sexta-feira, 30 de julho de 2010
AMBIENTE EM SENTIDO LATO
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CHAVE PARA INTUIÇÕES AC 1964 - A ECOLOGIA HUMANA EM 1964 ? (*) - INTUIÇÕES DE ECOLOGIA HUMANA - INVENTÁRIO AC - LINHAS DE INVESTIGAÇÃO AC
«Diz-me o que comes -- em sentido lato -- e dir-te-ei quem és...»
Em 1964, já AC procurava o «sentido lato» (conceito alargado) e portanto a metáfora do «ar que se respira», sendo claro ao seu espírito que o «ar que se respira» é também o ideológico, o mitológico, o industrial, o químico, o físico.
Poucos anos depois, viria o sentido lato da expressão «o que comemos» e, portanto, o sentido lato da palavra «alimentos».
Mais tarde, encontraria, emocionado, em Simone Weil, a confirmação desta intuição do conceito alargado (ou plural) de alimento/alimentos.
E o inventário surgia, espontâneo, como o processo literário de dar a soma/ ou o somatório dos diversos factores ou «parcelas da soma».
*
Nem só os físicos atómicos e a sua herança contribuíram para definir a espécie de ar que hoje se respira e, por maioria de razão, se há-de respirar amanhã
Nem só as poeiras radioactivas
nem só a poluição do ar atmosférico pelas explosões termo-nucleares em testes na atmosfera
Nem só a água do mar onde caem bombas perdidas (as que se sabe e as que não se sabe) de onde são ou não são retiradas
Nem só o clima de histeria internacional criado pela corrida aos armamentos
Outros factores e ingredientes o constituem: a propaganda em torno das mitologias ou ideologias políticas, a demagogia pró-paz, os jornais, as agências, a rádio e a televisão
Outros factores e ingredientes o constituem: a atmosfera de industrialização maciça; a superpopulação e o isolamento dos indivíduos em unidades fechadas;
o ruído difuso que corrói, o ruído directo que lacera; o incremento de objectos domésticos e electro-domésticos, a alienação intelectual e afectiva a esses objectos; o espaço fechado dos arranha-céus;
a desproporção entre o indivíduo e os espaços monstruosos edificados nunca a pensar nele; a respiração física e moral dentro de ambientes viciados; o tédio intrínseco às super-organizações e respectivas hierarquias; a velocidade;
a agressividade do trânsito automóvel sobrepondo-se ao peão, ferindo, golpeando, empurrando; a devassa da vida privada, a que procedem as polícias;
as devassas à intimidade do domicílio (livros, roupas, papéis, gavetas, etc.) com pretexto em trabalhos de investigação; a censura oficial de actos, palavras, escritos, a chantagem e a delacção, os interrogatórios e a lavagem ao cérebro, os tribunais e as câmaras de tortura;
a espionagem e a contra-espionagem, não só ao nível das relações internacionais -- deteriorando na origem qualquer hipótese de convívio ou diálogo entre países -- mas ao nível das relações individuais, no trato quotidiano e profissional;
a pena de morte efectiva ou a pena de morte disfarçada de funcionalismo médio ao serviço do capital financeiro e do Estado;
Mas nem só, nem só estes «pequenos nadas» constituem a paisagem que rodeia, modela e determina o indivíduo;
os valores, os chamados valores que filósofos fabricam nas universidades, discursam nas academias, inserem nas revistas da especialidade; as chamadas controvérsias ou colóquios de Genebra; as chamadas doutrinas ou teorias, ou humanismos, são ainda e também o habitat do homem civilizado.
Arterioesclerose, depressão nervosa, cancro, alcoolismo, intoxicação pelas drogas medicamentosas ou alucinogénicas, suicídio, acidentes de viação, acidentes de aviação, criminalidade -- parecem ser os surtos endémicos protagonistas nesta fase da História.
Agredido, bombardeado, atacado pelo «ar que se respira», posto à prova nas suas defesas, na sua resistência e no seu poder de superação, as doenças epidémicas são apenas a única forma que resta aos indivíduos de reagir a sobreviver: doente, mas sobrevivente.
9184 caracteres de inéditos escritos em 1963/1964 e que foram redigidos sob clara influência de algumas leituras.
Nestes textos paira a influência de leituras como:
- Simone Weil, «As Necessidades da Alma», in «l'Enracinement»
- Mesmer, «O Magnetismo Animal»
- Karen Horney, «A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo»
- Louis Pauwels, «Monsieur Gurdjieff»
- Aldous Huxley, «As Portas da Percepção»
- Erich Fromm, «A Sobrevivência da Humanidade»
- Voltaire, «Cândido ou o Optimismo»
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