terça-feira, 5 de junho de 2007

A LISTA NEGRA

socrates-1-nw>

É SÓ FAZER CONTAS: CO 2 E EFEITO DE ESTUFA

Parece anedota mas é capaz de ser muito sério, talvez uma das coisas mais assisadas e certeiras que se escreveram nos media sobre o CO2.
E, desta vez, falo a sério.
Transcrevo a seguir a notícia que deve pertencer à jornalista Patrícia Viegas, uma das duas jornalistas que assinam as duas páginas sobre a viagem de Sócrates a Paris (Diário de Notícias, 4 de Junho de 2007): «Sócrates emitiu 1,34 toneladas de dióxido de carbono na viagem.»
Porque, como ela diz, transcrevendo Guterres, é só fazer contas.
Dito o que custou em dióxido de carbono o voo de Sócrates, é só fazer contas e saber quanto custam ao Ambiente os milhares de voos, de centenas de aviões, os dias todos de todos os anos.
Tenho a impressão que, feitas as contas, vamos ter aqui a remake de uma outra história (quase esquecida, ainda estou para perceber porquê) que foi a da destruição da camada de Ozono, atribuída então aos cloro-fluorcabonetos e nunca, jamais aos grandes e verdadeiros destruidores da camada de ozono que são os jactos e super-jactos.
Com a ajuda empenhada da então Margaret Tatcher, lá conseguiram encontrar um inimigo à altura do acontecimento estratosférico: os cloro-fluorcabonetos emitidos por frigoríficos (?) eram o bode expiatório ideal, pois obrigavam a respectiva indústria a reciclar a produção, substituindo os ditos por outros ditos frigoríficos que «não destruíam a camada de ozono.»
Conseguido o objectivo em vista, com a grande ajuda da Madame Tatcher, raramente ou nunca se fala de cloro-fluorcabonetos e do ozono estratosférico.
A laracha do dia, agora, passou a ser o CO2.
Antes de transcrever a notícia, eis o comentário que me permito acrescentar: o que mais custa a suportar, neste tempo-e-mundo, não é que o mundo esteja cada vez mais imundo pelos que, em nome do sacrossanto progresso, deliberadamente o puseram assim: o mais difícil de gramar é que nos matem, nos mintam e ainda por cima nos gozem contando histórias da carochinha.
O artigo que digitalizei e que vou transcrever, não é mais uma história da carochinha: consegue ser uma lança em África e levantar, talvez pela primeira vez nos media, a questão do CO2 na sua verdadeira face: aquela que mais do que proibida é tabu. Num eco de muito bom humor, a jornalista consegue quebrar esse tabu e será talvez o primeiro contributo decente, não mistificado nem sofisticado, à conversa fiada e dita polémica do CO 2 e seus arredores.
Finalmente identifica-se o inimigo principal.
Um dos milhares candidatos ao título, pelo menos.
Segundo se pode ler num dos manuais para a instrução primária, os gases de estufa já identificados são: anidrido carbónico, ácido carbónico, metano óxido nitroso, dióxido sulfúrico e fluorcarbonetos.
Num livro da 2ª classe, que está mais à altura da minha formação e inteligência, li esta frase que se transmite às crianças, cidadãs de um futuro que não vai haver:
«Os cloro-fluorcarbonetos, para além de outros produtos químicos produzidos pelo homem, são os grandes responsáveis pela destruição da camada de ozono.»
A chatice das poluições é que, se falamos de uma, ficam à espera de ser referidas centenas ou milhares de outras: saber as mais e menos responsáveis por determinado fenómeno – o «efeito de estufa» e/ou a «destruição da camada de ozono» - faz parte de uma lista negra que ninguém estuda porque excede a capacidade humana de analisar a asneira e a porcaria produzidas.

Eis então a notícia, a deliciosa notícia que venho a referir:
««-AS EMISSÕES DE CO2 PELO PRIMEIRO-MINISTRO SÓCRATES
««- EMITIU 1,34 TONELADAS DE DIÓXIDO DE CARBONO NA VIAGEM

««A viagem de José Sócrates de Lisboa à Áustria e a Paris emitiu 1,34 toneladas de dióxido de carbono
Como diria Guterres, é fazer as contas. Uma viagem de avião produz toneladas de dióxido de carbono. José Sócrates partiu de Lisboa num Falcon, rumo a Viena. Foram 2.298 quilómetros, correspondentes à emissão de meia tonelada de dióxido de carbono.
De Viena a Paris - uma distância de 1033 quilómetros - Sócrates e a sua pequena comitiva, para se reunirem com Nicolas Sarkozy, prejudicaram o ambiente com a emissão de mais 350 quilos de dióxido de carbono. Finalmente, para chegar a Portugal, o primeiro-ministro terá que percorrer no seu Falcon mais 1.452 quilómetros, durante os quais vão ser emitidos 490 quilos de dióxido de carbono.
No total, o périplo de José Sócrates neste fim-de-semana custou ao ambiente 1,34 toneladas de dióxido de carbono, correspondentes aos 4.783 quilómetros de avião que percorreu em dois dias. Na deslocação à Austria, José Sócrates reuniu-se com todas as autoridades do país e discursou sobre a presidência portuguesa da União Europeia e sobre o futuro institucional. Em Paris, reuniu-se com Sarkozy. Se tivesse usado um avião de carreira regular, as emissões seriam as mesmas, mas o custo ambiental per capita, por passageiro, seriam menores.»

Sem comentários: