13-2-1991
ENTROPIA E GIGANTISMO
Quanto mais o cancro cresce, mais pele, osso e camisa nos tiram. Como Roberto Vacca sugeriu e quase demonstrou no seu ensaio célebre «A Próxima Idade Média», o gigantismo produz três principais consequências:
a) a partir de certa dimensão, os sistemas, como os dinossauros, deixam de servir os objectivos para que socialmente foram criados, vampirizando os seus já teóricos destinatários ou utentes;
b) se o sistema, ao crescer, entra em irreversível Entropia, tenderá autofagicamente, a comer-se a si próprio, pois, exponencialmente, quanto mais se autodestroi e autodevora mais energia precisa para se manter;
c) resulta daqui que cada homem na terra está a pagar, e pagará cada vez mais caro, esta entropia logarítmica em que o sistema, girando sobre si próprio, entrou. Por mais corpos, vidas, pessoas, consumidores que o sistema meta na «caldeira», nunca se dará por satisfeito, os défices e as dívidas externas aumentarão logica e logaritmicamente, as tensões sociais e as guerras localizadas proliferarão, pois tudo isso é logicamente carne de canhão para o sistema continuar, a Leste e a Oeste, destruindo ecossistemas, em marcha vertiginosa para a sua autofágica autodestruição.
Na sua crítica à Entropia, Ivan Illich chega às mesmas conclusões: o actual sistema de transportes urbanos, feito para alegadamente aumentar a velocidade de deslocação dos utentes, já se encontra na vertente contrária: os transportes na cidade servem hoje não para acelerar a deslocação mas para congestionar e paralisar a vida quotidiana das pessoas. Sofrendo de indigestão crónica, o sistema vomita-se a si próprio. No entanto, continua a enfardar, para o que precisa de nos tirar alma, olhos, pele, osso, camisa e etc..
A lógica do absurdo girando à velocidade da luz.
[Recentemente, a Ordem dos Médicos travou-se de polémica com a comissão instaladora da Faculdade de Medicinas Alternativas. Adorou a oportunidade de ir à televisão, de andar em polémica, de se mostrar em forma, de exibir seu poder, sua arrogância.]
Já a «tecnologia apropriada», [das medicinas alternativas] o contrário de toda e qualquer retórica, de toda e qualquer abstracção, de toda e qualquer ideologia, enquanto tecnologia útil que inutiliza o sistema, não agrada nada. Não dá luta. Esgueira-se no mato. Na clandestinidade. É como bambu - dobra mas não parte. Continuará progredindo, clandestinamente, até minar o sistema.
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