sábado, 7 de agosto de 2010

A DOENÇA ESTÁ NO AMBIENTE?



1-12 - segunda-feira, 14 de Outubro de 2002

dcm77

Lisboa, 22/Outubro/1977


A DOENÇA ESTÁ NO AMBIENTE?

  • A EVIDÊNCIA DO ÓBVIO
  • CURAR É APRENDER A TRANSMUTAR
  • MEDICINA SINTOMÁTICA E LÓGICA CAUSAL

Palavras-chave deste texto:

Agentes poluidores
Aleatório
Bioenergia
Budismo tântrico
Continuum energético
Despistagem de factores ambientais adversos
Doenças do consumo
Doenças iatrogénicas
Ecologia da doença
Ecomilitante
Ecoradicalismo
Ecoradicalismo
Génese ambiental do cancro
Globalização holística
Homem unidimensional
Imunização ecológico-causal
Iniciação tântrica
Lacto-ovo-vegetariano
Leitura ecológica da doença
Macrobiótica
Medicina do Trabalho
Poder médico
Poluições químicas
Saúde Pública
Sintomatologia
Táctica iniciática
Teoria microbiana
Toxicologia
Transmutar
Vacina universal
Vacinas

Autores citados:
Félix Bermudes
Herbert Marcuse
Ivan Illich
José Conde
Michel Bosquet
Pasteur
Rudolfo Steiner



Lisboa, 22/Outubro/1977 - Aquilo a que chamam «doença» é apenas sintoma, quer dizer, efeito sensível de determinadas causas, que podem ou não conhecer-se mas que necessariamente hão-de existir, já que, no universo, nunca pode haver efeito sem causa. E é a ciência moderna que o diz.
Não há, de facto, efeito sem causa: eis uma constante «natural», física, da qual se não conhecem excepções. Eis uma evidência quase sempre esquecida. Alguém disse, por isso, com toda a razão, que a ecologia era apenas a luta pelo óbvio.
Mas ao atacar o sintoma sem quase nunca indagar da causa ambiental que o provoca, a terapia sintomática ou repressiva - a que normalmente se chama medicina - actua como se desconhecesse essa evidência, como se a lei natural e física de causa-efeito não existisse.
A medicina actua como se a Ordem da Natureza ou do Universo pudesse considerar-se violada pela intervenção permanente de um deus ex-máquina.
A medicina actua, portanto, em termos teológicos - próprios de quem acredita em milagres - e não em termos ecológicos que, neste e em todos os casos, quer dizer científicos.

- Sem querer fazer o processo da medicina sintomática, repressiva e anticientífica - que tem o seu público e para ele deve trabalhar - devemos, no entanto, teimar na tendência contrária que é a leitura ecológica da realidade e, portanto, do binómio saúde/doença.
Ler ecologicamente a realidade em geral e esta realidade da saúde/doença em particular é apenas indagar da (s) causa (s) que produz (em) determinado efeito ou sintoma.
Nada mais óbvio, mas nada mais raro. Daí que a Ecologia tenha sido definida por alguns como um esforço de restituir a evidência à evidência, o óbvio ao óbvio, o real ao real, o sensato ao sensato.
Numa óptica ou lógica ecológica não existem doenças «estranhas» ou misteriosas, nem é necessário lançar para o hereditário, ou para o vírus, as culpas de muitas novas doenças ou de algumas velhas doenças que recrudescem.
Não existem doenças sem causa ambiental (endógena ou exógena): podem, sim, é existir doenças de causas (ainda) desconhecidas, doenças cujo inventário de causas (diagnóstico) ainda não foi deslindado nem realizado, pela simples razão de que toda a pesquisa vai no sentido sintomatológico e não no sentido causal/ambiental.
De uma certa maneira, a pesquisa ambiental da doença soa a heresia e a tabu: a globalização holística por um lado (entendendo a pessoa humana na sua totalidade e não como um articulado de partes compósitas) e a despistagem ecológica dos factores poluentes e adversos do ambiente, por outro, sendo evidências óbvias, ameaçam também interesses instalados.

- Fundamentalmente, os erros de diagnóstico e os diagnósticos por omissão ( omissão dos factores ambientais adversos ) quase nunca são de ordem técnica, quer dizer, por incapacidade cognitiva do aparelho, laboratório, cientista que investiga ou do médico que diagnostica.
As causas de certas doenças permanecem «desconhecidas», permanecem por detectar e por identificar, fundamentalmente por motivos que podemos designar de «ideológicos».
Aos poderosos interesses económicos que a sintomatologia alimenta, não interessa descobrir as causas ambientais, já que descobri-las equivalia e des-cobrir:
que a saúde individual é hoje, em grande parte, um problema de saúde pública;
que a higiene, como os naturistas preconizam há um século, é a principal acção política a desenvolver por um serviço nacional de saúde;
que os gastos públicos com a doença diminuiriam drasticamente com uma verdadeira política de (conservação da) saúde em vez de uma política de (combate à) doença;
que a profilaxia natural das terapias leves é um investimento no futuro e uma forma de reduzir drasticamente os custos com a doença;
enfim, que os direitos do cidadão e do contribuinte seriam muito melhor assegurados com uma política de higiene, prevenção e profilaxia natural do que a escalada das despesas que - diz-se - pode conduzir ao colapso dos sistemas de segurança social.
E pode: o preço das intervenções cirúrgicas ou de muitos medicamentos conduzirá irremediavelmente à queda do sistema, por mais reformas que se introduzam e por mais ameaças que se façam ao contribuinte de que, um dia, deixará de receber daquilo para que toda a vida descontou.

- Uma coisa podemos garantir: com uma política de conservação da saúde, em vez de uma política de combate à doença, não só a segurança social nunca entrará em colapso, como as chamadas «despesas com a saúde» serão drasticamente reduzidas.
A sintomatologia é o abismo da bancarrota.
A profilaxia natural é a economia e repartição mais justa, mais equitativa, dos recursos disponíveis.

- Uma vez que muitas doenças são hoje produzidas pela medicina química (doenças iatrogénicas), compreendemos porque não interessa deslindar causas até muito longe nem fazer a despistagem ambiental e o diagnóstico ecológico.
Uma vez que muitas doenças são de origem social e política e outras tantas produto da exploração económica, do habitat degradado, do bairro da lata, da fome, da opressão burocrática, da miséria, da promiscuidade, das condições infra-humanas e anti-higiénicas, é também evidente, face aos poderes estabelecidos, encarregados de manter o status quo, que não convém averiguar dessas causas e denunciá-las.
Interessa mais ao poder político receitar lixívia para a cólera do que acabar com os bairros da lata e as condições infra-sanitárias que conduzem directamente à cólera.

- Uma vez que sintomas ou doenças como : esquizofrenia, autismo, insónia, angústia, ansiedade, neuroses e psicoses, são produto directo da insegurança quotidiana dos cidadãos, do imposto, do desemprego, do ruído, da instabilidade, do estado de crise ou de sítio permanente imposto pelo sistema, lá estará a Psiquiatria para resolver todos os problemas.

- Uma vez que muitas doenças são doenças da poluição industrial, lá estará também o poder médico (através da Toxicologia e da Medicina do Trabalho) para escamotear causas de modo a que os efeitos se prorroguem sem ser eliminados .
Doenças claramente contraídas no ambiente e posto de trabalho - como é a silicose - continuam a ter tratamentos paliativos de mero ataque ao sintoma.

- A leitura ecológica da doença aparece assim, subversivamente, para criar algumas dificuldades aos poderes estabelecidos. É compreensível, pois, que o tema Saúde e Ambiente continue a ser tabu  e que a ecologia humana continue, como tem sido, a ciência maldita por excelência.
Se se procurar, no mercado livreiro, um livro de ecologia humana, não há. Talvez haja livros sobre temas parcelares de poluição, efeitos da poluição na fisiologia, efeitos das radiações na célula viva, efeitos da química no metabolismo, etc: mas nunca uma visão de conjunto.

- Calar e eliminar o militante que faça esta leitura ecológica da doença, é fácil. Mas já é um pouco mais difícil, se ele se chama Ivan Illich ou Michel Bosquet. Mais difícil ainda será calar a voz da verdade se algum dia o cidadão comum aprender a fazer uma leitura ecológica da realidade circundante em geral e das suas próprias doenças em particular.

- Quando se fala em profilaxia natural, é costume a medicina responder que também existe... uma medicina preventiva.
Mas além de não se dar muito por ela, o que parece constituir toda a actividade da prevenção médica são, afinal, as vacinas, nomeadamente as obrigatórias.
Afinal a medicina também precavê - e eis a vacina.
É ainda a lógica sintomatológica a funcionar. Se há uma epidemia (de causa necessariamente ambiental), se há fome, insegurança e poluições químicas, se há stress, cancro, suicídio , a lógica sintomatológica e anti-ecológica só pensa em vacina como prevenção: as causas ambientais continuarão intactas ou aumentarão, mas põe-se a tónica na vacina.
A lógica ecológica diz, pelo contrário:
- A melhor vacina é o reforço das defesas naturais pela profilaxia alimentar;
- É a imunidade que importa salvaguardar, em vez de a agredir com todas as poluições, incluindo nestas poluições os medicamentos e vacinas;
- Educar as pessoas fica muito mais económico ao erário público do que acorrer constantemente aos serviços médicos e hospitalares;
- A teoria microbiana - em que a teoria do vírus tenta apoiar-se e em que a produção das vacinas se baseia - já nasceu morta. O próprio Pasteur teria repudiado a teoria, envergonhado de a ter «inventado»

- No caso concreto das vacinas, o mais tranquilizador é que funcionem como placebos, quer dizer, como água destilada pura. Já que, se forem de facto activas, vão fazer com que o vacinado, em 90% dos casos, contraia a própria doença ou, o que é mais frequente, venha a contrair mais tarde doenças de causa «desconhecida».
Não estão ainda estudados (nem virão nunca a estar) os efeitos iatrogénicos que a vacina pode desencadear na futura evolução dos vacinados: doenças como a alergia são consideradas já como doenças iatrogénicas ou provenientes das vacinações.
Técnicas como o autosangue acabaram por ser postas de parte. Vacinas como as que primeiro foram fabricadas contra o sarampo, estão igualmente postas de parte e os observadores desta odisseia perguntam-se até quando e até onde continuarão as experiências in vitru.

II
Se aquilo a que habitualmente se chamam doenças são apenas sintomas, pergunta-se: O que é a doença e sintomas são sintomas de quê?
Doença é um estado geral e global. Um corpo adoece por inteiro. Ora se nada, e muito menos o corpo humano, é indesligável do seu contexto ambiental, acontece que a doença tem uma conotação quase infinita. Radica primeiro no meio ambiente que mais directamente nos afecta, até chegar ao contexto, ambiente ou condicionalismo universal que afecta multidões, gerações e cadeia de gerações.
Quer dizer: nós começamos a adoecer há milhares de anos. «Nascer para a vida é nascer para a morte» - diziam os cátaros que, por isso, foram perseguidos como hereges...
O que hoje sou, o que hoje sinto, o estado de saúde ou doença em que me encontro agora está relacionado com esses factores que, às dezenas, às centenas, me condicionam e condicionaram: no meu passado individual, no meu passado familiar, no meu passado nacional e rácico, no meu passado cultural e histórico.
A doença, portanto, não é o sintoma. O sintoma é que revela a doença.
A doença é, por antonomásia, tudo o que por carência, desequilíbrio ou intoxicação, bloqueia e corta o (meu) contacto com o Todo, o contexto geral, o ambiente do qual faço parte, o Universo. Nós adoecemos sempre de infinito e talvez por isso o Cancro é, para alguns autores como Rudolfo Steiner, a única doença porque é uma doença cósmica.

Mas, não tenhamos ilusões, o poder médico evitará até onde puder, nem que seja por alegações de ateísmo anti-metafísico, esta noção global, ecológica e causal da doença, que é afinal a mais lógica, a mais científica e, até, a mais física, já que se trata de englobar a realidade mais física que há: a realidade das energias.

Para uma leitura ecológica da realidade em geral e do fenómeno doença em particular, o fundamento da saúde reside na circulação de energia cósmico-telúrica através deste corpo que é apenas uma célula do grande corpo universal.
O esforço que o poder médico despende, com argumentações alegadamente científicas, para rotular esta realidade global das energias - um continuum energético entre Céu e Terra - é bem a prova de como o assusta.
A resposta dos ambientalistas moderados a esta mesma realidade daquilo a que o taoísmo chama o Princípio Único da ordem universal, também prova qualquer coisa.
O teste decisivo ao conformismo institucionalizado é sempre aqui - na Bioenergia. No dia em que o ser humano assumisse e controlasse o seu potencial bioenergético, todas as ditaduras - incluindo as institucionais - caducariam.
A leitura ecológica da doença trabalha para que esse potencial de energia humana seja devolvido ao seu legítimo proprietário, o ser humano. É (será) o fim de todas as alienações.

- Ecoambientalistas da tendência reformista, revisionista e proteccionista já cederam, aparentemente, no campo dos recursos energéticas (advogando a diversificação das fontes contra o centralismo nuclear), no campo da agricultura (advogando uma produção por meios biológicos contra a poluição química dos solos), no campo da educação, em aceitar soluções ou alternativas ecológicas.
Quando se chega, porém, às soluções alternativas ou saídas ecológicas para a doença, saídas que põem em causa o  monopólio da medicina química, eis os ecoreformistas à prova e sem ceder um milímetro. Recuam, insultam o que defende a descolonização total do doente, criticam o ecoradicalismo na medicina, acusam de charlatanismo e curandeirismo a arte de curar e o militante radical que preconiza a autocura ou autogestão do corpo.
O que preconiza soluções ou alternativas ecológicas também no campo do poder médico-cirúrgico, leva roda de reaccionário e de infeliz.
Nem São Ivan Illich os convence, com o seu livro-chave que em tradução portuguesa se chamou «Limites para a Medicina» (Ed. Sá da Costa, 1977) e onde, afinal, o autor do convivialismo e um dos profetas da ecologia radical, se limita a provar a evidência mais evidente da história das evidências: a medicina produz mais doenças do que as que trata.

Embora com uma palavra difícil - «iatrogénico» - se evite dizer que a medicina químico-farmacêutica entra também, ela própria, como causa de cancro, lá vamos reconhecendo (talvez a contragosto) mais uma boa lista de causadores:
«Os agentes poluidores (atmosféricos) são de quatro tipos: partículas de carbono, óleos, alcatrão, poeiras metálicas, enxofre amorfo e restos orgânicos; substâncias irritantes como poeiras, produtos voláteis de carbono, vapores e gases; substâncias oxidantes na forma de gases: os tóxicos sistémicos, como cianetos, pesticidas, nicotina.»
E a lista exaustiva (a que alguns chamam «lista negra») continua.
É caso para perguntar se alguma coisa nesta «civilização» (de que tantos apregoam as excelências dos valores imortais) não provoca o cancro.
É caso para perguntar se esta «civilização» não é, ela própria, o cancro, a doença.
Para o abalizado Prof. José Conde são bem conhecidas as «propriedades» (sic) cancerígenas dos produtos contendo alcatrão, pez, creosota, óleo de antraceno, fuligem, betume, compostos aromáticos, intervenientes no tratamento dos minerais de cromo e níquel, radiações, ultravioletas, arsénios, amianto.»
«Enfim» - desabafa o jornalista que entrevistou o Prof. José Conde - « seria longa e fastidiosa a lista dos produtos potencialmente cancerígenos.»
A lista seria afinal o inventário de consumos desta sociedade que de consumo baptizaram.
Pelo que uma pergunta se legitima: Cancro não será a doença dos consumos cancerígenos? Cancro e sociedade de consumo não serão (quase) sinónimos?
Só agora, entretanto, um responsável pela Oncologia (não confundir com ecologia...) revela a parte oculta do icebergue: mas o facto de só agora se levantar uma ponta do véu põe ao observador problemas bem mais complicados.
Porquê só agora? Porquê tanto pormenor? Porquê tanta coragem na denúncia ambiental do cancro e nem uma só palavra sobre as terapias sintomático-agressivas que se continuam praticando e preconizando?
É que uma visão ecológica do doença não é só para fazer jeito. Implica, como é óbvio, uma radical alteração nas atitudes terapêuticas e profilácticas preconizadas.
Depois de um diagnóstico em que tudo aponta para uma terapêutica geral-radical, o Prof. José Conde continua a convidar as pessoas a ir ao Instituto do Cancro, enquanto preconiza «rastreio e informação sanitária»?
Se já sabemos - e o Prof. confirma - que o adubo é cancerígeno, será que tudo se resolve com um rastreio sanitário?
Sendo tantas as causas ambientais do cancro, adiantará alguma coisa, depois do mal feito, a terapia do cobalto ou das radiações?

Se a Toxicologia, por exemplo, já se estuda no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, no contexto da chamada Saúde Pública, porque não há-de estudar-se também no contexto da chamada saúde individual (que a medicina diz tratar), já que esta, nos tempos que correm, é cada vez mais função daquela?

- Chama-se cancro a uma coisa que é sintoma ou efeito de múltiplas causas, sintoma que por sua vez se chama doença.
Cancro é, pois, sintoma ou efeito de uma causa que é desconhecida até que seja reconhecida. Mas se a terapia for sintomática, sem ir à causa que produz os sintomas, bem podem chover doentes e tratamentos.

- Caso a doença seja, como alguns místicos defendem, um bloqueio da corrente cósmico-telúrica e se viver no meio de venenos e poluições parece ser hoje um fatalismo a que o progresso nos condenou, o fundamental então seria manter a corrente, logo a resistência, logo alguma capacidade de «imunização» ao cancro cuja causa não é só o amianto, o pesticida, o antibiótico, o anticoncepcional mas, acima de tudo, o sistema cancerígeno que continua produzindo tudo isso, que fez dos consumidores animais de aviário, máquinas de consumo, autómatos que seguem toda e qualquer química que de novo surja no mercado.

- Apesar de ser já bastante complicado, com todo este inventário de causas, o problema estaria mais ou menos arrumado se a lista de doenças se resumisse ao cancro.
Acontece, porém, que a lista das doenças é quase tão «infinita» como a lista de causas, consumos e produtos cancerígenos.
Haverá um denominador comum que ponha um pouco de ordem nesta caótica proliferação de poluentes?
E será a leitura ecológica da doença esse denominador comum?
Seja ou não, a lógica causal/ambiental insistirá sempre no mesmo truísmo: não há efeito sem causa, não há sintoma sem génese ambiental, não há doença sem agente ou factor que fabrique essa doença e sem que o terreno orgânico (meio ambiente endógeno) seja favorável a que ela se instale.
Enquanto a causa permanecer, os sintomas não desaparecem por magia, prestidigitação ou milagre : e hoje a medicina sintomática actua como se acreditasse em milagres ou em passes de magia.
Porque é mesmo prestidigitação curar doenças abafando os sintomas e ignorando as causas.

- Para alguém que adoece, significa que o organismo sofreu, momentaneamente, uma derrota na luta travada entre a imunidade ou defesas naturais e um meio ambiente permanentemente hostil.
Bioenergia enfraquecida significa que não há capacidade dialéctica de resposta ao ambiente hostil. Doença significa que a corrente energética que passa pelo corpo é agora mais fraca, muito mais fraca.
Doença é função da intensidade - e qualidade! - dessa corrente, a que os taoístas chamam Ki e embora os modernos, com toda a sua arrogância, chamem metafísica a isto que é apenas a Física das Energias e a física mais física que há.

- O cerco aperta-se, à medida que o inventário de poluentes e agentes adversos do ambiente avança.
O ambiente não gera apenas cancro, diabetes, arterioesclerose, alergia, artritismo, não gera apenas gripe, insónia, hipertensão, não gera apenas carências e défice bioenergético.
O ambiente gera também recalcamento, neurose, angústia, depressão nervosa, impaciência, ódio, revolta, sentimentos de vingança, solidão.
E o inventário prossegue.
Ao ambiente social, político, económico, soma-se o ambiente físico, o ambiente químico-industrial, o ambiente alimentar, o ambiente familiar;
soma-se a repressão, a burocracia, a chantagem, a ameaça, a hipocrisia, a mentira, a falsidade;
soma-se a violência institucionalizada em geral e a violência mediática em particular;

- A questão do método terapêutico põe-se logo que o observador tenta estudar esse oceano de violência, , esse ambiente cancerígeno.
Mas se usa o método analítico e sintomático, a tendência é para partir e repartir esse continuum.
Se usa o método global, pode cair numa lapalissada: «O ambiente é tudo e tudo está no ambiente», «Tudo é causa de tudo», «O efeito é efeito da causa e a causa é causa do efeito», etc...
São lapalissadas mas a verdade é que os responsáveis pela chamada saúde sistematicamente as ignoram.
Entre um e outro método, fica  talvez o dialéctico,que constantemente relaciona a parte com o Todo, o Todo com a parte, não esquecendo o mais frequente sofisma na investigação ecológica da doença: como o inventário de factores e agentes nunca acaba, a aleatório surge e pode dominar os raciocínios.
Há sempre hipótese de enfatizar como culpado um factor que até pode estar inocente, minimizando o verdadeiro culpado. Enfatizando o tabaco na génese do cancro, por exemplo, veja-se quantas centenas de responsáveis se pretende esquecer, quantos medicamentos cancerígenos, por exemplo, podem ficar por denunciar?

«Se a terapêutica sintomática e específica faliu, viva a imunização ecológica-causal.»
É, no mínimo, estranho que, após um diagnóstico de natureza global e englobante como é uma despistagem de factores ambientais adversos, se possa preconizar uma terapia específica, quer dizer, sintomática.
O lógico, parece, seria preconizar uma terapia causal, ambiental, global, ecológica, holística, uma vez que o diagnóstico é agora global, ambiental, geral, ecológico e holístico.
Sem falar de greve à sociedade de consumo, o que seria uma utopia impraticável, a lógica ecológica irá falar de imunização.
Reforçar a imunidade e, portanto, as capacidades naturais de resistência às doenças, é o que todas as correntes neo-hipocráticas da medicina têm em comum.
Não é o momento de discutir se o regime alimentar a que se chamou macrobiótica e que reune os requisitos mínimos indispensáveis para se candidatar a essa «vacina» universal contra todos factores adversos do ambiente. Importa, sim, é verificar que, na encruzilhada onde estamos, a macrobiótica aparece, no contexto das novas correntes de «metabolic medecine», como aquele sistema que mais trunfos mostrou possuir e o que tem a seu favor milénios de experiência.
Saída de emergência para o cerco da poluição, a macrobiótica apresenta-se como recurso eficaz e funciona.

«Curar é aprender a transmutar».
Não iludamos mais este facto, nem tentemos tapar o sol com uma peneira: a questão terapêutica levanta a questão fundamental do homem «mergulhado num oceano de realidade», condenado ao infinito e à eternidade.
A questão terapêutica levanta a questão iniciática por excelência: como ultrapassar o ciclo vicioso e infernal da violência que engendra a violência, do ambiente que gera a doença, do cancro que gera o cancro, da luta contra o dualismo que gera o dualismo.
Como saltar para fora deste comboio em marcha desenfreada para o abismo a que se tem chamado, em termos benignos, crise ecológica?
Como quebrar uma laçada nesta malha de ferro?
Como abrir uma frincha neste quadro ?
Como quebrar a unidimensionalidade a que o homem está condenado, prego num oceano de ódio, oceano de que a sociedade tecno-burocratizada é apenas um mar?

Tudo isto a doença - tal como a entendemos - obriga a perguntar.
Certas correntes terapêuticas «pecam» por mesquinhês: não correspondem ao desafio que o sintoma chamado doença constitui, nem compreendem nele a mola real ou alavanca que ele é para o salto qualitativo, para tentar a saída da caverna, para abrir um caminho de luz no Escuro, um fio de menor alienação.
Para, enfim, encetar um caminho de cura iniciática.
Estamos condenados a ser deuses, lembrou-o Félix Bermudes num livro curioso: «A Conquista do Eterno» (Ed. Civilização Brasileira, Rio, 1974).
Seja, portanto, qual for o método terapêutico, ele só será diferente do seguidismo sintomático se postular todas estas implicações de ordem iniciática. E porque o naturo-vegetarianismo não as postula, é que talvez a macrobiótica, oriunda de um sistema como o taoísmo, tenha mais hipóteses de constituir a «vacina» de que hoje tanto necessitamos.
Métodos terapêuticos há muitos, dizem os lacto-ovo-vegetarianos. Pois há. Mas se se postula a teia do Todo e o sintoma como um sinal apenas, pelo qual o doente mostra que se encontra mergulhado num oceano infinito de violência, consumos violentos, ódio, cancro, pobreza, inflação, horror e terror, eis que a terapêutica tem fatalmente que nos remeter para essa teia total e totalizante.

Certas terapias podem pecar por mesquinhês, são pouco exigentes. A dietoterapia ou trofoterapia, reduzindo ao ambiente alimentar toda a gama de ambientes patogénicos, é um caso de insuficiência ...visual. Se é certo que o alimento influi de maneira decisiva na génese dos sintomas mais variados, não é o único factor. Será o mais importante veículo de bionergia, mas não o único. Muitas vezes, o alimento não é tão importante em si mesmo como pelo que deixa ou impede o organismo de receber: ainda estamos a falar da energia cósmico-telúrica.

- O método macrobiótico difere do método lacto-ovo-vegetariano, porque não só desintoxica como reequilibra e combate carências.
Principalmente difere porque abre uma porta à descoberta e experiência iniciática, caso o praticante a queira abrir, evidentemente. Em termos já aqui usados, imuniza ao dualismo, a todos os dualismos e à violência cancerosa dos dualismos.
Aquilo a que chamamos imunização, consiste em ficar perante o oposto (o inimigo, a doença, o sintoma, o cancro) não em atitude tensa de contra-agressividade mas relaxado e descontraído.
Imunização é a técnica da arte marcial que é a arte da contra-ofensiva sem violência, a arte de aparar o golpe, de vencer sem lutar, de escapar ao dualismo. De transmutar o Oposto.
Se a doença, a violência, a química, o ambiente atacam, a táctica digamos iniciática, digamos dialéctica, é: aparar o golpe, encaixá-lo, remetê-lo à origem. Ou ainda: aproveitar a energia contida na violência, na agressão, no ambiente, na doença, transmutá-la e diferi-la.
Que transmutar formas violentas e degradadas de energia é difícil, quem o negará. Forma de sabedoria tão diferente da ocidental, há muita dificuldade em saber como enfrentar os contrários sem engendrar novo dualismo, novo conflito, nova violência, novos contrários.

Mudar o método terapêutico é assim um convite a mudar radicalmente o nosso paradigma de vida e de entendimento do mundo.
Mudar de regime alimentar é o primeiro passo da mudança e abre a primeira oportunidade para as transmutações de energia, se acreditarmos, como o budismo tântrico, que na arte de transmutar energia reside a essência e forma suprema de conhecimento.
Para a iniciação tântrica, de facto, a cura é apenas a capacidade de mudar a (energia contida na) doença em outra forma de energia. ■

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