quarta-feira, 15 de agosto de 2007

AMEAÇAS GLOBAIS

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15 de Agosto de 2007

LÁ SE VAI O PLANETA TERRA

Todos os dias o Fim do Mundo é notícia. De vez em quando e para variar, já não é culpa dos ecologistas e seus maléficos intentos de retardar o progresso tecnológico: o próprio progresso tecnológico se encarrega de perder o auto-controle e entra em crise, ora na bolsa mundial, ora na proliferação nuclear, ora na fome crónica do Terceiro Mundo, ora na continuada destruição da floresta Amazónica, ora em novos projectos de exploração mineira nos fundos árcticos, ora nos desaguizados políticos propriamente ditos, ora na mais que provável guerra bactereológica, ora nas variadas contaminações tóxicas, ora na conglomeração das populações em megacidades gigantescas, ora, ora.

Para manutenção do sistema que vive de ir matando os ecossistemas, seguem-se os mini-apocalipses de ocasião, espécie de válvulas de segurança que prolongam mais uns dias o moribundo até que definitivamente dê a alma ao criador.

À escala global, a questão está em saber qual dos crashs irá reduzir a cinzas o Planeta Terra como habitat de espécies, entre elas a do principal predador e autor de todas as putifarias, a espécie dita humana.

1. À escala global, as notícias da Bolsa continuam pouco felizes:
«Bolsas internacionais caíram a pique e nervosismo dominou os mercados. BCE e Fed voltaram a injectar milhões no sistema monetário.» (jornal «Público», 11 de Agosto de 2007)
«o mundo receia que a economia norte-americana entre em recessão. Se acontecer, a recente força da Europa e Ásia será posta à prova» (jornal «Público», 12 de Agosto de 2007)
Mas o que me deixou mesmo em pulgas foi ler isto no «DN», 13 de Agosto de 2007: «Se o pior cenário se confirmar – bancos muito expostos à crise do crédito nos EUA – mesmo quem não tem acções será afectado.»


2.À escala global, poderá ser a anulação dos Estados Unidos da cena internacional, com as consequências previstas no artigo de Vasco Pulido Valente, no jornal «Público» (11 de Agosto de 2007), que resumia a situação em poucas palavras: «O Ocidente está em risco de ficar sem a América. […] E , sem a América, não haverá nenhuma aventura impermissível.»
Mesmo levando em conta o habitual pessimismo do Vasco Pulido Valente, não se poderá dizer que a perspectiva seja risonha. Aflitiva questão: um mundo sem Bush será ainda pior que um mundo com ele?

3.À escala global e quando a maior central do Mundo, no Japão, entrou em observação clínica, o crash também pode começar por aí.
O sismo do mês de Julho de 2007, que levou ao encerramento da central, gerou 50 disfunções e fuga de material radioactivo. E ficará encerrada durante meses, assegurou (10 de Agosto de 2007) a equipa de inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

4.À escala global, a perfuração submarina do Pólo Norte (Árctico) , a quatro mil metros de profundidade, já é motivo de anedota nos jornais: a imprensa escandinava, citada pelo diário espanhol «El País», acusa Moscovo de «roubar imagens» do filme Titanic para as fazer passar pela suposta chegada dos submarinos russos Mir-1 e Mir-2 ao fundo marinho do oceano glacial Árctico.
Anedota à parte, o Pólo Norte, cujo fundo marinho a Rússia reclama como território nacional depois de ali colocar a sua bandeira, alberga um quarto das reservas mundiais de petróleo e gás natural, também disputadas pelos Estados Unidos, Canadá, Noruega e Dinamarca. Uma equipa de investigadores dinamarqueses iniciou uma expedição ao Pólo Norte para recolher dados geológicos, numa missão semelhante à que o Kremlin anunciou nos primeiros dias de Agosto de 2007.

5.À escala global, o caso Maddie e respectiva campanha mediática esconde uma estatística que ninguém esclarece. Em 24 de Maio de 2007, uma notícia logo desaparecida das grandes parangonas, dava números eloquentes sobre o fundo da questão que não é o reality show que se tem desenrolado à volta do caso Maddie: segundo o «DN» de 24 de Maio de 2007, mais de 800 crianças e jovens desapareceram no Reino Unido desde o dia 3 de Maio de 2007, quando foi reportado o desaparecimento de Madeleine McCann. Este número foi divulgado pelos responsáveis da linha de apoio National Missing Persons’s Helpline.
Todos os anos, são dadas como desaparecidas 210 mil pessoas nas ilhas britânicas, dois terços das quais com menos de 18 anos – segundo informação do Ministério do Interior do país.
Devemos à jornalista Fernanda Câncio estes números que divulgou no «DN» e que parecem bastante eloquentes, sem precisar de mais comentários.

Dir-se-á que salientar estas e outras disfunções do sistema pode ter um efeito perverso: e que a passividade se instale.
Mas a passividade (de governos e cidadãos) sempre esteve instalada – é uma componente do sistema que vive de ir matando os ecossistemas – e não é por aí que o gato vai às filhoses.
Uma atitude individualista e local perante as ameaças globais é a única possível.
Sempre foi e só nos resta , em posição de lótus ou numa poltrona frente à televisão, fechar os olhos e meditar ou rezar: à escolha de cada um. Esperando que o Milagre chegue.

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