sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ECOMILITANTE 1975

1-9 -nc
merge de 8 files da série nc= notícias da clandestinidade


 os silêncios que falam
 manifesto dos silenciamentos
 chave para inéditos ac de 1983 regressos

A DOENÇA NO LOCAL DE TRABALHO

Nove milhões de portugueses, na maior parte trabalhadores, devem ignorar que existe, em Portugal, uma Caixa de Seguros de Doenças Profissionais. A doença no local de trabalho, de facto, foi, é e continua a ser assunto verdadeiramente proibido e tabu.
Tema tratado, pela primeira e última vez, em reportagem de «A Capital», publicada em [----] , seria o momento de regressar a ele, se o ambiente não fosse cada vez mais contrário e hostil a factos e à verdade dos factos. Quando a demagogia sobre a chamada «saúde» sobe em Portugal, valeria a pena - se valesse - correr o risco de perseguição e linchagem, só para mostrar que os verdadeiros problemas da saúde em Portugal, com todas as instituições aos gritos, continuam silenciados e rodeados de silenciamentos. A notícia sobre seguros de doenças profissionais, é, portanto, mais uma notícia da clandestinidade.
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nc-2

 notícias da ecologia humana

PARA UM DICIONÁRIO (INVENTÁRIO) DE ERROS CONTRA A HUMANIDADE(*)

3/10/1992 -

Açúcar industrial
Aditivos químicos na conservação alimentar
Alienação do trabalho
Alta tensão (Cabos de) - poluição eléctrica sobre habitações
Antibióticos (iatrogénese)
Centrais nucleares*****
Chernobyl
Chumbo na gasolina
Clorofluorcarbonetos****** (destruidores da camada de Ozono)
Corticosteroides
Decibéis em discotecas
Decibéis em locais de trabalho
Fornos microondas****
Frituras (Hábito das)**
Hemodiálise ( segmento da Iatrogénese)
Iatrogénese ******
Insecticidas domésticos ***
Insegurança no local de trabalho***
Irradiados (Alimentos) ****
Metais pesados na água, no ar e nos alimentos***
Monitores radioactivos***
Nitrato de Amila - afrodisíaco usado em saunas masculinos e que provoca imunodepressão *****
Pesticidas na rede alimentar
Petroquímica de Cabo Ruivo*****
Plutónio em viagem de França (La Hague) para o Japão******
Publicidade*****
Radioterapia do Cancro*****
Sondagens que manipulam opinião pública***
Three Mile Island******
Transplantes cirúrgicos***
Vacinas (obrigatoriedade das)*****

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Que faltará ainda instrumentalizar? A voracidade dos partidos,vai para os movimentos sociais que se possam esboçar em
defesa das várias classes, condições, situações vividas e sofridas
pelo cidadão:

Beneficiário
Consumidor
Criança
Deficiente
Inquilino
Lumpen proletariado
Munícipe
Peão
Reformado
Terceira idade
Utente
No singular, instrumentaliza-se:
- A Paz
- A Pobreza
- A Liberdade
- A Criança
- A Juventude
- A Terceira Idade
No plural, instrumentalizam-se:
- Os direitos do trabalhador
- As necessidades mais justas e prementes do cidadão
- As necessidades de reformados e desclassificados
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nc-6

 diário
 cancro74 (continuação)
 manifesto dos silêncios


1962-1974: 12 ANOS DE NOTÍCIAS SOBRE O CANCRO

Depressões como causadoras de cancro (6/8/1967)

Se mesmo os fumadores não querem reduzir o número de cigarros que fumam, não poderão os fabricantes reduzir as doses de matérias nocivas dos cigarros?

Casos de cancro relacionados com a pílula conceptiva(31/1/1971)

O fumo do tabaco contém um agente que provoca o cancro (11/12/1971)

Alarmante o ritmo do aumento do cancro nos Estados Unidos-experimentados por ano 300 a 400 de 200 000 novos produtos químicos (10/3/1972)

Menor do que se cria o perigo das radiações sobre as funções genéticas (9/9/1971)

INCREMENTO DA LEUCEMIA: 1965-1971:

E os rebentamentos atómicos na atmosfera? E as chuvas radioactivas de Hiroxima? E os mil novos produtos químicos todos os anos? E os medicamentos «leucemizantes»?

A leucemia ameaça o gado bovino (18/4/1967)

Aumentaram no mundo inteiro as percentagens de mortalidade por leucemia (22/6/1966)

Era um fabricante de ilusões o «biólogo» Naessens que «curava» a leucemia e por isso começou a ser julgado em Paris (4/5/1965)

Próxima descoberta de uma vacina capaz de proteger os seres humanos da leucemia (7/7/1971)

Leucemia e cancro em percentagem perturbadora entre aqueles que eram crianças quando do ataque a Hiroxima (30/7/1971)

A TESE  DO VÍRUS:

Em Moscovo - um cientista americano confirma que o cancro é provocado por um vírus (26/7/1962)

Contra o Cancro: um novo antibiótico, a Bleomicina (6/10/1968)

Vacina eficaz contra o cancro? ( 16/10/1969)

O vírus puro do cancro isolado na Colômbia (11/11/1969)

Abrem-se novas esperanças a centenas de milhares de cancerosos - Podem começar as pesquisas de nova vacina (5/12/1969)

É de grande importância a descoberta de um vírus do sarcoma no homem (5/12/1969)

Isolado o vírus do cancro humano (9/12/1969)

Vacina contra o cancro experimentada com êxito em animais (25/11/1970)

Isolado um vírus humano causador do cancro? (6/12/1971)

Cientistas procuram descobrir se o cancro é provocado por vírus ou por acção química (15/11/1972)

Origem virosa do cancro - Cientistas soviéticos de acordo com os americanos (20/1/1972)

Um vírus dormente na origem do cancro do seio? (15/6/1972)

O cancro dos animais é causado por vírus - diz perito da OMS ( 7/9/1972)

Cientistas israelitas cultivam um vírus esquivo que poderá ser o causador do cancro no seio (4/2/1973)

Vírus do exterior parecem ser a causa do cancro (25/2/1973)

Médicos italianos descobrem a ligação entre um vírus e o cancro das membranas (24/3/1973)

Poderá o cancro ser causado pelo vírus da gripe? (24/3/1973)

ICB 119 - Nova arma contra o cancro (1/6/1973)

Um certo gozo sádico acaba por se instalar no discurso debitado pelos cientistas:
Mudanças de sexo provocam cancro (12/4/1968)

Era já este o prenúncio da ignóbil «doença sexualmente transmissível» em que viria a transformar-se a sida-espectáculo, a sida-progrom, a sida-caça às bruxas, a sida-promoção da indústria de preservativos?

Também surge um discurso entre o gozo sádico e o sério: Imunizar doentes com o sangue de antigos cancerosos (7/4/1973) discurso onde, além do actual vampirismo médico, se patenteia a mentalidade mais do que medieval de uma ciência paranóica e totalmente pervertida.

MÉTODOS LÓGICOS PARA A TERAPÊUTICA:

Regime de fome - um novo método (?)

Descoberta de plantas com propriedades anticancerígenas (26/7/1972)

A grande batalha da ciência médica - Nas florestas do Quénia árvores «Maytenus» contêm um produto químico anticancerígeno (5/1/1973)

Dermatologistas afirmam : algumas lesões cutâneas são sintomas de cancros (25/5/1972)

Congresso de Veneza - alguns cancros internos manifestam-se por lesões na pele (25/5/1972)

A vitamina A cura o cancro? (15/7/1970)

Ondas electromagnéticas curaram ratazanas em que haviam sido enxertados tumores cancerosos e leucemias (?)

O sadismo do aleatório revela-se em anúncios fraudulentos como este:
Dentro de um ano haverá no mercado um teste para detectar a presença de cancro nos seres humanos (19/5/1973)

A descoberta do veterinário farmacêutico de Córdova - Nova arma contra o cancro? (30/3/1968)
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+nc-n

 novos consumos novas doenças
 PISTAS DE INVESTIGAÇÃO EM ECOLOGIA ALIMENTAR
PARA UM BANCO DE DADOS NA ÁREA HOLÍSTICA
 CONSUMOS ALIMENTARES:
NOVOS E NOVÍSSIMOS HÁBITOS
NOVOS E NOVÍSSIMAS DOENÇAS

Aditivos químicos
Aves de Aviário
Córantes químicos
Embalagens plásticas (contaminação por contacto)
Fornos microondas
Hamburgers
Ketchup
Leite em pó para bébés
Margarina
Porcos de pocilga
Radiações (Isótopos radioactivos) na conservação de alimentos ■

ECOPOLÍTICA 1978

1-3- ideologia- a manipulação do homem pelo homem e seus filósofos

O PAPEL DA IDEOLOGIA ECOPOLÍTICA

15/12/1978

Um modesto caderno da Colecção Mini-Ecologia, o número 8 - Movimento ecológico e descolonização cultural, 1975 - permitiu-se dar algumas achegas ao grande tema. Tema que ninguém discute nem gosta de ver discutido. Um dos muitos tabus que inundam a nossa sociedade sem preconceitos...
Se é verdade, como afirma o autor de Politic of Ecology , Peter Weissberg, que não é a ideologia (e a manipulação ideológica) que derrama o petróleo nos oceanos ou extermina espécies animais e vegetais, é verdade que começa e acaba sempre por ser a ideologia que permite, desculpa, justifica, cobre, minimiza, manipula a opinião pública e a torna dócil, em suma, moraliza esse ou qualquer outro delito ambiental.
Não é a ideologia que directamente mata ou pratica os atentados ambientais.
Mas é a ideologia que os justifica, prepara ou, inclusive, lhes chama benefícios para a humanidade e bênçãos divinas, se isso for necessário. Há sempre um ideólogo de serviço à ilharga de um tecnocrata.
As formas mais grosseiras de manipulação do homem pelo homem - a violência em estado puro - não conseguem os resultados que conseguem as formas mais subtis. Mais científicas. Mais sofisticadas. Mais filosóficas.
Os ideólogos da manipulação perfeita começam, exactamente, por abordar corajosamente o tema e por afirmar uma posição crítica (?) em relação aos abusos da manipulação.
Konrad Lorenz é um dos filósofos e cientistas mais argutos da nossa época. Deram-lhe por isso o Prémio Nobel. Subtilmente, ele foi dizendo, escudado na sua reputação de Etólogo, que os homens são animais... E que a agressividade humana é inata, de constituição biofísica, estrutural: pouco ou nada tem a ver com a luta de classes e suas contradições. Com o ambiente violentógeno.
Ainda hoje não nos apercebemos do alcance e consequências que uma filosofia (tão óbvia) contém. E que serviço ideológico esta ciência presta. E que ilações psicopolíticas se podem ir retirando à medida que forem fazendo falta. Deram-lhe logo o Nobel.
Ao deificar os "mass media" e a manipulação de espírito que eles operam, Marshall Mac Luhan foi muito menos fino e subtil: e por isso a sua estrela de profeta do nosso tempo tem ido declinando, enquanto outras sobem.
Herbert Marcuse, por exemplo, prestou muito melhor e mais duradouro serviço ao imperialismo ideológico quando fingiu - sem parecer que fingia - denunciá-lo criticamente, quando entronizou a tese do fatalismo totalitário das democracias, o ciclo fechado do "homem unidimensional», da sociedade totalitária, contrapondo esse fatalismo a um impossibilismo - a Utopia.
Dizendo ao homem que ele estava encerrado, mais fechado ainda o deixava entre o fatalismo e o impossibilismo: Marcuse é afinal o verdadeiro Sade.
Além disso - e já num plano mais visível a olho nu - esgueira-se, subtilmente, da tese marcusiana a variante subtil do que é e não é totalitário, contrapondo-lhe a noção de liberal, democrático.
Enfiando o barrete da tese marcusiana, eis que há o mundo totalitário das hediondas ditaduras e o "mundo livre" das democracias como a americana que, apesar de "fechadas", sempre vão dando uns baldes de plástico nos concursos da TV.
Adolf Portmann vem também, como Konrad Lorenz, da Zoologia e avalia os hábitos humanos observando o comportamento dos animais: Que mal há nisso? Não é afinal e Etologia uma novel ciência, prometedora como todas as novas ciências quando as velhas já estão caducas?
Citando um caso verdadeiramente aberrante de "tecnologias educativas hoje em voga", Adolf Portmann desviando vai do centro a verdadeira questão de fundo.
Escreve ele:
«As concepções unilaterais do nosso processo evolutivo conduzem por vezes a perigosas aberrações da manipulação inicial. Assim, vários adeptos das mais recentes invenções técnicas descobriram que o emprego de aparelhagem moderna permite à criança aprender a ler muito antes do que é habitual. Segundo esta concepção, nunca é demasiado cedo para iniciar a criança no domínio da técnica cultural necessária: a aquisição da cultura. Leio em prospectos que na idade pré-escolar o "programa preparatório da aprendizagem da leitura" por volta dos três a quatro anos, se tornou, uma excelente credencial de capacidade intelectual para o ingresso na escola primária. A aparelhagem era atraente, de modo que os pais não deviam hesitar em enviar os filhos. Eu aconselhá-los-ia antes a hesitar: A técnica cultural atrás referida vai ao encontro da criança muito cedo – quantas vezes demasiado cedo.»

Não direi que Adolf Portmann está a manipular o leitor mas está com certeza a desviá-lo da questão central.
Aberrante não é só - não é principalmente - que tecnocratas da Educação queiram acelerar o ensino da leitura às crianças, servindo-se delas para bater recordes estatísticos.
As tecnologias educativas estão por toda a parte e desde que vários técnicos, revistas, escolas manipularam suficientemente a opinião pública, os audio-visuais (como os testes psicotécnicos) reinam nas escolas. São rotina, voga, moda, progresso. A questão de fundo é porquê o progresso e porque correm todos para ele?
No fundo, o que Portmann critica está conforme esta lógica do progresso: atingir metas, ganhar etapas, conquistar recordes, atingir alvos.
Um filósofo como Portmann está manipulando, na medida em que desfoca o essencial – a questão de fundo – e sobrevaloriza o acessório.
Mas nem só.
Os casos reais de manipulação discricionária - mesmo torcionária - são por Adolf Portmann subtilmente esbatidos fazendo-se crer de que a criança está sujeita - até morrer - ao processo manipulatório que é o processo educativo... Mais uma vez o fatalismo marcusiano como técnica de manipulação filosófica...
As linhas caricaturais com que Aldous Huxley descreve no seu «New Brave World» totalitário as manipulações genéticas e cerebrais, resultam num certo descanso para as manipulações suaves operadas nas nossas democráticas sociedades de bons e brandos costumes.
Até a caricatura serve a ideologia. E serve bem.
F.B. Skinner foi mais explícito e coerente (menos subtil): ele não critica a manipulação, fazendo demagogia com a liberdade. Faz antes, com realismo, da liberdade o mito que ela é, estabelecendo a manipulação como "técnica ao serviço da evolução humana."
Perfeito: é um caso de franqueza filosófica que devemos agradecer. Nem sempre os ideólogos do imperialismo espiritual se comportam de maneira tão evidente, nem mostram tão completamente o jogo.
Nem sequer falta a Skinner o fim de festa funambulesco, o show de toda a boa revista de bulevar.
A Terra da Utopia é para F.B. Skinner o terreno ideal onde vicejará - onde vicejará jamais entenda-se... - a total, totalitária manipulação de muitos por alguns homens-máquinas: os tecnocratas da ideologia (filosofia) manipulatória da manipulação.
Círculo fechado, todos contentes.
Ao lado desta subtil e nobilíssima manipulação de alto nível filosófico- cientifista, positivista, neo-positivista, evolucionista, etc. - bem poucos cuidados já nos deverá dar a - por exemplo - manipulação partidária ou publicitária, de tão grosseiras ambas.
0 futuro é dos subtis.

COMO SAIR DO PESADELO

Se, no conceito de Adolf Portmann, a manipulação é tudo o que condiciona e envolve o indivíduo, então a questão principal não é de minimizar ou subestimar esse condicionamento - inevitável -, esse constrangimento - necessário - mas que meios são colocados à disposição do sujeito para:
compreender até onde e por quem é manipulado;
responder à manipulação;
encontrar os métodos justos de resposta à manipulação, saindo vitorioso dos múltiplos mas ...inevitáveis condicionamentos. Tudo nos condiciona, diria La Palice.
Se o condicionalismo determinante é o sistema cultural - o sistema ideológico ou mitológico - logo se vê que a melhor pedagogia libertadora será a que possibilite uma distanciação possível desses mitos que incorporam a ideologia dominante.
Daí que muitos pensem hoje - e as novas gerações não só o pensaram como o praticaram - que a melhor pedagogia vem de culturas exógenas.
Expondo a cultura vigente a uma contra-prova de culturas exógenas - eis o método higiénico.
Cultura hindú, chinesa, japonesa, budista são algumas das pedagogias que permitem, enquanto termos de comparação, ângulos de análise e visão crítica.
De contrário, as lavagens ao cérebro sucedem-se em cadeia.
E é ver quem mais manipula o outro e pelo outro é manipulado.
Há um ponto decisivo: é o da conversão a um padrão cultural - mitológico - radicalmente diferente.
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(*) Este texto foi publicado na colecção «Mini-ecologia», das edições «Frente Ecológica», num caderno com 100 exemplares de tiragem
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1-4-

A VIDA E A ALMA EM LABORATÓRIO(*)


15/12/1978 - A análise dos sintomas paroxísticos que hoje se tornaram sensíveis e espectaculares leva-nos, pelo avesso, a conhecer por dentro o sistema ideológico que nos governa. Nos adoece. Nos mata. Nos aliena. Nos corrompe. Nos condena.
É, no fim de contas, a única utilidade dos sintomas: levar-nos às causas, sabendo então nós de que doença sofre o sistema e como nos tortura dizendo que salva.
Não fora os extremos patológicos a que o sistema fez chegar os ecossistemas e ainda hoje continuaríamos a considerar, como estupendos progressos da ciência, os mais nefandos e negregados erros.
Graças à poluição, podemos (se quisermos) acordar. E se não for suficiente, outros empurrões receberemos para aprender a (con) viver neste ecossistema Terra.
Nem sempre, porém, a análise dos sintomas nos leva directamente ao conhecimento das causas.
À causa.
Por exemplo: até que ponto uma teoria cientifica (inocente e de bata branca) poderá ser responsável pela tortura, pela manipulação, pela violência, pela mais atroz patologia mental?
Que papel no Biocídio podem ter teorias tão inocentes e tão aparentemente desligadas de toda uma praxis violenta, teorias como a que compara o cérebro a um computador, o corpo a uma máquina e o homem a um animal?
Ou a teoria (o mito) das vitaminas?
Ou a teoria (a lenda) de que é possível reproduzir vida num laboratório?
Até que ponto é polìticamente responsável por boa parte da Alienação contemporânea ter-se considerado o homem Rei da Natureza e seu Déspota Absoluto?
Até que ponto a "alma no laboratório" de tão ilustres psico-experimentalistas, não conduz directamente à miséria de todas as lavagens ao cérebro ?
Até que ponto os testes psico-técnicos não são, na origem e nos resultados, uma forma de violência?
Até que ponto os exames escolares não partem de premissas aleatórias e alienatórias estabelecidas por "modernas escolas psico-experimentalistas", mais medievais do que as medievais?
Até que ponto é violento o conceito de Q.I. (quociente de inteligência)?
Até que ponto é violenta uma hierarquização da "inteligência" e o espírito humano reduzido ao cérebro calculador?
Até que ponto é violência utilizar em experiências ratos ou macacos, retirando daí ilações para o homem?

A injecção de produtos químicos e a transformação do comportamento - até que ponto, tão interessantes experiências, são ou não são desinteressadas?
No fundo e na aparência é só a curiosidade humana que move esses cientistas misto de poetas: é o espírito da aventura e do desconhecido que os move.
No fundo, trata-se só de matar esta sede, esta fome, esta ansiedade de saber - neutral e objectivamente - que (por exemplo) ratos machos começam, após uma injecção de testosterona no hipotálamo, a ter comportamento de fêmeas e a construir ninhos de papel... (Allan E. Fischer, da Universidade de Pittsburg).
No fundo, haverá alguém mais bem intencionado do que o Prof. Delgado, da Universidade de Yale, quando estimula uma mulher com eléctrodos no lóbulo temporal direito até ao ponto em que a mulher, de tão estimulada, acaba por pedir ao ilustre terapeuta que vá para a cama com ela, tão excitada - estimulada - estava pelo Delgado?
Injectando certos produtos químicos no cérebro, um casal de macacos pode ter 81 relações sexuais em 90 minutos: a experiência é ainda do Prof. Delgado, que nada tem, evidentemente, de tarado sexual, fazendo tudo isso no seu laboratório de bata branca e por amor à arte.
No fundo, trata-se só de saber - como a ciência é desinteressada e curiosa! - que a memória do rato A para o rato B pode ser transplantada por uma operação cirúrgica.
Trata-se só de saber que a memória pode ser estimulada electricamente.
A Ciência é boa, a ciência é neutra, a ciência não é moral nem imoral. Investiga. Se vai ou que vá parar às mãos de torcionários, isso já não é com ela. Nem com a alma branca da bata branca.
Alguma vez a cirurgia do cérebro poderá ser mais do que ciência pura merecedora do Prémio Nobel?
Não será a cirurgia das transplantações, ciência pura, neutra, objectiva, para lá de toda a suspeita e de toda e classificação judicativa e de todo o colaboracionismo?
Dizem outros, desconfiados, que não.
A ciência investiga porque lhe interessa dominar processos ou mecanismos (psíquicos) e pô-los depois, manipulando-os, ao serviço de uma finalidade, de uma ideologia, de uma política, de uma moral, de um objectivo.

É sempre astuta e falsa a pretensa neutralidade da ciência.
Quando, com afinco, se procura o mecanismo da fotossíntese, evidentemente que se poderá considerar objectivo e ideologicamente neutro o conhecimento desse mecanismo. Mas o facto de se ter investigado esse e não outro, o facto de se investigar com persistência, o facto de se orientar para aí a investigação e de haver dinheiro para investigar isso e não outra coisa, esse facto é absolutamente político. Depende de toda uma política da ciência que aí se leva a efeito.
Porque, uma vez conhecido o mecanismo da clorofila, esse conhecimento será posto totalmente ao serviço de uma - por exemplo - política de maior produção de plantas!


Em 10 de Março de 1970, iniciaram-se dezenas de experiências no Instituto Max Plank de Munique para saber se o homem era um torturador nato...
Dir-se-á: ciência pura. Neutral. Nenhuma ideologia embacia a experiência.
Mas o facto de se escolher esse tema - e não outro - já é indicativo de uma política.
Aliás, toda a metodologia das experiências é a priori discutível. Nada tem de objectivo. Escolhe-se, entre várias, uma metodologia. Essa escolha obedece e envolve, evidentemente, normativos de vária ordem. Até que ponto todas as experiências não viciam na origem as conclusões a que se pretende chegar?
Há uma pergunta que se pode fazer para todas as experiências realizadas em sociologia, biologia e psicologia.
Como pode ser reproduzido em laboratório o ambiente real do mundo real?
Que poder probatório têm afinal testes de laboratório?
Provará um teste psicotécnico a inteligência de alguém?
Tudo isso, no entanto, que provoca à partida as mais sérias dúvidas e reservas é usado como dogma indiscutível pela famigerada ciência da bata branca.
Pelos temíveis gangsters da bata branca.

A PACÍFICA CIÊNCIA NASCE DA GUERRA

Quando se refere a impoluta ciência, a sua santa objectividade ou neutralidade, é quase sempre esquecida a proveniência bélica da maior parte das grandes invenções da ciência, não só moderna.
Artimanhas investigadas com verbas militares - para fins altamente (i)morais como matar o inimigo - eis que passam depois para isentas, impolutas, santas, objectivas e neutrais experiências no melhor espírito da bata branca laboratorial.
A energia nuclear deve-se à guerra e na guerra, pela guerra, fomentando a guerra foi testada.
Mas - terminada (?) a guerra - tinham que se inventar as aplicações "pacíficas" do átomo bélico.
A penicilina foi aplicada na guerra e o calculador electrónico também, para resolver problemas de balística; o transistor tinha, na origem, o objectivo de reduzir o complexo de matérias electrónicas do exército.
Há uma pergunta que se pode fazer para todas as experiências realizadas em sociologia, biologia e psicologia.
Como pode ser reproduzido em laboratório o ambiente real do mundo real?
Que poder probatório têm afinal testes de laboratório?
Provará um teste psicotécnico a inteligência de alguém?

Quando a bomba Goyave explode, trezentas bolinhas de aço, de meio centímetro de diâmetro, são projectadas em todas as direcções. À velocidade inicial de 1000 metros por segundo, a coisa magoa.
Os sábios americanos que haviam realizado esta bomba para a guerra do Vietname, verificaram depois que ela fazia belíssimos ferimentos. Estudaram então pequenas flechas que substituíram as bolinhas.
As flechas destruíam os tecidos e não podiam sair. Era melhor, embora ainda não fosse perfeito.
Continuava a haver um problema. O inimigo tinha cirurgiões, médicos, que apesar de tudo conseguiam extrair os projécteis, tratar os ferimentos, curar, por vezes, alguns feridos. Não podia ser. Os sábios produziram então uma matéria plástica, tão dura como o aço, e que tem a vantagem de ser transparente aos raios X. Impossível, portanto, ver através da rádio, onde se encontram os estilhaços, impossível operar. O progresso não pára.

(GÉRARD BONNOT, cronista de ciência no semanário «L’Express»)

PSIQUIATRIA SERVE DE AVISO

Se o escândalo no campo (nos asilos...) da Psiquiatria deu raia mais cedo e abriu, mais tarde, a dissidência chamada Anti-Psiquiatria
Se, portanto, o regime policial da ordem psiquiátrica passou a ser policiado, agora e por sua vez, por David Cooper e seus discípulos, Ronald Laing e seus alunos, etc
significa o facto três coisas:
que outros campos, asilos e ciências (de bata branca) continuam à espera do seu David Cooper;
que a ciência, pelo facto de vestir bata branca, não está limpa das mortes e do sangue que continue fazendo;
que é preciso desconfiar hoje dos que, reformistas, aconselham alguns remendos na bata (e na fachada) dos respectivos templos para que os corpos de polícia que lá moram continuem mais à vontade a sua acção, evitando roturas subversivas à Cooper-Laing-Anti-Psiquiatria.

FINGEM IGNORAR QUANDO LHES CONVÉM

Um dos fenómenos mais folclóricos é a falta de memória dos cientistas encartados.
Desmemória ou falta de atenção, de facto, é a melhor explicação para o que poderá ser má fé e voluntária obstrução de dados conhecidos.
Exemplo desse desfasamento entre os que proclamam uma coisa e os que proclamam outra, é o diagnóstico da asma: reconhecido centenas de vezes o papel dos antibióticos nas alergias e aparecendo a asma, normalmente, sob a forma de espasmos alérgicos, curioso e folclórico é quando vem outro cientista anunciar que as crises de asma são condicionadas por factores psíquicos: os doentes asmáticos - segundo estes - seriam muito nervosos e sensíveis ao ruído.
Mais uma vez a ciência confunde.
Confunde causa desencadeante ou causa intermédia com causa das causas ou causa rerum.
Se o sistema nervoso manifesta desequilíbrio ou carência, é por causa de uma causa intermédia que, por isso mesmo, só actua se tiver a provocá-la causa mais forte: os tecidos impregnados de produtos químicos tóxicos, e em particular de antibióticos reconhecidamente alergenos.
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(*) Este texto foi publicado na colecção «Mini-Ecologia» (qual número? Qual título?)
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1-2- ideologia-3-os dossiês do silêncio

O COMPUTADOR NA GUERRA DE NERVOS(*)

24/4/1981 - Em artigo já publicado n'«A Capital», falávamos nós sobre o sistema de alerta dos Estados Unidos, comentando precisamente a tendência que esse sistema tem para avariar... nos momentos de crise. Dois dias depois, deparávamos com outra notícia da France Press, que a seguir transcrevemos.
Sentimo-nos relativamente compensados desta árdua batalha de ler e compreender a actualidade no que ela tem de permanente, para lá das ilusórias fantasias a que os factos, desligados do seu contexto coerente, nos podem conduzir. E regra geral conduzem, induzindo a opinião pública em erro ou engano sistemático sobre o que se passa no planeta Terra.
A notícia que a seguir se comenta e depois transcreve tem interesse a vários níveis.
Assinala um dos pontos cruciais onde informação o Informática se cruzam.
Assinala de que maneira a informação prepara o terreno à invasão e à política da Informática, reabrindo de novo, e sempre que necessário, os mercados a novas vagas de computadores.
Assinala como o sistema usa uma publicidade especial (notícias de agência, por exemplo) para fazer render esta mercadoria também especial e excepcional que se chama «computador».
A firma precisa de vender mais uns milhares de computadores e, pressionando os meios do Pentágono, começam a exalar-se notícias (como esta) que, aparentemente, vão contra a sagrada imagem de prestígio e dignidade dos mais altos poderes dos Estados Unidos.

Mas o próprio Pentágono tem vantagem em ver substituído o velho «Wimex» por um «Wimex» nova vaga.
De que maneira essa publicidade disfarçada serve ainda a guerra de nervos declarada à população humana?
Estando o computador em questão, no centro nervoso dos litígios bélicos entre os E. U. A. e a U. R. S. S., é evidente de que maneira uma avaria em tal sistema pode colocar a humanidade num verdadeiro «estado de sítio» nervoso, de que maneira uma simples notícia sobre o computador do Pentágono prestes a provocar uma guerra nuclear mundial, constitui afinal mais uma poderosa arma na área da guerra fria.
A notícia é ainda significativa porque levanta a questão de uma leitura que a opinião pública faz dos factos que lhe contam, e uma outra leitura completamente diferente dessa que é possível fazer-se, desde que outras hipóteses de estudo e trabalho sejam postas na mesa.

E agora a notícia:

«WASHINGTON, 10 - O gigantesco sistema informático destinado a prevenir o Presidente americano em caso de ataque inimigo ou de crise internacional, está sujeito a avarias nos momentos mais críticos, soube-se domingo de fonte informada.
«Este sistema, baptizado "Wimex", consiste em uma série de computadores instalados no mundo inteiro, nomeadamente nas bases militares americanas, e ligados por uma rede complexa. Ele permite ao Presidente e aos chefes militares serem alertados em caso de ataque inimigo ou de crise tal como a ocupação de uma embaixada.
«Wimex» fornece informações actualizadas sobre as forças americanas e sobre as possibilidades de resposta a diversas situações. Uma vez as decisões tomadas, ele transmite aos comandos militares ordens para que pessoal, armas, equipamentos e meios de transporte cheguem a tempo ao lugar requerido.
«O sistema, eficaz em tempo normal, já várias vezes tem funcionado mal, no entanto, quando os chefes militares têm tido necessidade de respostas rápidas a uma série de perguntas, segundo informações recolhidas no Pentágono e no departamento da Contabilidade Geral (General Accounting Office).
«Segundo tais informações, houve pelo menos duas ocasiões graves em que se avariou: em 1975, nomeadamente, durante a operação realizada conjuntamente pela Marinha, a Aviação e os «marines» para libertar a tripulação do navio mercante americano "Mayaguez", que fora capturado ao largo do Camboja.
No Departamento da Defesa reconhecem-se estes problemas, mas afirma-se que existem, em caso de ataque nuclear, dois outros sistemas mais rápidos para prevenir o Presidente. Segundo outras fontes, porém, pelo menos um destes sistemas sofre de frequentes interrupções de energia.
«O "Wimex", concebido por Honeywell nos anos 60, era um "bom sistema para essa época", acrescentou um especialista do Pentágono, mas "não pode responder às necessidades dos anos 80". De fonte oficial, espera-se que possa ser substituído daqui a 4 ou 7 anos.»

A SOCIEDADE INDUSTRIAL «ENFORCADA» NOS SEUS PARADOXOS

NIXON DIXIT - Algumas contradições são tão evidentes que até cegos notam...
Sobre o paradoxo de uma «civilização» que manda astronautas à Lua e não consegue resolver os engarrafamentos na cidade, até Nixon notou: « Não é normal que os nossos sábios tenham conseguido mandar três homens para a Lua, transportar três homens a 390 000 quilómetros de distância, e não sejam capazes de transportar todos os dias convenientemente trezentos e noventa mil homens de suas casas para os locais de trabalho..

A GUERRA PARA EVITAR A GUERRA - Haverá mais chocante e brutal contradição do que a Paz que se conserva com a Guerra, reforço de armamento a colossais voragens de dinheiro em investigações bélicas?
A guerra - como a poluição, o esgotamento de recursos, os acidentes rodoviários, etc - já por si seria monstruosa faca à consciência humana.
Mas o que a torna n vezes monstruosa, é que seja um produto fatalmente segregado, como necessidade interna, pelo sistema e que este não pode deixar de segregar para continuar a ser o que é.
Paradoxo vertiginoso: o sistema tem que se suicidar para não se suicidar.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 24/4/1981
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1-2 - ideologia-4-di = diário de ideias - inédito ac de 1987 (?) – 5 estrelas - Da Ecologia Humana à Gnose Vibratória

A FUNÇÃO DOS SÍMBOLOS NA ÉPOCA DOS ERSATZ VIRTUAIS

- A força manipulatória dos órgãos mediáticos
- Unidade, unicidade, uniformidade
- A tentação hegemónica de uniformizar (ódio ao diferente)

Do lógico apelo à unidade, ao yoga, à religião (religação), à filosofia, à holística, nascem, sem se dar por isso, por estrutural perversão humana e cósmica, todos os ersatz ou pontos cruciais da religação que crucificam a liberdade humana.
Se uma barragem veda a corrente de um rio, transforma-se no ponto crucial de todo esse rio. É a condição sine qua non, a chave que dele decide, tal como a nascente.
A questão ecológica, não é a barragem mas a nascente de toda a realidade histórica actual, a chave, a condição sine qua non que decide de tudo.
Podem fazer-se mil acções a jusante: nenhuma tem sentido, se a nascente secar.
Consequências da crise ecológica são globais, ou tendem a ser globais, pelo que todas as estratégias políticas em vigor, mesmo as de Ambiente, não são ecológicas, ainda que levem abusivamente esse nome.
A questão ecológica condiciona todas as outras, define a lista de prioridades absolutas e reais.
O buraco na camada de ozono é um ponto de referência absoluto e não precisa de ser constantemente citado para estar presente em tudo o que se fizer ou não fizer sobre o planeta.
Risco da condicionante ecológica: da unidade essencial e real passa-se facilmente à tentação uniformizante que é a tentação de muitos sectores e de muitos sectários de onde deriva, inevitável, a tentação hegemonizante.
Unicidade , uniformidade e unificação tentam o ser humano como resposta à sua sempre frustrada fome de unidade
Medidas sectoriais e sectárias de uniformidade, as rasoiras totalitárias marcam o nosso quotidiano como dados adquiridos.
Entre essas medidas, quem se lembra de que está submetido, nos seus mais pequenos gestos quotidianos, pelo calendário gregoriano?
A força simbólica da chave vem provavelmente desse poder crucial : também a cruz não deixa de ter uma enorme carga simbólica assim como a encruzilhada.
A chave abre ou fecha um conjunto polimorfo de coisas a que posso ou não ter acesso. Ter a chave é, em certo sentido, ter uma arma, outra das entidades cruciais.
Mas também o alfabeto, invenção humana, o é. Quantas coisas dependem do alfabeto tal como outras tantas dependem do calendário?
Um primeiro-ministro concentra em si o poder crucial, porque dele derivam outros poderes. Está no ponto crucial de muitos outros poderes. A reverência pelo poder não é apenas um fenómeno de superstição, mergulha nesta certeza implantada no subconsciente colectivo de que o ponto crucial move à sua volta muita coisa.
Não será também o fascínio da pedrada no charco?
As figuras mais badaladas nos jornais, com direito a foto, são símbolos menores da chave: por elas ainda passa muita coisa, carregam-se de vibrações, de olhares, de admirações, de invejas.
Ficam uma pilha de nervos.
Há categorias, grelhas que enquadram todo o nosso quotidiano sem nos apercebermos disso. Evitam que se enlouqueça no oceano de variedade multiforme, é um ersatz da unidade perdida.
Tal como o tempo e o espaço são categorias cruciais da natureza, o sistema de calendário adoptado condiciona-nos, como construção humana, através dos séculos.
Como nos condiciona o sistema de pesos e medidas.
Como nos condiciona a força da gravidade. As estruturas prévias e primárias criadas, estabelecidas, institucionalizadas, fundam a necessária homogeneidade num universo de enlouquecedora heterogeneidade, homogeneidade estruturante que nos torna peças de um conjunto, órgãos de um mesmo corpo. Evitando perder a razão.
Mas a homogeneidade toca facilmente a uniformidade.
A tentação hegemónica e totalitária espreita.
A espécie humana é demasiado variada, as democracias agitam-se, por dentro, com os partidos (inimigos da unidade...) , o mal-estar da diversidade invade as sociedades organizadas.
Sempre, dominante, a tentação de reduzir todas as vozes a uma só voz, a torre de babel como símbolo eterno de todos os pontos e poderes cruciais da humanidade.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ECOLOGIA HUMANA 1983

1-9 -nc
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 os silêncios que falam
 manifesto dos silenciamentos
 chave para inéditos ac de 1983 regressos

A DOENÇA NO LOCAL DE TRABALHO

Nove milhões de portugueses, na maior parte trabalhadores, devem ignorar que existe, em Portugal, uma Caixa de Seguros de Doenças Profissionais. A doença no local de trabalho, de facto, foi, é e continua a ser assunto verdadeiramente proibido e tabu.
Tema tratado, pela primeira e última vez, em reportagem de «A Capital», publicada em [----] , seria o momento de regressar a ele, se o ambiente não fosse cada vez mais contrário e hostil a factos e à verdade dos factos. Quando a demagogia sobre a chamada «saúde» sobe em Portugal, valeria a pena - se valesse - correr o risco de perseguição e linchagem, só para mostrar que os verdadeiros problemas da saúde em Portugal, com todas as instituições aos gritos, continuam silenciados e rodeados de silenciamentos. A notícia sobre seguros de doenças profissionais, é, portanto, mais uma notícia da clandestinidade.
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nc-2

 notícias da ecologia humana

PARA UM DICIONÁRIO (INVENTÁRIO) DE ERROS CONTRA A HUMANIDADE(*)

3/10/1992 -

Açúcar industrial
Aditivos químicos na conservação alimentar
Alienação do trabalho
Alta tensão (Cabos de) - poluição eléctrica sobre habitações
Antibióticos (iatrogénese)
Centrais nucleares*****
Chernobyl
Chumbo na gasolina
Clorofluorcarbonetos****** (destruidores da camada de Ozono)
Corticosteroides
Decibéis em discotecas
Decibéis em locais de trabalho
Fornos microondas****
Frituras (Hábito das)**
Hemodiálise ( segmento da Iatrogénese)
Iatrogénese ******
Insecticidas domésticos ***
Insegurança no local de trabalho***
Irradiados (Alimentos) ****
Metais pesados na água, no ar e nos alimentos***
Monitores radioactivos***
Nitrato de Amila - afrodisíaco usado em saunas masculinos e que provoca imunodepressão *****
Pesticidas na rede alimentar
Petroquímica de Cabo Ruivo*****
Plutónio em viagem de França (La Hague) para o Japão******
Publicidade*****
Radioterapia do Cancro*****
Sondagens que manipulam opinião pública***
Three Mile Island******
Transplantes cirúrgicos***
Vacinas (obrigatoriedade das)*****
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nc-3>

 diario92
 remissas

Cabo, 3/11/1992

FÓRA DA ESTAÇÃO

Uma banda rock em acção no cemitério de Alto São João, é como eu vejo a febricitante actividade dita cultural das câmaras, nomeadamente a de Lisboa e a de Oeiras, nomeadamente Música, Palhaços, Ballet, Expoartes, Concertos, Robertos.
Ou, se preferirem, Sorvetes Gelados no Inverno.
Banda rock num funeral é de facto as expostas Artes Plásticas no âmbito de Bairros da Lata da Periferia.
As bibliotecas e hemerotecas, face ao trânsito caótico. Os jardins botânicos e zoológicos, face aos 40 mil fogos devolutos que os assassinos dos senhorios se recusam a alugar com a benevolência assassina da vereação camarária. Que depois nos dá música e desfiles de moda no Terreiro do Paço. A exposição Habitação, face à incidência de Mortalidade Infantil do Centro à Periferia. Banda de Rock em ritmo frenético no Cemitério dos Prazeres, é o incremento de Bares, Discotecas e outras casas de jogo e de prostituição, face às lixeiras fétidas que envolvem os centros urbanos e face ao Cianeto Vinil do Barreiro e aos fumos tóxicos da refinaria da Petrogal.

O PRINCÍPIO UNIVERSAL DA PRÓTESE

-> Quem mais ganha com as Notícias do Terror, são as companhias Seguradoras
-> Cada nova notícia sobre o incremento da SIDA - que está, por sinal a desicrementar - faz vender mais trinta caixas de Preservativos Caramelo
-> Cada nova notícia sobre a crise das empresas e dos bancos, mais três leis fascistas do Silva Peneda contra os trabalhadores
-> Cada nova notícia sobre o terremoto de 1789, mais propaganda às construções antisísmicas, em que ninguém acredita
-> Cada nova desgraça anunciada, mais vinte apólices que a Seguradora Pacífica da Costa ganha por dia
-> Cada nova notícia de um novo incêndio, mais uma trinta apólices por dia contra incêndios que entram na Seguradora Costa do Pacífico
-> Cada nova notícia sobre um desmoronamento de prédio em Lisboa, mais um toque de telefone no gabinete do Ministro da Habitação, para acelerar a Lei das Rendas mais favorável aos senhorios
-> Cada novo caso de Rubéola, mais 1000 vacinas que são enfiadas à autoridade sanitária
-> O princípio universal da Prótese é diariamente, hora a hora, religiosamente seguido e há jornalistas e jornais que refinam neste trabalho de fazer a vida (ainda mais )negra ao utente e engordar todas as indústrias que vivem de promover Angústia, o Pavor, o Stress, a Doença, a Neurose, a Frustração, (...)

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nc-4>

 diário
 inéditos 87

 QUE FALTARÁ AINDA INSTRUMENTALIZAR?

3/1/1987 - A característica dominante dos partidos é utilizarem em proveito próprio e das suas estratégias de poder mais ou menos ligadas e blocos imperialistas e variados internacionalismos ou seitas multinacionais, tudo quanto mexe e de qualquer modo pode suscitar os sentimentos fraternos ou humanitários das populações. Os fins transformam-se em meios e os meios transformam-se em fins - o que significa maquiavelismo. Quando se usam pessoas, sentimentos, causas ou ideais, está a praticar-se um acto de prostituição.
Instrumentalizar tudo o que é nobre, livre, bom, ou humano, tornou-se
prática corrente dos partidos ao serviço de blocos hegemónicos. Eles
são os primeiros a prostituir os valores em que dizem acreditar. De
facto, que faltará ainda instrumentalizar? A voracidade dos partidos,
no entanto, vai para os movimentos sociais que se possam esboçar em
defesa das várias classes, condições, situações vividas e sofridas
pelo cidadão:

Beneficiário
Consumidor
Criança
Deficiente
Inquilino
Lumpen proletariado
Munícipe
Peão
Reformado
Terceira idade
Utente
No singular, instrumentaliza-se:
- A Paz
- A Pobreza
- A Liberdade
- A Criança
- A Juventude
- A Terceira Idade
No plural, instrumentalizam-se:
- Os direitos do trabalhador
- As necessidades mais justas e prementes do cidadão
- As necessidades de reformados e desclassificados
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nc-6>

 diário
 cancro74 (continuação)
 manifesto dos silêncios
 análise de um discurso mistificador que se está repetindo ipsis verbis para a sida

1962-1974: 12 ANOS DE NOTÍCIAS SOBRE O CANCRO

Depressões como causadoras de cancro (6/8/1967)

Se mesmo os fumadores não querem reduzir o número de cigarros que fumam, não poderão os fabricantes reduzir as doses de matérias nocivas dos cigarros?

Casos de cancro relacionados com a pílula conceptiva(31/1/1971)

O fumo do tabaco contém um agente que provoca o cancro (11/12/1971)

Alarmante o ritmo do aumento do cancro nos Estados Unidos-experimentados por ano 300 a 400 de 200 000 novos produtos químicos (10/3/1972)

Menor do que se cria o perigo das radiações sobre as funções genéticas (9/9/1971)

INCREMENTO DA LEUCEMIA: 1965-1971:

E os rebentamentos atómicos na atmosfera? E as chuvas radioactivas de Hiroxima? E os mil novos produtos químicos todos os anos? E os medicamentos «leucemizantes»?

A leucemia ameaça o gado bovino (18/4/1967)

Aumentaram no mundo inteiro as percentagens de mortalidade por leucemia (22/6/1966)

Era um fabricante de ilusões o «biólogo» Naessens que «curava» a leucemia e por isso começou a ser julgado em Paris (4/5/1965)

Próxima descoberta de uma vacina capaz de proteger os seres humanos da leucemia (7/7/1971)

Leucemia e cancro em percentagem perturbadora entre aqueles que eram crianças quando do ataque a Hiroxima (30/7/1971)

A TESE ABERRANTE DO VÍRUS:

Em Moscovo - um cientista americano confirma que o cancro é provocado por um vírus (26/7/1962)

Contra o Cancro: um novo antibiótico, a Bleomicina (6/10/1968)

Vacina eficaz contra o cancro? ( 16/10/1969)

O vírus puro do cancro isolado na Colômbia (11/11/1969)

Abrem-se novas esperanças a centenas de milhares de cancerosos - Podem começar as pesquisas de nova vacina (5/12/1969)

É de grande importância a descoberta de um vírus do sarcoma no homem (5/12/1969)

Isolado o vírus do cancro humano (9/12/1969)

Vacina contra o cancro experimentada com êxito em animais (25/11/1970)

Isolado um vírus humano causador do cancro? (6/12/1971)

Cientistas procuram descobrir se o cancro é provocado por vírus ou por acção química (15/11/1972)

Origem virosa do cancro - Cientistas soviéticos de acordo com os americanos (20/1/1972)

Um vírus dormente na origem do cancro do seio? (15/6/1972)

O cancro dos animais é causado por vírus - diz perito da OMS ( 7/9/1972)

Cientistas israelitas cultivam um vírus esquivo que poderá ser o causador do cancro no seio (4/2/1973)

Vírus do exterior parecem ser a causa do cancro (25/2/1973)

Médicos italianos descobrem a ligação entre um vírus e o cancro das membranas (24/3/1973)

Poderá o cancro ser causado pelo vírus da gripe? (24/3/1973)

ICB 119 - Nova arma contra o cancro (1/6/1973)

Um certo gozo sádico acaba por se instalar no discurso debitado pelos cientistas:
Mudanças de sexo provocam cancro (12/4/1968)

Era já este o prenúncio da ignóbil «doença sexualmente transmissível» em que viria a transformar-se a sida-espectáculo, a sida-progrom, a sida-caça às bruxas, a sida-promoção da indústria de preservativos?

Também surge um discurso entre o gozo sádico e o sério: Imunizar doentes com o sangue de antigos cancerosos (7/4/1973) discurso onde, além do actual vampirismo médico, se patenteia a mentalidade mais do que medieval de uma ciência paranóica e totalmente pervertida.

MÉTODOS LÓGICOS PARA A TERAPÊUTICA:

Regime de fome - um novo método (?)

Descoberta de plantas com propriedades anticancerígenas (26/7/1972)

A grande batalha da ciência médica - Nas florestas do Quénia árvores «Maytenus» contêm um produto químico anticancerígeno (5/1/1973)

Dermatologistas afirmam : algumas lesões cutâneas são sintomas de cancros (25/5/1972)

Congresso de Veneza - alguns cancros internos manifestam-se por lesões na pele (25/5/1972)

A vitamina A cura o cancro? (15/7/1970)

Ondas electromagnéticas curaram ratazanas em que haviam sido enxertados tumores cancerosos e leucemias (?)

O sadismo do aleatório revela-se em anúncios fraudulentos como este:
Dentro de um ano haverá no mercado um teste para detectar a presença de cancro nos seres humanos (19/5/1973)

A descoberta do veterinário farmacêutico de Córdova - Nova arma contra o cancro? (30/3/1968)
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nc-7>

 regressos & silêncios
 texto de 1984
 dez anos depois
 temas de ecologia humana

OS CRIMES DE PERIGO COMUM NO NOVO CÓDIGO PENAL DE 1982

A pena de prisão até seis meses ou multa até 50 dias, prevista no artigo 148 do Código Penal de 1982, tem atenuantes, desde que o «agressor» seja médico e que as «ofensas no corpo ou na saúde» provocadas «no exercício da sua função» não causem doença ou incapacidade para o trabalho por mais de 8 dias.»
«Intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos», matéria contemplada no artigo 150º do Código Penal, também despenalizam substancialmente a medicina:
Conforme refere o artigo 150º, «as intervenções e outros tratamentos que, segundo o estado dos conhecimentos e da experiência da medicina, se mostram indicados e foram levados a cabo, de acordo com as «leges artis», por um médico ou outra pessoa legalmente autorizada a empreendê-los com intenção de prevenir, diagnosticar, debelar ou minorar uma doença, um sofrimento, uma lesão ou fadiga corporal ou uma perturbação mental, não se consideram ofensas corporais. »
[publicado]: Os «crimes de perigo comum» previstos no novo Código Penal de 1982, relacionam-se directamente com a segurança quotidiana do cidadão, devendo o consumidor conhecer este texto legislativo fundamental que eventualmente o poderá defender... Especificando esses «crime de perigo comum» em duas secções - «a) incêndios, explosões, radiações e outros crimes de perigo comum; b) dos crimes contra a saúde» - o novo Código Penal de 1982, integrou na legislação portuguesa conceitos e factores respeitantes à «qualidade de vida» que ainda há três décadas eram novidade...
Considerado, assim, bastante «evoluído» no contexto jurídico europeu - por integrar conceitos e factores já com algumas décadas de história... - o Código Penal publicado no «Diário da República», I série, em 23 de Setembro de 1982, anda ainda a ser estudado pelos técnicos, não tendo chegado à opinião pública naqueles capítulos que mais directamente a podiam interessar na medida em que mexem com a nossa integridade física imediata. De facto, o novo Código Penal, é um dos textos jurídicos portugueses em que os direitos do cidadão foram minimamente lembrados. Significativo é que, 11 anos depois da sua publicação oficial, ninguém se lembre disso: já ou ainda?
[ transcrevemos os artigos referentes à secção II do já referido capítulo III - Dos Crimes de Perigo Comum ]
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 notícias do crime médico
 notícias da clandestinidade
 gulag dos silêncios
 os silêncios que falam
 regressos & silêncios

IATROGÉNESE: HOMEM COBAIA DA MEDICINA

Há experiências «laboratoriais» com doentes em meio hospitalar?

Existe para aí uma comissão de Ética?...

A rapidez com que os medicamentos são testados e o número vertiginoso de especialidades farmacêuticas que todos os dias entra no mercado, torna óbvia esta necessidade: os medicamentos são testados na sua aplicação pelo médico ao doente. Como se chama esta situação? Como deve ser julgada etica e juridicamente? O poder médico justifica tudo? Será o «cobainato» mais lícito do que o Aborto e a Eutanásia? As experiências conhecidas praticadas em condenados à morte ou em presidiários condenados a prisão perpétua confirmam que a prática da «cobaias» não é uma ficção nem uma excepção. A própria essência da ciência experimental autoriza e fomenta essa prática. se se trata de ciências humanas, é lógico que a experimentação se faça em seres humanos. Experiência laboratorial com medicamentos receitados a doentes é ou não é praticada e é ou não reconhecida oficialmente? Há casos em que o médico já tem perguntado aos familiares do doente ou ao próprio se autorizam a experiência.
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nc-nc>

NOTÍCIAS DA CLANDESTINIDADE (NC) inclui :

- CQNE - Cartas que não enviei
- EH - Ecologia Humana
- HOLI - Holística
- DN - Dicionário da Neguentropia ( ou Dicionário da Esperança)
- DE - Dicionário da Entropia
- KY-AQ - De Kali Yuga para o Aquário
- NAS - Notícias da Auto-suficiência
- NED - Notícias da Entropia Desenfreada
- NCC - Notícias da Cura do Cancro
- NTT - Notícias do Tecno-terror
- NQM - Notícias do que nos Mata
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nc-nd>

 novos consumos novas doenças
 PISTAS DE INVESTIGAÇÃO EM ECOLOGIA ALIMENTAR
PARA UM BANCO DE DADOS NA ÁREA HOLÍSTICA
 CONSUMOS ALIMENTARES:
NOVOS E NOVÍSSIMOS HÁBITOS
NOVOS E NOVÍSSIMAS DOENÇAS

Aditivos químicos
Aves de Aviário
Córantes químicos
Embalagens plásticas (contaminação por contacto)
Fornos microondas
Hamburgers
Ketchup
Leite em pó para bébés
Margarina
Porcos de pocilga
Radiações (Isótopos radioactivos) na conservação de alimentos ■

ECO-MILITANTE 1974-1984

1-1-hfe-1> história da frente ecológica- hfe 1976

POLUIDOR -PAGADOR:ALIADO DA CONCENTRAÇÃO CAPITALISTA

Que a luta anti-poluição passa pelo centro da «luta de classes», era a tese de um livro publicado por Afonso Cautela em 1976 com reportagens sobre ambiente em Portugal,  perguntando alguns onde estava a «luta» , visto não se ver greves nem outras manifestações de rua por causa da poluição.
Quando, no rio Alviela , após uma luta popular persistente de mais de 20 anos, o governo decidiu, em 1980, avançar com um projecto despoluidor (três estações de pré-tratamento, uma de tratamento biológico e a maior rede de drenagem de águas residuais do país) quando, depois de uma longa espera , se chegou ao momento da verdade, a velha tese (implícita) do já referido livro de 1976, voltou à actualidade.
Chama-se poluidor-pagador o princípio que tem inspirado as políticas europeias (OCDE e CEE) de combate à poluição e defesa do meio ambiente.
Ora como referiu explicitamente o Secretário de Estado do Ambiente, as pequenas unidades industriais poluidoras não têm condições absolutamente nenhumas de instalar «mecanismos de pré-tratamento de efluentes».
Resultado à vista, embora não explicitado por ninguém: instalado um sistema de anti-poluição, os mais poderosos vão instalar a parte que lhes compete mas os mais pequenos não podem, sendo eliminados na concorrência.
Médios e pequenos tendem a desaparecer , para ficar apenas os grandes.
É isto que algumas vozes isoladas têm vindo a dizer e a escrever há uns bons 15 anos.
É isto que tem posto nos antípodas ecologia política ou ecologismo crítico e anti-poluição ou ambientocracia, como estratégias de sinal contrário.
Situação que muitos ainda não querem compreender, mesmo quando ficarem pelo caminho os pequenos industriais de curtumes, devido à luta antipoluição em que todos parecem estar de acordo.
Anti-poluição desta é, como se vê, o contrário de ecologia e de luta ecologista como alguns poucos têm tentado dizer .

A FORMAÇÃO DE QUADROS: UMA TESE FRACASSADA

A «preparação de quadros» foi reconhecida, em muitas reuniões de ecologistas , onde se analisavam as dificuldades colocadas ao movimento e seu desenvolvimento, como a questão da qual dependiam , no momento, todas as outras.
No encontro de Guimarães da IV Coordenadora (data?), por exemplo, o arquitecto A. Jacinto Rodrigues bateu-se por essa formação de quadros, à qual se opunha uma agitada maioria dos jovens presentes, na proa de uma atitude libertária e anarco-libertária sem o sentido realista da prática e da realidade.
Nesse encontro de Guimarães, não só a proposta para a «formação de quadros ecologistas» foi derrotada , como se registou nela a  liquidação da própria Coordenadora, que José Carlos Marques lançara nas Caldas da Rainha e a que dera muito do seu esforço e da sua energia durante largos e dedicados meses de actividade.
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1-1-hfe-2- história da frente ecológica - FE 1984

Um espaço semanal, criado em 15 de Março de 1984, e consagrado à informação do consumidor, acabou por ficar abandonado de articulistas, especialistas, militantes da causa do consumidor.
O Gabinete de Defesa do Consumidor - dizia a sua directora, Drª Maria Irene Veloso - sentia-se mais vocacionado para convidar estrangeiros da CEE para vir a Portugal do que apoiar uma página de jornal.
O Instituto apoiou mas estabeleceu as suas próprias regras. Qualquer artigo que viesse por outro lado não tinha remuneração.
Uma página do consumidor não se faz para criticar os medicamentos mas para passar o tempo.

RUDOLFO IRIARTE

O vespertino «A Capital» foi, sem dúvida, o jornal que, pela mão de Rudolfo Iriarte, mais cedo se abriu, sem reticências nem preconceitos, aos temas ainda impopulares, da ecologia, saúde pública, defesa do cidadão e do consumidor.
Nesse espírito, foi possível manter:
Desde 17 de Junho de 1976, a crónica semanal do planeta terra.
Desde 15 de Março de 1984 e semanalmente o Guia do Consumidor.
E, desde 14 de Março de 1985, a secção noticiosa semanal Grupos em Movimento.
Isto que parece pouco é,  nas áreas mais sensíveis da chamada qualidade de vida, um verdadeiro milagre de persistência.

MARIA LUCINDA TAVARES DA SILVA

A revista «Saúde Actual», pela mão de Maria Lucinda Tavares da Silva, confiou ao jornalista Afonso Cautela, em Março de 1985, a tarefa de defender a imagem da Naturoterapia.
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1-2-hfe-3- Memórias da Frente
Revisão: quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

1981-1983:VÁRIAS VICISSITUDES, UM OBJECTIVO - INFORMAR

Vicissitudes várias fizeram passar a «Frente Ecológica» por diversas fases e crises.
Tendo começado por ser título de um jornal (14 números publicados) passou a servir de sigla para algumas edições artesanais (stenciladas) e foi ainda título de uma série especial destinada a publicar textos que se consideravam impublicáveis.
«Frente Ecológica» também foi, por força das circunstâncias, mini-livraria ou centro documental ao dispor de estudantes e professores. Muitas listas de livros e mini-bibliografias foram enviadas aos que solicitavam pistas para os seus trabalhos escolares.
Algumas vezes, para equilibrar uma contabilidade permanentemente deficitária, a «FE» promoveu saldos de livros correntes a preços de ocasião ou de livros raros a preços convidativos. E assim se foi dispersando a biblioteca que deveria manter-se unida e coesa...
Mas a Biblioteca dos Tempos Difíceis (assim baptizada) não morreu, apesar de tantas sangrias. Continuou a existir e a resistir, embora tendo às vezes que hibernar. Milhares de livros ficaram armazenados, deteriorando-se e aguardando as condições materiais mínimas (estantes, sala, ficheiros) para funcionar ao serviço do público.
Mas quem necessitará de se informar sobre o mundo que já bate violentamente à nossa porta?
Especializada em temas de ecologia prática, movimento ecológico, tecnologias apropriadas, qualidade de vida, protecção da natureza, etc., a quem poderá servir e quando, a Biblioteca dos Tempos Difíceis?
Terá que esperar por tempos ainda mais difíceis, para que uma entidade a apoie e ponha ao serviço público?
Pacientemente feita e refeita e desfeita ao longo de 15 anos, a Biblioteca dos Tempos Difíceis esperou por D. Sebastião na figura de um ministro da cultura sensível à ecologia e que não tivesse medo da palavra. Tal como D. Sebastião, esse ministro nunca chegou.

«FE» NA RÁDIO

Centenas de ouvintes se dirigiram, por carta ou postal, ao apontamento radiofónico «Ecologia em Diálogo» , enquanto ele foi transmitido pela RDP-Antena 1, através do «Ponto de Encontro». Surgiria depois um pequeno jornal, em metade de A/4, com o mesmo título, mas só saíram dois números. A Direcção Geral da Informação, por despacho de Manuel Figueira, negou porte pago ao jornal «Ecologia em Diálogo».
Entretanto e na rádio, durante ano e meio, os dez minutos semanais permitiriam um diálogo com milhares de ouvintes sobre problemas de ecologia. E isso só foi possível por especial empenho e boa vontade de quem convidou a «FE» a realizar o programa. Costa Martins, produtor do «Ponto de Encontro», foi o homem que acreditou e apostou nessa iniciativa, nessa voz da ecologia na Rádio.
A correspondência recebida nesse apontamento radiofónico provou que a ecologia não era um assunto de elites e interessava milhares de portugueses.

O jornal «Ecologia em Diálogo», lançado em Junho de 1981 na sequência do apontamento radiofónico do mesmo nome que Costa Martins aceitou, durante meses, no seu «Ponto de Encontro» da Antena 1, foi mal recebido na Direcção Geral da Informação, que lhe negou o «porte pago».

Sem escoamento pelo correio e sem distribuição para livrarias, é evidente que «Ecologia em Diálogo» foi asfixiado.

Ajudar a definir realismo ecológico face às ideologias do mundo contemporâneo, foi esse, em síntese, o contributo das edições «Frente Ecológica», em quase dez anos de actividade (1974-1984) e duas dezenas de títulos publicados.
Os equívocos provocados nestes dez anos pela palavra ecologia e a rigorosa definição do que, face aos eco-equívocos, se deverá afinal entender por ecologismo, resistência ecológica, movimento ecologista, ecopolítica, ecodireitos humanos e ecodesenvolvimento, foi afinal a tónica dos textos aparecidos nas edições «Frente Ecológica» ou nas centenas de outros que, no mesmo espírito, ficaram espalhados por vários jornais e publicações.
Admite-se que não fosse necessário tanto tempo, artigo, papel e palavras gastos para distinguir, afinal, o óbvio,  o ecologismo de todas as suas numerosas contrafacções.
Mas, útil ou inútil, necessário ou desnecessário, foi essa a tarefa que em dez anos se impôs na «Frente Ecológica», como contributo à revolução cultural, expressão esta que, nos textos e nomenclatura, aparece como «descolonização cultural».

EDIÇÕES «FE» INDIGNAS DE FIGURAR EM LIVRARIAS

A certa altura da sua atribulada actividade, «Frente Ecológica» concluiu que as edições artesanais, além de não agradarem  nem a gregos nem a troianos, nem à esquerda nem à direita, não tinham também e por isso lugar em livrarias .
Tendo perdido em 1976 a Livraria Peninsular, na Rua da Boa Vista, 87, em Lisboa, onde o pó, o caruncho e as velharias constituíam o cenário adequado ideal, «Frente Ecológica» sentiu que de ora avante ficaria deslocada em qualquer outro ambiente. E passou a editar para meter na gaveta. Desmoralizou, claro e entretanto.
Os grupos que solicitavam edições para bancas e outras festas alusivas, nem contas prestavam. Parecia tornar-se uma espécie de obrigação que a «FE» pagasse estes luxos divulgativos, levasse as edições, custeasse portes e transportes e...pronto, a partir daí nunca mais soubesse se vendeu muito, pouco ou nada, se havia ou não havia devoluções.

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1-4 - 83-04-01-ie- ideia ecológica - hfe-4
terça-feira, 15 de Abril de 2003

FE 1/Abril/1983


AS NOMENCLATURAS E OS DOSSIÊS


Uma sociedade digna e honrada sabe desembaraçar-se a tempo dos elementos perturbadores : e a «Frente Ecológica» foi devidamente neutralizada , até à total paralisia e asfixia.
A explicação é clara: os temas a que a «F.E.» se consagrou com mais atenção e assiduidade, podemos verificar agora, 10 anos depois, que confluem, apesar da sua heterogeneidade, num alvo: organizar a resistência ao sistema tecnocrático.
A procura de um diagnóstico correcto da crise, a profundidade e radicalização da crítica, ser ou não ser independente de partidos e de confissões religiosas, lutar pelo direito à formação auto-didáctica, enfim, pensar a oposição possível e a resistência necessária é o resumo da «Frente Ecológica».

OPOSIÇÃO RADICAL REFORMISTA

A glosar para o projecto oposição, os temas da «Frente Ecológica» mais salientes são:
Inimigo principal
Diagnóstico da situação ambiental, doença ou crise
Esquerda e direita: um debate ultrapassado
Apelo às fontes primordiais de informação
Técnicas de subversão reformista não-violenta
Técnicas de resistência passiva
Dez anos separam dois textos de Herbert Marcuse
Os Grupos de Pressão, de Jean Meynaud (PEAZ, 1966)
Oposição política mas não oposição partidária
Técnicas para a sociedade paralela (ex. comunidades semi-autosuficientes)
Cuidado com as utopias
Utopia e realismo

O DIÁLOGO DA DIVERSIDADE

Ao opinar sobre a variedade morfológica do ecologismo - «nebulosa» lhe chamaram e também «constelação» - é claro que o fazemos com a óptica da investigação realizada na oficina da «Frente Ecológica».
É um testemunho e uma posição, claramente assumida, frontalmente proposta ao debate. Oxalá das outras correntes e tendências se verifique outro tanto.
A proposta de um forum democrático de ecologistas, o próprio projecto de um jornal ao serviço desse diálogo (que chegou a haver com o título «Ecologia em Diálogo») , o respeito mútuo das diferenças, o grande Encontro Nacional de Ecologistas sem Partido, que chegou a estar previsto para 1984, enfim, o embrião de uma «assembleia da república ecológica», não tão utópica como isso, apontam, não para uma uniformidade de grupos, não para uma monocromia ideológica, não para uma voz única mas exactamente para a demarcação das diferenças, base de toda a verdadeira solidariedade e do possível diálogo.
Todos os movimentos sociais e cívicos têm em comum essa característica - são de cidadãos para cidadãos - o que leva a inocentes ou abusivas identificações.
Respeitar-se-ão melhor uns aos outros, quanto melhor definirem a sua própria identidade, o espaço que cada qual ocupa e o que tem de específico para oferecer à comunidade.
Os movimentos cívicos e alternativos atingem, aliás, uma excepcional variedade. O que o ecologismo pode ter de peculiar relativamente aos outros movimentos sociais de alternativa é a sua globalidade e abrangência.
Para distinguir o ecologismo das duas dezenas de movimentos afins, a nossa proposta, a partir da «Frente Ecológica», tem sido e continua a ser, uma especificação : realismo ecológico.
Teimaremos nela, até que nos proponham outra melhor.

A NOÇÃO DE BIOCÍDIO

A noção de biocídio como centro nevrálgico do realismo ecológico assinala-se desde os primeiros textos e edições da «Frente ecológica», que desde logo verifica nao ter sentido o dualismo clássico de esquerda/direita.
Sustentar esta tese - intuição fundamental do realismo ecológico - e apesar da sua óbvia evidência, foi condenar a «Frente Ecológica» ao isolamento e ao silenciamento.
Dois textos servem de referência: um deles publicado no número 9 do jornal «Frente Ecológica » ( Julho de 1976), intitulado «Carta à Esquerda Portuguesa» e o opúsculo «Carta à Geração do Apocalipse».
Mas outros artigos tentaram romper a tácita rede de censura que necessariamente haveria de tecer-se à volta desta mais do que polémica posição.
No fundo, toda a colecção «Mini-Ecologia» martela essa tecla.
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1-1-hfe-5- fe 1983

CORRENTES HETERODOXAS:AFLUENTES DO REALISMO ECOLÓGICO

As correntes heterodoxas na história política contemporânea deveriam ter constituído matéria de estudo numa escola livre de realismo ecológico - preparar ecologistas para uma oposição radical consequente - tanto mais quanto essa resistência ocorre quase sempre numa zona de penumbra que os historiadores, por isso mesmo, tendem a esquecer...
Quem se lembra, por exemplo, que as comunidades (laicas e religiosas) do Novo Mundo foram historiadas por Liselotte e O.M. Ungers, num livro tão interessante e didáctico como é aquele que escreveram com o título «Comunas no Novo Mundo»?
Em certa altura dos acontecimentos e quando a esperança nas tecnologias alternativas ainda não era utopia, o centro de documentação da «Frente Ecológica» acolheu a edição espanhola desse livro, lançada por Gustavo Gili de Barcelona : «Comunas en el Nuevo Mundo: 1740-1471», do original de língua alemã «Kommunen in der Neuen Welt».
A «revolução cultural chinesa», por outro lado, que motivou livros de escritores célebres como Alberto Moravia, acabou por ser matéria omissa, embora muito falada no auge do fenómeno.
Também a «new left» norte-americana ou o Maio 1968 em França, motivo de extensa bibliografia, foram ficando num limbo de silêncio que de ano para ano se tem acentuado.

DESPISTAGEM BIBLIOGRÁFICA

Na «Frente Ecológica» chegou a realizar-se uma despistagem bibliográfica de correntes, afluentes, fontes e precursores do realismo ecológico, num total de (até Dezembro de 1983) cerca de 70 títulos que abrangem uma grande variedade ideológica: direitos do homem, não violência activa e resistência passiva (Lanza del Vasto, Gandhi, Luther King), cooperativismo (Sérgio), anarquismo clássico, surrealismo (Artaud, Bréton), movimento operário e sindical, «hippies» e «yippies», movimento estudantil, etc.

O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA: 25O LIVROS POR ORDEM CRONOLÓGICA

Para que não acusassem a «FE» de derrotismo e pessimismo, para lá de tantas outras acusações de que foi alvo, há com certeza também coisas positivas para apresentar no balanço dos dez anos (1974-1984).
Por ordem cronológica, organizou-se uma lista dos livros existentes na «biblioteca dos tempos difíceis» -  livros que se poderiam considerar fontes interessantes da intuição ecológica, os despertadores da consciência ecológica no último século.
Há, nessa lista, livros e autores desde 1859 (A Origem das Espécies) até 1982 (Ecologia para Principiantes).
Já metidos na ordem (cronológica) ficaram, em Dezembro de 1983, cerca de 250 volumes, pistas bibliográficas que servem de fundo informativo e filosófico a uma oposição radical dos ecologistas, expressão que dominava nesses anos a «Frente Ecológica».
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1-3-hfe-6- notícias da frente - fe 1984

PRODUZIR IDEIAS:UMA INDÚSTRIA ARTEANAL

A produção de ideias, durante estes dez anos (1974-1984) , na oficina artesanal da «Frente Ecológica», foi um comprovado fracasso como actividade económica lucrativa.

A produção artesanal de ideias, romântica aspiração de Antero e Sérgio, advogados da inteligência criadora no nosso país, não era à partida, portanto, rentável. Mas se da maioria não se esperava eco, das elites ditas responsáveis também não houve resposta.

Nesse sentido, de facto, a «Frente Ecológica» foi apenas uma fantasmagoria, um sonho e em alguns aspectos um pesadelo dentro de outro pesadelo: o país e mundo em que vivemos.

OS LABORATÓRIOS EXPERIMENTAIS DE ECOLOGIA HUMANA

Foi um bocado sina do signo Aquário que a «Frente Ecológica» se adiantasse demasiado no tempo quanto à proclamação de teses que só anos ou décadas depois deixariam (deixarão?) de ser heresia.
Teses largamente defendidas pela «Frente Ecológica» e por uma minoria de outsiders, profetas e visionários, têm, em comum, serem teses impopulares e difíceis, que ninguém quer e que ninguém ouve, têm em comum implicarem linhas de investigação pessoal e própria, inédita, como «terreno virgem» que são.

Ecologia Humana é ainda uma ciência virtual, uma ciência (do) por-vir:
1º - porque os laboratórios experimentais de ecologia humana são, pela primeira vez na história, os laboratórios da própria história, os acontecimentos, as catástrofes ( especialmente as catástrofes) , desde Hiroxima a Chernobyl,
2º- porque as teses da contra-ciência, as questões virgens da ecologia humana, sendo intuições sem antecedentes reconhecidos, são apenas hipóteses de investigação

Como poderia a ciência institucionalizada consagrar ou admitir o que a subverte?

A DEMAGOGIA DAS DOSES MÍNIMAS E A QUALIDADE BIOLÓGICA

Um parâmetro igualmente incómodo para o sistema estabelecido, conduziu a «Frente Ecológica» a um novo impasse. Ou dizia a verdade ou desistia de existir.
A ecologia humana, de facto, introduz na política do consumidor, um parâmetro altamente subversivo e de alta incomodidade, que é o conceito-chave de qualidade biológica.
A química reina omnipotente e a solução mais interessante em defesa do consumidor que as legislações e normas da CEE, da OMS, da FAO, da Direcção Geral da Qualidade do Ambiente, do Instituto da Qualidade Alimentar, da Direcção Geral de Saúde, encontraram para amenizar as doses mínimas admissíveis.
Admissíveis por quê e por quem?


A demagogia das doses mínimas é, no entanto, um tema que os próprios ambientalistas, conservacionistas, pietistas do ambiente , amigos da natureza, etc não costuma incluir nos seus autocolantes.
Razão mais do que suficiente para ser um tema prioritário do realismo ecológico, na «Frente Ecológica».

PRODUTOS DUVIDOSOS: DAVID CONTRA GOLIAS

Se a situação de franco-atirador é, como se compreende, virtualmente suicida - exposto que fica à voracidade das multinacionais quem se dispuser a enfrentá-las - não se julgue que o poder que detém os poderes seja mais intrépido e corajoso em defender a verdade e o consumidor .

Ficou célebre o caso da maré negra causada, nas costas da Bretanha francesa, pelo petroleiro Amoco-Cadiz. Como a revista «Mil Consumidores» propusesse o boicote à empresa responsável pelos prejuízos causados sobre a população, a empresa respondeu à revista francesa contra-atacando e processando-a.

QUOTIDIANO DO ESCAPE

Entender o «ruído como uma doença política» foi um dos contributos inéditos que a «Frente Ecológica» deu ao estudo de um fenómeno que pouco tinha até então preocupado os ecologistas portugueses, além de não preocupar nada as autoridades encarregadas de vigiar a qualidade de vida dos cidadãos.
Até certo ponto era encarado como natural que o escape roto se deixasse proliferar, atendendo às múltiplas doenças do foro psiquiátrico e nervoso que ele pode veicular ou agravar.

Na «Frente Ecológica» manteve-se uma certa campanha verbal (artigos que foram sendo publicados) contra o escape roto mas tudo caiu na indiferença oficial.
Um caso quotidiano como o do ruído é, assim, tão significativo pelo barulho que faz e pelas agressões que provoca como pelo silêncio que à sua volta se vai institucionalizando, quer por parte de governos e políticos, quer por parte dos ecologistas.

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1-1-hfe-7-hfe 1976

Para manter o mínimo de coesão de um movimento ecológico cada vez mais disperso e enfraquecido, manteve a «FE», na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o aluguer de uma sala que servisse de ponto de união e reunião.

Pagou, por essa sala, durante mais de 16 meses, a importância mensal de três mil escudos.
Cada vez mais agravada a situação de défice, atingiu a absoluta insolvência em fins de 1976, pelo que se viu obrigado a saldar a biblioteca de ecologia, vendendo ao desbarato o que pôde. Aliás, tinham falhado todas as tentativas de conseguir apoio oficial do Ministério da Educação para que essa biblioteca funcionasse como serviço público.
O proveito resultante da venda dos livros permitiu que se mantivesse o aluguer da sala até Agosto de 1977, data em que se resolveu abandoná-la.
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1-3- notícias da frente - fe 1975

PORTAS PARA O MUNDO ECOLÓGICO


Com o título «Portas para o Mundo ecológico», publicava a «Frente Ecológica», em 1975, em tiragem de poucos exemplares, um documento sobre os vários caminhos que poderiam conduzir ao despertar, nas pessoas, a «consciência ecológica».
Dizia esse texto da «Frente Ecológica» em 1975:

A noção da urgência ecológica pode começar a vibrar nas consciências, pelos mais diversos pretextos e através de diferentes motivações, científicas e teosóficas, místicas e tecnológicas, quotidianas e filosóficas.
Importante é que se reconheçam idênticos os que entram no mundo ecológico por portas diferentes: pelo naturismo, pela tecnologia alternativa, porque se sentem defraudados  como consumidores (ou simplesmente envenenados...), ou porque os assusta efectivamente probabilidade cada vez mais próxima e em alguns casos iminente de ver esgotados os recursos essenciais em água, ar, silêncio, segurança, solos, alimentos, matérias-primas, energia, etc.

O CONGESTIONAMENTO

Em vários e múltiplos campos o congestionamento pode levar à saída ecológica, à revolta ecológica, pelas situações intoleráveis de asfixia e becos sem saída que ocasiona; se, na cidade, o congestionamento urbano é o dia a dia de processo triturador, é a cloaca-tipo, é prisão por excelência e o puro concentracionário; se no campo dos estímulos e dados sensoriais, os mass media e os ruídos desenvolvem um bombardeamento quotidiano ininterrupto sobre os sentidos e as meninges do cidadão; o congestionamento torna-se um factor igualmente paroxístico, se virmos o que sucede em acumulação de conhecimentos, relatórios, bibliografias, etc. no campo da proliferação dita científica, verbal, dos ramos particulares do dito conhecimento.
Ainda que não se referissem outros campos do conhecimento científico onde o congestionamento é cifrável em milhões de arquivos microfotografados simbolicamente situados nos centros culturais e bibliotecas «mais importantes do mundo», bastava citar o que, num breve sector, o de ciências humanas, se tem feito para afogar em papel , nem sempre devidamente higiénico, a realidade humana, assim submersa, asfixiada sob uma avalanche de especializações e de especialistas que a tornam caricatural, o grotesco esqueleto dessa mesma realidade.
Uma ponte para a opção ecológica é assim a da profunda decepção sentida por alguns especialistas revoltados com o alibi do especialismo e com toda a desumanização que a industriocracia e a biocracia instauraram na praxis humana.
Face ao congestionamento de dados e de estímulos, face à inflação de bens de consumo e de objectos e utensílios, face à necessidade de selectivar cada vez mais e de separar o supérfluo do fundamental, o critério ecológico entra como um selectivador por excelência.

Repondo tudo em causa, tornando caducas  as ciências particulares, ideologias e políticas sectoriais, propondo que toda a acção parta de zero, a lógica ecológica é a única metodologia, a única epistemologia, é a única que não é ilógica.

A  INFLAÇÃO

A escassez agravada de recursos, ao estender-se ao Terceiro Mundo (onde foi crónica por culpa e força da opressão colonialista secular) ao mundo  dito da abundância, através da forma civilizada de Fome chamada Inflação (para não se lhe chamar exploração do homem pelo homem) - torna sensível a finitude irremediável da Terra e dos seus recursos, dos seus bens fundamentais, dos quais depende a sobrevivência humana.
É natural que esta porta do subdesenvolvimento do desenvolvimento leve muita gente e nem só o engenheiro agrónomo René Dumont a interessar-se a fundo pela eventualidade de um partido ecológico candidato a eleições na França.

DESCOLONIZAR A NATUREZA
«BÁRBARO É O QUE CRÊ NO PROGRESSO» (LEVY-STRAUSS)

O contacto, livresco ou não, com culturas e civilizações durante séculos colonizadas pela raça branca, torna evidente a supremacia moral de muitas dessas culturas, nega a civilização ocidental como superior às restantes (apenas porque as dominou pela força e pela tortura) e abre uma visão multicultural mas também contra-cultural, que é, ao fim e ao cabo, uma visão ecológica em que todos os povos do mundo são superiormente formados mas que depois esquecem e alienam à medida dos contactos com o que a «civilização» branca e europeia os vai corrompendo.
Sem falar já dos povos que, no centro da Austrália ou nos aforas do Amazonas foram encontrados em estado paradisíaco, vivendo na chamada era neolítica, muitos outros povos africanos, asiáticos e sul-americanos (com os índios da América do Norte e do México na frente) encontram-se hoje na vanguarda da moral ecológica, por as suas culturas serem humanas, harmónicas e exemplares, sendo com eles que os grupos e movimentos contra-culturais têm estado a aprender, depois de terem desaprendido o que as universidades da ciência sem sabedoria lhes tinham transmitido.
Muitos entram no paraíso ecológico, depois de verificarem que o inferno somos nós, os civilizados.

A  SINTOMATOLOGIA E A CAUSALIDADE ECOLÓGICA

Ao contrapor a sintomatologia reformista a uma causalidade ambiental, uma nova visão do problema saúde/doença conduz infalivelmente a uma concepção ecológica não só da medicina terapêutica (que deixará de ser sintomatológica para ser radical averiguação das causas ambientais) mas de todas as práticas sociais e ciências humanas.
Lembra-se aqui o que já foi dito sobre a descoberta feita pela sociologia de fenómenos até então considerados morais, como o crime, o suicídio, a neurose, a agressividade, etc. Há também os da tese biológica e que explicam tudo isso pelos «maus instintos».
Da perspectiva ecológica, esses fenómenos deixam de ser pecado para serem efeitos, produtos muito claros de causas muito evidentes. 


A POLUIÇÃO É APENAS UM FACTOR

A poluição, especialmente nos seus focos espectaculares e directamente traumatizantes do consumidor ou do transeunte ou do caçador , pode ser outro factor que conduz a vítima a um engagement ecológico, embora - sublinhe-se - a demagogia da antipoluição que lhe está inerente seja um dos equívocos que melhor podem afastar as vítimas de uma autêntica consciência ecológica; há casos mesmo em que a táctica antipoluição é o maior impedimento à tomada de consciência de uma estratégia ecológica global.
Deve notar-se, porém, que muitos são ainda hoje os que confundem poluição com ecologia e que da ecologia só conhecem o que os demagogos da anti-poluição lhes contaram...

DESCONFIANÇA DO MODELO DE CRESCIMENTO ATÉ AGORA SEGUIDO (VELHO PARADIGMA)

O capitalismo em geral, a sociedade do desperdício em particular, a ideologia do consumismo inerente à industrialização maciça e indiscriminada, as energias hiperpoluentes para satisfazer toda essa apoplética actividade de febril manipulação do homem pelo homem,  tudo isso tem sensibilizado alguns consumidores (enquanto tal e a tal categoria reduzida a sua condição humana...) para os vícios de um sistema económico - de um modelo de crescimento exponencialista que cada vez menos serve o homem e cada vez mais degrada, desgasta, depreda o meio ambiente - natural ou habitat .
A reacção contra a exploração  de recursos e suas sequelas pode ser também um dos caminhos mais frequentes que levam à adopção de uma via ecológica e sua verdade. E nem é preciso chegar a extremos de contestação, basta que se fique por uma certa crítica liberal do sistema, tipo Ralph Nader, tipo Sicco Mansholt, tipo Galbraith.
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1-2-hfe-9-notícias da frente

UTOPIA OU MORTE

1982(?) - Entre as companhias indesejáveis que foi costume arranjar aos ecologistas, conta-se a dos utopistas. Uma revista houve, mesmo, inspirada nas ideias do Maio 1968, que se intitula «Raiz & Utopia».
Assimilar o ecologismo a um idealismo ou neo-romantismo é, mesmo entre os que se reclamam das suas teses, uma das formas mais expeditas de o atirar pela borda fora da História.
Acontece, porém, que o ecologismo está hoje no centro da História, considerando que este centro se deslocou da luta de classes para a luta de gerações. E considerando que a contradição principal deixou de ser patrão-operário para ser imperialismo-humanidade.
Nomes de grande prestígio cultural ou religioso - mas de pouco significado político - aparecem, por outro lado, intencionalmente associados à ideia de utopia na arte, na literatura e na filosofia.
Pretende-se, assim, através da utopia, colocar os ecologistas sob o mesmo denominador comum daquelas outras actividades platónicas: estar-lhe-ia também destinado o papel de sonhar, inventar ou imaginar para o futuro, um mundo (e um tempo) diferente daquele que os homens vivem no presente.
No presente estariam os realistas, os tecnocratas e os tecnofuturologistas.
Nadando no futuro das ideias e dos ideais, os ecologistas de braço dado com literatos , sonhadores, boémios , românticos, poetas, líricos.
A primeira acusação que um ecologista pode fazer às pretensas eco-utopias é que elas servem , tanto como as tecno-utopias, de ópio para adormecer a consciência do pesadelo contemporâneo .
Sonhar um futuro ideal - como fazem afinal os utopistas de ambos os lados - serviria de manobra táctica para obrigar os homens a suportar , com menos queixas e revoltas, a exploração, a alienação e a manipulação do presente.
Contra o movimento subversivo de Maio de 1968, por exemplo, eis os partidos políticos em fúria: falam então, de esquerdismo, anarquismo irresponsável, romantismo político.
De facto, e apesar de todos os mitos que lançou no mercado, o «movimento de opinião» Maio 68 significou uma reviravolta, um salto qualitativo na forma de entender a história e de a compreender na sua mais profunda e intrincada dialéctica. Não se pode menosprezar a importância dessa data que não proclamou nenhuma utopia antes se insurgiu contra todas as ficções.
«Sejamos realistas, exijamos o impossível.»

A UTOPIA DE RECUSAR TODAS AS UTOPIAS

A utopia serve ainda para alimentar outras confusões  : as alternativas e o não alinhamento com as grandes potências bélicas, seriam então ...utopia. Seria, portanto, impossível fugir ao círculo de ferro da dicotomia ou bipolarização que hoje abafa o Mundo e promete fundi-lo no holocausto nuclear.
Pensadores como Herbert Marcuse - paradoxalmente identificados com o pensamento utópico - concorreriam para reforçar o equívoco, já que também proclamaram , com a tese do homem unidimensional, a impossibilidade de escapar às malhas de ferro dos impérios ou grande blocos de potências nucleares.
«Temos de contar com as nossas próprias forças».

Samir Amin, economista de renome mundial, estaria apenas a proclamar uma utopia quando,  dá esse conselho a países como Portugal, rendido aos poderes do Mercado Comum.
Eis, pois, no esforçado dizer dos realistas, um mar de utopias que nos levarão  ao abismo.
Única saída : preferir a utopia de recusar todas essas utopias.

Hippies e cabeludos são outra imagem com que normalmente se tenta comprometer o ecologismo.
Fugindo ao sistema, tal como aqueles, o ecologista acabaria por regressar, conciliado com o sistema, o emprego e o papá. E, em vez de flores, usará gravata. Possivelmente, até ficará à secretária de uma empresa multinacional,  tornando inviável qualquer mundo de amanhã.
Esta imagem - tentando mostrar que ninguém escapa à engrenagem e que o establishment volta a recolher os seus contestatários - serve bem para mostrar aos trabalhadores (conformados, resignados, não revoltados) como são eles, afinal, quem está certo e tem uma visão realista da sociedade.

ALGUNS CRISTÃOS, ALIADOS TÁCTICOS

Lê-se num autor católico: «A História da Igreja e do cristianismo está semeada de utopias.»
Se é assim, eis exactamente uma das razões porque o ecologismo se demarca do cristianismo, embora Cristo e principalmente São Francisco de Assis, enquanto poetas-profetas, sejam sempre figuras inspiradoras de qualquer homem que não abdique de valores morais e não se renda ao maquiavelismo.Eventualmente, alguns cristãos podem ser aliados tácticos do ecologista. Mas com estratégias bastante diferenciadas, evidentemente.
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1-2-hfe-10- Notícias da frente
Revisão:quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

DA RESISTÊNCIA À DESISTÊNCIA: O SISTEMA VENCE SEMPRE

21/Setembro/1987 - Na lógica (cronológica) da sequência histórica, às agressões da l sociedade industrial seguir-se-iam , como resposta, os movimentos sociais de contestação, protesto e resistência. Foi, assim, aparentemente, com alguns dos mais promissores desses movimentos, desde os hippies ao Maio 68.
Pacifistas, não-violentos, místicos, neo-místicos, esotéricos, amigos da Natureza, tiveram assim, como única razão de existência, face ao execrável mundo industrial, manter a chama do inconformismo e da liberdade.
Curiosa e estranhamente, o discurso de todos estes movimentos , mais para o yoga ou mais para os terapeutas, ou mais para os esotéricos, ou mais para os nutricionistas, ou mais para os eco-alternativos, revela-se hoje, quase sem excepções, um modelo de conformismo e de passividade.
E em nome, a maior parte das vezes, da tolerância dialéctica!
A perversidade inata do mundo contemporâneo mais uma vez vingou. Hoje ( e daí a perversão) o conformismo tomou de assalto as fortalezas do inconformismo.
Quem pôs os grupos de resistência e contestação a rezar a mesma ladaínha do sistema?
Quem  construiu a palavra «iuppies» sobre a palavra «hippies»?
A capacidade de recuperação do sistema consegue , de facto,  virar o bico ao prego a tudo o que em princípio lhe oferece resistência. Mais tarde ou mais cedo, o sistema tem artes de transformar a resistência em desistência.
Tudo serve para convidar o adepto à submissão dos absurdos políticos, sociais, económicos:
serve o yoga
serve a lei do karma
serve a macrodimensão do tempo eterno que retira significado aos eventos efémeros
serve o relativismo de tudo
serve a dialéctica taoísta que põe em evidência os dois lados da realidade (tudo é bom e mau ao mesmo tempo)

21/Setembro/1987 - Dois continentes que se chocam não seria a imagem ainda suficientemente enfática para servir de metáfora à guerra mais violenta do nosso tempo mas que, no entanto, é aquela de que temos menos consciência.
Talvez a violência latente lhe venha, em grande parte, do seu carácter «secreto» . Essa guerra move interesses tanto mais poderosos quanto mais escapa à percepção da maioria ou mesmo de uma minoria privilegiada.
A oposição e a irredutibilidade dos dois «continentes» que se chocam (verdadeira guerra de mundos ideológicos que se chocam) torna actual um sistema filosófico aparentemente ultrapassado: o maniqueísmo, com efeito, volta novamente a estar no comando do processo histórico, pondo a dialéctica, humilhada, a um canto.
E mesmo os que, durante tantos anos, se esforçaram por esconjurar os demónios do maniqueísmo, dizendo preferir a dialéctica, acabam submetidos à potente realidade dos factos, estruturalmente maniqueísta.
Daí a guerra santa que, sob disfarces mais ou menos grotescos, se trava neste tempo a nível planetário: curiosamente é o próprio Planeta que está no centro das hostilidades, planeta que assiste, impotente, não só à crueldade dos seus exterminadores profissionais e confessos  mas a uma nova vaga que, dizendo defendê-lo, arquitectaram as mais aperfeiçoadas teorias justificativas do extermínio.
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1-2-hfe-11- notícias da frente

O MOVIMENTO ECOLOGISTA

O imanentismo ateísta das correntes anárquicas - «Ni Dieu, ni Maitre» - leva consigo a autodestruição e a morte na alma.
Sem referência, por um lado, além do imanente, os militantes têm a tendência a «levar-nos muito a sério» e de ter a sua própria pessoa em grande conta (Nem Deus, nem patrão).
É o espectáculo a que se assiste , hoje, entre adeptos do ecologismo vindos de áreas ditas libertárias.
No caso do Partido Ecologista, eles pensam e repensam o convite de adesão que lhes é feito, não tanto em termos do que podem ou não podem , em união connosco, dar à causa da liberdade e contra o Inimigo Comum - a tecnoburocracia . mas em termos do que os outros (a galeria) podem dizer do seu engagement ou da sua (deles) fidelidade a uma ideologia pré-fixada ou pré-estabelecida.
A maior parte dos «não» que o Partido Ecologista (em projecto) recebeu de ecologistas derivam  dessa alta autoconsideração em que os ego-individualistas se têm.
Outra é a atitude dos que não fazem dos desideratos egoístas a última meta, desde que sirva o que mais importa - a zona de sagrado que a vida tem e que se pode identificar com a liberdade - outros há que tomam o ecologismo como um meio ou instrumento (que é) decidem fechar os olhos e mergulham na luta , Mas para isso é preciso uma certa ideia de transcendente e de um «para lá» destas misérias. O puritanismo de pseudo-místicos, libertários, pacifistas, não-violentos , etc - completamente fora da realidade - eis este nosso tempo e mundo, de que o movimento ecologistas tem sido uma das principais vítimas.
A ocupação do espaço ecologista por e toda a espécie de ecoequívoco, foi facilitada, em boa parte, pela indefinição em que o realismo ecológico se manteve - e mantém - permitindo assim toda a espécie de  instrumentalização e confusionismo .
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1-4- hfe-12- notícias da frente
Revisão:quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

A «FE» EM 1983

Também a «Frente Ecológica », pequeno grupo de edições , fez o diagnóstico da crise que a todos nos aflige.
Mas a conclusão a que chegou sobre as causas da crise difere das conclusões encontradas por outras correntes de opinião e formações políticas.
No entender da «Frente Ecológica» e do realismo ecológico que nela temos defendido, a crise é de ideias.
Ora, sendo exactamente essa a indústria - produção de ideias e de informação - em que a «Frente Ecológica» investiu desde os já recuados anos de 1974, duas coisas podemos hoje concluir, em Maio de 1983 :
- A «Frente Ecológica» iria viver inevitavelmente em falência crónica 

- chegados ao mais fundo do fosso em 1983, é de ideias que fundamentalmente nos sentimos carecidos e esfomeados neste deserto mental e moral

Curiosamente e por coincidência, o movimento ecologista mundial, tal como também desde a primeira hora o perspectivámos na «Frente Ecológica», é fundamental e simultâneamente um grande movimento de ideias, um grande movimento sócio-pedagógico, um grande movimento  cultural.
Há quem coloque, bem o sabemos, a génese da ecologia em outras fontes.
Por exemplo: ecologia seria (apenas) e dos investigadores no laboratório ou no nicho ecológico das espécies, debruçando-se sobre o comportamento dos mosquitos ou das libélulas.
Ecologia seria, para outros, a dos naturalistas como Darwin ou Ernesto Haeckel, a dos laboratórios, herbários e taxonomias.
Ecologia seria ainda a dos biólogos como o ornitologista Max Nicholson ou a dos conservacionistas como Jean Dorst ou a dos «fluxos energéticos» estudados por Odum e John Phillipson.
Etc.,
Admitimos que todo este rol de autores tem um lugar no movimento ecologista e que todos estes autores devem ser estudados pela novas gerações no campo estritamente sectorial e especializado em que se colocam.
Mas na «Frente Ecológica» desejamos continuar a pôr a tónica nas ideias. E por isso dizemos que para o ecologismo concorreram fundamentalmente filósofos - ou talvez mais correctamente contra-filósofos -, pensadores, poetas e profetas do que propriamente cientistas.
Diria mesmo que o ecologismo é um movimento neo-profético, que alguns confundem com Utopia. Mas um realismo também. Uma realismo realista, se me é permitida a propositada redundância.
E é como oficina de ideias que temos anunciado o nosso trabalho na «Frente Ecológica».

Movimento de ideias, é necessário referenciar o ecologismo a poetas e profetas que anteviram as dominantes da época actual.
Urbanistas e arquitectos como Lewis Mumford, Biomédicos como René Dubos, filósofos como Roger Garaudy, Henri Lefebvre ou Edgar Morin, activistas políticos como Cohn Bendit, Castoriadis , Rudi Dutschke (já falecido) , Rudolfo Baro, pacifistas como Gandhi ou Lanza del vasto, escritores como Simone Weil do «L'Enracinement», professores como Ivan Illich, jornalistas como Michel Bosquet e muitos, muitos outros homens de ideias, eis onde a «Frente Ecológica» procurou as fontes do seu realismo ecológico, os fundamentos para a criação de uma oficina de ideias e de informação. Talvez pareça herético reafirmar com António Sérgio que a crise é de ideias, quando os problemas candentes são materiais e económicos, quando há gente sem pão, sem casa, sem emprego.
Mas mesmo assim arrisco, escudado no autor dos «Ensaios» e em todos os que como ele foram acusados de idealistas ou elitistas que nós, como país, temos falta e fome de ideias. E que é por uma pedagogia criadora de ideias que tudo tem que ser recriado.
Por mais que os afoguem com as prioridades materiais da economia, da tecnologia, das finanças, da energia - é na educação, é na cultura, é nas ideias como imperativo categórico , é na ecologia, enfim, que continuamos a acreditar como motor do mundo, alfa e ómega de tudo.
É claro que a própria escola pode ter uma atitude mais ou menos conformista relativamente ao ambiente.
E ninguém nega o papel fundamental que o professor desempenha em relação a programas porventura insignificantes ou sectários. Os programas não são tudo mas condicionam bastante. E ao condicionar muitos dos livros de texto elaborados para vários anos de escolaridade, é diverso o espírito que anima cada um deles.
Temos analisado alguns com atenção e o pior vício parece-nos ser a sectorização de matérias uma área que é fundamentalmente inter-disciplinar, como se costuma dizer.
O desafio da problemática ecológica lembra uma outra face na história do ensino , em que a necessidade da filosofia se fez sentir face à divisão de matérias e ciências. Também a disciplina de moral veio um pouco para colmatar o cientifismo positivista, a atomização do humano na escola de inspiração maçónica.
Ora é nesse cientifismo, anacrónico e ultrapassado que por estranho que pareça nos encontramos de novo com as ciências do ambiente e mesmo com a disciplina de ecologia.
A disciplina de estudos sociais acentua o trabalho de síntese mas ciências da natureza - ambas no ciclo preparatório - continua a sublinhar, como há 30 ou sessenta anos, a análise no sentido inverso da síntese macroscópica.
Como se sabe , «O Macroscópio» é o significativo título da obra em que Joel de Rosnay defende a macrovisão do mundo e da vida, uma visão sistémica dizem outros.
No fundo, não é por disciplinas sobrepostas - num ecletismo pouco educativo - que o milagre de uma consciência ecológica pode mais facilmente nascer e o seu despertar se dará. Verdadeiro estado de graça, essa consciência pode mais facilmente nascer de uma vivência quotidiana intensa, de um acidente ou de um traumatismo moral ou físico na vida do estudante.
Não julgo, pois, que um certo naturalismo escutista nas chamadas ciências da natureza ou mesmo a ciência biológica sejam os caminhos disciplinares mais directos para uma concepção moral da natureza.

Numa lista de livros que foi elaborada na «Frente Ecológica» intitulada «O despertar da Consciência Ecológica», propositadamente incluímos obras e autores que pouco ou nada têm a ver com ecologia dita científica (ecologia do nicho como alguns lhe chamam) e ciências do ambiente.
Também aí, insistimos em ver o ecologismo como fenómeno cultural, corrente filosófica, movimento de ideias, contra-ideologia, enfim, uma filosofia das filosofias, uma propedêutica fundamental.

Romper com o ciclo vicioso da ideologia dominante - tarefa fundamental de uma pedagogia ecológica - apresenta-se assim como uma das primeiras prioridades de acção.
Não se trata de romper com o sistema instalado, démarche utópica como o filósofo Herbert Marcuse largamente provou, mas de encontrar saídas comunitárias e autogestionárias - conviviais - para o sistema de medo, mentira e morte.
Romper com o «ciclo vicioso» da ideologia dominante não significa necessariamente acção violenta, radical ou revolucionária, mas uma demopedia paciente como disse António Sérgio. Há reformas possíveis por etapas e estratégias de mudança. Educação é a revolução não violenta e profunda .

Projectos de acção educativa, de acordo com as prioridades (dos) ecologistas, têm sido em várias ocasiões propostos. Mas eles enfrentam um obstáculo inerente à sua própria démarche. Querendo romper o peso da ideologia dominante, não encontram eco. É como se alguém falasse no deserto ou a surdos. As pessoas em geral não são receptivas a mensagens transmitidas em comprimento de onda que pretende exactamente romper com a toada dominante.

Há que apelar para elites minimamente despertas . Mas elites, a havê-las, só alguns raros que se encontram dispersos, incomunicáveis, ocupados também com o peso e o pesadelo da vida quotidiana.
É de notar, porém, alguns desses projectos que nos parecem tentativas inéditas para o nosso meio - o que explica, como se disse, as tiragens astronómicas de 100 exemplares das edições «Frente Ecológica» e o vazio onde caíram.
Com o projecto de aldeia comunitária «Terra do Sol» apresentava-se uma proposta na linha de uma pedagogia de ruptura quase total com o sistema tentacular.
É evidente que a estratégia de auto-suficiência se realiza melhor na tentativa de cortar o cordão umbilical com o sistema estabelecido.
Escolas-piloto de tecnologias alternativas e tradicionais, seriam, dentro do sistema, um projecto viável, pois não implica qualquer corte radical de princípio e antes se integra no establishment.
Aprender agricultura biológica, yoga, auto-organização, prática cooperativista , técnicas democráticas, são actividades evidentemente incómodas para o sistema mas que se podem programar ao abrigo do próprio sistema escolar que existe e do pressuposto que vivemos em democracia parlamentar europeia. Pode-se avançar numa pedagogia aplicada das tecnologias alternativas sem demolir o sistema mas abrindo-o às saídas.
Como a informação alternativa se liga profundamente à «revolução educativa e cultural», muitos foram os projectos alternativos de informação propostos pela «Frente Ecológica» , a um dos quais se chamou Oficina de Ideias e Informação Ecológica. 20 anos depois esse e outros projectos não perderam a actualidade: antes pelo contrário, continuam infelizmente (como projectos) mais actuais do que nunca...
Entre os projectos lançados nessa linha de produção de ideias, refira-se o regulamento do prémio Resistência Ecológica. Parece sintomática a nula receptividade que esse prémio Resistência encontrou nos diversos lugares onde foi apresentada a proposta. É que se tratava (e ainda trata...) de uma aposta no aproveitamento e fomento de valores - as pessoas que pensam a ecologia .
Admitamos que seja uma démarche utópica.  Diz-se que a televisão incentiva a leitura. É  mentira. A televisão não só diminui a capacidade de inteligência crítica - valor pedagógico fundamental - fomentando o slogan, a cassete, a ideia feita, como diminui o tónus da vontade, provocando entre as novas gerações multidões de seres apáticos e passivos.Quando os estudantes de Maio 68 defendiam a «imaginação ao poder» apontavam a prioridade dos tempos que estão chegando.
Chegou a considerar-se génio um cientista chamado Marshall Mac Luhan que fez da alienação televisiva uma teoria alegadamente educativa da metamorfose planetária. Queria ele convencer-nos de que uma nova humanidade, metade gente metade electrónica, estaria nascendo dos audio-visuais. E fico bem consciente da heresia que estou afirmando, num tempo em que os audio-visuais nos invadem como exércitos de ocupação da alma colectiva. E ainda não tinha chegado, nesses anos tranquilos, a eurovisão por satélite. E muito menos tinha chegado a Internet.
Um outro projecto pedagógico apresentado pela «Frente Ecológica» foi uma alternativa à macrocefalia informativa que bloqueia, em Portugal, a iniciativa e a voz dos cidadãos concretos. É outra heresia, esta, . Corrente que só alicia, evidentemente, uma elite de pessoas com sensibilidade suficiente para isso. Ecologismo é uma questão artística, estética e ética, muito mais do que uma questão científica ou tecnológica.

Mas a crise ecológica é também a crise de recursos vivos do Planeta Terra, recursos minerais e materiais é certo mas também e fundamentalmente recursos humanos.
Ora essa crise é necessariamente distorcida na sua realidade mais autêntica pela ideologia dominante que, ao serviço da economia de Exploração, só pode subsistir à custa da referida delapidação de recursos e consequente agravamento da crise (mais um ciclo vicioso do sistema).
À luz da moral energética ou da Economia de reciclagem - de que é modelo físico o ecossistema - a crise ecológica e portanto a crise de recursos (ou económica) não tem solução sem uma revolução cultural que altere radicalmente a imoralidade ou deseconomia vigente.
A Leste e a Oeste, a economia de exploração faz razias e vive em crise crónica. E nenhuma das medidas preconizadas, quer pelas potências capitalistas quer pelas potências socialistas, pode resolver a crise na medida em que, por definição, a agravam.
Daí que logicamente se imponha a pergunta : a avaliar pelo que se desperdiça, haverá crise de energia, crise alimentar, crise de água, crise de recursos, crise económica, crise de emprego, enfim, crise? Não estará a crise afinal na cabeça daqueles que a provocam?

«Frente Ecológica» insistiu em fabricar ideias como o melhor contributo para a saída da crise, nomeadamente a crise energética. à luz do realismo ecológico, uma prioridade se impunha e continua a impor: inventário dos desperdícios e desaproveitamentos em todos os campos da actividade portuguesa mas fundamentalmente o desaproveitamento dos recursos humanos.

Feito este inventário do que se desperdiça, ficará claro que a grande solução contra a crise é tomar medidas para evitar o desperdício, os projectos de acção que ficaram perdidos nas gavetas, as boas vontades desprezadas, inventores sem incentivo, cientistas prospectivos sem laboratório, estudantes sem escola, escritores sem editor, vocações abandonadas, ideias perdidas...
Em Vila Viçosa, o Centro Cultural Bento de Jesus Caraça publicou, na altura, um jornal com um título lindo: «Há tanta ideia perdida..». E há.
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25-10-98-«FE» JULHO 1983

No âmbito de reuniões efectuadas em Lisboa, na sede da Base FUT - Frente Unitária dos Trabalhadores - e com vista à criação de um órgão ecologista designado «Ecologia em Diálogo» (que herdasse a dinâmica do apontamento radiofónico na Antena 1 com o mesmo título), foi elaborado um documento, entre outros, sobre a conjuntura ecologista nesse momento.
Divulga-se agora para ilustrar um pouco do que então, o ano de 1983, se passava quanto à independência do ecologismo e algumas cobiças que já se desenhavam com o desejo expresso de o controlar (ou controleirar, como então se dizia).

«A questão que se coloca aos ecologistas portugueses na presente conjuntura - Julho de 1983 - é a de mostrar ao poder que têm direito a ser ouvidos como sector representativo da vida e da opinião pública.
A verdade, porém, é que os ecologistas não têm neste momento meios objectivos de mostrar que possuem essa representatividade, enleados num ciclo vicioso que decorre do próprio sistema jurídico legal que regula e regulamenta a representação democrática de indivíduos e grupos.
Somos minoria numérica exactamente porque nos faltam meios de acesso aos órgãos de comunicação social que permitam amplificar a nossa voz e fazê-la chegar a uma potencial base de apoio . O direito de acesso a esses órgãos por seu turno, tem-nos sido vedado porque não somos nem um partido, nem uma classe profissional, nem um grupo de pressão suficientemente organizado e agressivo para impor ao poder esse acesso e esse direito .
A questão é que ter a razão e a verdade não dá automaticamente direito a difundir essa verdade pelos órgãos de comunicação social que a façam chegar a quantos nela estão potencialmente interessados.

No que respeita ao ponto mais sensível da luta dos ecologistas - a energia electro-nuclear - é muito possível que o IX Governo vá cumprir o que prometeu no seu programa apresentado à Assembleia da República e que proceda a um debate público sobre a chamada «opção nuclear».
Mas além desse debate estar há muito anunciado e em curso, não sabendo os ecologistas que novidades lhe poderá imprimir o novo governo, não temos ilusões quanto ao perigo que oferecem estes métodos aparentemente democráticos de impor ao país a energia mais antidemocrática do mundo que é o nuclear.
Fala-se em debate no discurso oficial e é possível que se proceda a um seu simulacro mas apenas para que a decisão - certamente já tomada - tenha a cobertura «moral» de uma consulta popular.
Tão pouco temos dúvidas quanto às fraudes que tal debate pode permitir. E tão pouco ignoramos a desigualdade de forças em presença. Com os meios de comunicação social a que o poder tem acesso de um lado e do outro os ecologistas sem um única publicação em que possam defender os seus pontos de vista, é evidente que não pode haver debate nem diálogo mas apenas monólogo . E enquanto esta relação de forças não for alterada - dando aos ecologistas meios de difusão pública que não têm - melhor será ao poder, por uma questão de primária deontologia, nem sequer falar em debate.
Se esta relação de forças quanto ao acesso da comunicação social se mantiver, o chamado esclarecimento da opinião pública para que decida sobre o nuclear será apenas mais uma ficção para acrescentar às restantes.

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1/Abril/1983 - Pertence à história do movimento ecológico em Portugal , certamente, o célebre almoço que Mário Soares ofereceu , em 1 de Abril de 1983,  a três dezenas de ecologistas e no qual, entre outras medidas, o Partido Socialista prometia abrir os grandes meios da comunicação social à voz e à razão dos ecologistas.
O Partido Socialista ganhou as eleições, foi poder (Governo) e nunca abriu os órgãos de comunicação social aos ecologistas.
Entre os convidados presentes na reunião de 1 de Abril,  citam-se:
Carlos Almaça, da Faculdade de Ciências de Lisboa
Alberto Vila Nova, Arquitecto do Serviço de Estudos do Ambiente
Afonso Cautela, do grupo «Frente Ecológica»
Fernando Dacosta, do semanário «O Jornal»
José Manuel Vasconcelos, arquitecto do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico
Fernando Pessoa, arquitecto paisagista, da Secretaria de Estado do Ambiente e da Universidade de Évora
Francisco Abreu, da Reserva Natural da Serra da Arrábida
Viriato Marques, do jornal «Setúbal Verde»
Rui Freire Andrade, presidente da Liga para a Protecção da Natureza
Rui Cunha, das associações de estudantes e movimentos juvenis
António Balau, da página «Ecologia» da «Gazeta da Nazaré»
Carlos Robalo, do grupo «Eco-lógico» de Torres Vedras
João Evangelista, da Comissão Nacional do Ambiente
António Eloy, da Associação Portuguesa de Ecologistas «Amigos da Terra»
Tavarela Veloso, presidente da Associação dos Amigos do Parque Peneda Gerês ( Braga)
Nuno Oliveira, do Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem (Porto)
Cruz Júnior, almirante, da Direcção Geral da Protecção Marítima
Álvaro Penedos, da Faculdade de Letras do Porto
Nuno Lecocq, arquitecto, do Parque Natural da Ria de Aveiro
António Fonseca, do Comité Anti-Nuclear de Lisboa
Ribeiro Ferreira, Jornalista de «O Tempo»
João Luís Oliveira e Costa
Jorge Leandro, da Associação Livre de Objectores de Consciência
José Luís de Almeida e Silva, do semanário «Gazeta das Caldas»
João Santos Pereira, do Departamento de Silvicultura do Instituto Superior de Agronomia
José Almeida Fernandes, do Serviço Nacional de Parques e Reservas
Mendes Vítor, do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica
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«ECOLOGIA EM MOVIMENTO»:PROJECTO CÍVICO DE INTERVENÇÃO POLÍTICA

Ecologistas hoje somos alguns. Amanhã - e se queremos que haja amanhã- teremos que ser todos.

16-19/Abril/1983 - «Pôr em marcha um projecto cívico de reflexão e intervenção sobre os graves problemas do Ambiente que afectam a população portuguesa» era o objectivo do grupo que, em 1983, lançou, sob a designação de «ecologia em Movimento» , uma série de iniciativas, entre as quais se destaca um ciclo de filmes e colóquios na Fundação Calouste Gulbenkian, entre 16 e 19 de Abril daquele ano.
Dizia o seu manifesto de apresentação :
«Ecologia em Movimento» agrupa pessoas que decidiram conjugar esforços para pôr em marcha um projecto cívico de reflexão e intervenção sobre os graves problemas de ambiente que afectam a população portuguesa:
Esta oficina de ideias, informação e prática tem como objectivo reunir pessoas interessadas em:
- diagnosticar a crise ecológica nas suas raízes e causas mais profundas
- propor soluções radicais ou medidas de reforma para resolver alguns desses problemas a curto e médio prazo
- propor alternativas aos sistemas e modelos de desenvolvimento macroeconómico que agravam a crise dizendo que a resolvem
- organizar dossiês informativos sobre os casos mais candentes da realidade ecológica portuguesa, para que os especialistas explorem com dados técnicos esses dossiês
- debater com o governo central e as autarquias as premissas ecológicas fundamentais das várias políticas sectoriais
- constituir-se como interlocutor , moral e tecnicamente válido, do poder central e do poder local no âmbito dos problemas do ambiente
- fazer circular a informação fundamental junto da opinião pública, com iniciativas de animação cultural-
- obter, coligir e sintetizar os dados científicos mais actuais sobre as grandes áreas da economia (energia, indústria, planeamento, regionalização)
- contribuir para uma leitura ecológica dos problemas quotidianos sofridos pelas populações e que afectam negativamente a sua qualidade de vida
- provar, através do estudo metódico e sistemático, que toda a acção política precisa de ser iluminada pelas ideias e pela actualização constante dos dados mais recentes e rigorosos fornecidos pelas ciências humanas e do ambiente
- através de seminários e reuniões de trabalho, preparar activistas e animadores de cultura ecológica, para que possam intervir, conscientemente e armados de argumentos seguros, em defesa dos princípios de ecologia humana e sua aplicação prática na vida quotidiana dos cidadãos
- através de correspondência, boletins internos e outros meios de intercâmbio informativo, manter a ligação constante com professores, alunos e grupos locais interessados em prosseguir um trabalho análogo de qualidade
- Organizar um fundo documental, com recurso a filmes, diaporamas, livros, publicações, fotocópias, exposições itinerantes, etc. e que possam auxiliar o trabalho de animação desses grupos.
Se te interessar este trabalho de pensamento, cultura, informação e animação ecologista, vem estudar connosco os dossiês mais urgentes.
Há trabalho para todos.
Queremos ser, como colectivo, uma voz independente e fazer das ideias uma arma, em defesa da vida e da natureza.
Sem desprezar a acção (imediata, não violenta) postulamos, na luta ideológica, a inteligibilidade crítica como o campo privilegiado do nosso trabalho.
Pensar a realidade e os problemas humanos dos nossos compatriotas é a nossa maneira cívica de fazer política.
«Ecologia em Movimento» não quer ser apenas um repetidor mecânico de slogans, cassetes, ideias feitas, frases ocas.
A imaginação também é para nós uma ferramenta de trabalho. Ultrapassar o bloqueio das dicotomias viciosas geradas nas ideologias de superestrutura que dominam o sistema, é a nossa meta e o nosso método.
Errando se caminha, por isso se caminha pondo à prova , na experiência, postulados geradores de acção.
Somos um desafio às instituições anquilosadas do poder, aos aparelhos e mecanismos corporativos.
Hipótese e experimentação - convém lembrá-lo - são duas operações do método científico. Ciência para nós é assim um esforço dialéctico de compreender a realidade em movimento para em movimento a transformar.
Entre a poesia e o rigor, o sonho e os factos, a utopia e o realismo, a estética e a política, «Ecologia em Movimento» será a dialéctica criadora, o desenvolvimento e o progresso que propomos.
Vem trabalhar connosco neste projecto de aventura e esperança.
Ecologistas hoje somos alguns. Amanhã - e se queremos que haja amanhã- teremos que ser todos.
16/Maio/1983
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Integravam o grupo de lançamento de «Ecologia em Movimento», os seguintes nomes:
António Duarte
Afonso Cautela
António Eloy
António Fonseca
António Franco
Artur Tomé
Fernando Pessoa
Franklin Silva
Gertrudes Silva
João Reis Gomes
Joffre Justino
Jorge Leandro Rosa
Jorge Murteira
José Afonso Faria
José Manuel Lopes
Júlio Valente
Mário Cruz
Rocha Barbosa

Ecologia, na perspectiva da «Frente Ecológica», foi sempre a economia de todas essas ideias perdidas. E a grande crise foi, é e continua a ser o desperdício de valores, de energias humanas.
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1-2-hfe75

NO AUGE DO GONÇALVISMO

23/Julho/1975 - Texto significativo do ambiente que se vivia em 1975  é a proposta apresentada por «trabalhadores da cultura» ao encontro de 23 de Julho de 1975, realizado na Associação Portuguesa de Escritores.
Muito ao estilo da época , a «moção apresentada pela «Frente Ecológica» ao referido encontro na Associação Portuguesa de Escritores, propunha-se tomar algumas decisões com base em alguns considerandos.
Descontando o anacronismo do estilo, bastante datado, extrai-se deste documento uma ideia de «frente comum de todos os movimentos sociais», ideia que ainda não deixou de ser actual, antes pelo contrário, torna-se mais actual à medida que os totalitarismos de todos os matizes se enfurecem e endurecem na insana luta contra o povo deste país.
Eis o texto, discutido e já não se sabe se aprovado, na referida reunião de «trabalhadores da cultura», em 23 de Julho de 1975:
« Trabalhadores da cultura, reunidos na Associação Portuguesa de Escritores, em 23 de Julho de 1975, verificam com a maior apreensão que:
- O desemprego tende a agravar-se, tanto nos sectores intelectuais como nos sectores de trabalho manual;
- Criadas, com a libertação do 25 de Abril, as condições objectivas para a Revolução Cultural, condições que mais se alargaram e consolidaram após o 28 de Setembro e após o 11 de Março, o subaproveitamento do trabalho em geral e do trabalho criador em particular, continua;

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1-1-hfe - 83

O PRÉMIO «RESISTÊNCIA ECOLÓGICA»

O prémio «Resistência Ecológica» lançado pela «Frente Ecológica» em 21 de Março de 1983 e graciosamente anunciado em alguns órgãos de informação, foi um dos fracassos mais retumbantes deste ano pré-comemorativo dos 10 anos de democracia .
Os 100 volumes que faziam parte do prémio (apenas de 20 mil escudos em dinheiro) puderam depois ser vendidos através do serviço de tele-livraria que a «FE» se propunha activar, em mais uma tentativa de sair da crónica crise financeira.

A venda de livros usados foi, no decorrer destes dez anos de resistência ecológica na «Frente», uma das actividades a que se recorreu para sobreviver.
Tentou-se um serviço de livraria à distância com um projectado «clube do alfarrábio útil».
As listas de livros úteis disponíveis a preços de ocasião seriam enviadas a quem se inscrevesse nesse «clube». sendo a inscrição gratuita, nem mesmo assim o projecto foi um sucesso. Poucos ou nenhuns se mostraram interessados em livros usados, ainda que interessantes.
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1-2-hfe-84- memórias da frente - 1984

DEZ ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL: BREVE BALANÇO DE UMA DÉCADA ECOLOGISTA

Não podendo festejar com bandas e bandeiras os 10 anos do movimento ecologista em Portugal, que se aproximavam com o 25 de Abril de 1984, impunha-se, no entanto, um balanço retrospectivo do que foi feito.
Dez anos depois do 25 de Abril, em 1984, a efeméride foi aproveitada pela «Frente Ecológica» para tomar algumas iniciativas com as quais pudesse fazer face à crise económica permanente em que (sobre)vivia.
Dizia a folha informativa então policopiada:

25/Abril/1984 - «É com um rosário de fracassos e falências que nos propomos, na «Frente Ecológica», festejar este ano de 1984, data festiva nos anais do movimento ecologista em Portugal, já que foi, a 15 de Maio de 1974, que se realizou em Lisboa, na Cooperativa Unimave, Rua da Boavista, a primeira reunião de uma série que levaria à aprovação de um manifesto e à constituição, no 10º cartório notarial de Lisboa, do Movimento Ecológico Português, em Fevereiro de 1975.»

E a referida folha informativa acrescentava:
« Com um panorama de falhanços passados, presentes e futuros, cremos estar, aqui na «Frente Ecológica», à altura do País que temos.

E o documento prosseguia no mesmo tom de jeremiada lamentosa:
« Não poderemos festejar com bandas e bandeiras os 10 anos do movimento ecologista em Portugal, que se aproximam com o 25 de Abril de 1984, mas talvez se impusesse um balanço retrospectivo do que foi feito.
Dizem-nos alguns amigos que é urgente uma panorâmica dos factos - dada a especulação, por vezes bastante gratuita e outras vezes bastante sectária, que ecologistas de aviário e última hora têm desenvolvido para que, falseando a história, possam no presente podre falsear o futuro.
«Entre os amigos que mais interesse têm mostrado por uma retrospectiva dos acontecimentos, é justo citar o José Carlos Marques, animador do «Renascimento Rural», o António Fonseca, do C.A.L. (Comité Anti-Nuclear de Lisboa), o António Franco dos «Amigos da Terra» e Fernando Pessoa da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas.
Ao António Fonseca se deve mesmo a salvaguarda de alguns documentos fundamentais para a história do movimento ecologista em Portugal, que teriam ido parar ao caixote do lixo num momento de desespero, daqueles em que nada já parece valer a pena, inclusive guardar papéis.
Nem que fosse para corresponder à solicitude destes amigos do movimento ecologista talvez valesse a pena, já agora, um esforço suplementar para salvar das cinzas (alguns) factos, nomes, datas e pontos de referência.
Acontece não só com as pessoas mas com os povos e os movimentos: uma perspectiva histórica de fontes, antecedentes e afluentes é indispensável à identidade de todo o ser (vivo) inteligente. Constata-se, afinal, que a memória faz falta à gente e para mais alguma coisa serve.
A disposição, aqui na «Frente ecológica» é, pois, de balanço. Dez anos é um número redondo e faz jeito para arrumar a casa e quem sabe se algumas contas.
Se escolhemos a última década é não só porque ela coincide com uma etapa histórica vivida em Portugal mas porque também o movimento ecologista internacional assumiu nesses dez anos contornos definidos e sui generis, na sequência do chamado primeiro choque petrolífero.
No limiar de 1984, é mesmo a hora do balanço,sem falar do romance profético de George Orwell(1903-1950) que escolheu a data para título. »

Uma retrospectiva de factos, nomes e datas sobre as acções ecologistas e para-ecologistas em Portugal foi produzida, nos últimos meses, na oficina e entrou pressurosa no gavetão negro dos inéditos.
Restam só alguns acabamentos, para o que nos tem faltado vontade : afinal, para quê fazer seja o que for neste país e mundo? O motivo principal desse balanço vem de um facto verificado frequentemente nos últimos tempos. Inexactidões e principalmente lacunas de referências pretensamente históricas que têm aparecido sobre o movimento ecologista em Portugal, nomeadamente duas: «O Que é a Ecologia», de Dominique Simonnet, numa estranha tradução/adaptação lançada por Editorial Notícias e a obra enciclopédica «Este Planeta em que Vivemos», de Jean-Jacques Barloy, numa tradução-adaptação de Maria Filomena Boavida, dos editores «Amigos do Livro».
Uma coisa que fique clara: qualquer pretensa retrospectiva do ecologismo português que esqueça o nome e a presença de José Carlos Marques, releva da pura ignorância .
Verdade que também ele, José Carlos Marques, durante muitos anos teimou em se encobrir atrás de um pseudónimo, num quase anonimato . Verdade que nada fez para esclarecer quem era o A. Faia que organizava tantas edições lançadas no mercado. Verdade que a discrição e a modéstia são apenas duas virtudes das muitas que compõem a personalidade de José Carlos Marques. Mesmo assim, quem se propõe historiar deve saber onde estão os protagonistas da história, por mais que eles se tenham voluntariamente apagado ou remetido à discreta ocultação característica das grandes almas.