Magiciens” com um título português que não ajudava nada, surge daqueles mesmos autores franceses “O Homem Eterno”, outra bomba no charco. A Neo-Arqueologia ganhava foros de cidade, avançava na neblina de "noite e nevoeiro", livros de capa preta e letras douradas iam saindo entre o medíocre e o óptimo, colecções mantiveram-se enquanto jornais que pretendiam macaquear o novo realismo fantástico iam falindo à medida que surgiam, aliás convenientemente mal feitos, quase todos, precisamente para se provar que toda a Neo-Arqueologia e todo o Neo-Esoterismo de fancaria não passavam. Sobrevive só o mais incrível de todos.
Convinha à ciência oficial avacalhar o produto , para o que não faltaram profetas e gurus de pacotilha , à uma, cumprindo. Quando a Acupunctura chegou, não tardaram os curandeiros a invadi-la, para que os curandeiros diplomados pudessem dizer que aquilo era charlatanice punível por lei.
Em tais casos a lei funciona sobre esferas. Impecável.
Entre a ciência, a historiografia oficial e a rapioqueira mediocridade de curandeiros-astrólogos.-parapsíquicos & tal, aí temos a situação de beco, tentando convencer outra vez as massas de que não há alternativa nem saída, nem a luz da verdade deslumbrante. Mas há vinte anos, Louis Pauwels e Jacques Bergier demonstraram que sim, que havia.
Como era de esperar, esta época que tudo polui, também abocanhou a maior e melhor descoberta que a ciência jamais fez - a anticiência, exactamente, a ciência subversiva por natureza, a Neo-Arqueologia e todas as outras anti-ciências adjacentes.
Ou não fosse ela - a Neo-Arqueologia - a outra ponta de uma linha que desemboca hoje na Ecologia, a outra das subversivas por excelência.
Vinte anos depois dos mágicos despertarem, ao toque de Pauwels e Bergier, ainda há quem durma a sono solto. A nova geração que decida. Nesta como noutras matérias, não esperemos que a salvação nos venha dos pais da pátria ou dos pais do Mundo.
Abrir os olhos e ler, abrir os ouvidos e ver, abrir o coração e sentir é a única regra de oiro para a nova geração que não quer morrer estúpida, agarrada à bomba de cobalto da televisão, ou do cinema, o tal que mente à velocidade de 23 imagens por segundo, ou do rock e outros produtos farmacêuticos.
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(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/11/1982

HÁ JÁ 35 ANOS

1-2 - 72-11-11-ie> sábado, 19 de Abril de 2003-novo word - poluição-4-ie>

11-11-1972

UM BECO SEM SAÍDA(*)

(*)Este texto de Afonso Cautela permaneceu inédito

Alguns dos poucos que tentam levar até às últimas consequências as reflexões sobre o meio ambiente, sobre a vaga galopante da poluição, chegam inevitavelmente à conclusão de que a poluição é irremediável mas irremediável, também, a sua fatalidade.
Nem só na contaminação, porém, se verifica este ciclo vicioso, esta fatalidade, este "beco sem saída"; eu diria que a (civilização da) Abjecção se caracteriza exactamente por conduzir a becos sem saída.
Não falta, também e por exemplo, quem lamente a contaminação dos alimentos pela Química e a mortandade cancerígena provocada por aditivos, corantes, pesticidas, detergentes, etc...: mas logo a seguir se verifica que nada é possível fazer contra, pois a necessidade de "conservação" dos alimentos pela Química é inelutável e resulta de uma característica inalienável do Sistema, característica mais ou menos definida nestes termos: "o aumento constante de população, a elevação (sic) do seu nível, de vida e a complexidade crescente das trocas comerciais, tornam inevitáveis o armazenamento dos produtos alimentares e, por esse facto, a. sua protecção contra a deterioração, sendo assim inevitável a incorporação de anti-sépticos no trigo, na farinha, na manteiga e nos frutos, que se têm de armazenar durante meses."
Outra inevitabilidade, outra necessidade, outra fatalidade, outro beco sem saída é o que ocorre com os medicamentos químicos: alguns já ousam reconhecer o abuso que constituem, mas logo a seguir afirmam que o Sistema não pode passar sem eles, porque não conhece outras soluções e outras terapêuticas.
A pouco e pouco, o Sistema auto-critica-se mas para verificar sempre a sua própria incapacidade ou impotência em debelar na base as seus vícios e crimes radicais.
Tudo isto vem apenas dar razão ao crítico radicalista - o "hippy", por exemplo - da civilização e aos que entendem não ser possível fazer reformas mas unicamente substituir esta por outra civilização. Alternativas não faltam.
No fundo, o “hippy", o vegetariano, o budista, o macrobiótico, apenas aproveita a auto-crítica feita até certo ponto pelos próprios funcionários do Sistema, forçados a reconhecer os vários "becos sem saída" da civilização, e a tornar automaticamente lícita, necessária, urgente a Utopia que pretende exactamente conhecer outras alternativas de sobrevivência para a humanidade, reconhecendo na Tecno-burrocracia a sua estrutura homicida básica.
Evidenciada fica também a ineficácia dessa crítica reformista (funcionária) que se vai limitando a reconhecer o Mal e, quando muito, a propor medidas de melhorar a Mal. Ora o que a Utopia propõe não é melhorar o Mal mas erradicá-lo. Liquidá-lo.
Não posso nem quero ocultar a satisfação que me dá verificar os balanças da Porcaria feitos pelos próprios responsáveis dela.
Ao enunciar os efeitos cancerígenos dos corantes químicos utilizados nos alimentos, provoca-me uma infinita hilariedade ler a seguir que o número desses corantes é às dezenas e que as legislações mais "avançadas" dos países mais prósperos, ditos desenvolvidos, num gesto nobilitante em defesa da saúde pública do consumidor, apenas autoriza 17 desses corantes...
Não posso conter o riso ao ler mais ainda:
"A base destes resultados" (refere-se o articulista às conclusões sabre a acção cancerígena dos corantes) "decretou-se em 1958, numa emenda à Lei sobre géneros alimentícios, uma forte restrição de utilização de corantes de géneros a1imentícios, pelo que actualmente só são (sublinhado meu) autorizados 17 corantes sintéticos - seis vermelhos, quatro amarelos, dois laranjas, três azuis e dois pretos."
E o articulista, funcionário dilecto, vitorioso escreve:
"Todas as substâncias estranhas só são permitidas enquanto não houver indício de efeitos negativos sobre a saúde."
Tranquilizemo-nos: eles investigam e só não permitirão o uso dos cancerígenos quando houver um indício...
Para rir são também as intérminas discussões sobre a nocividade ou inocuidade dos insecticidas para as plantas, ou dos antibióticos para o gado.
Em tais casos, o "rigor científico" (sic) consiste em dar crédito às mais grosseiras e ridículas mistificações: experiências com ratinhos, como se a fisiologia humana estivesse ao nível. de complexidade e sensibilidade dos ratinhos (os cientistas devem julgar por si...); opiniões emanadas de doutos cientistas que, no fundo, são apenas assalariados de gigantescas e poderosas empresas químicas, com interesses arreigados na produção de antibióticos, insecticidas, corantes, aditivos, detergentes, etc., etc.; por fim, respeitáveis academias que, reagindo aos acontecimentos 300 anos depois deles se darem, ainda estremunhadas, de remela no olho, emitem pareceres que se pretendem autorizados, pertinentes, actualizados.
De toda esta mascarada fazem-se artigos de informação para os consumidores. E se o escândalo com certos produtos é tão grande que tem de ser reconhecido, logo o processo será arquivado meses de pois e logo entrarão a circular uma data de marcas novas, ditas inócuas.
"As pesquisas com ratinhos continuam", continua o articulista «e não se pode por enquanto afirmar de seguro nem a inocuidade nem a nocividade."
Assim, entre dentes, nas meias tintas propiciatórias, entre as 10 e as 11, se descarta a gravidade do assunto. Aliás, sendo a matéria telecomandada por empórios tão poderosos, que outra chance fica aos cientistas senão deixar-se telecomandar e ao consumidor desconfiar, ou sistematicamente recusar o que nos for possível recusar?
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(*) Este texto de Afonso Cautela permaneceu inédito