segunda-feira, 22 de outubro de 2007

pepino celulósico

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OS EUCALIPTOS E A INFÂNCIA DA ECOLOGIA

O anúncio que coloquei na secção «procura-se» - cientistas precisam-se – foi ouvido e agradeço portanto a atenção dos amigos ambionautas que quiseram dar alguma importância ao meu veemente apelo.
Nenhum (cor)respondeu à questão de fundo – inventar tecnologias mais ecológicas de combater pragas (invasoras, infestantes, parasitas, etc) – mas ficaram algumas dicas e achegas.
A tecno-ecologia, de facto, está ainda na infância e há-de crescer. Espero que cresça e apareça para nos libertar a tempo de alguns ciclos viciosos que nos estrangulam e que eu costumo incluir num aforismo: «apagar fogos com gasolina» é ainda a filosofia em vigor.
Por enquanto os especialistas de ecologia, ainda na infância da arte, têm outras prioridades e urgências: defender o pepino celulósico, por exemplo, e por motivos muito óbvios:
a) É plantado deliberadamente e não cai por acaso, programam-se os incêndios para lhe criar área de plantio;
b) Não está classificado na categoria de árvore infestante nem invasora nem parasita nem hidróvora nem exótica nem monocultura esgotante (temos que ser rigorosos na nomenclatura);
c) E depois a exportação de pasta de papel que havemos de importar já sob a forma de papel de jornal? Como é que iria ser, se a indústria está sempre e queixar-se de que não tem matéria-prima?
Mais um ciclo vicioso?
Mais um beco sem saída?
Mais um caso em que temos de pagar o preço do progresso?
Mais um estrangulamento do sistema contra os ecossistemas?

Não posso deixar de confessar que esperava criatividade dos senhores especialistas mas não tanta subtileza no distinguo dos conceitos e rótulos.
Questão de fundo, para eles, é mesmo de como vamos classificar a planta. Pode ser infestante sem ser invasora e pode ser invasora sem ser infestante. Ou vice-versa.
Uma vez que o eucalipto é exótico mas não invasor (de facto é cá posto deliberada e programadamente) podemos plantá-lo e rezar para que ele cresça depressa, sem que venha daí mal ao mundo.
Um pouco mais de conversa e temos aí as virtudes todas do eucalipto:
a) É exótico mas não se pode incluir nas exóticas indesejáveis;
b) É invasor e mata a biodiversidade mas não se pode incluir entre as invasoras;
c) É hidróvoro e bebe toda a água disponível mas não se pode nem deve incluir entre as indústrias hidróvoras, porque não vem nas listas classificadas;
d) É parasita mas não consta nos livros de Botânica que falam de plantas parasitas;
e) É monocultura mas não mata a biodiversidade, apenas lhe ocupa o espaço;
f) É esgotante dos solos mas também o trigo o é e precisamos dele (visão pragmática da vida);
g) É desertificante mas também nenhum cientista ainda provou laboratorialmente (nem irá provar nunca) tal atoarda;
Esta ecologia infantil – tão cheia de subtilezas linguísticas - caracteriza-se por algumas constantes:
a) Raramente liga a causa ao efeito;
b) Ignora as N causas que podem provocar o mesmo efeito;
c) Ignora as interacções e variáveis dentro de um ecossistema e nunca pode prever os efeitos de uma nova variável lá metida;
c) Quando decide combater uma praga, utiliza instrumentos pré-históricos, da era sintomatológica ou pré-ecológica: os químicos ou à paulada;
d) Quanto à ética é a mais pós-moderna possível: tudo se justifica desde que dê lucros. É o preço do progresso e a ecologia que se lixe.
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Quanto aos que responderam ao meu apelo – cientistas precisam-se – começo pelo Henrique Pereira dos Santos que no seu estilo lacónico e sacudido, diz:
«O eucalipto e o milho invasores? É a primeira vez que ouço dizer tal coisa, sobretudo do milho que precisa de mil cuidados para se aguentar. São exóticas, mas não são invasoras.»
Como não fui eu que falei de milho, a conversa não é comigo: mas como agora tudo vai dar ao milho e aos verdes eufémia, não me admira nada esta pequena confusão de narizes. O Henrique Pereira dos Santos anda atarefadíssimo a discutir os transgénicos e já vê milho em todas as entrelinhas.
De qualquer maneira fica a subtileza e finura que refiro acima: exóticas não quer dizer que sejam invasoras e vice-versa.
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A mesma transcendente questão da nomenclatura vem expressa na mensagem de Henk Feith:
«Por curiosidade: o eucalipto não consta nesta guia como planta invasora. Porque não basta ser exótica para ser invasora. Invasora tem a ver com a sua capacidade de reprodução e expansão, logo invasão de territórios onde a sua presença não foi premeditada.»
Tomei nota do subtil distinguo e para a outra vez serei mais preciso quando falar de pepino celulósico.
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Subtileza mas num outro sentido vem na mensagem de Rita Vaz, que respondeu num texto esclarecedor e do qual apenas posso sublinhar, por falta de espaço, estas passagens:
«Os eucaliptos, ao contrário, são usados para produzir pasta de papel, por isso apesar de invasores, têm aproveitamento. São uma cultura como outra qualquer importada (milho, tomate, batata, por exemplo, que vieram dos USA). Longe de mim defender a cultura do eucalipto, estou só a expor o que sei.»
É a filosofia pragmática da vida mas que eu defendo inteiramente: o preço a pagar pelo progresso, o desenvolvimento do subdesenvolvimento, mas que lhe havemos de fazer se a vida é feita de paradoxos e ciclos viciosos e estrangulamentos e becos sem saída?
Inteiramente de acordo também com Rita Vaz nesta sua posição:
«Acima de tudo acho que mais importante do que arranjar maneiras de transformar as exóticas invasoras em energia, era ensinar as pessoas a poupar energia e correr com as exóticas invasoras.»
Mas correr como: ecológica ou violentamente?
O que é que ficaria mais barato ao Orçamento de Estado?
Recapitulando a matéria dada, irei concluir.
Tal como sugere Rita Vaz, restos de comida convertidos em energia eléctrica ainda estamos para ver mas energias há muitas e talvez que não seja má ideia transformar resíduos em biogás.
Por acaso era aí que eu queria chegar – ao biogás - , embora saiba como o pragmatismo reage a estas mini-soluções ecológicas. Pensamos sempre em grande e o small para nós nunca foi beautiful:
«Acho – diz Rita Vaz - que o mais provável é que os restos passem por um processo de fermentação ou degradação aeróbia que liberte algum combustível (um álcool ou por exemplo metano), e esse combustível seja utilizado como fonte de energia. Isso não é novidade - faz-se degradação bacteriana de restos vegetais com recuperação de combustível gasoso em muitas indústrias, inclusive em Portugal.»
Conforme Rita Vaz indica, talvez a Fundação para a Ciência e Tecnologia tenha resposta à minha questão de fundo:
a) como aproveitar ecologicamente a biomassa das invasoras, infestantes e cª, em vez de continuarmos com as lamúrias do costume?
b) porque é que o biogás a partir de excrementos animais continua tabu, se há mais de meio século se sabe disso e da eco-tecnologia capaz de o produzir?
Desculpem lá os senhores cientistas mas não sou eu que tenho de ir pedir contas às altas autoridades deste país: são os senhores cientistas que devem impor aos governos o que se deve fazer, o que tem de se fazer, o que é urgente fazer.
Não há deputados verdes na AR?
Como não sei o que é isso de Fundação para a Ciência e Tecnologia, a minha conversa pode ficar por aqui.
E obrigado pela vossa colaboração.

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