O DESENVOLVIMENTO DO SUBDESENVOLVIMENTO
Consumada a megalomania de Alqueva – o maior lago artificial da Europa – com o empurrão financeiro da C.E. e a unanimidade dos partidos políticos (recordo-me do NIM que o Dr. Mário Soares lá deixou em uma das suas famosas presidências abertas), é agora, cinco anos depois, o tempo da polémica pós-mortem, com o discurso demagógico e retórico das entidades convidadas a botar opinião sobre o Plano de Desenvolvimento Regional (PDR), ainda não aprovado, conforme informava o programa «Biosfera», da RTP 2, quarta-feira, 1 de Agosto de 2007: falaram a CAP (Confederação dos Agricultores Portugueses), a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) de Castro Verde e o Ministro da Agricultura.
Os milhões em causa com o PDR, sem falar do que já se gastou antes do PDR, são motivo mais do que suficiente para desatar a verbosidade pró e contra as medidas a tomar: para o representante da CAP, o Governo privilegia os investimentos públicos em detrimento dos privados, como já não se via há 20 anos....
Os 400 milhões de euros para regadio não lhe agradam nada e os projectos de turismo – os famigerados PIN - são de luxo e só irão fazer subir o custo de vida nos arredores.
Pelo que se ouviu ali, a agricultura biológica será bastante (des) protegida, porque os países prósperos da Europa querem produtos de qualidade e por isso Bruxelas subsidia, incrementa, fomenta.
Quem, como eu, não perceba nada de euros, a vertigem, a voragem dos milhões já gastos e a gastar com Alqueva é verdadeiramente estonteante e provoca tonturas.
Desta vez, as forças políticas que contribuíram para consumar o biocídio de Alqueva não foram ouvidas nem irão falar: os arautos da Reforma Agrária e defensores da planificação socialista parecem satisfeitos com este PDR, talvez porque tivesse desagradado à CAP.
Como as alterações climáticas profetizam menos água, teremos aí outro factor a dar que falar e certamente que as novas elites do «desenvolvimento sustentável» irão ter ocasião de exprimir a sua douta opinião.
Como é que o «desenvolvimento sustentável» irá conviver com os números do Biocídio irreversível que foi consumado, eis o grande enigma que excita as imaginações.
O programa «Biosfera», da RTP 2, foi minucioso ao recordar os números do biocídio, a vida destruída em nome do «desenvolvimento», até ao dia em que se fecharam as comportas, 8 de Fevereiro de 2002, que só não foi o 2 do 2 de 2002 porque o Domingo seria o mais apropriado ao glorioso evento, com o PM Guterres a dar a bênção.
Números da destruição:
50.000 sobreiros
60.000 azinheiras
Milhares de oliveiras
3.900 hectares de vegetação ripícola
7.200 hectares de montado
25 mil hectares desmatados
Plantas protegidas afectadas
Centenas de animais perderam o habitat
350 milhões de euros para «minimizar» as perdas ambientais (!?)
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